Terraria: out of plans escrita por Allen Isolet


Capítulo 7
Capítulo 7: toca das raposas


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi bem maior que os anteriores, acabei me empolgando

Interação entre muitos personagens sempre exigirá bastante de mim, e eu nem consegui colocar todos que tinha planejado... ficará para o próximo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806007/chapter/7

  Cruzando a ponte cinza e silenciosa, coberta de uma sinistra névoa camuflando as criaturas em seu abismo, são apresentados a uma cidade bastante vívida, cheia de casas bastante próximas umas das outras, com estranhos poleiros acima delas, fazendo Zoey se perguntar para que criaturas elas serviriam. A cidade ainda abriga uma feira no meio da praça vendendo os mais variados alimentos, entre outros itens, como roupas, acessórios e até mesmo armas, onde várias pessoas passam de um lado para o outro abrindo caminho em meio a multidão. Tendo esse fluxo até o início da tarde, que é quando as lojas começam a fechar e as barracas somem para deixar a praça livre para outros eventos.

Zoey fica maravilhada, não sabendo para onde olhar ou por onde passar, perdendo a fome em meio a empolgação.

— Esse lugar é sempre cheio assim? — Pergunta Zoey, movendo a cabeça para todos os lados. — Mesmo com toda terra e lama no chão, e o cheiro de multidão, isso aqui é lindo.

— Sim, maioria das vezes.

— Você não se anima nem com isso? — Finalmente olha para ele, o percebendo distante. — Que foi? Algum problema?

— Não, é que, não fui feito para lugares fechados e nem multidões…

Ele encolhe suas asas para mais perto do corpo, e sua cauda dá uma volta por suas pernas, inquieta.

— Ah, entendi, então… bom, as asas você ainda consegue dar um jeito, e a cauda?

— Mantendo próxima do corpo, só isso… se você quiser se aventurar por aí, fique à vontade, eu irei para a estalagem com Darko.

Ele começa a andar guiando o cavalo pela correia em seu cabresto, seguindo pela lateral da cidade em direção a estalagem conveniente que tem logo após a ponte, sendo a principal parada dos turistas.

— Ei, eu irei com você! — Ela apressa o passo até alcançá-lo. — Hospedagem primeiro, passeio depois. Mal posso esperar para provar as comidas daqui.

— Talvez não goste muito das comidas típicas… só um palpite.

 

* * *

 

— Qual o problema desse lugar?! — Protesta Zoey. — Tudo quanto é comida daqui é feita com os bichos daquela cratera roxa horrorosa!

Os dois estão no quarto da estalagem, cada um sentado numa cama enquanto folgam da viagem. Zoey ficou com a cama próxima da porta, e Otto com a da janela.

A garota está sentada encostada na parede com um travesseiro nas costas, de braços cruzados e balançando as pernas impaciente para fora da cama.

— Vai mesmo ficar sem comer nada? Darei isso como desistência da missão.

— Quê?! Com... por quê?!

— Se não come, ficará fraca, e fraca você não vai sobreviver.

Ele responde calmo, sentado do mesmo jeito que ela, do lado oposto do quarto, só que imóvel, e já sem as suas asas para ficar mais cômodo.

— Está certo... — ela puxa as pernas para cima para abraçar — não sabe de algo sem ser preparado com aqueles bichos?

— Tem outras coisas, mas você ficou com tanto nojo quando os viu que voltou correndo para cá.

— Ah, err... pior que sim, desculpa por isso. Bom... — suspira, se levantando da cama — vam...

— Deixa que eu vou. — Ele a corta. — Tome o banho que disse que queria, eu vou atrás sozinho.

— Ei, não vou fugir de novo!

Ele apenas estreita os olhos, olhando-a com diferença.

— Ok, talvez eu fizesse cara feia de novo, sim... mas... — repara nele ainda a encarando sério — ok, mas de noite eu irei sem frescura nenhuma, é uma promessa!

— Tudo bem, me lembre de lhe cobrar isso. — Dá um meio sorriso, enfim tendo vencido. — Até mais.

Otto sai pelas ruas, que no momento, por causa do horário, já estão mais calmas, indo mais para o centro direto bater à porta de uma casa conhecida. Não demorando muito até ser atendido.

Muitas das casas são bastante cinzentas, e quando possuem alguma cor é um azul ou roxo pálido bastante melancólico, contrastando com os habitantes e suas atividades, e seu horizonte verdejante.

— Oi... Otto? Tem um tempão que você não aparece por aqui. — Um jovem de cabelos vermelhos o atende, o convidando a entrar enquanto se prepara para chamar alguém de dentro do recinto. — Maaana! Vem cá!

— Que foi, seu coiso?! — Grita do fundo da casa uma moça também ruiva. — Ei, Otto! Que milagle é esse dando as calas por aqui?!

Cruza a sala para abraçar o demônio, que se teleporta para fora de seus braços assim que capturado, agindo no puro reflexo. "Essa doida não mudou nada, ela sabe que não gosto de ser agarrado...", reflete ele, rosnando para a ruiva.

— Nem me olhe feio assim, você algum dia ilá gostar de calinho, nem que leve mais 10 anos pala isso.

Ela é só um pouco mais alta do que ele, pele de um bege rosado bastante claro, cabelos vermelhos preso um rabo de cavalo curto e cheio, lembrando a cauda felpuda de uma raposa, olhos castanhos e sardas pelo rosto e ombros à mostra. Está usando uma regata branca e uma calça legging verde escura com linhas laterais brancas.

E o problema de sua fala existe desde a infância, mas não se incomoda com isso, preferindo do jeito que está.

— Você é muito persistente, toda garota é teimosa assim? Saco aguentar isso…

— Hm? Do jeito que falou... — estreita os olhos acompanhando de um sorriso largo — onde ela está?

Começa a olhar pelas ruas à procura de alguma moça suspeita pelas redondezas.

— Para com isso! Nós nem amigos somos! — Balbucia ao dizer isso, ficando corado por não ter entendido o motivo dessa falha em sua voz, se calando.

— Há! Então tem mesmo uma galota! Você gosta dela?

— Ela é estranha, parece ter uma fonte infinita de bom humor que às vezes irrita… que que você acha?!

— Sei... que bonitinho gostar dela por causa disso, agola vá chamá-la! O que te deu na cabeça pala vir até minha casa sem ela?!

— Irly, você nem está me ouvindo, eu não gosto dela! Não desse jeito, digo, não gosto de nenhuma outra forma também!

Rosna alto para extravasar o estresse e encobrir o constrangimento, com a cauda chicoteando o ar impaciente também.

— Só a tlaga aqui que quelo conhecê-la, e se não é sua amiga podelá ser minha então.

— Tanto faz. — Ainda rosnando, só que mais calmo. — Vim por um favor, me ouça primeiro, sua desmiolada.

— Tá bom, tá bom, o que é?

— Tem como você preparar uma refeição sem qualquer vestígio das criaturas do abismo?

— Ela não gostou, né? — Volta a sorrir largo para ele. — Acontece com a maiolia dos folasteilos, e pala sua solte, tenho sim. Chame ela que já plepalo algo.

— Mana, você nem sabe cozinhar direito.

— Shiu, por isso é você quem falá, agola vamos!

Irly se despede do amigo e retorna para dentro da casa junto do irmão mais jovem, bastante feliz. Enquanto isso, Otto retorna para a estalagem, sentindo-se ansioso em imaginar o encontro das duas. Isso não tinha em seus planos.

De volta ao quarto ainda vazio, ele espera Zoey sair do banho, distraído na janela observando a pouca movimentação na rua. O quarto pertence ao segundo andar do prédio, possibilitando uma boa vista tanto das ruas quanto da ponte e além, o primeiro objetivo do trabalho.

Desperto de seu momento alheio, Otto percebe a porta se abrindo atrás dele, mas sem interesse em se virar, sabendo que é apenas Zoey retornando.

— Já está de volta? Achei que eu fosse terminar o banho antes disso, ou será que demorei muito nele?

A garota muda suas roupas de mais cedo para outras mais confortáveis, ficando com sua blusa branca de ombro a ombro, um short preto, suas botas e os cabelos ainda soltos.

— Tive que voltar antes para te buscar...

— Ah, tudo bem, já estou pronta então. Para onde vamos?

— Visitar uma amiga.

Ele se teleporta da janela até a porta, preocupado em sair para terminar  logo essa situação com a Irly o mais depressa possível, surgindo de repente ao lado de Zoey que  reage com um pequeno susto, fazendo-o prestar mais atenção nela, agora que estão bem próximos.

— Primeira vez que vejo o seu cabelo solto, ele é bonito... digo... — diz sem pensar, e ao se ouvir tenta retirar suas palavras, pensando ao mesmo tempo que não faz sentido fazer isso — bom, é isso, acho bonito. Agora vamos antes que esse almoço se torne um jantar.

Ela fica chocada com o elogio, não sabendo como respondê-lo, e ao mesmo tempo maravilhada, tendo gostado que não foi como os outros que a paqueram e são tão superficiais. Simplesmente sorrindo no final e desistindo de prender o cabelo.

Os dois saem e não demora muito até chegarem à casa de Irly, sendo puxados para dentro assim que a porta se abre.

A casa por dentro não parece em nada com o seu visual pedregoso de fora, tendo as paredes internas cobertas de um adesivo com estampa de folhagens e o chão inteiro tampado de um carpete de feltro marrom. Logo na entrada está a sala de visitas, com um grande sofá de três lugares encostado na parede, e um outro duplo ao lado da passagem, de frente para a porta. Entre os assentos há um tapete de cor vermelho bordô sob uma mesinha de centro de madeira de ébano.

Mais além da sala, existem corredores que levam aos quartos de um lado, e área de serviço do outro, tendo a cozinha no meio que é bloqueada por uma simples cortina longa de cordas vermelhas.

— Oi, eu sou a Irly, e você, quem é? — Aperta a mão de Zoey, agitada. — Ei, suas olelhas são longas! Otto, por que não disse que ela uma elfa?!

Ele não responde.

O próprio nome ela acerta falar depois de muito praticar fono, para ao menos isso conseguir comunicar sem erro.

Além de Irly, está novamente seu irmão mais jovem, Aspen, o adolescente da família, calmo e observador, tem os cabelos curtos, olhos castanhos e pele pálida coberta de sardas, ele está usando uma camisa de capuz e sem mangas de um tom verde desbotado, e por fim uma bermuda totalmente cinza e pés descalços como a irmã.

— Zoey. E… espera, você disse "Irly"? — Começa a apalpar os bolsos de sua roupa, parando a procura depois de um tempo. — Ah, droga, deixei o caderno no quarto…

— O que tem esse cadelno?

— É que fiz uma lista com o nome de todos os membros da guilda, a fim de conhecer cada um.

— Aw que bonitinho, como Otto pode não gostar de você?

— Ele… não gosta? — Olha na direção dele, que calado e inexpressivo, apenas desvia o olhar.

— Não liga pala o que ele diz, ele é semple assim com gente nova, mas depois acaba gostando. É questão de tempo até se tolnalem melholes amigos.

— Acho que seria bom. — Ela sorri, mas com certo desânimo.

— Bom, vou lá pla cozinha, já volto. Senta aí, fique à vontade.

Aspen ainda calado, apenas acena para Zoey para cumprimentá-la e segue sua irmã até a cozinha.

Enquanto isso, a convidada senta no sofá duplo indicado pela anfitriã, quieta, pensativa, evitando a tentação de olhar novamente na direção de Otto.

— Ei.

— Oi! O quê?! — Vira-se num susto, dando de cara com o imp parado de frente para ela. — Ah, sim?

— Aquilo de eu não gostar de você foi da boca pra fora… — a encara, nervoso e de rosto pálido — na verdade acho que gosto um pouco.

Sua voz vacila, como se estivesse com medo.

— Não precisava ter se preocupado com isso, a gente se conheceu há pouco tempo, é normal…

— Mesmo assim, fui rude, e nem fui verdadeiro também. — Seu olhar fica sério novamente, fechando os punhos enquanto seu rosto cora. — Então, queria saber se gostaria de ser minha amiga.

Ela leva alguns segundos para processar a informação, se alegrando logo depois disso.

— Mas é claro que quero! — Não pensa duas vezes em se levantar do sofá para abraçá-lo. — Todo bonitinho pedindo para ser meu amigo, não tem como resistir!

— Normalmente não gosto de abraços, mas deixarei esse passar por ser o primeiro…

— Ah, não? Foi mal. — O solta, deixando para fazer um cafuné nele, mas sem sucesso por conta dos chifres, apenas mexendo em seus cabelos entre o par córneo. — Próximo objetivo é nos tornarmos melhores amigos!

— Sonhar é bom. — Resolve sentar no sofá, sendo seguido por ela na sequência. — Depois que voltarmos para o quarto conversamos sobre o Devorador de Mundos.

— Esse nome assusta, espero não ser nada inacreditável de enfrentar.

— Voltei! Desculpa a demola, estava plepalando uma soblemesa pala comemolar esse dia!

A ruiva retorna levando um prato nas mãos.

— Na verdade ela estava espiando vocês conversarem… ai! — Aspen denuncia a irmã, recebendo uma cotovelada dela. — Sua bruta!

Os dois começam a empurrar um ao outro com a lateral do corpo.

— Oh, certo… mas irão comemorar o que exatamente? — Pergunta Zoey.

— Deve ser o fato dela ter falado seu nome direito. — Otto responde, carregando o último "r" para dar ênfase.

— Ei! Só por isso não vou te dar nada, seu chato! — Reclama Irly, passando direto por ele e parando em frente a garota nova, lhe entregando um prato. Otto ainda protesta sobre não ganhar nada, mas é ignorado. — Aqui, toma, algo simples que foi o que deu pala fazer, um macalão com legumes cozidos.

— Hã? Então foi para cá que ele veio atrás de comida? Poxa, eu não queria dar esse trabalho!

— Não se incomode, qualquer coisa e pode dar um cascudo nele depois, só polque sim.

— Ela que se atreva, na próxima deixo passar fome! — Reclama Otto, cruzando os braços enquanto olha frio para a elfa do seu lado.

— Se fizer isso não divido minhas sobremesas, nenhuma delas. — Provoca Zoey, com um sorriso de quem conhece o ponto fraco do inimigo. — Seu formiguinha.

Ele apenas fica chocado, não tendo resposta para reverter a provocação.

— E ele é um dos maioles, não come nada que não seja doce, não sei como aguenta. — Irly revira os olhos.

— É diferente para mim. — Estreita os olhos para a moça de pé agora, frustrado em ter seu ponto fraco vazado.

— Hunf, e você tem sorte de eu gostar muito de você, mas só dalei a soblemesa depois dela comer tudo.

— Tanto faz, eu espero, enquanto isso darei uma olhada em Darko.

Ele sai do sofá e vai embora andando normalmente, tendo seu lugar tomado pela Irly, que está bastante empolgada com o retorno dele e em conhecer alguém novo interessante. E Aspen, também curioso com a novidade, senta no sofá de três lugares, mais ouvindo do que falando.

— E então, me diz, o que tlás vocês aqui? Tenho celteza que não foi pala qualquer visita.

— É que estamos num trabalho, pegamos a da princesa sobre fazer uma bolsa de void.

— Entendi, sei qual é, só não fui atlás por pleguiça mesmo. Mas então… estão aqui pelo Devolador de Mundos, de suas escamas, no caso, né?

— Isso.

— E daqui ilão pala a selva, e depois o calabouço. Vocês ficalão bastante tempo fola, por isso que não fui atlás. — Fica observando a elfa comendo, curiosa. — Agola me diz, como está sendo sua aventula com Otto?

— Hã? — Não responde por estar de boca cheia.

— Ele ficou mal por conta de umas coisas e se desentendeu com o tio Augusto… — complementa Aspen — se isolando em sua caverna depois da briga, é tudo que sabemos, ficou um tempo como principal fofoca. Sabe de alguma coisa?

— Entendi… — deixa o prato de lado por um momento, sobre a mesa de centro — eu realmente queria tocar nesse assunto, porque reparei que ele não parece estar sendo totalmente ele mesmo. Quando sorri sempre me parece meio triste, e teve aquilo com a Lara, e…

— Ah, então passalam mesmo pela Lala. O que aconteceu? — Irly abre mais seus olhos, se inclinando na direção de Zoey para não perder nada.

— Ele ficou bravo com ela e saiu de lá, ela ficou falando sobre ele procurar alguém porque já estava na idade, senão ficaria sozinho.

— Calamba, que elo, não fale soble ficar só pala ele. — Olha para os lados para ter certeza de que Otto não está voltando. — Um dos motivos pala a bliga dele com o Gus foi justamente por isso, Augusto já está velho, não dando mais conta das coisas, mas insistindo em continuar ativo assim mesmo, e Otto pleocupado, não quer mais que o ilmão continue com isso, sabe? Se aliscando.

Zoey fica perplexa ouvindo tudo, sem saber como responder.

— Acho que eu não develia ter contado tanta coisa, é algo pessoal, acabei me empolgando… — lamenta Irly.

— Sua língua solta. — Aspen chama atenção. — Zoey, cuidado quando for falar disso com ele, não vá de qualquer jeito.

— Certo, não quero deixá-lo mais perturbado do que já está, tentarei deixá-lo bem enquanto estiver comigo!

— Isso aí! Missão secleta: tilar a deplessão do Otto! — Irly se levanta do sofá levando a Zoey com ela, erguendo seus braços no alto.

— De onde vocês tiram tanta energia? Credo. — Reclama Aspen.

— Você que é chato, seu Otto 2.0.

A porta da frente é aberta, passando alguém por ela, mas não é Otto como esperado, e sim, outro irmão de Irly e Aspen, o Hazel, um menino no final da infância de cabelos mais bagunçados e de olhos verdes, o único entre os irmãos com essa cor, está usando uma camisa de algodão na cor verde floresta, possui mangas curtas e fios cruzados do peito até a gola, desamarrados, e uma bermuda larga que se estreita nos joelhos na cor marrom escuro, calçando sandálias de couro.

— Uma visita? Quem é ela? — O menino entra e vai cumprimentar a Zoey mais de perto. — Ei, você é uma elfa?

— É sim, Zoey, a namolada do Otto. — Provoca Irly, segurando o riso.

— Quê? Não! — Se agita com os braços fazendo um X no ar. — Não temos esse tipo de relação!

— Otto tem uma namorada?! — O menino olha admirado para Zoey. — Uau, que sorte a dele, você é bem bonita, moça.

— N-não, acabamos de nos tornar amigos, e eu nem posso sair gostando de ninguém assim…

— Como assim? Você já está comprometida? — Pergunta Aspen.

— Não, é que… — respira fundo, lembrando da reação do Otto quando contou para ele — bom, pode ser algo bobo, mas antes de sair de casa eu tinha procurado uma vidente para me dizer se eu teria alguém como os meus amigos, que se afastaram de mim para ficarem juntos, sabe?

— Ah, entendi, e quem é a cliatura dessa visão?! — Pergunta Irly, aborrecida de não poder ser o seu amigo.

Hazel que não está entendendo mais nada, olhando bobo, vê que sua irmã está de cara fechada, e a imita.

— Hazie, onde está nossa mãe? — Pergunta Aspen. — Ainda está na confeitaria com os outros?

— Sim, voltei na frente.

— Lazel, volta lá pla fola e vai blincar, estamos tlatando de assunto sélio agola. — Irly ainda encara Zoey, séria, sendo obedecida pelo menor que realmente não tem muito interesse na conversa. — Continue, quem é a pessoa?

— Bom… eu não sei quem é, apenas que é um rapaz centenário como eu, o que é ótimo, também é mestiço, o que complica um pouco porque existem muitos… e por fim, disse que ele é nascido um dia antes do fim do ano.

— Eita, não tinha outla folma de dizer isso? Quase que ouvi "fim do mundo"! — Recuperada do susto, ela para para raciocinar e paralisa depois de concluir o pensamento. — Espela aí, você disse UM dia pala o fim do ano? Quer dizer então "tlinta de dezemblo"?

— Sim, isso mesmo.

— Ei, essa data não é o aniversário do… — começa Aspen até ser cortado.

— Sim, dele mesmo! — Irly cobre a boca do irmão para completar ela mesma. —  Eu conheço um mestiço centenálio que nasceu nessa data! Ai! Aspen!

O adolescente morde a mão que cobria sua boca e os dois voltam a se bater.

— Quê?! Sério?! Me conta! — Afoita, pula para cima de Irly, agarrando seus braços.

— Você já o conhece, sua tonta!

— Tonta é você que me cortou! — Resmunga Aspen, agora longe da irmã para não ser censurado novamente.

— Mentira, não acredito que deixei passar! Não é o Erik, né?! Diz que não!

— Nem sei quem é esse, então não, não é… é o Otto! Ele faz anivelsário em tlinta de dezemblo!

A loira não diz mais nada, só fica inteiramente vermelha por estar andando todo esse tempo com o rapaz que esperava encontrar, confusa com a situação toda, não conseguindo emitir som algum de sua boca 

— Voltei…

Zoey grita um "não" bem alto ao ouvir o Imp, não esperava seu retorno naquele momento, pegando uma almofada para cobrir seu rosto vermelho. Tudo isso por não saber como lidar com ele agora que sabe.

— Ok, eu espero mais um pouco, a sobremesa nem é tão importante assim.

Surpreso com a reação dela, ele olha da loira para os ruivos, buscando respostas, mas recebendo apenas um silêncio constrangedor em troca, até Irly sair do estado de choque.

— Ottito, meu quelido amigo, cê nem sabe…

— Mana, não! Vem cá rapidinho!

— Não, mas, eu quelo contar a novidade pala ele!

— Sério, é algo urgente, vem cá na cozinha.

Ela bufa impaciente, avisando que volta em um minuto para dar-lhe as respostas que busca.

— Acho melhor não dizer nada sobre isso para ele.

— E por que não?

— Desse jeito ele provavelmente vai se sentir forçado em correspondê-la, e ele não está muito bem para lidar com tal pressão no momento.

— Você é muito sábio, ilmãozinho. — Faz um cafuné no adolescente, que se mantém indiferente. — Acho que tem lazão, mas é melhor explicar pala ela também, né?

Os dois retornam rapidamente, esperando que a Zoey não tenha dito nada ainda, e para a sorte deles a garota continua com a cara enfiada na almofada.

— E aí, como vão? Já terminou, Zoey? Ótimo, vamos para a sobremesa então. — Irly pega o prato da garota e a chama para acompanhá-la até a cozinha. — Espero que goste, é o que melhor sei cozinhar, soblemesas!

Chegando na cozinha, dão um copo de água para ela se acalmar, bebendo rápido e só então voltando a si.

— Ainda não acredito que quase deixei passar, eu estava tão focada em reconhecer a pessoa assim que a encontrasse que me fechei para todos que não me fizeram "apaixonar à primeira vista"!

— Não é assim que funciona, garota, amor se constrói, senão não passa de uma paixonite vazia. — Fala Aspen, calmo em seu jeito monótono.

— Calma, calma, é que você é como eu. — Irly dá uns tapinhas nas costas da mais alta.

— Tapada e sem noção? — Observa o irmão.

— Ei, olha como fala! Pala você é a Senhola Tapada e sem noção, e cia. Né, Zozinha?

— Por isso que você nunca adoece, doenças evitam os idiotas. — Recebe um soquinho no ombro. — Enfim… se quiser mesmo, tenta conquistá-lo como alguém normal, conhecendo ele melhor, sendo sua amiga e demonstrando interesse, o resto é com ele.

— Entendi, você é tão sábio. Agora o objetivo anterior muda de "melhores amigos" para "futuros amantes"...

Ela gagueja na última parte, quase não pronunciando as palavras, mas não poderia parar depois de já ter falado sem pensar, ficando bastante vermelha com isso.

— Isso aí, galota! Pega ele!

Aspen revira os olhos e sai do local com a sobremesa, uma tigela grande com um creme batido de frutas vermelhas, leite e chantilly. Juntaram o que tinham em qualquer coisa que pudesse ser bom. Irly vai atrás com pequenas taças, deixando Zoey levar os talheres.

Os quatro conversam por bastante tempo ainda, trocando novidades e planos, quando a aparece o restante da família da Irly, os pais, o irmão de antes e a caçula, mais o Imp que a família tem como assistente, sendo mais como um membro qualquer do que a criatura mágica.

Com todo esse tempo perdido, a dupla de viajantes acaba ficando para o jantar também.

 

* * *

— Esse dia passou tão rápido, adorei conhecer a família Brayden… — fala Zoey deitada de bruços em sua cama na estalagem.

— Só não fale isso perto deles, senão te adotam. — Comenta Otto sentado em sua cama do mesmo jeito de antes. — O chato de visitá-los é que perdemos a noção do tempo, mas ainda posso te explicar sobre os eventos que envolvem o verme gigante.

— Ow, ainda tem esse bicho chato… mas vamos lá! Me conte tudo sobre ele! — Se levanta de sua cama e vai até a dele, sentando-se ao lado do rapaz com um olhar determinado.

Ele começa por explicar sobre a origem da cidade e seu envolvimento com a cratera corrupta, antes de falar sobre como funciona o evento, mas tendo a atenção dela perdida ainda no início por conta do cansaço.

— Ei, para onde foi todo aquele fogo de antes? — Ele a sacode pelo ombro, quando quase tomba sobre ele.

— Hã? Quê? — Sacode a cabeça para tentar despertar. — Estou acordada, continue!

Mesmo tentando muito, ela volta a fechar os olhos devagar até não conseguir mais mantê-los abertos, apagando de vez sobre o ombro de Otto, "melhor tirá-la daqui antes que me babe…", ele pensa ao vê-la em sono profundo, levando-a para a sua cama e encerrando esse dia. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Terraria: out of plans" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.