Bons Momentos - ShinoKiba (Vol. 02) escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
Bons Momentos - daqueles que abalam


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, só queria deixar registrado que eu realmente amei demais a arte do capítulo. Atualmente é meu papel de parede do whatsApp!! Obrigada, Tara!

Boa leitura, queridos leitores!!



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Alguns bons momentos têm suas raízes edificadas em grandes dificuldades. Situações que proporcionam amadurecimento, através de sofrimento e angústia. Que solidificam resultados desejados, ainda que passar todo o enfrentamento custasse um preço por vezes alto.

Shino e Kiba eram Almas Gêmeas, mas isso não os isentava de brigas ocasionais, desacordos e discussões.

Um dos piores momentos veio de um copo transbordado. Não literalmente, claro. Apenas uma forma de ilustrar a crescente frustração e decepção que se somavam graças ao comportamento rebelde do pequeno Kaoru. Um garotinho chegado aos sete anos que estava muito além do simples rótulo de “peralta”.

Aquele ano, Kaoru conseguiu fazer a família ser convidada a se retirar da praia e interromper o passeio anual. Um jeito gentil de resumir a cena constrangedora que os expulsou do local público.

Kiba atravessava os últimos dias com os nervos à flor da pele. E o incômodo atingia a família inteira, transmitida pelo lado Ômega de uma pessoa que não sabe disfarçar ou esconder o que sente. O copo emocional dele que estava no limite, transbordou numa manhã de sexta-feira, quando a escola o chamou para reclamar do comportamento desregrado de Kaoru e sugerir, sutilmente, que talvez outro colégio fosse mais apropriado para a criança.

Enquanto pedia desculpas pelas traquinagens que causaram prejuízo, tentava se acalmar pensando na mãe e em quantas vezes a mulher fez a mesma coisa por sua culpa. Carma podia ser um chute nos rins.

— Vá para o seu quarto, Kaoru. E reflita sobre o que fez! — Kiba mandou ao chegarem em casa e foi obedecido depressa. Todo o caminho feito em silêncio e a sensação de opressão que vinha do pai foram indicações fortes de que a coisa estava feia.

Após isso Kiba começou a andar de um lado para o outro da sala, esperando que Shino voltasse do trabalho para que pudessem discorrer sobre o filho caçula. Fato que aconteceu ao final da tarde, quando o Alpha e Masako chegaram juntos.

— Para o quarto, menina. — Kiba falou sério. — Seu pai e eu precisamos conversar.

A pequenina nem questionou. Saiu apressada, por nunca ter visto Kiba-touchan com uma expressão daquelas. Para piorar conseguia sentir a ebulição que era o coração daquele Ômega, tão oprimido que a fez pensar em uma panela de pressão.

— Olá. O que houve? — Shino cumprimentou e sentou-se no sofá. Kiba continuou de pé.

— Kaoru aprontou de novo. O diretor me chamou na escola, sabe? E contou que ele usou uma técnica ninja para explodir uma bombinha com tachinhas na sala dos professores. E quer que a gente troque o moleque de escola de novo.

De novo, porque Kaoru estudava na Academia de Konoha, onde Shino dava aulas, junto com Masako. Mas ele fez tantas brincadeiras de mau gosto que até o emprego do Alpha começou a ser influenciado. A solução foi procurar vaga numa escola nova, um tanto mais afastada.

Agora teve a coragem de fazer uma maldade dessas. Sim, para Kiba não era simples traquinagem. Usar tachinhas mostrava certo grau de maldade e malícia em ferir outras pessoas.

— Sorte que ninguém se machucou, Shino. Eu estou aqui tentando entender onde a gente errou com esse moleque pra ele ficar assim.

— Não é tão simples...

— Ah, claro que é. Eu te digo: faltou uns tapas na orelha, isso sim. Essa sua política de “dialogar” não funciona sempre.

— Então a culpa é minha? — Shino franziu as sobrancelhas.

— Que culpa, porra? Não to falando de culpa, to tentando entender o erro. “Erro”! Sabe o que é isso, Shino? Algo que influenciou na educação do nosso filho.

— Então sugere que comecemos a espancar uma criança? — A pergunta soou tão errada quanto poderia. Normalmente Shino era um Alpha de respostas sensatas e equilibradas, mas o ambiente estava tão pesado e as sensações emanando de Kiba tão fortes e sufocantes, que acabou com qualquer ponderância que pudesse existir naquela sala.

— Espancar? — A voz de Kiba se elevou um pouco. — Olha o tamanho da minha mão, acertar isso numa criança não é divertido! — O rapaz exaltou-se mais. — Você acha que eu fico feliz de imaginar bater no Kaoru? É, maldito? Pensei que me conhecesse melhor do que ninguém! É só que... Eu to desesperado, Shino. Me sinto encurralado.

— Kiba...

— “Kiba” um caralho! Não vou espancar uma criança, ouviu? Mas levar dois ou três tabefes nunca matou ninguém.

O Ômega recomeçou a andar de um lado para o outro. E a opressão da sala piorou ainda mais, mostrando para Shino que seu marido estava tentando se conter até então. Foi tão pesado, que por pouco a respiração não falhou.

— Me mata ver como estão tratando ele, se afastando e evitando meu filho como se ele tivesse lepra. É horrível ouvir que Kaoru não é bem-vindo nos lugares e... — A voz eloquente enfraqueceu, dando espaço para algumas lágrimas — Eu amo esse menino, Shino. Me sinto um inútil por não conseguir ajudá-lo.

E nem o psicólogo estava conseguindo ajudar. Porque o pequeno Beta fazia terapia uma vez por semana, para tentar melhorar o comportamento irrequieto.

— Não podemos desistir...

A frase que era pra ser um incentivo, soou ofensiva aos ouvidos de Kiba, que sentiu vontade de chutar ou socar alguma coisa. Só não o fez por não ter nada ao alcance das mãos.

— Desistir?! — Ele gritou frustrado. — Do meu filho? Você me conhece de verdade? Você acha que eu desistiria de alguém que amo? Ah, é. Eu desisti do meu pai!

— Kiba, se acalme. — O Alpha levantou-se do sofá, chocado em como Shigure acabou na conversa; e fez menção de se aproximar do marido, mas Kiba se afastou.

— Essa indulgência tola é humilhante! — A confissão veio pontuada de dor. — Não é o que a gente precisa agora, Shino. Sua atitude faz eu me sentir sozinho. Sem saída e sozinho. Você se importa mesmo com...

— Pare. — A palavrinha soou calma e controlada. Conquanto um tanto fria demais. Shino nunca permitiria que ninguém questionasse o quanto se importava com os filhos. Nem mesmo Kiba.

O Ômega calou-se. Percebeu que esbarrou em algum limite do aceitável e não quis pagar para ver o que aconteceria caso ultrapassasse esse limite. Por segundos ficaram em pé na sala, apenas se encarando. Lágrimas embaçavam os olhos de Kiba, sem que conseguisse evitá-las, a energia de Alpha e Ômega oscilou por um segundo, um breve segundo, em conflito pela primeira vez desde que se envolveram ainda adolescentes.

O próximo passo, a próxima palavra seriam fatores decisivos naquela relação. Uma silaba dita de modo impensado poderia trincar um cristal perfeito. E nada, nunca mais, seria o mesmo.

Mais ciente do que estava em jogo, Shino suspirou e aproximou-se do companheiro em passos lentos. Kiba não fugiu ao contato, permitiu-se ser abraçado inconsciente do medo que minava de seu lado animal, pois ele ficou assustado que tudo saísse dos trilhos de modo tão rápido.

— Me perdoe! — Shino sussurrou. O Alpha em sua alma desesperado para afastar aquele medo que tornava o outro tão frágil — Me perdoe.

Kiba passou os braços pela cintura de Shino e o puxou mais para si. O rosto se escondeu no peito largo, sentindo aquele cheiro tão familiar e confortante.

— Marido...

— Não se sinta sozinho, Kiba. Eu estou aqui ao seu lado. E me importo muito com você, com nossos filhos.

— Levei uns bons tapas por menos e não morri. Pode ser uma saída desesperada.

Shino pensou por alguns segundos, querendo que Kiba notasse o quão preocupado ele estava, apesar de manter a postura controlada de sempre.

— E eu nunca apanhei do meu pai. São dois métodos de educação diferentes que funcionaram para a gente. Penso que violência é a escolha de pessoas incompetentes.

Kiba riu abafado, o rosto afundado nas roupas alheias.

— Diz isso pra minha mãe! Eu te desafio.

Aburame Shino sentiu todo o sangue fugir do rosto, enquanto a pele assumia uma lividez cadavérica só de imaginar uma cena em que chamava Tsume de mãe incompetente.

— Não me parece uma boa ideia. — Sussurrou.

A risada do Ômega ecoou cristalina e foi um alívio imensurável. Boa parte da tensão se dissipou no ar e foi mais fácil para o lado animal de todos respirar dentro daquela casa.

— Besta. — Kiba resmungou divertido.

— Pra mim não existe nada mais importante do que nossa família. Peço que dê mais uma chance pra minha indulgência tola, pode ser? Vou conversar muito a sério com Kaoru.

O pedido fez Kiba afastar-se, voltando a se tornar meio ressentido.

— Eu sei que disse isso de cabeça quente, mas não fica usando como arma contra mim, Shino. Você não é indulgente, nem tolo. Se não fosse assim tão... “Você” nós nunca teríamos conquistado tantas coisas.

Terminou o pequeno discurso e libertou-se do abraço, saindo em direção ao quarto na intenção de deitar-se um pouco. Estava exausto, com uma dor de cabeça ameaçando vir à tona.

Shino assistiu em silêncio, vendo na fuga algo a mais. Kiba estava lhe dando a oportunidade de recorrer ao diálogo novamente, antes de insistir em recorrer à “palmada educativa”, opção que repudiava com fervor. Baixou os olhos para as mãos fechadas em punho que tremiam de leve. O corpo todo doía de tensão acumulada.

Foi a primeira vez na vida que sentiu seu companheiro emanar sentimentos tão tristes, pesados e assustados. E, por tudo que fosse mais sagrado, esperava ser a última. Desejo sincero que não seria realizado, Shino ainda veria seu companheiro derramar lágrimas amargas de dor, lamentando por um filho; e também choraria essa dor...

Dali seguiu para o quarto das crianças e entrou sem bater à porta. Flagrou Masako e Kaoru, cada um em sua própria caminha, com aspectos confusos e amedrontados. A discussão dos pais durou menos de meia hora, e causou um efeito pior nas crianças do que no adulto. E Shino se sabia bem alabado.

— Masako, vá para o quarto com seu pai.

A menina obedeceu mais do que depressa. Tinha nove aninhos e uma percepção afiadíssima, seu lado Alpha clamava estar perto de Kiba-touchan e acalentá-lo depois da tempestade emotiva que captou sem qualquer filtro ou cuidado que amenizasse. Assim que a porta se fechou, Shino sentou-se ao lado de Kaoru, comovido com as grossas lágrimas que escapavam dos olhos arregalados. As íris exóticas eram tão parecidas com as de Kiba, tudo em Kaoru se assemelhava ao pai Ômega, exceto a inocência. Pois se o Kiba pequenino fazia travessuras, todas eram pontuadas de uma ingenuidade adorável, era apenas diversão que nunca agredia a ninguém além dele mesmo (afinal Tsume era adepta da boa chinelada corretiva): eram tardes quentes matando aula para nadar no rio, ou roubar frutas em algum quintal. Enquanto Kaoru, com a mesma idade, começava a colocar um tom maldoso nas estripulias. Tachinhas em um jutsu? Alguém poderia ter se machucado feio.

— Você não feriu ninguém na escola, mas feriu sua família. Sentiu, Kaoru? — Shino perguntou. — Como o papai está triste?

O garotinho concordou com a cabeça, completamente confuso. Sim, ele captou cada emanação dos sentimentos do Ômega. A dor, a tristeza, a decepção, o medo. Kaoru, um Beta, foi capaz de notar o instante em que o vínculo de amor entre os pais, sempre tão sólido e confiável, estremeceu um tiquinho. Foi apavorante, por um segundo pareceu que perdia o chão, que seu norte era arrancado, e temeu despencar em um abismo inalcançável.

— Disculpa... — Pediu em prantos. Sabia que era sua responsabilidade e um peso esmagador ameaçou recurvar os ombrinhos, conquanto Shino levasse a mão aos cabelos castanhos e os bagunçasse ainda mais.

— Quando quiser fazer uma brincadeira, pense assim: “isso vai deixar o papai triste de novo?”. Se a resposta for “sim”, então não a faça. Combinado?

— Sim, Shino-tou! Eu prometo.

— Vá com Kiba, ele precisa de você também.

O menininho disparou ao ter permissão para fazer o que seu lado Beta exigia: ficar ao lado do papai que ainda estava tão abalado por sua culpa. Shino esperou alguns minutos no quarto das crianças antes de ir de encontro à família, descobrindo os três deitados na grande cama de casal, abraçadinhos como se um fosse a tábua de salvação do outro. Juntou-se a eles na certeza de que não existia no mundo coisa mais valiosa para si do que as pessoas ali dentro.

E aquela derradeira “indulgência tola” pareceu funcionar bem, já que nunca mais ouviram qualquer reclamação sobre o comportamento de Kaoru.


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Notas finais do capítulo

E aí?!! Não é meu padrão colocar esses dois brigando, mas filhos bagunçam o mundo de um casal. E olha só como as coisas ficaram feias!!

Ufa... Kiba abalado não é fácil de lidar! Você é de qual escola?! #TeamTsume ou #TeamShibi?



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