A escuridão escrita por Lola


Capítulo 1
Apresentando, Iuri Silva.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e tenham uma boa leitura!



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Além de ter que pegar dois ônibus para chegar a escola, ainda tenho que aguentar as pessoas conversando dentro dele. Vida difícil do caralho. Peguei meu fone de ouvido e me desliguei do mundo, ouvindo minhas músicas preferidas, ou seja, rock. Não que eu não goste de outros tipos, até curto. Mas rock é rock. Para começar isso direito, vou falando meu nome: Iuri Luiz Silva. É, nada de sobrenome pomposo, eu sou da parte baixa da cidade. Minha mãe é empregada doméstica e trabalha na mesma casa já tem 20 anos, eles a consideram da família e gosto muito deles, pois sempre nos ajudam, uma prova disso é que eles pagam metade da minha escola. Pagavam tudo até ano passado, mas eu trabalho há algum tempo e venho insistindo para pagar tudo sozinho, agora que eu estou no segundo ano do ensino médio, eu consegui convencê-los a deixar que eu os ajude, não precisava ser só uma ajuda, mesmo que não sobrasse nem um trocado para mim, nunca tive nada, estou acostumado. A escola é ruim, as garotas são mimadas e irritantes. O fato é que eu me preocupo com os meus estudos, passo a imagem de revoltado, porém não sou qualquer revoltado, sou consciente antes de tudo.
— A donzelinha chegou! – Lucas disse cantarolando assim que me viu. Eu não batia com as idéias dos meus amigos, mas eles eram gente boa, então eu andava com eles.
— Não é você que tem que pegar... – ele não me deixou terminar.
— Dois buzão e bla bla bla... Você parece uma velha de manhã Iuri.
— E você é muito legal! – dei um sorriso amarelo.
— Vocês já estão discutindo logo cedo? – Marcos perguntou ao chegar, se sentando ao meu lado.
— Não importa. Quero saber das mulherzinhas. – Lucas disse mordendo a boca e olhando ao redor. – Olha a Patrícia, meu irmão...
— Sensor de vadia ligado! – resmunguei o olhando.
— Tu é gay Iuri Luiz.
— Idiota! – apelei. – Não sou gay e não me chama de Iuri Luiz.
— Iuri Luiz. Iuri Luiz. – fui para cima dele, mas Marcos me segurou.
— Qual o seu problema com o próprio nome? Devia fazer terapia. – Marcos avaliou ao ver meu nervosismo pela vigésima vez ao Lucas me provocar.
— Iuri até gosto. Mas Luiz? Não combina. Eu já falei isso.
— Mas não se irrite! – Lucas disse imitando comicamente chaves.
— Vamos entrar, chega. – respondi com um péssimo humor e nos juntamos entrando para a sala. Era o primeiro dia de aula, e pelo visto nada tinha mudado.
— A senhorita esquisita continua aqui. – Lucas disse baixo rindo.
— Acho que tínhamos que explanar ela. Quem sabe assim ela não muda. – Pedro deu sua opinião, eu nem olhei, pois eu detestava aquele garoto.
— A gente até já pensou... Mas o Iuri nunca deixou. – Marcos disse cabisbaixo.
— E eu preciso autorizar alguma coisa? Vocês querem fazer, façam. Sejam ridículos. Acabem com a vida de uma garota. Ela vai sofrer com isso, vai chorar durantes noites e quem sabe dias. Vai ter que fazer acompanhamento psicológico e se não resolver, vai tomar remédios. Vocês dizem isso porque a vida de vocês é muito fácil. Eu conheço o lado escuro da vida, então, por favor, não venham com historinhas de que zuar os outros é legal, porque não é!
— Nossa, que lição de moral! – Lucas bateu palmas.
— Não me importo nem um pouco com que você diz, gibizinho! – ele me zoou por causa das minhas tatuagens.
— A próxima vai ser na sua cara.. e o desenho vai ser dos dedos fechados num soco. – ameacei o encarando. – Não mexe comigo.
— Ui. – ele disse e riu. – Pensando bem eu prefiro não mexer com você mesmo, porque tenho gente mais interessante para mexer. – ele olhou para o fundo oposto, vendo a garota que vestia um macacão esquisito preto e tinha um chapéu estranho. Ela também usava um óculos anormal, com a lente diferente e enorme.– Estranha, estranha! – ele disse imitando um papagaio. Ridículo. A sala toda riu e a garota ficou o olhando com cara de poucos amigos.
— Ela é valentona! – Marcos disse e fingiu surpresa.
— Aposto que ela faz algum tipo de luta.. – Lucas analisou. – Seria melhor não mexermos muito com ela.
— MEDROSO. – Pedro zoou rindo. – Quem sabe ela não é aquele tipo de gente que veste preto, come baratas e mexe com coisas diabólicas. Já pensaram nisso? – os meninos concordaram e começaram a traçar todo o perfil da garota que nem conheciam. Coloquei meu fone e continuei prestando atenção na aula, sem me importar com eles. O resto das aulas foi cheio de provocações da parte deles, mas agora ela parecia apenas ignorar. O fato curioso é que ela não abaixava a cabeça, não chorava... Ela apenas ignorava. Conseguia fingir de forma espetacular que não era com ela. Isso era admirável, pois os deixava sem graça. Fui para o trabalho, que era um depósito de gessos, a gente geralmente fazia entregas e instalava os gessos nas casas, empresas, etc.
— Como você esta querido? – minha mãe perguntou assim que cheguei do trabalho.
— Cansado. Mas bem. – beijei a testa dela com carinho.
— Também estou cansada. Tem janta. Vou dormir, ok?
— Vá com Deus! – sorri, vendo-a adentrar o quarto.
O despertador parecia ter o poder de me irritar. Levantei mau humorado e quando cheguei na escola, meu humor só piorou.  
— O Pedro teve uma idéia genial! – Lucas disse chegando perto dos meninos. – Vocês sabem que a estranha não fica no sol, que ela nunca aparece quando o sol ta muito quente, que ela senta sempre no fundo, longe de janelas e portas.. Ele acha que ela é vampira, quero dizer... Que ela acha que é vampira e vive como uma. Então a gente vai pegar a garota e jogá-la no sol, sem aqueles adornos todo que ela usa.
— Que coisa mais sem noção. Se por acaso for isso mesmo, ela apenas vai pegar as coisas dela e ir embora. Ou você acha que ela vai se revoltar e apontar os dentes mordendo cada um de vocês? – perguntei irônico.
— Você não tem humor para brincadeiras.
— Ta ocupado demais juntando dinheiro para a próxima tattoo. – Pedro disse e piscou.
— Mas to com tempo para partir sua cara. – eu ainda iria cair na porrada com aquele idiota, em pouco tempo.
— Acho melhor a gente ouvir o Iuri, não acho justo fazer isso com a garota. É um direito dela ser estranha. – Marcos deu sua opinião.
— E pensando bem, ela é muito linda. Seria uma pena perdermos todas as chances com ela. – Lucas analisou a fundo.
— Que tal agarrarmos ela a força?! – Pedro perguntou e eu desacreditei. – Bem no sol... Vamos ver se mesmo assim, ela foge.
— Façam isso e eu prometo que não vou mais ter dó de vocês. – ameacei.
— Você se acha demais. Vem então se é tão valentão. Se diz ser o cheio de moral, mas tem aparência que a sociedade julga como marginal! Marginal! – Pedro apelou provocando friamente o meu lado obscuro. Quando vi, já estávamos na diretoria. Peguei minha suspensão e fui direto para o trabalho. Em casa minha mãe quis saber sobre os roxos.
— Briguei com um menino na escola.
— Eu sempre te ensinei que briga não leva a nada.
— E eu aprendi. Mas ele quer brigar tem muito tempo e eu cansei de engolir as provocações dele.
— Por que ele te provoca? – aprontei os braços. Ela entendeu. – Meu filho.. Olha.. Eu sei que é difícil para você entender isso, mas as pessoas não estão acostumadas a ver um garoto de apenas 16 anos cheio de tatuagem, a idéia que você passa...
— Que eu sou um marginal? – quase gritei. Ela ficou calada e abaixou a cabeça. – Até você, mãe. – meus olhos lacrimejaram e eu fui para o meu quarto. Foi uma noite difícil. Lembrei de quando fiz minha primeira tatuagem, quando comecei a trabalhar no Studio de um grande amigo. Minha mãe chorou muito e quase surtou, mas viu que não teria como mudar minha cabeça. Depois dessa, vieram muitas e durante os dois anos que trabalhei lá, eu recebia tudo em tatuagens. Virou um vício.
— Meu filho! – Minha mãe disse me acordando. Abri os olhos e a vi com o semblante triste. – Não me faz sofrer. Você sabe que a gente só tem um ao outro, eu te amo muito. E mesmo que eu não concorde contigo, nunca irei te ofender ou pensar mal de você. Só queria te explicar que é normal as pessoas te julgarem.
— Julgamento. Todo mundo julga todo mundo. Ninguém pode ser do jeito que quer. A briga começou exatamente por isso. Tem uma garota, que já comentei com você... Ela é diferente e eles não a respeitam. Eu fico muito puto com isso!
— Elisa? – ela perguntou surpresa.
— Como você sabe o nome dela?
— Ela esteve no hospital e... – ela ia contando com receio. – Sabe que a Dona Nina nunca me contou nada dos pacientes.. – A casa em que minha mãe trabalhava, a patroa era médica. – Mas ela disse que Elisa, a garota que estuda com você, sofre de uma doença muito grave, ela não pode se expor ao sol.
— Então ela não é daquele jeito porque quer?
— Não meu filho. Ela pode até morrer, dependendo do grau de exposição.
— FILHOS DA PUTA! – gritei com ódio! – Tenho que ir para aula correndo. – me arrumei rapidamente entre as perguntas da minha mãe. – Eles vão expo-la ao sol mãe, aqueles idiotas. – Mandei um beijo e sai correndo, sem nem tomar café.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo ♥



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