Gasoline escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 6
You spin me 'round so I can breathe




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In this game called life, we are not free

Primeiro, tudo o que notou foi a sombra da costumeira enfermeira loira, uniformizada em vestido e quepe acinzentados, se aproximando com a dose do soro. Os saltos dos sapatos dela eram vívidos em sua mente tanto quanto o batom vermelho nos lábios que nunca sorriam. Tudo nela exalava a imagem fiel de alguém à serviço da HYDRA. 

— Você demorou dessa vez, soldado. 

A voz suave, mas desprovida de qualquer emoção, soou no ambiente fazendo eco no laboratório que usavam para prendê-lo e estudá-lo. Haviam criado um monstro, precisavam conhecer todas as nuances dele para controlá-lo melhor. Reforçar a dose do soro fazendo com que agisse em sua mente, não somente na parte física de seu corpo, fazia parte do trabalho. 

Se lembrava vagamente de notar a hesitação dos próprios atos, no início de tudo. Por isso, sempre que voltava de uma missão designada pelas grandes cabeças da Organização, precisava se submeter ao novo tratamento. E James se via voltando, como um cão ensinado, percorrendo os corredores mal iluminados em passos pesados, consciente do local que adentrava todas as vezes, distante demais das próprias vontades para fazer com que suas pernas dessem meia volta. 

A mulher começava a prender seus braços e pernas na cadeira, um procedimento normal, que sentia ter feito milhares de vezes, mas que, naquele momento, soou completamente errado. Ofegou, praticamente sentindo um alerta se acendendo em vermelho na mente, não se dando conta da situação como um todo, mas processando o que havia na seringa e a forma como as algemas eram reforçadas para mantê-lo preso até o necessário. 

— O doutor não ficou nada contente. - A mulher continuou a comentar, os olhos verdes pesadamente afiados sobre ele. - Ele descontou em mim… Do jeito que os homens descontam suas frustrações nas mulheres. Então, eu vou descontar em você. 

Antes que a enfermeira pudesse terminar de fechar as algemas de sua mão esquerda, levou o braço ao pescoço dela, um impulso rápido e certeiro, que a pegou de surpresa e fez os alarmes do laboratório, nas cabines ao redor da plataforma em formato de círculo onde se encontrava, soarem altos. 

De forma fria, meramente a observou tentar falar, balbuciando sem ar, tentando inutilmente mover o braço metálico de lugar, embora também soubesse, sádica como era, que não havia chance contra os dedos firmemente fechados na garganta fina. No entanto, ao piscar, o que tinha à sua frente era um cenário totalmente diferente. 

— James. - Wanda sussurrou sem ar, levando-o a piscar confuso novamente. Os cabelos ruivos se espalhavam pelo colchão e ela se encontrava embaixo dele, imobilizada por seu corpo num provável movimento rápido e instintivo causado pela lembrança tormentosa e pelos dedos firmemente fechados ao redor do pescoço dela, tanto quanto da enfermeira. - Sou eu. 

A mulher fez menção de tentar alcançar seu rosto e Bucky teve de abrir os dedos num rompante para afastá-los bruscamente, segurando seus pulsos. Ainda a encarava de cima, tentando identificar em que momento Wanda Maximoff chegara ali, no que deveria ser seu quarto - olhou ao redor em desespero - e porquê chegara justamente naquele momento. 

Voltou a encarar os olhos esverdeados, pesados na semiescuridão do quarto iluminado somente pelo abajur próximo à porta, mal conseguindo processar o que acabara de acontecer, muito menos as marcas de seus dedos fincadas na pele clara do pescoço dela, considerou ao descer os olhos até a região, perdendo o fôlego. Ele fizera aquilo, James, não o Soldado Invernal. 

— Respire. - Ainda tentando retomar o ritmo da própria respiração entrecortada, ela sussurrou o que soou como uma ordem no silêncio da noite. - Respire.

— Wanda? 

Seu tom ainda foi de confusão, pois não se parecia como uma situação real. Durante aquela semana, ela não havia se afastado realmente, apenas o encarado em inconformidade silenciosa, insubmissa. Agora, não fazia sentido que estivesse ali, quando quem deveria estar era a enfermeira da HYDRA e o que deveria vir a seguir era a recordação da facilidade com que quebrara seu pescoço e a observara friamente despencar no chão antes dos seguranças chegarem. Sua mente estava mais concentrada nisso do que no desenrolar da realidade à sua frente.

— Sei que não vai me machucar. Não de verdade. - Ela tentou mover as mãos, ainda imobilizadas por ele contra a cama logo ao lado de sua cabeça, mas não conseguiu. - Apenas respire. 

— Como poderia ter certeza disso? - Sua voz soou mais quebrada do que poderia prever, seus batimentos cardíacos em frangalhos. - Porque age como se tivesse? 

A observou piscar, parecendo condescendente.

— O homem por trás do Soldado… Jamais me machucaria de propósito, eu apenas sei disso. - Ela respondeu de maneira simplificada, incomodada com a falta de mobilidade, mas parecendo determinada ao firmar os olhos nos dele, o fundo escarlate brilhando levemente. - James, posso sair daqui a hora que quiser. Apenas encontre um ritmo… E respire. 

Sutilmente, ela lhe dizia que ele próprio não poderia sair quando bem entendesse, o que não deixava de concordar. As memórias do Soldado Invernal sempre estariam com ele, independente do controle - bom ou ruim - que exercesse sobre a própria mente. 

Por outro lado, repentinamente compreendeu porque Wanda nunca recuava e nunca parecia alimentar qualquer tipo de receio sobre ele e a própria segurança. Mesmo em sua estatura pequena e fisicamente mais vulnerável, ela ainda mantinha o controle de toda aquela dinâmica que vinha os rodeando nos últimos dias. Era seguro para ela e para ele, se deu conta ao concentrar toda a atenção nos olhos sob os dele e na forma com que respirava calmamente, apesar de anteriormente ter, provavelmente, sido pega de surpresa pela forma como a rendera. 

Sua mente, no entanto, parecia desacelerar a cada segundo, à medida que sua respiração encontrava um ritmo idêntico ao dela, logo abaixo de si. A enfermeira e o jeito que a matara sem sentir nada à época já eram uma imagem mais distante e nublada, bem como o desespero que vinha carregando no peito há uma semana. Era como se os olhos dela, tranquilamente, o levassem à outra direção e, de repente, desejou que seus pesadelos e lembranças fossem sempre combatidos daquela forma. 

— O que está fazendo? - Murmurou, afrouxando os dedos ao redor dos pulsos dela. Wanda piscou, sem abandonar a energia escarlate rodeando-os. Não podia exatamente enxergar, mas podia sentir, inundando-o sob cada poro seu com calma. - Porquê… Faz esse tipo de coisa? 

— Não consigo suportar viver a consciência da sua agonia. É… Quase físico. 

O incômodo no tom dela soou tangível e um pouco urgente, o que o fez distensionar alguns músculos. Não conseguia compreender a natureza dos poderes da garota, nem como podia ser tão atenta àquele lado que Bucky tentava inutilmente ignorar em nome da própria liberdade. Ainda intrigado pelo brilho intenso emanando dos olhos dela, deixou os pulsos finos para, lentamente, encontrar os dedos gelados, que acolheram os dele sem hesitações. 

O ato de respirar se tornou ainda mais fácil tendo a respiração dela como um guia, mas também mais íntimo. Embaixo de si, Wanda era como um ímã, aceitando-o cada vez mais próximo, cada vez mais dependente daquilo que poderia se tornar um vício. Parecia fácil para ela fazê-lo deixar de lado as memórias do Soldado, as noites mal dormidas e as madrugadas de pesadelos intermináveis. 

Seus narizes se encontraram brevemente, a posição deixando-os mais próximos do que estiveram em qualquer outro momento, sem qualquer tipo de previsão. A sentiu pressionar os dedos contra os seus quando as respirações se misturaram e Bucky se manteve ali, seguindo o ritmo dela como seguiria a uma curandeira cheia de promessas - exceto que ela não fizera nenhuma. 

— O que você está fazendo? - A ruiva sussurrou baixo, a voz vibrando nele inteiro e na forma como apenas apoiou a testa na dela, cansado e anestesiado por Wanda. 

— Estou… - Pensou por um momento, engolindo em seco, o coração ainda disparado em latente ansiedade. - Respirando. 

A sentiu concordar com um meneio de cabeça, o desejo fluindo na forma como os lábios formigaram em expectativa ao desviar a atenção para a boca entreaberta e hesitante. Já não parecia ser apenas sobre seus pesadelos e seu trauma.

Não conseguiria dizer se a energia escarlate agia naquele instante, pois não conseguia ver nada além dos olhos esverdeados nos seus e era irresistível como apenas isso o prendia em toda uma realidade para além das lembranças traumáticas, tão nova e tentadora que, agora, o eco em seu peito parecia diferente por outra razão. 

A dúvida nas feições delicadas, um reflexo dele, porém, se foi primeiro e tão organicamente quanto suas respirações misturadas. Wanda levou os lábios aos seus num ofego compartilhado por ambos, testando-o e à situação inusitada, antes de se afastar brevemente para encará-lo. A viu engolir em seco, sem reprimir a pergunta silenciosa nos olhos e em todo o seu gestual. Aquilo era o certo? Eles podiam fazer isso? O que estava acontecendo?

Porém, agora que memorizava a textura dos lábios bem feitos e tinha a respiração ofegante dela completamente contra si, mais instinto e menos controle, um ínfimo de centímetro os separando naqueles poucos em que a viu derreter em dúvida, não precisava saber exatamente o que acontecia - entre eles ou na forma como parecia usar a energia escarlate em sua mente para fazê-lo manter o foco.

Umedecendo os lábios, não teve pressa para voltar a beijá-la, contornando os lábios vermelhos para encontrar a língua macia no mesmo ritmo que seus dedos pressionaram os dela, ainda firmemente entrelaçados, contra a cama. Assim, seguiu encontrando fôlego e norte em meio à respiração de Wanda, alguma estabilidade se firmando em seu interior a cada vez a consciência de tê-la sob si o tomava.

You spin me 'round so I can breathe
It's only safe for you and me


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Notas finais do capítulo

Claramente uma pessoa que não consegue postar um capítulo curto, porque... TÃO ANSIOSA quanto vocês por esses dois!

Muito obrigada a quem está comentando e curtindo o potencial desses dois, porque eu absolutamente amo imaginar as interações!

Espero que tenham gostado da dobrabinha, algumas coisas vão se esclarecendo com o passar deles e pegando mais ganchos na música, como essa questão de ser seguro apenas para os dois, afinal ele não pode realmente machucar a Wanda, como a gente bem sabe...

Enfim, me deixem saber suas opiniões sobre essas duas partes, porque isso incentiva demais a pensar em, inclusive, mais histórias!



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