Marcela havia ido ver Betty em sua sala, onde Armando tinha acabado de sair.

—Bem, Beatriz, seja muito bem-vinda à Ecomoda, agora como presidente!   E se precisar que lhe explique algo, estarei na sala de Caldeirón. -disse Armando, disfarçando.

—Grata, doutor!  

Marcela capta algo no ar. 

—O que fazia Armando aqui?

—Ele é acionista também não? Esta sala já foi dele.

—Isto sei e o que veio fazer aqui?

—Assuntos da empresa.

—Tem certeza?

—Se duvida pergunte a ele.  O que deseja?

—Es,tá muito prepotente nesta cadeira.

—Olha, dona Marcela foi a diretoria e não eu que me colocou nesta cadeira.

—Está muito contente de ter tomado a minha empresa, desde o começo planejou isso!

—Eu? Acho que a senhorita não ouviu o que disseram os advogados.

—Ouvi muito bem! Mas sei que entrou nesta empresa com esta intuíto. Você é inteligente, posso dizer brilhante, sabe administrar, entende de Economia e Finanças. Um gênio, não é assim?

—Não sei, pensei que era uma estúpida! Sempre me disse que eu era.

—Não estou com paciência, Beatriz de tolerar sua arrogância e seu deboche!

—Ótimo! Pois tão pouco eu estou de aguentar a sua, senhorita! Vou lhe dizer qual foi meu intuíto ao entrar nesta empresa: trabalhar como secretária para trazer renda para minha família e aos poucos mostrar meu valor. Nunca! Nunca imaginei  e nem quis sentar nesta cadeira!  Mas assim, foi. Já estava trabalhando em outro lugar e se dependesse de mim não voltaria  para cá.

—E por que voltou? Por que não nos deixa em paz?

—No momento não há nada que desejo mais que isto tudo termine, mas infelizmente, estamos atados e devo a don Roberto e dona Margarita. E quero devolver a empresa tal ou melhor que encontrei e em tempo recorde!

—E o que a faz pensar que conseguirá? Acaso se acha melhor administradora que Armando ou pensa que porque mudou seu visual e aparentemente entende de como se vestir é uma especialista em moda e será melhor que Armando que foi criado nisto? Ora, Beatriz!

—Não penso nada disso, tanto que conta com a ajuda valiosa e a colaboração de todos vocês, incluso de don Armando para que possa o quanto antes tirara a empresa da situação onde se encontra e possamos estar livres uma da outra, como desejamos! Ou não é o que deseja?

—Sim. Não duvido da sua capacidade como administradora, Roberto não iria confiar e tampouco meu irmão se não fosse e aparte disso, estará bem vigiada.

—Não tenho problema quanto a isso,  dona Marcela.

—E digo que estará bem vigiada e quando falo digo também a respeito de meu noivo.

—Seu noivo?

—Sim, Armando!

—Pensei que ele havia terminado com a senhorita...

—Quem foi que disse isso, alguma do quartel?

—Não, não falo com o quartel desde o dia da outra reunião.

—Quem falou não está bem informado, não disse a verdade. Apenas remanejamos a data para uma data mais calma e exclusiva, planejamos casar-nos na Igreja.

—Mesmo? Não foi o que ouvi de Don Armando.

Marcela ficou perturbada.

—Armando lhe disse isso? -nervosa.  Claro, lhe disse isso, está assim, bonita,  mas não aprendeu nada sobre os homens, não?    Lógico que iria te dizer isso, se tornou carne fresca, alguém quem ele não medirá esforços para meter na cama de novo e desta vez por prazer!

—Pensei que o assunto que trataríamos seria de negócios e não das preferências de don Armando!

Marcela ri debochadamente.

—Quer fugir do assunto para não ouvir a verdade? Mas vou seguir falando: sempre é o que acontece quando ele vê carne nova. Mas quando acaba a novidade, ele volta aos meus braços. Poupemos nosso esforço: quer mesmo ter um período tranquilo em Ecomoda? Quer minha colaboração como executiva? Deixe Armando em paz!  Não o procure e o rejeite se a procurar!

—Quê?

—Isso. Nunca seremos amigas, mas podemos ser colaborativas, não quer que eu continue trabalhando como executiva dos pontos de venda? Ok. Mas desde que prometa que vai deixar Armando em paz, prometa-me que não vai mais seduzi-lo ou meter-se com ele.

—Primeiro dona Marcela que não fui colocada como presidente de Ecomoda por vontade própria, estou aqui para tirar a empresa de vocês da situação em que se encontra. Não é interesse meu, e sim de vocês os Valência e os Mendoza. A empresa é de vocês,  embora reconheça que é uma executiva competente no que faz, deve ser seu interesse permanecer, por ser o patrimônio de sua família.

—Como?

—Não vou implorar para que fique, dona Marcela. Creio que don Roberto já lhe falou o suficiente e se eu estivesse no seu lugar não deixaria que uma pessoa estranha estivesse frente ao patrimônio de sua família. Doutor Daniel confia que estará cuidando de tudo.

Marcela engole a raiva.

—Quanto à minha vida pessoal não cabe à senhorita e quanto ao doutor ele já está muito crescidinho para decidir com quem quer ou não se meter.

—Está dizendo que não tem dignidade?

—A senhorita não tem dignidade, não eu!

—Ora, como ousa?

—Se estivesse em sua situação jamais iria até uma mulher e pediria a ela que não se envolvesse com meu ex!

—Acho que no amor vale tudo!

—Nem tudo. Se estivesse em sua situação, jamais imploraria o amor de um homem que nitidamente dá indícios de não me amar.

—Armando me ama! Mas tem problemas para lidar com seus sentimentos.

—Acha mesmo?

—Sim. O conheço tão bem quanto sua mãe e ele tem problemas de admitir seus sentimentos, de mostrar-se sensível e romântico.

Beatriz lembra-se das declarações de Armando em Cartagena e de como a perseguia quando saía com Nicolás.

—Presta atenção em mim quando falo, estúpida!

Beatriz ri, mas fica com pena, pois está diante de uma mulher iludida e com obsessão.

—Senhorita, creio que este assunto se alongou, prometi entrar em contato com Nicolás para começarmos a analisar a situação de Ecomoda e sobretudo, combinarmos a proposta de acordo que farei com Don Armando frente ao juiz.

—Não vai me prometer?

—A única coisa que lhe prometerei e o mesmo que prometi a Don Roberto e a Diretoria e é em relação à empresa. Não estou em condições de fazer qualquer outro tipo de promessa. Agora, por favor, peço que se retire.

—Isto não vai ficar assim! Se se meter com ele, vai passar pela mesma dor que todas quando o ver de novo ao mesmo lado e desta vez casado.

Beatriz vira os olhos e acompanha Marcela até a porta.

—Ufa!

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