Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 22
Capitulo 22: Inimigos II


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde! Aqui está mais um novo capítulo! Muito obrigado!



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Era meia noite, mas as luzes brancas da grande casa de Norte estavam acesas por dentro.

Jack, Soluço, Merida e Rapunzel caminhavam de um lado para o outro cozinhando, enquanto tocava música, alta o bastante para todos apreciarem, baixa o suficiente para não incomodar os vizinhos.

A ruiva estava à mesa, comia um prato preparado pelo namorado com avidez. O platinado já havia terminado de comer, então tomava um copo de refrigerante de tom vermelho. A loira terminava de fazer panquecas em uma frigideira. O castanho vigiava uma panela cheia de olho fervente, fritando batatas.

Conversavam as mais diversas trivialidades no meio do barulho.

Então, a campainha tocou.

— Pessoal! Alguém abaixa o volume desse som! Eu sabia que ia aparecer algum vizinho reclamando! – dizia o russo enquanto ia atender a porta.

— Você queria deixar o som no máximo Jack! Fui eu quem diminuí! Não seja mentiroso! Deve ser a pizza que a Merida encomendou! Porque eu ajustei no som necessário para não incomodar ninguém fora daqui! – disse a loira.

— Ah, quem precisa de uma mãe quando se tem você não é?! – brincou rindo, a olhando ao mesmo tempo que abria a porta.

Assim que olhou quem havia batido, o sorriso alegre em seu rosto alvo se desfez, e assustado, deixou o copo cair, o mesmo quebrando, fazendo um som alto, e espalhando a bebida sobre o chão de madeira e o tapete de entrada.

Os outros hóspedes da casa pararam, olhando em sua direção, a alemã baixando o som.

À porta estava o alto e sombrio Breu, com seu longo sobretudo e cabelo pretos, pele pálida e olhos malignos cor de âmbar, sorrindo. À sua esquerda estava Grimmel com o rosto fechado, com um sobretudo escuro, mas com tons de vermelho. À direita, estava Cassandra, mais baixa do que o pai, com um olhar raivoso e ao mesmo tempo relutante. Atrás estavam os grandes e fortes Drago e M’ordu, com casacos negros de pele.

Ainda atrás destes estavam homens altos, alguns magros, outros robustos, mas todos usando máscaras negras sobre o rosto, segurando facões, pés de cabra e machados.

Os quatro dentro da casa olharam aquilo surpresos e em silêncio, demorando para compreender de fato o que aquilo significava.

— Boa noite! – disse o britânico, sorridente – Será que poderíamos entrar para tomar uma xícara de café?

Elinor estava à mesa de madeira de sua cozinha, trabalhando com diversos documentos. A luz estava apagada, mas um abajur de luz dourada à iluminava, aquilo fazia parecer que a madeira da mobília era feita de ouro.

Ainda usava o vestido preto com que estava vestida o dia inteiro, seus cabelos escuros permaneciam presos como era habitual, e haviam óculos de lentes pequenas e armação fina em sua face.

Seu celular estava ali perto, sobre a mesa, um tanto longe dos papéis, de repente, o mesmo vibrou, pois estava silencioso, como costumava ficar quando trabalhava, e fazia isso sempre.

Ela o recolheu de prontidão, esperando que fosse algo relacionado a seus afazeres empresariais, contudo, era sua filha. Olhou a foto da mesma no aparelho, a luz refletida nas lentes, suspirou desgostosa e com um buraco em seu coração frio, rejeitou a ligação.

Voltou às folhas como se nada tivesse acontecido.

Passaram-se alguns instantes, então, o telefone tocou novamente.

Olhou-o surpresa, a cacheada parecia mais insistente do que nos outros dias. Sentiu o frio em seu coração diminuir de temperatura. Considerou atender, mas a recordação do homem que matou surgiu em um lampejo em sua mente, quase assustando-a. Então agarrou o mesmo e novamente o desligou, atirando-o de volta sobre a mesa com certo medo.

Baixou a cabeça, colocou a mão destra sobre a testa, sentiu-a tremer, aos poucos parecia emanar sons de choro, mas se segurou.

Então, o celular havia tremido novamente.

Saltou os ombros assustada. Olhando o mesmo com olhar de indignação, já estava se irritando. Queria muito que fosse outra pessoa, mas não era, continuava a ser a foto de sua primogênita a aparecer ali.

Desligou novamente, e decidiu fazer algo que jamais faria, mas suas emoções a exigiam. Apanhou o aparelho e o levou para a sala, deixando-o sobre o sofá, longe o bastante para que não o ouvisse novamente caso chamasse.

Voltou para a mesa, onde voltou a trabalhar.

Seguiram-se alguns minutos de relativa paz, embora estivesse bufando sobre os papéis.

Então, sem qualquer aviso prévio, foi interrompida.

— Elinor! – gritou Fergus enquanto abria a porta de seu quarto onde dormia, usava uma camisola verde em seu corpo grande e carregava o telefone na mão direita, olhou a esposa espantada com seus olhos azuis arregalados.

Quando o casal escocês chegou, haviam vários outros carros à frente do velho casarão de Norte, e mais cinco pessoas estavam de pé sobre o jardim, esperando no frio e no escuro, aparentemente o poste de luz que iluminava aquela casa havia estragado. E as luzes da casa também estavam apagadas.

A noite parecia terrivelmente mórbida.

Desceram do carro, e ao chegar, a mulher da Escócia perguntou: “Mas o que é isso? O que está acontecendo?”.

— Quem é você? – perguntou Valka, que usava um casaco amarelo, calças jeans claras e botas marrons.

— Foram vocês que ligaram pra gente ameaçando a nossa filha?! – avançou o escocês pisando sobre a neve aproximando-se dos demais.

— Ameaçando sua filha?! Estão ameaçando minha filha! – disse Ariana que se vestia com um vestido lilás, sapatos de neve e um casaco preto.

— Mandaram a gente esperar aqui fora sem fazer nada, se não disseram que vão matar nossos filhos – disse Rubi com voz fria, abraçando a si mesma sobre a jaqueta preta, olhando os demais com os olhos azuis, estava com calça jeans e botas negras, e uma camiseta azul-marinho emergia da jaqueta, cobrindo-lhe até as coxas.

A norueguesa a olhava com verniz de pena e relutância, por alguma razão, sua amiga estava terrivelmente distante, física e espiritualmente.

— Quem está fazendo isso?! O que eles querem? Pediram dinheiro à vocês? – perguntou Fredderick, que usava um sobretudo branco, camiseta vermelha, calças azuis e botas pretas.

— Não! – respondeu Stoico com indiferença, usava um casaco verde fechado com pelos escuros e calças vermelhas listradas com botinas marrons.

Os demais também negaram.

— Então o que... – o alemão ia perguntando, mas foi interrompido quando a porta da casa foi aberta por um homem com máscara de esqui.

Todos os pais ali olharam para o mesmo, que segurava um facão sombrio na mão direita.

— Por favor, senhoras e senhores, pedimos a vocês que façam silêncio, senão, já sabem.

Acenderam-se as luzes da casa, e das janelas surgiram a imagem de seus filhos, agarrados por trás por desconhecidos mascarados, com lâminas em suas gargantas, todos desesperados e assustados, clamando por ajuda, Rapunzel chorava.

Algumas das mães estavam prestes a gritar, mas se seguraram ao ver o desconhecido na porta levando o dedo indicador ao rosto, na região da boca, e seus maridos, as que tinham, às impedindo.

Então, as luzes se apagaram novamente.

— Por favor! Entrem, senhores! – falou gesticulando para dentro da casa.

Obedeceram-no entrando quase em fila indiana e em silêncio, todos com a face rígida, alguns mais assustados do que outros.

Quando terminaram de adentrar o recinto, fecharam a porta às suas costas, então fecharam as cortinas e acenderam às luzes.

Apenas algumas poucas luzes ali davam o ar de sua graça, a maioria de todas as outras jaziam sem vida. Era apenas o bastante para que pudessem enxergar uns aos outros em meio à penumbra local, sem que elas aparecessem muito pelas janelas, que agora eram cobertas pelos véus.

Então, risadas zombeteiras surgiram, os olhos das vítimas demoraram a se adaptar à luminosidade, mas assim que o fizeram, arregalaram-nos ao notar quem estava ali.

Sentados ao sofá da sala, estavam os líderes daquele plano.

— Não pode ser! – disse Elinor, assustada, aconchegando-se ao marido – Por favor, Fergus, diz pra mim que não é real!

— É real sim, querida, pode apostar que é! – disse M’ordu sorrindo para a mesma.

Os líderes daquele ataque afastaram a mobília da sala, e ordenaram que os colocassem de joelhos e de costas para a parede, com as mãos na cabeça.

Então revistaram cada um deles, em especial aqueles com histórico bélico, estavam todos desarmados.

Os filhos foram levados para a cozinha, deixados sentados atrás do balcão, de frente para o forno com as panelas, ninguém os ordenou a ficar de joelhos ou com as mãos sobre a cabeça, não era possível enxerga-los como uma ameaça com pessoas com a envergadura dos militares ali.

A loira chorava inconsolavelmente, cobrindo os olhos úmidos, os enxugando, enquanto os demais buscavam consola-la e conforta-la.

Dois homens altos e com facões estavam cuidando dos quatro, um de cada lado. Os outros sete estavam próximos dos pais, garantindo que não iriam reagir.

— Espera aí! Não estou vendo o Norte! Cadê ele? – perguntou o britânico se levantando do sofá e se aproximando dos ajoelhados – E quem é você? – perguntou olhando Rubi – Vocês ligaram para a pessoa errada! Por acaso isso aqui parece um idoso com quase dois metros de altura?!

— Ora, o senhor falou para ligarmos para os responsáveis deles!

Breu a olhou de cima franzindo o cenho e apertando os olhos, então teorizou: “Você é a mãe do Jack?!”.

— Sou – respondeu com o tom de voz frio, o olhando de baixo.

O inglês gemeu, e voltando-se para os capangas, reclamou: “Não! Seus idiotas! Era para chamar os pais e o avô de um deles!”.

— O senhor não especificou qual!

— E por que não me perguntaram?

— O senhor estava ocupado! Segurando a sua filha para que ela não matasse aquela loirinha agora!

Ele gemeu novamente.

— Mas que droga! A gente prometeu a vocês que poderiam ficar com os carros deles para vender e ficar com o dinheiro, e vocês vem e cometem uma gafe dessas?!

O subalterno deu de ombros.

Então, Breu voltou-se para a mulher.

— Você lembra muito o Norte, é a filha dele não é?

— Sou!

— Ah, e você é bonita! Faz o seguinte, pega o celular e liga pra ele vir até aqui!

— Ele está em Moscou, ainda que eu ligue agora ele vai levar muito tempo para vir até aqui!

O homem fechou os olhos, gemendo e praguejando.

— Ótimo! Tudo bem! Existem outras formas de atraí-lo até aqui! Cadê o pai do seu filho?

— Sou viúva.

— Ah, eu lamento, eu também sou, embora é claro, não ligo muito pra isso, mas simpatizo com sua perda!

A russa o encarou com a face fechada, o olhando com seus olhos azuis.

— Qual é o seu nome? – perguntou Breu.

Ela seguiu em silêncio.

— Ora, vamos! Me responda! Não é como se eu quisesse saber o seu nome para lhe fazer mal no futuro! Isso já está acontecendo! Eu só quero saber o nome da filha do Norte! E não se engane, se não me disser por bem, eu pego seus documentos à força e descubro sozinho!

— Me chamo Rubi!

— Não foi difícil, foi? Agora escute, Rubi, você sabe quem eu sou? – perguntou ajoelhando-se sobre uma perna.

— Eu chutaria que você é inimigo do meu pai, mas ele já me falou de muitos, não tenho certeza de qual deles você é.

O britânico riu.

— Meu nome é Breuner, mas pode me chamar de Breu – falou colocando a mão sobre o peito.

Rubi arregalou os olhos claros, sentiu uma pontada de arrepio.

— Eu acho que me lembro das histórias que meu pai já contou sobre você. Estou vendo seu rosto, e você me falou seu nome, pelo sotaque, sei que é britânico, você não pretende me deixar sair viva daqui, pretende?!

Ele riu novamente: “Você também é inteligente! E está certa! E também merece saber o porquê. Você e seu filho merecem! Tragam o garoto!”.

— Qual deles, senhor?

— O de cabelos brancos!

Um dos mascarados altos e fortes o agarrou forte pelos cabelos, erguendo-o do chão pois estava sentado, arrancando-o de junto dos amigos, que levantaram a voz, clamando por ele, mas que foram censurados pelos outros marginais que os observavam. O russo agarrava o pulso do criminoso enquanto gemia e era arrastado com força até onde estava sua mãe.

Então, caiu de joelhos diante da mesma, e se olharam assustados, mas permaneceram silenciosos.

Breu seguiu ajoelhado, ao lado deles, os observando.

— Eu não vou mentir para vocês! Vocês dois vão morrer hoje. Meu plano era usar você para atrair seu avô até aqui! – falou apontando para o mais novo – Mas os meus capangas idiotas se enganaram e por isso você está aqui – apontou para a mulher – Agora vou ter que usar os dois para atrair o Norte. Se ele estivesse aqui na cidade, eu faria com ele o mesmo que fiz com você, Rubi, mas como ele não está, estou torcendo para que apareça no funeral de vocês, e aí eu realizo meu ataque!

— Por que está fazendo isso? – perguntou o garoto, arfando assustado.

— Já vou adiantar que é tudo culpa do Norte! Mas não se preocupem, eu prometo que a morte de vocês dois vai ser rápida e indolor, pelo menos, mais do que a desses aqui – falou apontando com o polegar para os outros adultos de joelhos com as mãos atrás da cabeça, agora com seus inimigos de pé diante deles – Mas devo ser sincero e pensar em como vou fazer isso. Eu poderia quebrar o pescoço de vocês, mas se a polícia notar isso vão saber que o incêndio doméstico pode ter sido provocado para esconder a presença de alguém aqui. Então se tiverem alguma ideia, me avisem.

— Não temos medo de você! – disse Jack.

Ambos se encararam por alguns segundos, e o mais novo estava visivelmente assustado, mas tinha coragem o bastante para olha-lo nos olhos. Voltou-se para a russa, e notou que o mesmo acontecia com ela.

— Talvez não! Mas vocês têm medo de outra coisa, e cedo ou tarde, vou descobrir o que é. Afinal de contas, ninguém entende o medo e o terror psicológico melhor do que eu! – disse sorrindo e olhando para a russa – Já descobriu quem eu sou?

— Você foi o último inimigo que meu pai enfrentou em seus anos de serviço! E o mais difícil também, mas ele conseguiu te prender.

— Own, ele se lembra de mim, me sinto até um fã! E você lembra por que nós nos enfrentamos?

— Você era o líder de uma gangue, tentou tomar o comando de várias cidades...

— E tomei! Por um tempo.

— E você tentou tomar o comando de São Petersburgo, na Rússia, e foi aí que meu pai acabou com você e seus homens.

— Ele adora tomar todo o crédito para si! Mas ele não me venceu sozinho, e eu não caí sozinho também! Ele reuniu uma força tarefa para me derrotar, sem ela, eu o teria vencido! Mas eu os matei, matei aquela mulher colorida e suas soldadinhas, matei aquele grisalho e... – riu olhando para o alto quando lembrou – Matei aquele anão mudo loirinho também! Ele foi o que me causou mais problemas, mas eu o matei literalmente com uma flechada nas costas, nem imaginam o quanto eu fiquei alegre em saber que ele demorou para morrer.

Mãe e filho assumiram um aspecto sombrio ao ouvir aquilo.

— Ohn, seu pai ficou tão arrasado na época. Eu achei que ele tinha desistido de me enfrentar.

Ao ouvir aquilo, a russa olhou para baixo, pensativa, nunca imaginara o pai daquela maneira.

— Mas esse foi meu erro! Ele me pegou de surpresa quando eu aterrorizava as criancinhas de São Petersburgo.

— Aterrorizava crianças?! – questionou Jack ao ouvir aquilo.

— Sim, Jack, seu avô nunca contou?! Ou sua mãe? Eu não sou um maníaco sexual que nem minha segunda esposa era, mas eu adorava aterrorizar crianças, mulheres também, mas principalmente crianças. Eu fazia isso para testar tudo aquilo que aprendi nos meus anos de bom moço quando eu estudava psicologia.

— Você é um monstro! Como pode gostar de assustar crianças?! – questionou o russo.

— Jack! – advertiu a mãe.

— Não, Rubi, tá tudo bem! Eu não me importo em falar um pouco de mim! – falou e então sentou-se sobre o chão com as pernas cruzadas, as mãos pousadas suavemente sobre os joelhos – Sabe, Jack, eu nem sempre fui esse monstro que você pensa que eu sou. Todos um dia já foram inocentes. Eu era um militar do governo britânico, orgulhoso do país, era casado e tinha uma doce filhinha, mas aí eu fiz inimigos, e eles tiraram tudo de mim, minha esposa e minha filha! Elas morreram por causa deles! – falou com raiva.

O platinado olhou para Cassandra, que encarava Rapunzel mortalmente.

— Mas eu achava que aquela era sua filha.

— Um homem pode ter mais de uma filha Jack. Eu amava minha família, não passava muito tempo com elas, mas eu as amava, e quando as perdi, ninguém foi atrás de fazer justiça! Então foi aí que eu percebi, para derrota-los, teria que me tornar igual à eles, e acabei me tornando melhor que eles, ou pior. De qualquer forma, eu os superei. E só pra você saber, essa questão ainda não está totalmente fechada, eu ainda tenho razões para achar que os amigos do seu avô – olhou para a russa – Seu pai! Tivessem algo a ver com isso, quem não garante que o próprio Norte não tenha nada a ver com isso?

— Isso é impossível! Meu pai pode ser muita coisa, e ter feito muita coisa, mas não era um assassino! Nem mesmo quando perdeu minha mãe, ele nunca enlouqueceu ao ponto de ferir mulheres e crianças...

— Como eu estou fazendo agora?! – concluiu Breu – Isso na verdade não importa! Por causa dele eu apodreci anos na cadeia! E agora que estou livre, ele vai morrer por isso!

— É isso o que sua filha e sua esposa iriam querer?! – questionou a platinada.

— Eu não sei! Elas estão mortas! Como eu vou saber? Mas de uma coisa eu sei! Eu amava minha esposa e minha filha! Aquela garota?! – apontou para Cassandra – Ela não me considera o pai dela, tudo porque eu não a criei, mas eu a amo mesmo assim!

De longe, sua filha ouvira isso, e no fundo de seu coração consumido pela ira, se compadeceu.

A russa suspirou e disse: “Não tem como poupar o meu filho? Ele não vai falar nada para ninguém, e só eu já vai ser o suficiente para atraí-lo até aqui!”.

O britânico a olhou pelo canto dos olhos e um sorriso malicioso surgiu em seu rosto.

— Por que o seu filho está aqui? Ele me parece muito jovem para morar sozinho. Você o expulsou? – voltou-se para o platinado – Ou você fugiu?

Mãe e filho se olharam em silêncio.

— Por que estão tão frios nessa situação? Parecem tão afastados um do outro. Talvez porque vocês não estejam tão preocupados com vocês mesmos, talvez estejam mais preocupados com os outros, ou talvez, vocês dois nem queiram viver... Talvez você, Rubi, esteja apenas pedindo para que eu poupe seu filho para sentir que pelo menos agora, na hora da morte, você não seja uma mãe tão ruim. E talvez você, Jack, esteja morando aqui porque queira ficar longe da sua mãe, talvez sinta medo, nojo, tristeza, raiva dela, só não se sente alegre perto dela, e talvez no fundo você se culpe por isso, e usa toda essa frieza para fingir que você não é um filho ruim que provavelmente só faz besteira o tempo todo, e que agora na hora da morte finja que não tem nada do que se arrepender.

Os eslavos baixaram a cabeça.

— Você não sabe quem eu sou! – disse Jack após ficar um tempo em silêncio.

— É claro que eu sei! Dá pra ver na cara dos dois! O destino de vocês é a eterna solidão!

Aquelas palavras atingiram ambos tal qual uma lâmina envenenada e incandescente, mas tentaram não mostrar.

— Invisíveis, intangíveis, inaudíveis! – voltou-se para o garoto – Talvez você mais do que ela, já que é natural da adolescência fazer burrice.

Então, olhou para Rubi e falou: “Parou para perceber o quanto isso tudo é conveniente?”.

Ela franziu o cenho e falou baixo: “O quê?!”.

— É! Pensa só! Se a minha segunda esposa também não tivesse morrido, minha filha não me traria aqui, se eu não tivesse decidido ajudá-la a se vingar, não encontraria seu filho e os coleguinhas dele nessa casa, que para a minha surpresa, todos eles tinham algo a ver com algum inimigo do nosso passado! – falou gesticulando para os demais líderes do ataque, que o assistiam surpresos – Tudo o que aconteceu no decorrer dos anos culminou neste momento que estamos vivendo agora! Talvez, isso seja obra do Destino. Talvez o Destino queira que vocês morram. Talvez isso seja o Destino corrigindo um erro. Afinal, seu pai não está aqui para aparecer nessa casa no seu lugar, e vocês todos estão aqui de joelhos e desarmados com as mãos na cabeça! Talvez você não devesse ser mãe, talvez esse garoto nem devesse ter nascido! Talvez você e seu filho tenham sido um erro do Destino, e agora, o Destino está conspirando contra vocês, para mata-los. Que engraçado, tudo está contra vocês. Talvez seja para ser assim. Eu ia dizer para culparem o Norte, mas deixa pra lá. Apenas abracem o inevitável!

Jack e a mais velha ficaram em silêncio, com olhar sombrio e a cabeça baixa.

Breu ergueu-se sorrindo vitorioso, e saiu andando pela casa.

Parou sobre o chão de madeira quando notou que seus colegas capangas o observavam.

— Você nos inspira, Breu! – falou Grimmel com ar de ironia – Levem o garoto de volta para lá, e tragam o outro! – ordenou a um dos mascarados.

Agarraram o garoto platinado novamente pelos cabelos alvos, a mãe o chamou, mas o mesmo não emitiu nenhum som, apenas seguiu sendo levado, agora com mais cooperação.

Soluço também foi agarrado pelos cabelos castanhos, tendo que segurar o pulso forte de seu agressor ao mesmo tempo que segurava os óculos sobre a face alva, enquanto gemia.

Seus amigos gritaram por ele.

Foi jogado de joelhos diante dos pais. Foi recebido com um olhar terno pela mãe, e com uma expressão preocupada do pai.

— Soluço... – sussurrou Valka.

— Drago! Grimmel! Isso é apenas entre nós quatro, deixe nosso filho fora disso! – falou Stoico.

O de óculos sentiu-se surpreso ao notar aquela postura do homem ruivo à sua frente.

— Ah, sempre estoico, não é Stoico? Mas me diga, por que se preocupar tanto com esse garoto?! – falou o sueco apertando as bochechas do mais novo.

— É verdade! – falou Drago puxando-o da mão do colega escandinavo, agarrando sua cabeça jovem com a mão grande e forte, o analisando, o mais novo ficou segurando-lhe os dedos grossos – Esse garoto é filho de Stoico, o Imenso, e de Valka, a Valquíria?! Imagino como ele deve ser fonte de decepção!

— Vocês já nos têm, eu estou avisando, se você fizer um fio do cabelo do meu filho cair... Eu vou... – dizia a mãe, mas foi interrompida.

— Vai o quê?! Correr o risco de ser cortada com um facão?! Um machado?! Ou uma faca?! – disse o dinamarquês atirando o jovem contra o chão – Esse é o problema de vocês, não sabem reconhecer o seu lugar!

— Que nem você?! – respondeu o homem norueguês – Já era um oficial do seu exército, mas ficou sedento de poder e virou a casaca! Chegou a matar oficiais do seu próprio país naquele evento que participamos. Homens inocentes!

— Está reclamando demais para um sobrevivente...

— Eu conheci você um pouco antes de saber o que você realmente era! Eu cheguei considera-lo um irmão de armas!

— Eu não! – respondeu a castanha – Eu sempre soube quem e o que você era! Bem que eu falei para o Stoico não participar daquele evento!

Drago riu.

— De fato. Você não sabia quanto poder eu tinha à minha disposição – voltou-se para Soluço – Sabe garoto, eu perdi os meus pais ainda na infância, perdi todos que eu amava, e parece que o mesmo vai acontecer com você, mas você vai ter a sorte de não passar pelo que eu passei!

— Você não precisa fazer isso! – disse ele com os olhos úmidos – Seja lá o que tenha acontecido, podemos resolver conversando!

— Conversando?! Tem certeza que não querem que eu o mate antes de terem que lidar com ele mais um segundo? – perguntou para os pais.

— Fica longe dele! – respondeu a mulher.

— Soluço, fique quieto! – disse o pai.

— Escute garoto, sabe o que seus pais fizeram comigo?

— Pusemos você na cadeia! – respondeu a norueguesa.

— Vocês me desmembraram! – respondeu exaltando a carência de seu braço, voltou-se para o mais novo – Você acha que esse é o tipo de coisa que se resolve conversando? – perguntou com sua voz rouca.

— Não! Ele não acha! – respondeu o ruivo – Você é só um traidor que traiu seus aliados e virou o líder de um bando de renegados!

— Nos matar não vai trazer seu braço de volta! – falou Soluço – O que pretende fazer depois disso?

— Restaurar tudo aquilo que eu perdi! Veja garoto, eu sei o que é viver com medo e na escuridão, quando perdi minha família, tive que lidar com a miséria, o frio e a fome. Jurei a mim mesmo, que nunca mais iria viver assim.

— A vida não precisa ser assim! – falou o mais novo.

— Talvez a vida tenha sido diferente para você. E se eu desmembrar-lo? – falou olhando para a perna do mais novo.

— Fique longe do meu filho, Drago! Seu problema é conosco! – falou Stoico.

— Ora, cale a boca! Isso não precisaria estar acontecendo! Se vocês dois tivessem se curvado e decidido me seguir, não estariam aqui agora!

— Talvez não fôssemos como os outros! – respondeu Valka – Lúcifer levou um terço do céu consigo quando foi para o inferno, você conseguiu levar uma boa parte do exército o qual servia quando decidiu trair seu país!

— Eu não posso trair alguém a quem nunca jurei fidelidade. O que o meu país já fez por mim?

— É por isso que você foi abandonado por seu homens, Drago. Você não sabe liderar. Um líder protege os seus! – disse o ruivo, e em seguida olhou o filho, a quem quis transmitir aquela mensagem.

Soluço o olhou com os verdes brilhantes e arregalados.

— Tudo o que um líder precisa é de poder o bastante para que os outros o obedeçam! – falou e depois se ergueu, voltou-se para o homem de cabelos brancos e disse – Sua vez, eu vou cuidar da câmera.

Partiu em direção à um saco preto deitado sobre o chão, de onde tirou o aparelho de gravar e um tripé.

Grimmel ajoelhou-se diante do casal, segurando o filho de ambos com a mão pela cabeça.

Olhava-os com desdém.

— Anos na cadeia, Grimmel, e ainda é apenas o mercenário encomendado pelo Drago – disse o homem norueguês.

— Eu sempre termino um trabalho, Stoico. E eu também trabalho sozinho, só estou nessa por falta de opções.

— Grimmel, deixe nosso filho ir! – apelou a mulher.

— Hum, inteligente em me pedir isso diretamente, é evidente que eu uso mais a mente do que os músculos, diferente do Drago, mas fatos são fatos, e não podem haver testemunhas disso aqui.

— Nosso filho não tem nada a ver com isso! Fomos nós dois que colocamos você na cadeia.

— Se continuar insistindo posso até deixa-lo viver, mas vai viver trabalhando para mim. Quem sabe você não goste?! – falou abraçando o pescoço do castanho – Eu tinha sua idade quanto matei pela primeira vez. E eu gostei muito, quem sabe você não gostaria também?

— Eu não sou um criminoso! – disse o jovem norueguês o olhando com fúria.

O mais velho sorriu diante daquilo.

— Bem, diferente do Drago, eu não perdi minha família, eu já nasci órfão, sem pai ou mãe, ou irmãos para perder. Tive que viver nas ruas e fazer muita coisa errada para sobreviver, mas com o passar do tempo, você acaba se acostumando, acaba até gostando. Foi assim que eu sobrevivi. A vida e as adversidades me ensinaram a agir, a pensar, sobreviver e progredir no mundo. Talvez se eu deixar você passar por algumas adversidades às quais eu passei, você não comece a pensar igual a mim?! Talvez decida seguir os meus passos e até me chame de “papai”. Me tornei um dos melhores mercenários do mundo.

— Mas no final você falhou quando enfrentou meus pais!

Os ombros dos cônjuges saltaram ao ouvir aquilo, se olharam surpresos e de olhos arregalados. Por um segundo sentiram uma estranha mistura de orgulho, satisfação e medo.

O sueco o olhou surpreso, e o mais novo o encarava.

Grimmel então o puxou pelo cabelo e disse: “Vou mandar que a sua morte seja lenta!”.

Então o empurrou de volta contra o chão e se ergueu, dando as costas para os escandinavos.

— Levem-no para onde ele estava! – ordenou a um dos capangas.

E assim se fez.

O casal escocês jazia de joelhos sobre o chão frio de madeira. Elinor chorava com a coluna curva e os olhos fechados em sua face úmida e gelada. Fergus, de coluna ereta aproximava-se dela para tentar consola-la, mas era difícil faze-lo com as mãos atrás da cabeça.

— Amor, calma, amor, por favor, se acalma.

Homens mascarados armados com lâminas caseiras os observavam de cima.

— Saiam da frente! – disse M’ordu empurrando-os, trazendo Merida em sua mão forte, puxando-a pelos longos cabelos ruivos e cacheados.

Ele estava sem camisa, suas tatuagens a mostra no peito forte e alvo.

A mais nova se impelia a resistir, gemia e tentava abrir os dedos grandes do mais velho, mas seu corpo ainda doía um pouco, e havia uma pequena mancha lilás em sua face, recordação de sua luta com Astrid.

Fora jogada contra o chão, forçada a se ajoelhar diante dos pais.

Olhou primeiro a mãe, com quem não falava a certo tempo. Ela estava com a maquiagem que houvera usado durante o dia borrada por causa de suas lágrimas de medo e tristeza, mas seus olhos castanhos transpareciam certa luz, talvez uma alegria por ter a filha ali.

— Mãe... – sussurrou a jovem escocesa.

Fergus encarava seu algoz de baixo, sem demonstrar nenhum tipo de submissão.

O tatuado se ajoelhou e agarrou o rosto delicado da garota, forçando-a a olhar para os pais.

— Sabe por que está aqui, garota? – perguntou olhando o casal.

— Eu estou aqui porque foi o lugar que eu achei para ficar seu idiota!

— Sabe por que está nessa situação? – se corrigiu elevando a voz.

Merida não respondeu.

— Sabe?! Responda! – gritou o mais velho.

— Não! – falou.

— Conta para ela Fergus! Ela merece saber que a sua tolice a matou!

— Tolice?! Você assassinou seus próprios irmãos seu fratricida! – o ruivo cacheado elevou a voz.

— E você tentou bancar o herói! Era só ter ficado fora do meu caminho, mas quis ganhar outra medalha de honra e agora está aqui!

— Seu pai era um bom homem! E merecia algo muito melhor como primogênito do que você!

— Parece que eu ter arrancado sua perna não diminuiu a sua marra.

— E parece que eu ter te colocado na cadeia não te fez tomar jeito!

— Você já consegue falar para a multidão ou ainda precisa da sua mulher pra fazer isso pra você?

O escocês de peito nu, olhou para a mulher, que jazia chorosa e assustada. Aproximou-se dela, ajoelhando-se defronte à mesma.

A mulher recuou para trás, assustada, com a cabeça baixa, piscando várias vezes.

— Fique longe dela seu monstro! – gritou Fergus.

— Mas não foi só ele quem provocou a minha ruina, não foi, minha querida Elinor? – dizia enquanto levava a mão à acariciar seus cabelos negros e lisos, mas novamente, a morena se afastou brevemente.

— Não encosta nela! – falou Merida ao olhar a cena.

M’ordu a olhou atrás de si, erguendo uma sobrancelha, notando a garota com os olhos azuis brilhantes e preocupados, temendo pela segurança de sua mãe.

— Que tal contar para ela sobre como você também participou do assassinato da sua filha?

Elinor seguia de cabeça baixa, em silêncio, arfando pelas narinas, os ombros femininos subindo e descendo, assustada.

— Diga! – falou agarrando-a pelo pescoço fino com a abrupta mão direita.

Ao ver aquilo, o pai da família arrematou-se sobre o agressor, mas foi segurado pelos homens de máscara e jogado contra o chão frio de madeira.

Os capangas já erguiam suas armas para matar, mas o tatuado impediu.

— Não! Mantenham-no vivo! Eu mesmo irei mata-lo, apenas o segurem! – então voltou-se para a dama em sua mão – Elinor...

— Nós não podíamos fechar contrato com alguém com o nome sujo na justiça! – gritou ela de olhos fechados.

— “Eu compreendo, negócios são negócios” – falou em um tom de voz ameno, depois forçou o aperto e prosseguiu – Achou que eu diria isso?! Não! Por causa de vocês eu perdi tudo aquilo que meu pai construiu! Tudo o que tinha que fazer era assinar o contrato, mas no lugar disso você chamou seu marido!

— Você se lembra, garota? – perguntou voltando-se para a ruiva, colocando-se diante dela, soltando a mãe da mesma, ambas as faces a poucos centímetros de distância – Você era pequena, mas com uma aparência tão singular, seria difícil não reconhecer você. Assim que seu pai apareceu na sala, sua mãe te agarrou deixando seu pai para trás comigo, naquele dia eu arranquei a perna dele, mas acabei indo parar na prisão.

A garota ficou em silêncio, os olhos claros voltados para o lado e para baixo, movimentando-se de forma que parecia deliberar sozinha, procurando em seu baú de memórias por esse momento. Mas sem resultados. Talvez fosse muito nova, talvez sua mente arrancou essa experiência de seu histórico, mas não encontrava nada.

— Não se lembra?! Que pena!

— Eu não me lembro, mas já contaram essa história para mim antes.

— Ah, ótimo! – falou sorrindo.

— Me responde uma coisa, você gosta dessa vida? – disse a mais nova reunindo coragem.

— O quê?!

— Você matou seus irmãos, destruiu sua família, como você consegue se olhar no espelho?!

— Com o tempo, você supera.

— Mas nunca para de doer, não é?! Uma vez um inseto entrou no meu olho, eu o deixei aberto com os dedos para tira-lo, demorou, e a dor era tanta que eu pensei comigo mesma “eu não ligo se esse inseto entrar no meu organismo, eu só quero que pare de doer”. Eu já enfrentei situações em que estava sofrendo muito e tudo o que queria era que parasse de doer. Nem que para isso eu precisasse morrer... – de forma involuntária olhou para sua matriarca, que recuperava o fôlego passando a mão em seu pescoço, e não pôde deixar de ouvir, aquele fora o primeiro momento em que as duas se olhariam diretamente de uma forma saudável.

M’ordu seguia encarando a mais nova, a face barbada coberta pela penumbra. Olhou a mulher pelo canto dos olhos e notou o vínculo daquelas palavras com Elinor. E sorriu.

Merida então o encarou com os olhos arregalados e surpresos.

— A morte pode ser libertadora, não é? – falou sorrindo e por fim se erguendo – Levem-na de volta!

Fredderick e Arianna se abraçavam ajoelhados, cobertos pela escuridão da casa.

Ao redor do casal jaziam vários homens desconhecidos, escondendo suas verdadeiras identidades, armados com lâminas.

O marido observava-os ao mesmo tempo que consolava a esposa amedrontada, cuja cabeça se recolhia ao seu peito.

Então, Cassandra apareceu, segurando um facão, ajoelhando-se sobre uma perna, deixando a lâmina de pé, apoiando ambas as mãos sobre o cabo. Observava aquele casal alemão com seus olhos raivosos e rancorosos.

— Boa noite, senhor e senhora Corona.

— Quem são vocês? Por que estão fazendo isso? – perguntou a mais velha, assustada.

— Cada um aqui que não está de máscara tem algum assunto inacabado com um de vocês.

— E quanto a nós?! Nunca fizemos nada à ninguém! Por que minha esposa e eu estamos aqui?!

— Nunca fizeram nada à ninguém?! – falou franzindo o cenho – E quanto à Gothel?!

— Gothel?! – questionou a castanha, agora com uma fagulha de cólera – Do que está falando?!

— Estou falando da mulher que vocês espancaram e depois prenderam, e que depois com certeza encomendaram a morte dela mesmo na cadeia.

— “Encomendamos” ?! Ela estuprou nossa filha! – respondeu agora uma Arianna alterada.

— É mentira!

— Quem é você? – perguntou o castanho, sem compreender.

— Meu nome é Cassandra, e eu sou a filha da Gothel.

O casal arregalou os olhos, e um frio sufocante subiu pela espinha de ambos, os corroendo por dentro como ácido.

— Não pode ser! Gothel não tinha filhos! Ela não era casada!

— Meu pai é um mafioso! Ela queria me proteger e me manter longe do mundo dele!

— Eu já tinha ido à casa dela! Nos considerávamos amigas próximas! Eu saberia se ela tivesse uma filha! E nenhum mafioso iria ser empecilho para isso!

— E se sua mãe era mulher de um mafioso ela já era uma criminosa muito antes de nos conhecermos! – falou o alemão.

— Não falem assim da minha mãe! – respondeu a mais nova apontando a lâmina para o pescoço dele.

— Cassandra! – chamou Breu, de longe, a filha o olhou – Não se esqueça, não vamos mata-los ainda, vamos esperar terminarem de arrumar a câmera!

A mais nova permaneceu com a face ranzinza, o olhando em silêncio, mas aquela mensagem foi o suficiente para contê-la.

— A sua mãe provavelmente era conivente com as atividades de seu pai, então querendo ou não ela já era cumplice! – disse Frederick, a olhando seriedade.

— Se eu fosse você, eu tomava cuidado com o que falava, seu velho, eu vou matar vocês dois e a sua filha, mas não tenho nem metade da crueldade daqueles outros, então não quero faze-los sofrer tanto, mas se me provocarem, eu posso mudar a minha decisão!

— Fica longe da nossa filha! – falou a mais velha.

— Nem em sonho! Ela é maior razão de eu estar aqui! Ela vai sofrer muito mais do que vocês dois!

— Ela não tem culpa de nada!

— Então o quê?! Minha mãe amava mais à ela do que à mim?!

— Não havia amor naquela mulher!

Um tapa atingiu a face alva da castanha, deixando-a com marcas vermelhas de dedos na mesma.

A garota de cabelos negros a olhava com ódio, e suas narinas arfavam em fúria diante daquela alegação.

Arianna ficou com o rosto virado e os olhos arregalados, surpresa com a agressão. O modo abrupto com que se movimentou, bagunçou um pouco seus cabelos lisos. Voltou-se lentamente para sua algoz, mas agora, não expressava tanto terror. Estava com raiva, os olhos castanhos brilhavam em fúria, com o carmesim da violência que sofrera a alguns instantes destacado em seu rosto, e agora, levemente descabelada.

— Eu vou fazer você engolir essas palavras! – disse Cassandra.

Então, a mais nova se levantou, deu as costas para o casal, e caminhou em direção aos quatro jovens reféns que seguiam defronte ao fogão da cozinha.

Os amigos ainda consolavam Rapunzel, que chorava abraçando os joelhos, escondendo sua face vermelha nos mesmos.

— Olá, Rapunzel! – disse a alemã de cabelos escuros, ajoelhando-se diante da mesma com afinco, como se seu corpo a impelisse a fazer-lhe mal.

A loira ergueu a face assustada e a olhou bem próxima de si.

— Fica longe dela! – falou Merida.

— Cala a boca, escocesa!

— Escuta, por favor! Tenha um pouco de compaixão e solte-nos! – disse Rapunzel, tentando conter as lágrimas.

— Deve estar sonhando! – falou Cassandra com desdém – Ainda que eu quisesse soltar qualquer um de vocês, não poderia fazer isso, os outros não deixariam. Não podem haver testemunhas. E só para deixar claro, eu não tenho nada contra nenhum de vocês três, o meu problema é só com ela! – falou voltando-se para a chorosa.

— Comigo?!

— Eu sou a filha da Gothel!

Os olhos verdes de Rapunzel se arregalaram ao ouvir aquela alegação. Os demais reagiram da mesma forma.

— Não pode ser! Não é possível!

— É possível sim! E agora eu estou aqui para vingar a morte dela!

— “Vingar a morte dela” ?! – questionou a ruiva – Você tá maluca?! Sua mãe era uma pedófila!

— Mentira! Mulheres não praticam pedofilia! Homens praticam! – respondeu vociferando.

— Claro! E mulheres também não matam, nem ameaçam ou fazem reféns! – respondeu a cacheada referindo-se sutilmente para a morena.

— Ela nunca me molestou!

— E daí?! Ela fez isso com a Rapunzel! – respondeu Jack.

— É, talvez ela nunca tenha feito isso com você para não levantar suspeitas que vinculassem à ela – disse Soluço.

— Ou talvez a loirinha e a família dela aqui tenham simplesmente armado pra cima da minha mãe por pura maldade!

O olhar de Rapunzel lentamente abandonou a tristeza e parou de lacrimejar. Seu cenho franziu em estranheza e se acalmou.

A alemã de cabelos escuros agarrou o rosto úmido e delicado de sua conterrânea pelas bochechas, e olhando bem no fundo de seus olhos ameaçou: “Por sua causa eu vivi a vida seu uma mãe, e agora chegou a hora de você pagar o preço!”.

A loira já não demonstrava medo diante dela, apenas pena, em meio a um semblante distintamente calmo.

Então Cassandra a empurrou para trás, fazendo-a bater a cabeça na madeira atrás de si, e saiu andando para junto de seus companheiros malignos.

Rapunzel baixou a cabeça, pensativa, sentindo-se fria por dentro. Os demais a observavam. Aquilo não a havia deixado tão afetada quanto poderia se esperar. Parecia estar apenas deliberando consigo mesma.

— Aí, vocês quatro! – chamou uma desconhecida voz masculina.

Todos voltaram-se para quem falava, era um dos mascarados.

— Qual de vocês fez essa panqueca? – perguntou apontando para a frigideira com a comida.

— Fui... Fui eu – respondeu a alemã.

— E ela é de quê?

— De linguiça.

— Já terminou de cozinhar?

— Já.

— Ótimo! – falou agarrando a frigideira pelo cabo e pegando a colher limpa mais próxima – Aê! Um de vocês aí! Vem aqui ocupar o meu lugar! – e foi para perto do sofá para comer encostado ao mesmo, quando terminou, deixou a panela suja sobre o móvel e comentou – Delícia!

— Você também estava fritando essas batatas, menina? – perguntou outro marginal.

— Não! – falou o castanho de óculos – Era eu!

— E já terminou?

— Não! Vocês chegaram antes que eu terminasse, então eu apaguei.

— Péssima escolha – falou acendendo o fogo no máximo.

— O óleo ainda está quente, então... – ia falando, quando de repente ouviu o chiado característico de Banguela, notando que o mesmo estava sobre a mesa da cozinha, e um dos mascarados apontava uma arma para o mesmo, Drago se aproximava do mesmo, pronto para mata-lo – Não! Espera! Por favor! Esse é meu gato! Não machuca ele!

O dinamarquês olhou o garoto, parou e ponderou.

— O que vão ganhar matando um gatinho indefeso?! Ele nem pode testemunhar nada disso! Por favor! Não machuca ele! Se fizerem isso ele pode acabar miando alto e os vizinhos podem vir aqui reclamar.

O mais velho decidiu não ferir o animal, então voltou-se de costas para o mesmo, e ficou, encostado à mobília, voltado para os parceiros daquela façanha.

Breu tirava de uma mochila uma picareta de duas pontas longas e finas, tanto o cabo de madeira, quanto o metal eram pretos e sombrios.

— Perfeito! – falou sorrindo e beijou a arma.

— Breu, como você é que tem mais eloquência, você fala na frente da câmera! – falou Grimmel.

— Certo! Vamos começar!

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado!



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