Oh, baby, please, just hold me close

Saiu do banheiro para encontrá-la pacificamente sentada do lado direito de sua cama. A cortina estava firmemente fechada, embora o quarto já se encontrasse mais claro pela inevitável luz do amanhecer. Cinco da manhã, o mundo lá fora já começava a se mexer e Bucky não tinha qualquer intenção de sair dali - seja devido à latente falta de vontade ou em razão do quadro adorável que ela fazia naquele lugar. 

Pés descalços, cabelos parcialmente presos, tão compridos quanto brilhantes, olhos concentrados no livro que ele mantinha na mesinha de cabeceira justamente para noites como aquela, lendo com o auxílio da luz do abajur. Se acostumaria tão facilmente àquela realidade que tinha medo da forma como todo o seu corpo reagia em nome dessa pequena possibilidade. Como se o ouvisse, Wanda levantou os olhos esverdeados, abrindo um pequeno e encorajador sorriso. 

— Se sente um pouco melhor? 

Engoliu em seco e deu de ombros, soltando a toalha que ainda secava seus cabelos sobre a poltrona mais próxima e seguindo para a cama, onde se deitou do lado esquerdo sob o olhar analisador dela. O banho quente não o fizera colocar a mente no lugar, mas fizera com que ao menos fisicamente se sentisse mais relaxado e propício a tentar se deitar novamente. 

Além disso, ela estava ali e, de certa forma, sentia que Wanda o conduzia na escuridão. Não era justo, mas sabia que a utilizava como um farol para não perder a fé em si mesmo. Estava tentando, esperava que ela pudesse ver, mas ficava cada dia mais difícil à medida que a própria companhia se tornava mais e mais pesada, exigente, opressora. 

Colocando o braço sobre o rosto, sem qualquer vontade de dormir às 05h00 AM, a sentiu se mover ao seu lado, o corpo costumeiramente quente em contraste ao seu, as mãos sem hesitar alcançando sua mandíbula e ali se acomodando enquanto os dedos percorriam um caminho invisível pela barba, que não tirava há alguns dias. 

— Fale comigo. 

Ela pediu baixo, a suavidade mascarando o tom deliberado do gesto. Se assustava quando se pegava consciente desse tipo de coisa sobre Wanda, pois a única pessoa que conhecia em nuances era Steve. Com um suspiro, se virou para encará-la, olhando-o de cima por estar contra a cabeceira da cama. Tinha se desfeito do casaco e dos sapatos, mas mantinha a calça jeans clara, a camiseta branca de mangas curtas e os olhos verdes resignados por seu silêncio.

Nunca estava muito arrumada, mas estava sempre linda, o que era… Incrível e desolador. Sentia falta de Wanda de um jeito que não sentia falta de pessoas muito essenciais em sua vida, como Sam. Diferente dele, o que sentia quando ela estava longe era sufocante, como se precisasse dar vazão àquilo de alguma forma. Seus dedos alcançaram, primeiro, o cós da calça jeans brincando ali por um instante antes de rodear de vez a cintura fina e puxá-la para si, se acomodando na altura do abdômen macio. 

Por um instante, ela simplesmente não teve qualquer reação, até que os dedos se infiltraram em seus cabelos, mantendo a carícia calmamente lenta e quente, apenas anuindo à ele enquanto sua mente visualizava um reflexo mascarado, cabelos compridos em contraste ao corte atual e olhos emoldurados em preto, friamente encarando-o de volta. 

Soava tão diferente da situação que se desenrolava naquele quarto que quis apertá-la um pouco mais para tentar deixar para trás, mas não conseguia correr da própria mente. Era como se o outro tomasse conta, se rastejando nas sombras da madrugada até ele e, cada vez mais, sentia que não haveria nada para ele depois de tanto sangue deixado pelo caminho. 

— Por mais que eles não consigam mais me controlar… - Começou, notando a boca seca em tensão. Tudo o que vinha sentindo nos últimos dias se resumia a isso. - É como se estivesse encarando um abismo cada vez mais profundo. Um abismo que consigo enxergar no espelho. Estou tão cansado… Acho que nunca estive mais cansado. 

Os dedos macios voltaram a escorrer por seu rosto em delicadeza e Bucky conseguiu fechar os olhos, desfocando das sombras do quarto semiescuro, tentando deixar de lado o caos em sua mente barulhenta em nome do reflexo escarlate, que sempre chegava com ela. Embora esta não aquietasse, conseguia se concentrar nela sob si e no perfume inexplicavelmente suave concretizando a presença dela, distante há tanto tempo que sequer podia se lembrar, depois de toda a questão do estalo. 

— Você devia ter ligado há mais tempo. 

O tom baixo foi lamentoso e conseguiu notar que havia algo ali que desconhecia, mas apenas se manteve quieto a respeito. 

— Não queria te deixar preocupada. 

Ela suspirou novamente e Bucky teve que se voltar à ela para firmar os olhos claros marejados nos dele enquanto os braços já o rodeavam do jeito que conseguia. Gostava daquela posição e de como o corpo feminino era muito menor em comparação ao seu, embora isso não significasse que fosse incapaz de se defender. Isso era essencial, havia sido desde o início. 

— Você pode dormir em paz hoje, okay?

Concordou com um aceno, apesar de não completamente satisfeito pelo que acabara de ver nos arrependidos olhos verdes. Ela guardava algo e, por um momento, se perguntou o que Wanda andou fazendo desde que o mundo fora restabelecido. 

No entanto, as mãos delicadas já se encontravam novamente em seu rosto, delineando-o, acalmando-o, levando-o a encontrar o sono depois de tanto tempo. Ao menos naquela madrugada, ela não permitiria que tivesse uma overdose de si mesmo.

Make me believe there's more to live