Legado de Sangue escrita por Nathy Negrelli


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805820/chapter/3

"Ali se descerrava uma luz de um escarlate profundo, 

através dos vitrais cor de sangue, e a escuridão das cortinas

 tingidas de negro era aterradora.”

— Edgar Allan Poe

 

 

Os grandes portões de aço negro, era a única forma de adentrar a propriedade cercada por uma muralha feita do mesmo aço, com pináculos que se assemelhavam a lanças indígenas, a qual muitas das vezes viu em seus limitados estudos. O ranger dos portões arrastando na terra batida, levando consigo pedregulhos e folhas secas, sinal de que fazia um bom tempo que aqueles portões não eram abertos. Um pequeno empurrãozinho nas costas, dado por um rapaz com olhar sereno, foi o que fez a rosada dar passos adiante. Não tenha medo, isso vai acabar rapidinho. O rapaz sussurrava com um sorriso gentil, tentando tranquilizar a menina.

O leque entalhado na árvore seca chamava atenção da jovem rosada. Ele brilhava em seu inconsciente, sussurrava palavras de desespero e agonia no ouvido da Haruno. O brilho incandescente e espectral era visto apenas pela menina, deixando a garota quase petrificada enquanto encarava a árvore do demônio.  

“A filha da floresta", como a avó Chiyo gostava de chamar a jovem neta, sentia-se atraída pela árvore, atraída pela maldição. A alma do demônio, involuntariamente, agonizava em desespero pela sua presença. A garota, que mantinha o olhar fixo a cada detalhe da nefasta imagem que o símbolo emanava, não notou que logo pela janela, os olhos vermelhos de profunda agonia observava a aura mágica da garota. 

A grande porta da mansão foi aberta, a explosão de uma luz forte e amarelada revelava o grande lustre no meio do salão. Dois homens trajando uniformes da guarda real saíram pela porta principal, suas capas, quase tão brancas, como a neve que que caia, exibiam o leque do clã bordado com linhas azuis e vermelhas.   

— Entrem. - Um homem de estatura alta, com cabelos grisalhos e uma máscara que cobria metade do seu rosto falava, dando passagem para os aldeões.

A mansão tinha um clima pesado, mesmo a luxuosa decoração não tirava o ar sombrio que exalava a mansão Uchiha. Os funcionários, que foram escolhidos a dedo pela falecida senhorita Uchiha, passavam com bandejas de frutas e toalhas limpas. Todos perfeitamente vestidos com trajes apropriados. 

— Preciso colher uma amostra do sangue de todos, por favor. Façam duas filas. - Shikamaru era, por todas as vezes, o responsável pela colheita. Sua inteligência, astúcia e sua calma faziam ele ser a melhor escolha para comandar tamanha decisão. 

Já dentro do grande salão, duas filas se formavam, os passos dados por cada aldeão, eram ritmados e assertivos, parecíamos soldados batendo continência para seus superiores; Mas aqui não era um campo de batalha, não estávamos em guerra…

Se estivéssemos, pelo menos, teríamos uma chance de nos defender. 

Nosso destino aqui já estava selado pela lei do mais forte!

As filas avançavam devagar, à minha frente um garotinho da idade que Daisuke teria apertava as pequenas mãozinhas contra o peito, tremendo igual vara verde. Toquei seu ombro do jeito que minha avó fazia quando eu ficava muito tempo na floresta e aparecia em casa quase de madrugada tremendo de frio. Tentando transmitir calor para seu corpo, apertei mais a palma da mão sobre o ombro pequeno.  

Sem tirar a mão depositada no ombro do garotinho, estiquei o pescoço ficando na ponta dos pés, tentava avistar a vovó Chiyo que estava há cinco pessoas à frente. No meio daquele amontoado de pessoas era difícil acompanhar os movimentos ágeis e experientes da senhora, que em alguns momentos nem parecia ser de uma idade mais elevada. 

O cheiro de sangue fresco aromatizava o ar como se estivesse sendo borrifado em nossas narinas. As mãos dos que passaram pela coleta de sangue, eram enfaixadas por pedaços de trapos, corriam o risco de pegar qualquer tipo de infecção naqueles panos sujos. “Nem a dignidade nos era dada” pensou!

A fila andou mais uma vez, na fila do lado, era a vez de uma menina de longos cabelos loiros, ela teria por volta dos teus 20 anos, o que se aproximava muito com sua idade. A mão da menina foi puxada com agressividade, sendo puxada de volta por ela. 

Mesmo de longe dava para ouvir o sermão que a loira dava no carrasco, algo sobre ser menos grosso e “trombolhudo”. Ri baixinho com a nova palavra que a loira inventou, aquilo só fazia sentido na cabeça dela, e agora na minha. 

Mais uma vez o carrasco puxou sua mão, agora com mais delicadeza, ouso dizer que ele ficou com um pouco de medo da loira. Quem não ficaria? Esbocei outro sorriso de canto. O filete de sangue escorrendo por sua mão fez um rapaz alto, de pele mais pálida que a neve branca, esboçar um sorriso exuberante. Ele se aproximou com uma velocidade sobre-humana do guarda, pegando a pequena mão da loira. O sangue dela parecia ter um efeito inebriante ao pálido rapaz. 

Seus olhos estavam fechados e suas narinas abertas, como se sentisse o aroma do melhor vinho já feito. A valente menina, que antes enfrentou o guarda com coragem e perspicácia, estava paralisada olhando o homem que cheirava o sangue escorrendo em sua mão. 

— Minha. - Foi tudo que ele falou antes de pegar ela no colo, como se fosse um troféu e desaparecer magicamente do lugar. 

Todos olharam boquiabertos para a cena que se sucedia. Era a primeira vez que um doador era escolhido desta forma. Normalmente eles colhiam os sangues e distribuíam para os nobres provarem e escolherem. Mas o rapaz pálido não precisou provar o sangue da loira para escolher, ele apenas sentiu seu aroma.  

— Sangue antigo. - Quatro homens gritaram. O responsável pela colheita correu entre os moradores da cidade, se aproximando da fila. Várias pessoas se espalharam, empurravam umas às outras, senti ser empurrada por uma rapaz que passou correndo entre a multidão.  A porta do grande salão foi aberta, entrando dois nobres com trajes imponentes e coroas reais. 

O físico do jovem que se aproximava era de dar inveja a todos, o manto real cobrindo os ombros do mais novo, homem intensamente belo, era arrastado no chão com elegância. Os cabelos espetados e a pele clara dava um ar de rebeldia ao futuro rei. Mas o que assustava eram seus olhos vermelhos igual sangue. Ao lado dele um homem de longos cabelos, tão lindo como o primeiro, com marcas de exaustão perto dos olhos. Ambos príncipes, ambos monstros.

— Meu senhor, sangue antigo foi derramado. - O homem de mais cedo, aquele dos cabelos sebosos falava para o futuro rei. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, eram muitas pessoas amontoadas umas nas outras para entender o que acontecia. Até que ela viu a rugosa mão. - A senhora é uma bruxa.

O ar começou a ficar escasso no pulmão da Haruno, como se o impacto das palavras bloqueasse todo o oxigênio que seu corpo possuía. Ela estava incapaz de falar, respirar ou de formular qualquer linha de pensamento concreto em seu cérebro. “Mentira” era tudo que a garota queria acreditar. 

A garota andava cambaleando no meio das rodas de famílias que se abraçavam murmurando um “que pena” para a cena da mulher idosa que andava a passos pausados, devido a idade, para perto do trono, local onde os nobres estavam. Depois de quase tropeçar duas vezes e esbarrar em uma pessoa de estatura média, Sakura alcançou a avó.

Ser escolhido como animalzinho de estimação de um dos nobres, era repugnante. Causava um misto de ódio e aflição na pobre garota, a raiva era tanta que a menina de cabelos rosa com um único puxão, abraçou o corpo de sua avó enquanto afundava seu rosto no pescoço rugoso e envelhecido da idosa, abafando um grito desesperado dentro da garganta.

— Solte-a. - Um dos carrascos de Orochimaru alcançou o pequeno braço da Haruno, tentando puxar e desvencilhar do pescoço da nova doadora. 

— Nãooo. - Um grito estrangulado sai da garganta da garota. 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!