Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 21
Capítulo 21: Inimigos I


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde. É bom voltar às velhas tradições, não é? Cá está um novo capítulo bem fora da casinha.



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— Eu estou te dizendo! Não venha você me cobrar depois! Você comprou toda essa maquiagem porque quis! – dizia Merida, sentada à mesa de uma soverteria, enquanto degustava de um sorvete de casquinha de chocolate.

— Eu me propus a comprar maquiagem pra você, Merida, eu jamais iria cobrar de você algo que eu quero te dar! – respondeu Rapunzel enquanto degustava de um sorvete de casquinha de morango – E é sério! Agora que você está namorando, é bom prestar atenção nesse tipo de coisa!

— Só me faltava essa! Alguém tendo que me ensinar a namorar! – disse a ruiva com verniz de deboche – Você tem alguma experiência nisso?

— Ué, você tem?

— Não, mas...

— Eu já vi um monte de filmes de romance e eu posso te ajudar!

— O Soluço gosta de mim do jeito que eu sou!

Seguiram conversando na sorveteria colorida, cercadas de clientes e funcionários uniformizados.

Distante dali, haviam duas pessoas que jaziam debaixo da sombra de uma pequena árvore. Um adulto com mais de quarenta anos, e uma jovem com pouco mais de vinte anos.

O homem era alto, magro e terrivelmente pálido, de modo a parecer doente. Possuía lisos cabelos negros penteados para trás e olhos cor de âmbar. Usava um longo e fino sobretudo preto, calças e sapatos sociais de mesma cor. Suas mãos magras de dedos finos estavam dentro do bolso do agasalho. Chamava-se Breuner, era britânico, mas seus amigos e inimigos o conheciam pelo diminutivo, apelido e alcunha de Breu. Observava com aparência relaxada e olhar calmo, mas que não deixava de transparecer certa malícia e seriedade.

A frente dele estava a moça, que era relativamente alta, mas ainda assim era bem mais baixa que o adulto, magra, de porte atlético, possuía curtos cabelos pretos com tons de cinza, pele alva, de aparência muito mais sadia, e olhos castanhos esverdeados. Usava um casaco de pele preto, calças negras rasgadas nos joelhos e botas de mesma cor com um pequeno salto. Chamava-se Cassandra, era alemã, a única pessoa próxima dela era seu padrasto, que a chamava carinhosamente de Cass. Olhava com o cenho franzido e os olhos cheios de ódio na direção das duas amigas que conversavam na sorveteria.

Estavam do outro lado da esquina movimentada onde ficava a sorveteria.

— Ela está ali! – disse a mais nova com a voz cheia de fúria.

— Calma! – disse o mais velho – Estamos apenas observando!

Cassandra gemeu e disse: “Por quê?!”.

— O que você queria fazer? Ir lá no meio dessa multidão e se vingar? Lembre-se porque me chamou!

Conversavam sem se olhar.

— “Chamei” ?! É assim que se fala “tirar da cadeia” hoje em dia?!

— Eu podia ter fugido de lá a hora que eu quisesse!

— É, mas você estava na Rússia! Ia fugir da cadeia e faria o quê depois?! Caminhar pelo inverno russo sem ter pra onde ir até morrer de fome ou congelado? Não me lembro de ter me agradecido por ter mandado aquele ingresso de voo pra Filótes escondido naquele bolo que eu te mandei!

Breu a olhou de costas para si, sorriu de maneira sarcástica e respondeu: “Obrigado por me mandar aquele bolo, minha filha!”.

— Corta essa! Você não me criou! Quem me criou foi a minha mãe! Eu só te tirei de lá pra me ajudar a me vingar da Rapunzel! Depois disso eu quero saber de você tanto quanto você quer saber de mim!

A jovem olhava para a loira de longe, conversando com sua amiga ruiva, de repente, a mesma riu alto, batendo na mesa e erguendo a face para cima. A cacheada olhou ao redor sorrindo e pedindo para que a alemã se manifestasse de forma mais discreta.

Aquilo a fez ranger os dentes e cerrar o punho, estalando-os. Sentiu-se impelida a ir até lá.

Avançou, mas de repente, sentiu o pulso ser segurado com força pelo homem.

— Eu disse pra ficar calma! – olhou para o lado e notou que algumas pessoas os observavam – Venha! Você está começando a chamar atenção! – falou puxando-a.

Guiou-a até uma viela próxima. A mesma era limpa, com paredes de tijolos cinzentos, fazendo sombra sobre o chão, se esconderam ali e ficaram defronte um para outro.

— Por que estamos fazendo isso? – disse ela insatisfeita – Era só termos esperado ela ficar sozinha e atacarmos!

— E por que você não fez isso sozinha?! Porque você não quer ir pra cadeia! E por mais que seu padrasto seja um chefe de polícia e você esteja nesse mesmo início de carreira, você não sabe como acobertar um crime! E precisa de mim! Se você apenas e simplesmente ataca-la de surpresa em algum lugar sozinha vão saber que foi assassinato! E existem muitos detalhes que podem levar até você!

— Ah, mas está demorando muito! Precisava mesmo chamar aqueles outros caras?

— Aqueles homens me ajudaram muito na minha era de ouro, e agora eles e eu também teremos a nossa oportunidade de vingança!

— “Eu também” ?! E eu aqui achando que você queria vingar a morte da mamãe... Não! Você quer se vingar daquele russo, não é? Quer atingi-lo através do neto dele! Você não dá a mínima pra menina que provocou a morte da sua mulher!

— Ex-mulher! E eu amava sua mãe! E amava você também! Eu estava disposto a me mudar pra Alemanha e morar com vocês duas, mas ela me traiu para o governo da Rússia quando eu viajei pra lá a negócios e o Norte me prendeu! Eu sou britânico, mas sei falar alemão, alguns detentos pensavam que eu era alemão! Sabe o que os russos fazem com os alemães?!

— O senhor era um mafioso! Ela só estava se protegendo!

— Ela devia me proteger! Que nem eu estava disposto a proteger vocês duas! Não é minha culpa se eu não pude ser um pai mais presente!

A mais nova virou o rosto, evitando a face do pai, dizendo: “Isso não importa mais! O que passou passou, e eu estou muito feliz com meu padrasto!”.

Aquilo feriu o coração do mais velho, mas com astúcia, sorriu e respondeu: “Não o bastante pelo visto, afinal de contas foi só ver a loirinha que provocou a perda da sua mãe que você quis acabar com ela!”.

Cassandra manteve o rosto virado, mas aos poucos franziu o cenho, olhando para baixo, a tristeza e raiva consumindo sua alma. Então olhou para Breu, que notou o quanto suas palavras a feriam também, ficou dividido entre o prazer da vingança e a relutância de ferir a própria filha.

Decidiu prosseguir.

— Pra você, que é uma agente da lei ir tão longe a ponto de me tirar do buraco onde eu estava e vir aqui ficar cara a cara com você só pra te ajudar a se vingar de uma loirinha mais inocente do que um recém-nascido...

— Ela não é inocente! Ela forjou aquelas provas contra a minha mãe! Ela jamais faria aquilo que disseram que ela fez! – lágrimas começaram a brotar de seus olhos.

— A Rapunzel forjou provas contra a Gothel com menos de dez anos de idade?! Seja realista Cassandra! Sua mãe era má... Que nem eu... Que nem você...

— Nós não somos como você!

— Talvez você não, mas ela era... Na época em que ela começou a cuidar da Rapunzel, ela ficou distante de você?

— Para com isso!

— Acho que ela devia gostar mais da Rapunzel do que de você!

— Para! – disse a mais nova, já com raiva.

— Ou talvez ela apenas amava vocês duas de formas diferentes – disse com um sorriso maligno no rosto.

Então o rosto do homem virou-se para o lado, um som baixo, mas forte de peles se chocando ecoou dentro da viela apertada. E um instante de silêncio se seguiu.

A moça havia estapeado o pai.

Lentamente, o mais velho olhou para a filha com a marca de seus dedos na face, mas ainda assim sorria de forma desdenhosa.

— Ela teve o que mereceu Cassandra! Ela não amava você! Nem a mim! Nem ninguém! E com certeza não sentia nada pela Rapunzel! Nenhum agressor desse tipo sente algo por suas vítimas! Ela só amava a si mesma!

Ela respirou fundo, enxugou as lágrimas e depois falou.

— Minha mãe foi agredida e morta pelas próprias prisioneiras da cadeia de Filótes! Elas transformaram minha mãe em cinzas, em pó. Não há nem um cadáver, nem um túmulo para ela! Quando eu comecei a minha carreira na polícia me deram a tarefa de ser vigia das criminosas presas ali. Muitas ali tinham algo a ver com a morte dela, e me reconheceram na hora. Elas ficaram debochando de mim, e não importa o quanto eu batesse nelas, elas não paravam de falar do que fizeram com a minha mãe e como ela era um ser humano horrível! Um dia eu estava dirigindo e vi a Rapunzel tirando a neve na frente de uma grande casa de madeira, ela ainda teve a audácia de olhar para mim e sorrir acenando! – seus dentes rangeram e seus punhos cerraram novamente, estalando alto e repetidas vezes – Naquela hora eu não percebi que era ela, mas aquele rosto não me era estranho, às vezes eu vejo algumas reportagens que falaram da minha mãe, naquele dia eu as vi de novo, dizia que era filha dos donos da linha de cerveja Corona, apesar de tudo não foi difícil achar uma foto dela quando criança, e agora com dezoito anos. Eu demorei pra acreditar que era ela. Eu soube naquele momento, eu cresci sem uma mãe por causa da Rapunzel, se o destino a trouxe até mim, então é meu destino me vingar! Então eu vou me vingar, à qualquer custo! Esse é meu destino!

Breu a olhou com o cenho franzido e a sombra de um sorriso em seu rosto pálido, parte de si parecia orgulhoso da filha.

Cassandra então deu alguns passos para o lado e pôs a cabeça para o lado de fora da viela, notou que seu alvo e a amiga estavam saindo da sorveteria.

— Vamos! Elas estão indo embora! – falou enquanto saía andando – E só pra constar! Você não é ninguém pra falar de quem agride crianças! Quantas crianças você já não feriu, ameaçou e aterrorizou psicologicamente?

— É, mas pelo menos eu não sou um maníaco sexual – falou caminhando atrás dela.

Entraram em um carro preto. Pertencia à mais nova, mas permitia que o mais velho dirigisse. Reconhecia que não estava psicologicamente bem para conduzir um veículo.

A escocesa e a alemã entraram em um táxi juntas sem notar que estavam sendo seguidas.

Breu acompanhou-as até chegar à casa de Norte, estacionou distante da mesma, depois saiu e ordenou que a filha permanecesse no carro.

A moça observou de longe seu pai caminhar e sumir, ele era de fato bom em desaparecer, não se enxergava nada além da grande casa de madeira, cercada de árvores e neve, com alguns enfeites natalinos.

Esperava impaciente e em silêncio, bufando repetidas vezes com os braços cruzados e fazendo careta.

— Voltei! – disse o pai entrando de repente dentro do carro, assustando-a.

— Isso é ridículo! Por que estamos fazendo isso?! Já sabemos há dias que eles estão aqui!

— Se quer derrotar um inimigo, conheça-o! Essa é a primeira lição que deve aprender!

— Tá! E o que descobriu?

— Eles estão felizes e despreocupados, nem sequer notaram que estão sendo observados, temos o elemento surpresa ao nosso favor!

— Tem certeza de que ninguém o viu?

— Querida, está falando com um mestre em desaparecer! Você pode ter certeza de que os russos não notaram a minha ausência até o momento em que a poeira baixou e eu já estava bem longe dali!

— Tá, mas e agora? Mais um dia desperdiçado espionando eles?!

— Não! É o momento ideal! Agiremos hoje à noite!

A mais nova sorriu.

Pai e filha chegaram a um hotel medíocre, passaram pela recepcionista, o mais velho a saudou enquanto Cassandra passou sem sequer virar o rosto raivoso.

Subiram as escadas em silêncio, e adentraram em um quarto. Era pouco espaçoso, de paredes brancas e móveis escuros, sujos e mal cuidados.

Na sala, diante da televisão haviam dois homens. Um era alto e forte, com longos cabelos e barba negras e enfeitadas, possuía uma carranca raivosa e carecia de um braço, seu nome era a sua alcunha Drago Sangue Bravo. Era dinamarquês.

O outro era magro e mais baixo, embora não fosse pequeno, já tinha certa idade e possuía cabelos brancos, a face era alva e limpa, sem barba, nem bigode e sua face transparecia desdém e cólera, brincava com uma grande faca militar nas mãos. Era Grimmel, da Suécia.

Ambos usavam preto e assistiam a um canal de esportes.

Longe de ambos, na cozinha, havia um terceiro homem. Era alto e forte, não tanto quanto Drago, mas com certeza possuía esses atributos muito mais do que Grimmel. Possuía longas barbas e cabelos castanhos. Cozinhava sem camisa, usando apenas uma calça verde, o peito forte cheio de tatuagens e cicatrizes. Era M’ordu, da Escócia.

— Chegamos pessoal! – falou Breu em um sarcástico tom alegre.

— Sem cortesias! O que descobriu? – perguntou Drago.

— Sempre direto! Isso é algo que eu sempre gostei em você Drago.

— Vá direto ao assunto Breu! – disse Grimmel.

— Isso não cai tão bem em você Grimmel.

— Enrolação também não cai bem em você! – respondeu M’ordu.

— Ah, mas que droga! Por que eles estão aqui mesmo?! A gente já podia ter planejado o ataque logo ao invés de ficarmos nessa palhaçada! – disse a garota no quarto.

— O que disse menina? – perguntou o mais alto e forte ali, erguendo-se e indo em direção à ela.

A mais nova se assustou a princípio, mas logo, seu pai surgira à sua frente, protegendo-a.

— Calma Drago, ela não falou por mal! Só está com pressa, que nem todos nós. Alivia vai, ela é amadora – disse mantendo a voz calma.

— Eu não acho que essa menina estar aqui é uma boa ideia. Como se já não bastasse ela não ter a menor experiência com aquilo que fazemos, ela é filha de um chefe de polícia, e uma policial! – falou o homem de cabelos brancos apontando a lâmina para a mesma.

— Ei! Não se esqueçam! É por minha causa que vocês estão todos aqui!

— Errado! Eu estou aqui pela minha vingança! – disse o homem forte e deficiente.

— Sim, mas se eu não tivesse ajudado meu pai, nenhum de vocês estaria aqui! Aliás, ninguém me respondeu, por que você tinha que ligar para eles? Se tivéssemos agido do jeito que eu queria e esperava, já teríamos nos vingado, e você poderia voltar a construir um império!

— Isso é apenas uma cortesia profissional, Cassandra! A ideia antes era só se vingar da Rapunzel, mas eu tive o privilégio de descobrir que aquele garoto de cabelos brancos é neto do Norte, com quem tenho assuntos inacabados. Aquele garoto de óculos é filho do Stoico com a Valka e o Drago e o Grimmel também tem assuntos a tratar com eles dois, e a garota de cabelos cacheados é filha do Fergus com a Elinor, e M’ordu tem assuntos a tratar com esse casal também. Podemos usa-los para chegar até os nossos inimigos que foram a causa da nossa ruína! Não é todo dia que isso acontece! Uma oportunidade dessas deve ser aproveitada!

A mais nova suspirou jogando a face para o lado e colocando as mãos femininas na cintura magra.

— Breu, você não nos respondeu, fez a sua parte? – perguntou novamente o escocês.

— Sim! Sei até os nomes deles. O nome do neto do Norte é Jack, o nome do filho do Stoico com a Valka é Haddock, mas todos o chamam de Soluço, não sei porque, e o nome da filha do Fergus e da Elinor se chama Merida! E o interessante é que parece que o Soluço e a Merida estão namorando – disse com verniz de humor e harmonia em sua voz macia.

— Tá, e qual é o plano? – perguntou Cassandra.

— À meia noite nós vamos à pé até lá, vamos invadir a casa, emboscaremos eles, faremos deles reféns e ligaremos para seus respectivos pais e mandaremos eles se encaminharem para lá, sob a ameaça de matarmos seus filhos – respondeu o britânico.

— Mas à meia noite?! Eles não vão estar todos dormindo? – questionou a alemã franzindo o cenho.

— Eles são empresários minha filha, com certeza ficam até mais tarde trabalhando, e têm sono leve, vão ouvir o celular tocar, com certeza. E quanto aos moleques? Todos os dias eles têm ido dormir bem depois disso...

— Os pais também vão ser orientados a não ligar para polícia, nem falar para ninguém o que está acontecendo ou para onde vão. Irão apenas entrar em seus carros e estacionar bem na frente da casa, de forma discreta, como se estivessem apenas visitando os filhos, todos ao mesmo tempo – falou o sueco.

— Também devemos orientar Norte, Stoico, Valka e Fergus a irem sem armas, pois sabemos que eles possuem um histórico militar.

— Então vai ser a hora da vingança?! – disse Cassandra com avidez.

— Sim, eles vão sofrer, a morte deles não será rápida! – falou o dinamarquês – Até arrumei uma câmera para filmar – falou pegando o aparelho e o erguendo, observando-o – Vou rever esse vídeo várias e várias vezes após essa noite.

— Você é sádico! – disse a mais nova no quarto.

— Vai dizer que não vai querer ver aquela loirinha se contorcendo de dor... – respondeu o mais velho com olhar sugestivo.

Cassandra arregalou os olhos. Olhou para o lado e para baixo. Aquele homem não estava errado.

— Tem certeza de que planejou tudo Breu?! – questionou Grimmel – O que pretende fazer se eles começarem a gritar de dor? Ainda que todos estejam dormindo, alguns vizinhos podem acordar com os gritos.

— É aí que você se engana, meu caro colega escandinavo! Eles possuem uma salinha especial para festas, o som que sai de lá é mais abafado e tem umas luzes coloridas girando, costumam ir lá pelo menos uma vez por semana. Dá de ouvir a música, mas só se estiver à frente dela na rua, e sem mencionar que também é só tamparmos a boca de todos eles e colocarmos uma música alta.

— E depois? – perguntou a mais nova – Pretendem apenas dar as costas e sair andando? Como pretendem realizar tudo isso sem que uma investigação policial leve tudo isso até vocês?!

— Até nós! – corrigiu o homem com a lâmina – Você também faz parte disso!

— Nós ocultaremos nossa presença e provocaremos um acidente doméstico na casa, provocando um incêndio, não há forma melhor de ocultar provas do que com fogo! Depois sairemos escondidos. E é por isso que quando nos vingarmos deles devemos ter muito cuidado para não quebrarmos os ossos deles, senão a polícia vai suspeitar de que tinha mais alguém ali!

— Mas assim não vai ter a menor graça! – disse Drago.

— Mas é um preço leve a pagar em troca da vingança – disse M’ordu.

— Muito bem notado! – disse o sueco – Aliás, Drago, você fez a sua parte?

— Fiz! Infelizmente não consegui nenhum de meus antigos homens, ou estão mortos, ou foram presos, ou trabalham para outro, então tive que arranjar apenas arruaceiros sem treinamento. Novos homens! Idiotas o bastante para participar, não têm a menor noção de que mais tarde vamos ter que fazer um queima de arquivos.

— Falou com eles para não levarem armas de fogo? – perguntou Breu.

— Falei, não gostaram disso assim como eu, mas falei!

— Drago, já explicamos, não pode haver o risco de que haja um tiroteio na hora, se não os vizinhos vão acordar e chamar a polícia, e tanto a nossa vingança quanto a nossa cruzada para voltar para o topo já era! – disse o sueco.

— Então usaremos armas brancas para mata-los?! Canivetes?! Facões?! Facas?! – questionou o deficiente indignado.

— Não esquece a minha picareta! – disse o britânico.

— Me surpreende que esteja tão contrariado com isso, Drago. Balas são muito rápidas! Com lâminas e pontas podemos apreciar melhor o momento – disse o homem de cabelos brancos.

Ao ouvir aquilo, o revoltado sorriu.

— Esses marginais que você arranjou também vão ligar para eles no nosso lugar, se eles reconhecerem nossa voz, podem vir com alguma carta na manga.

— Tá bom! Já entendi! – disse a moça – Já que é assim eu vou querer ligar para os pais da Rapunzel.

Os demais se olharam.

— Pra quê?! Pensei que sua vingança era apenas com a Rapunzel, não com os pais dela – disse o escocês.

— Os pais dela espancaram a minha mãe antes de manda-la para cadeia!

Se olharam novamente.

— Por mim tudo bem, e quanto a vocês?! – perguntou Breu.

Os demais assentiram.

— Mas espera – disse a alemã franzindo o cenho e baixando o olhar – E quanto aos outros?

— Outros quem? – perguntou M’ordu.

— Os filhos deles! O tal do Soluço, dessa Merida e o Jack. O que vai acontecer com eles?

— Não podem haver testemunhas – disse Drago.

— Vamos mata-los, junto com os pais – falou Grimmel.

Ela arregalou os olhos.

— O quê?!

— O que achou que fosse acontecer? – perguntou o pai colocando-se ao lado da filha, com um tom quase inocente.

— Espera! Mas os outros três são inocentes! Eles não têm nada a ver com isso!

— E daí? – perguntou Drago.

— Não queria se vingar fazendo o que fazemos? É isso o que fazemos! Buscamos os nossos objetivos e passamos por cima de qualquer um para realiza-los! – falou o sueco.

— Mas eles são apenas crianças!

— Exatamente! – retrucou o mesmo com olhar debochado, com um leve espasmo irônico de cabeça.

— Eu não concordei com isso!

— Não pense em dar pra trás agora, policial! Não pense que não passaremos por cima de você se fizer isso! – disse o escocês aproximando-se dos demais com uma faca de cozinha mão, apontando para a mais nova.

— Calma! – disse Breu posicionando-se na frente de Cassandra novamente, defronte aos demais, que se erguiam indo até a mesma – Ela não vai dar pra trás, não é?! – perguntou voltando-se para alemã.

A moça olhou os homens à sua frente, todos com olhares cruéis e sombrios em seus olhos brilhantes e sanguinários, enquanto uma terrível sombra caía sobre suas faces. Olhos de homens que já haviam derramado muito sangue.

Ela ficou aterrorizada, de modo que seu corpo tremeu em meio a um arrepio, com a boca aberta e os olhos arregalados.

Breu a olhou, notando como a mais nova estava aterrorizada, no fundo queria ser um bom pai, então interveio.

Voltou-se para os demais, ergueu os braços magros com os dedos finos nas mãos, com um gesto, os apascentou dizendo: “Por favor cavalheiros, acalmem-se! Eu vou falar com ela.”.

Assim fizeram. Drago, Grimmel e M’ordu pararam se olhando enquanto franziam os cenhos.

O pai pegou a filha, tocando-a no ombro, envolvendo seu pescoço e caminharam para longe, no canto da parede.

Aos sussurros, conversaram.

— Não tem como fazermos tudo sem matarmos eles?

— A ideia de tudo isso é nos vingarmos de maneira a sairmos impunes. O que acha que vai acontecer se os deixarmos vivos logo depois que matarmos os pais e avô de um deles?

A alemã cruzou os braços olhando para baixo.

— Eu não queria isso.

— Relaxa! Isso é apenas para que depois você possa voltar à sua vida naturalmente, vivendo como sempre viveu e nós vamos tentar reconstruir nossa vida. Eu não quero essa vida pra você. E se precisar de apoio psicológico, é só falar comigo! Garanto que consigo um profissional que não vai nos delatar – falou sorrindo.

Cassandra o olhou com olhos relutantes, mas ao mesmo tempo gratos sob a escuridão do ambiente.

— Ainda assim...

O sorriso do mais velho se desfez, então respondeu: “Está disposta a se vingar, mas não a pagar o preço que isso exige? Então você não quer se vingar tanto assim.”.

Ela o olhou, surpresa.

— Você não é criança! Não aja como se o que está fazendo já não fosse errado! Acha mesmo que se contasse para um juiz que estava só “se vingando de alguém que tirou sua mãe de você quando era criança” ele não vai te jogar na cadeia? Agora mesmo você poderia ser presa por conspirar contra a vida de alguém!

A alemã baixou a cabeça, atingida pelas palavras.

— Quer se vingar ou não?! – aumentou o tom de voz.

— Quero! Eu penso nisso desde que minha mãe foi presa! – gritou.

— Então se decida logo!

— Não é tão fácil!

— Ora, pense, Cassandra! A vida de três adolescentes no meio do fogo cruzado é apenas um pequeno sacrifício a se fazer para finalmente realizar o seu destino! É apenas um preço que terá que pagar! E deveria ser grata por ser tão pouco, para me vingar de antigos inimigos eu já fiz muito mais do que isso!

Novamente, ela baixou a cabeça, fechou os olhos apertando-os, respirou fundo, por um instante, pareceu ter sussurrado “mamãe” com voz de choro.

Então ergueu o rosto e disse: “Tá! Tá bom! Mas quando a hora chegar, não serei eu que vou mata-los!”.

— Ninguém nunca disse que seria você! Agora vá até lá e diga isso à eles.

Cassandra voltou-se para os homens que a aguardavam encarando-a. Olhou o pai, com ar de crítica, caminhou para perto deles. Então falou:

— Tá bom! Não só a Rapunzel vai morrer, mas também o Soluço, a Merida e o Jack.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Cá está. Muito obrigado!



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