Queridos Amigos escrita por Mithrandir127


Capítulo 23
Capitulo 23: Inimigos III


Notas iniciais do capítulo

Cá está mais um capítulo. Muito obrigado por esperarem!



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— Boa noite senhoras e senhores. Espero estar mostrando esse vídeo para mim mesmo neste momento. Vou cortar tudo o que for gravado essa noite, inclusive essa parte que estou falando e ir direto para a cena em que irei torturar e assassinar o Norte com as minhas próprias mãos. Espero que meu eu do futuro esteja apreciando tudo isso nesse momento enquanto come pipoca. Permitam-me agora estrelar meus amigos e suas vítimas, enquanto apresentamos a um filme chamado “Vingança”. É um nome curto e genérico, eu sei, mas simples, rápido e preciso.

Enquanto seguia falando, Stoico e Valka se observaram, então olharam para o filho, que observava seu gato andando por cima da mesa, próximo ao inimigo mais alto e mais forte, o desmembrado. Fez um gesto de cabeça para o animal.

Olhou então na direção dos pais e lhes lançou um olhar de confirmação. Como se fosse fazer algo para tentar tira-los daquela situação.

O pai norueguês baixou o olhar diante daquilo, sentia que sabia qual era o plano do filho, mas não estava crédulo de que daria certo, mas não tinha opções melhores, e se tudo desse certo, ainda teria o elemento surpresa.

Soluço olhou para os amigos em silêncio, mantendo o mesmo olhar. E os demais entenderam de imediato. Alguns arregalaram os olhos. Rapunzel fez que não, mas no fundo, ela sabia que não tinha direito à escolha.

Cinco dos criminosos cercavam os pais segurando suas terríveis lâminas, dedicando atenção especial aos que tinham um evidente histórico militar, no caso, os noruegueses e o escocês Fergus. Havia um na frente de cada um deles, mas também dedicavam sua atenção à Elinor, à russa e aos alemães.

Dois observavam os quatro filhos, sem sentir grandes desafios.

Outros dois estavam em ambos os lados do Dinamarquês, tal qual seus guarda- costas.

Drago observava Breu com a face séria e dura. Por mais que estivesse satisfeito com a ideia de trazer a câmera, achava aquela introdução desnecessária, então não manifestava a menor empolgação.

— Não seria melhor amarra-los? – perguntou um homem de máscara.

— Eu acho que sim, mas Breu e Grimmel acharam que se trouxéssemos cordas eu ficaria tentado a usar de modo a praticar torturas arcaicas, o que poderia provocar danos em seus ossos e a polícia notaria que tudo isso foi um assassinato.

— Mas poderíamos usar outras coisas no lugar de uma corda, tipo, abraçadeiras de nylon.

— Eu tinha o hábito de torturar meus inimigos prendendo os braços deles para trás e ergue-los até quebra-los – falou olhando para um deles com olhar frio, intimidando-o – Não será necessário, os filhos deles estão conosco.

— Mas eles já sabem que os filhos deles vão morrer.

— E daí? O que acha que vão fazer? Correr o risco de se cortarem e ver os filhos morrerem primeiro?! Não, é evidente que não. Sabem que se cooperarem, vai ser mais rápido.

Um instante de silêncio se seguiu. Observavam Breu falar.

— Escuta, aquelas mulheres são bem bonitas – disse um dos marginais.

— O que você quer? – perguntou o desmembrado.

— Quando começarmos, poderíamos brincar com elas primeiro?

— Não.

— Por que não?

— Porque se vocês dois fizerem isso os outros também vão querer fazer, e isso vai demorar para acabar, além do fato, de que ninguém vai tocar na Valka! Eu vou matá-la com as minha próprias mãos! Ela não me inspira o menor desejo. Ela vai sofrer muito antes de morrer!

Os dois homens gemeram em desgosto.

— E aquelas duas garotas, a loirinha e a ruiva? A gente pode se divertir um pouco com elas? Elas também são muito lindas.

O dinamarquês olhou para o lado, fungando pensativo.

— Perguntem à Cassandra.

Os dois se retiraram e caminharam até a filha do britânico, que permanecia de pé, ao lado dos jovens, olhando para o pai discursando.

Um dos dois chegou e sussurrou em seu ouvido.

Seus olhos verdes acastanhados se arregalaram por um instante, mas depois, sorriu com malícia.

— Eu não tinha pensado nisso, mas podem ficar à vontade para fazer o que quiser com a Rapunzel! Aliás, já pode levar ela lá pra cima, que enquanto meu pai termina, eu já posso subir e começar a minha vingança e terminar logo isso!

— Do que vocês estão falando? – perguntou Jack, preocupado e desconfortável.

— E a outra garota? – perguntou o outro homem, ignorando-o – A gente pode se divertir com ela também?

— Como assim “divertir”? – perguntou Soluço com ar de fúria e indignação.

— Não! Se quiserem podem fazer o que quiser com a Rapunzel, mas eu não tenho nada contra essa ruiva.

— Ora, não venha dar uma de nobre agora, ela vai morrer de qualquer jeito, então, por que não? Não quer ficar com o peso na consciência? Não finja que o que já está fazendo aqui não é errado! Anda! Deixa! Eu prometo que mato ela assim que acabar, de maneira rápida e indolor! Ela nem vai sofrer muito mais do que precisa!

Cassandra o olhou com relutância e culpa, mas depois fez um gesto assentindo.

Então, os dois homens foram até os jovens e puxaram as garotas pelos braços.

— Ei! Espera! O que está fazendo?! Me solta! – gritou Merida.

— Por favor! Não! O que vão fazer? – perguntou a loira em desespero.

— Não! Ei! Soltem elas! – gritou Jack.

— Esperem! Soltem a Merida! Soltem a Rapunzel! – gritou o castanho.

— Você vai sentir uma fração do que a minha mãe sentiu na prisão Rapunzel! Ela foi violada pelas próprias prisioneiras das mais variadas formas possíveis, mesmo sendo inocente.

Os gritos chamaram a atenção dos pais que seguiam ajoelhados.

— Esperem! Não! Para onde estão levando minha filha? – perguntou Elinor.

— E a minha também! O que estão fazendo? Soltem-nas!

— O que vocês acham que acontece quando um homem leva uma mulher à força para um canto fechado? – perguntou um dos mascarados.

— Espere! Por favor! Não faça isso com ela! Se quiser me leve, faça o que quiser comigo, mas deixe minha filha em paz!

— A mim também! Por favor! Minha filha já foi vítima de violência sexual uma vez! Ela não merece que isso aconteça com ela uma segunda vez! E com um homem ainda por cima!

— Ei! Se encostarem um dedo na minha filha eu vou fazer com que se arrependam de ter nascido! – gritou Fergus.

— Eu também! – disse Frederick.

Breu, que havia parado de falar parou para olhar aquilo.

— Desculpa, mas vocês me atrapalharam, e é falta de educação atrapalhar alguém no meio de um discurso. Por que não procuram um quarto de uma vez e fazem logo o que querem fazer? Sejam rápidos e não deixem que elas gritem muito! E vocês, pais, façam silêncio, por mais que alguns de vocês sejam tão nobres, por favor, este é o fim pra vocês. Logo vocês todos vão estar no Paraíso, onde não tem sofrimento e nem dor, então parem de reclamar tanto. Nós é que vamos permanecer neste mundo cruel.

Então um silêncio mortal surgiu ali.

As duas garotas eram arrastadas para longe de seus amigos e familiares, agarradas por trás, pelos homens mais altos e mais fortes, tendo seus braços segurados e sendo arrastadas pelos criminosos que andavam de costas. Temiam o que iria acontecer, sabiam que em seguida seria o fim.

A cacheada era puxada em direção aos quartos onde os quatro houveram sido hospedados nos últimos dias. A alemã era guiada para longe, para a sala onde seria assassinada.

Seus pais e os demais ali que estavam ajoelhados as olhavam assustados e temerosos pelo que ia acontecer. Jack era o que mais temia, então olhou para o amigo ao seu lado, consultando sobre o plano.

O jovem norueguês voltou-se para o pai com um olhar desesperado. O mais velho fez um gesto, tal qual um aviso, ou uma permissão.

Merida olhou Rapunzel, dando-lhe força, motivando-a a fazer o mesmo que a ruiva faria dentro de poucos instantes.

— Uma Cavaleira Teutônica, lembra, você é uma Cavaleira Teutônica – sussurrou a cacheada, de modo que o homem que a prendia não podia ouvir, mas a loira poderia compreender aquelas palavras pela leitura labial.

— Tá bem, uma Cavaleira Teutônica, uma Cavaleira Teutônica – sussurrou a loira consigo mesma, então notou que pelo caminho onde passava, estava a frigideira onde fizera seu jantar da meia noite.

Soluço gritou: “Banguela, agora!”.

Então, o gato que jazia sobre a mesa saltou do móvel e pousou na face de Drago, que estava distraído no momento. Arranhou e mordeu a mesma sem qualquer escrúpulo, seus dentes e presas mais afiados do que nunca. Os pelos negros eriçados, e miando de forma agressiva.

O homem desmembrado gemeu e gritou com aquela pequena fera ferindo sua face, cambaleou para todos os lados com a mão sobre a mesma, tentando tira-la, sentindo os pelos e carne macia, mas sempre que puxava, sentia a pele de seu rosto se rasgar.

Todos ali voltaram-se para aquele ocorrido, o momento de distração perfeito para reagir.

Merida conseguiu soltar seu braço esquerdo, passando por cima do aperto do marginal, então acertou a face daquele que a prendia com uma cotovelada, fazendo o mesmo solta-la e colocar a mão sobre o nariz. Então chutou-lhe o peito, fazendo-o cair de mal jeito, encostado na parede. E com um segundo chute, acertou em cheio a garganta do mascarado, houve um distinto som de osso quebrando, e o marginal caiu inerte sobre o chão.

— Uma Cavaleira Teutônica, uma Cavaleira Teutônica, “Ajudar, Defender e Curar” – a alemã sussurrava consigo mesma quando Banguela atacara o desmembrado.

A germânica conseguiu alcançar a frigideira na hora certa, e a usou para acertar a cabeça de seu algoz. Ele a soltou, meio atordoado. A loira ainda acertou-o novamente, mas com o lado do utensílio de cozinha, acertando em cheio sua traqueia. Mesmo após o homem agarrar a própria garganta, sem ar, Rapunzel ainda se sentiu impelida a agredi-lo outras vezes com a panela, até que o mesmo finalmente caísse por terra inconsciente. Assim se livrou de seu agressor.

Soluço também não deixou de reagir. Investiu sobre o fogão, agarrou a panela com óleo fervente onde fritavam as batatas cortadas e as atirou contra o mascarado distraído à sua direita, acertando sua face em cheio com o líquido ardente, fazendo-o cair desarmado e gritando, sentindo sua pele queimar.

Jack notou que o homem à esquerda investiria sobre seu amigo, e lançou-se sobre o mesmo quando esse menos esperava, agarrando o pulso que segurava um facão, mordendo-o com força.

O mascarado gritou de dor, e se viu forçado a soltar sua arma.

O platinado chutou a arma para longe, mas logo depois fora empurrado pelo criminoso. No entanto, não tardou a reagir, chutou-o na cintura, fazendo o mesmo cair para trás em cima da geladeira.

Na pia, havia carne descongelando para o dia seguinte, o russo a pegou e atirou com toda sua força na direção do mascarado. A comida acertou sua testa em cheio, e o mesmo caiu no chão, sem se mexer.

Os homens que cuidavam dos pais também se distraíram no momento em que Drago fora atacado, haviam ficado basicamente de costas para suas vítimas.

Stoico arremeteu-se contra um deles, agarrou-o pelo pescoço com seu braço forte, segurou a mão onde estava o facão, e fez o desconhecido atravessar a si mesmo com a arma que segurava. O pobre vagabundo não teve a menor chance de lutar ou resistir.

Valka foi menos violenta e mais limpa, se comparada com o marido. Agarrou por trás a cabeça do criminoso com suas mãos femininas e com um movimento rápido, quebrou-lhe o pescoço.

Fergus, com um rápido movimento de mãos desarmou o mascarado distraído e furou seu peito com o facão.

— Valka, abaixe-se! – gritou o norueguês enquanto erguia o homem que havia apunhalado sobre suas mãos fortes, com os grossos braços estendidos para cima, ainda vivo, se contorcendo de dor.

A esposa ouviu, o escocês também, ambos se abaixaram ao mesmo tempo, e Stoico o atirou na direção dos outros dois mascarados que ainda não haviam sido interceptados, derrubando ambos de uma só vez.

Assim que os outros dois caíram, Fergus gritou: “Elinor! Fuja! Agora!”.

O homem cacheado tomou a cônjuge pela mão, fazendo-a se levantar, e empurrando-a para que saísse dali.

Ao ouvir aquilo, o casal alemão também reagiu se erguendo e correndo para longe dos homens caídos.

Drago finalmente havia conseguido livrar-se do gato do filho de seu inimigo, atirando-o para longe, revelando sua face repleta de arranhões, de onde escorriam sangue.

— Não! – gritou ele ao ver o que havia acontecido, e correu para realizar uma investida sobre os inimigos.

Então, Breu, Grimmel e M’ordu correram na direção dos pais com suas armas.

Valka se preocupou mais em se colocar diante de Rubi, e começara a enfrentar o sueco. Fergus se colocou à frente de Elinor e começou a enfrentar seu conterrâneo. Stoico começou a enfrentar o dinamarquês mutilado.

Frederick e Arianna se viam desprotegidos, poderiam tentar correr para a porta, mas a mesma certamente estaria trancada por fora, poderiam atravessar as janelas, mas sua filha ainda estava ali.

O lado bom é que nenhum daqueles enormes assassinos que estavam ali, buscavam vingança contra eles. Mas sim uma menina confusa e raivosa que estava defronte aos mesmos naquele momento, mas que infelizmente estava próxima de sua filha, perseguindo-a.

A batalha entre o bem e o mal estava acirrada, e se viam imprensados contra a parede de madeira, precisariam dar a volta pelos combatentes para chegar até sua prole, mas se viam incapazes faze-lo, pois para onde olhavam parecia haver alguém ali para impedi-los. A melhor janela de oportunidade era passar pelos mascarados derrubados pelo ruivo escandinavo.

— Ali! – disse o alemão puxando a esposa pela mão, evidenciando que iriam tentar passar por cima dos criminosos caídos e atordoados.

Parecia que ia dar certo, mas no último segundo ambos se levantaram, levantando os facões contra o casal.

A mulher caiu de joelhos, assustada, como se desistisse.

Os marginais avançaram um passo na direção do homem, que se afastou, mantendo distância. Frederick não tinha treinamento militar, mas era corajoso o suficiente para enfrentar qualquer coisa para salvar sua família.

Os criminosos estavam um atrás do outro segurando seus facões, então o da frente avançou, passando pela alemã sem sequer nota-la, mas este fora seu erro.

O facão de alguém na batalha caiu ao chão.

— Acabou Stoico! – gritou Drago, apontando um machado para o mesmo.

Mas o norueguês desarmado respondeu com uma investida sobre o mesmo agarrando seu tronco e tirando-o do chão, derrubando-o não muito longe dali.

Arianna agarrou o facão manchado de vermelho, e apontou na direção do primeiro mascarado que ali permanecia vivo. Nem sequer precisou fazer muita força, ele mesmo havia caído em cima da lâmina.

O criminoso gemeu de dor ao sentir o aço adentrando sua carne, abaixou a mão que segurava o facão, e o homem a quem pretendia matar a tomou de si. Então o marginal caiu para o lado.

O outro criminoso que estava atrás do que havia sido gravemente ferido se distraiu olhando-o ir ao chão, não esperava por aquilo, e quando a imagem do alemão surgiu em sua frente, o mesmo estava com os braços erguidos e as mãos escondidas em suas costas, como se fosse atirar o facão.

Assim o fez, e a lâmina atravessou o pescoço do último mascarado vivo, que foi ao chão sem ter o direito de gemer.

Em outra circunstância, aquele casal que jamais houvera passado por tal experiência pararia para saborear o sabor amargo do que fizeram, mas não tinham tempo para isso, tinham que ir em direção à filha, que certamente precisava de ajuda.

Caminharam em direção ao caminho que haviam aberto.

Rapunzel olhava para o homem que havia nocauteado sozinha, com a ajuda de um material de cozinha. Estava assombrada, e algumas mechas de cabelo loiro caíam a frente de seus olhos verdes assustados, o rosto sombrio no meio da escuridão do ambiente, pois ele não parecia estar respirando.

A loira ia abaixando-se para analisa-lo, mas foi impedida, pois notou surgir em sua direção, uma Cassandra furiosa correndo com um facão em punho.

Rapunzel assustou-se, e quando notou o golpe surgir, colocou a frigideira diante do mesmo ao mesmo tempo que fechava os olhos, apertando-os.

A lâmina fez faísca ao acertar a panela, e a loira se curvou com sua defesa quase indo ao chão, mas estava incólume.

A garota de cabelos negros arregalou os olhos ao ver que sua inimiga ainda estava viva, estava indignada com aquele fato, e disposta a muda-lo.

Então atacou de novo, mas a loira, seguiu bloqueando.

Ao notar aquela luta, Merida decidiu ajudar.

O casal alemão notara a situação da filha, e ao conseguir chegar ao caminho que haviam aberto, Breu surgiu na frente de ambos, segurando sua picareta negra e sorrindo.

— Onde pensam que vão? – perguntou ele.

— Saia da frente! – disse Frederick.

— Não posso fazer isso. Prometi à minha filha que a ajudaria a se vingar, então não posso permitir que vocês interfiram na vingança dela. Sabem como é, palavra de honra, e também, ela é minha filha, fariam o mesmo pela de vocês...

Arianna o atacou assim que terminou de falar, emanando um grito de fúria, mas o britânico soube reagir a aquilo de forma rápida e precisa, atacou-lhe a mão com o lado da picareta, desarmando-a e chutando a arma para longe.

O marido tentou fazer o mesmo, mas acabou sendo também facilmente desarmado, e depois ainda fora golpeado e jogado para trás, caindo sobre a esposa.

O inglês caminhou até os alemães, colocando-se sobre eles enquanto apontava a picareta. O casal o olhavam encolhidos sobre o chão, mas a face séria contra o inimigo.

— Não se preocupem – disse Breu – Eu não vou mata-los, é a minha filha que tem problema com vocês, não eu. Eu só vou segura-los aqui para que quando a minha filha voltar ela possa ter a vingança dela.

Cassandra novamente erguia um facão para tentar matar Rapunzel, mas Merida chegara por trás, e conseguira agarrar suas mãos e afasta-la de sua amiga.

A garota de cabelos escuros fora arrastada de costas para longe de sua presa, caminhando para trás. Mas com um movimento de seu tronco magro, voltara-se da direção da ruiva, e a chutou no joelho.

A cacheada se ajoelhou gemendo.

Sendo policial, Cassandra também tinha treinamento e experiência.

Mas a escocesa não se rendeu, continuou segurando as mãos armadas de sua oponente, e já aproveitando que estava de joelhos, jogou-se sobre o chão, colando as mãos de sua inimiga à madeira.

A garota de cabelos negros gemeu quando se viu forçada a deitar sobre o piso com as mãos presas, tentou puxa-las, mas era impedida pois a celta havia colocado seu peso sobre elas, e agora as batia contra o piso, tentando faze-la soltar sua arma, e também mordia seu pulso com força.

Cassandra gemeu ao sentir aquilo, mas não soltou a arma.

— Rapunzel! Me ajuda aqui! – gritou Merida.

A loira ainda se encolhia assustada, segurando a frigideira com grandes arranhões em suas mãos alvas, que faziam força ao redor do cabo de madeira. Seus olhos verdes estavam arregalados e arfava lentamente.

As palavras da amiga foram o suficiente para traze-la de volta à realidade e faze-la agir.

Lançou-se sobre sua conterrânea e ergueu a panela para bater.

Contudo, a adversária notou o que estava prestes a fazer, então soltou a mão que estava sendo ferida pelos dentes da ruiva e a puxou por debaixo de seu corpo, assim, se protegeu dos golpes de Rapunzel com o antebraço esquerdo.

A mão direita da morena ainda segurava o facão, mas a cacheada que segurava o mesmo, agarrou-o com as mãos e as pernas e puxou o braço na direção contrária a qual deveria dobrar.

Cassandra gemeu alto, e finalmente soltou sua arma. A escocesa continuou a segurar-lhe o braço, tentando quebra-lo, mas a posição não ajudava.

Rapunzel seguia atacando-a com a frigideira, embora seus golpes só acertassem o antebraço já dolorido da inimiga. A morena então, chutou o joelho direito da loira, fazendo-a se afastar pondo a mão sobre o mesmo. Depois mordeu com força a perna da celta, fazendo-a soltar uma das mãos para empurrar-lhe a face até que soltasse seu braço totalmente.

A morena então se ergueu rapidamente e afastou-se das inimigas, que não demoraram a se recuperar e a encara-la.

Cassandra as olhou em silêncio, aos poucos sorriu com a boca manchada, e por fim correu.

— Espera! – chamou a loira, que a perseguiu.

— Rapunzel, espera! Não vai atrás dela sozinha! – disse Merida indo atrás da amiga.

A morena subiu as escadas, e suas duas inimigas foram atrás.

Stoico seguia lutando contra Drago, agora, ambos desarmados, mesmo com a carência de um braço, o dinamarquês era um adversário formidável, pulava, usava suas pernas, e às vezes usava o que estava por perto como arma.

E Valka enfrentava Grimmel, ambos usando facões, ela sempre mantendo um distância segura, e usando suas pernas como armas principais, pois assim podia atacar de longe.

Soluço os observava ao lado de Jack, que olhava sua mãe junto à parede, olhando toda aquela confusão com uma terrível frieza.

No meio da luta, o norueguês ruivo notou ainda a presença de seu filho, que seguia a vê-lo lutar.

— Soluço! Pega os outros e foge!

— Eu não posso deixá-los aqui! – respondeu.

— Obedeça o seu pai, querido! – disse a norueguesa.

— Vai! – gritou o pai, olhando o castanho.

Mas ao desviar o olhar, Stoico cometeu um erro, erro este que seu oponente saberia muito bem como aproveitar, agarrando um vaso pesado com flores e quebrando-o sobre a cabeça do mesmo, que caíra sobre o chão, gemendo.

— Pai!

— Stoico! – gritou a esposa escandinava.

O desmembrado o olhou de cima vitorioso.

— Devia se preocupar mais com o seu oponente do que com o seu filho, Stoico! O amor pela sua família ainda vai matar você... Hoje!

Drago voltou-se para o machado que segurava antes e que fora atirado no chão pelo seu oponente.

Ao ver aquilo, Soluço, rangendo os dentes e consumido pela fúria agarrou seu gato e correu até o inimigo de seu pai.

— Soluço! Não! – gritou seu amigo platinado.

O dinamarquês ainda estava distraído quando pegava o machado do chão, então o castanho não teve grandes dificuldades em atirar seu animal sobre a face do mais velho.

Banguela novamente atacara o desmembrado, arranhando e mordendo seu rosto já ferido, com os pelos eriçados e miando de forma violenta.

Drago gemia de dor, não tentaria, nem conseguiria tirar a fera de cima de si usando o machado, então o soltou e voltou a puxar a criatura de seu rosto e atira-la para longe, que desta vez iria atingir a parede e fugir definitivamente da batalha.

O inimigo alto e forte que o filho de Stoico iria enfrentar estava com a face mergulhada em sangue, e cheio de fúria. Limpou um pouco do vermelho com a mão, e olhou o mais novo, que já se via com os punhos inocentemente erguidos, em meio a um evidente nervosismo.

— Então é você que vai me enfrentar agora, garoto? – perguntou, e depois puxou uma grande faca militar detrás de si.

O de óculos arregalou os olhos verdes ao ver aquilo. Esperava uma investida com a lâmina, mas foi pego de surpresa quando foi atingido com força com um chute no estômago.

O que o fez cair de joelhos no chão, com as mãos jovens sobre a barriga magra, de olhos fechados e gemendo.

— Soluço! – gritou a mãe ao vê-lo naquela situação.

Stoico, ainda atordoado e debruçado sobre o chão, abriu os olhos e viu a condição do filho, sentiu que já estava tudo acabado.

— Eu não puxei essa faca contra seu pai porque eu sabia que ele poderia usa-la contra mim se eu desse bobeira, eu não finjo que seu pai não tem a vantagem de possuir os dois braços. Mas você me irritou tanto com esse seu gato, que meus parabéns, me fez puxar a minha lâmina e usar minha arma secreta.

O mais novo o olhou de baixo, assustado.

Rapunzel seguiu Cassandra até a sala onde havia a varanda onde gostara de ficar. Merida chamava pela amiga, avisando-a do perigo, mas a frigideira que carregava já lhe dava uma satisfatória sensação de segurança.

A lua de repente havia aparecido no céu, como se as nuvens negras da noite lhe dessem a cortesia de dar o ar de sua graça em tal noite de violência. O astro prateado brilhava do outro lado da sala, onde a porta da varanda estava aberta, com as cortinas balançando ao vento. O chão e os móveis ficaram iluminados pelo frio brilho azulado da lua, que acertava gentilmente a face de quem entrava ali.

A garota de olhos verdes estava parada na entrada do quarto, enquanto segurava a frigideira com a mão direita. Tentou acender a luz dali levando a mão esquerda até o interruptor.

Clicou na tecla na parede repetidas vezes, fazendo um som baixo, mas a lâmpada não acendia. Demorou para notar os cacos de vidro da lâmpada no chão, ao lado de um livro, pois ali também era uma biblioteca.

A ruiva estava atrás da amiga.

— Rapunzel, espera! Nós duas sabemos que se trata de uma armadilha! – sussurrou a cacheada, mas a amiga apenas gesticulou, pedindo-a para ficar ali, escondida.

Então, a moça armada com uma panela de metal adentrou o lugar, sustentando a mesma diante do peito.

— Cassandra! Esse é o seu nome, não é? Eu ouvi seu pai chamar você desse jeito enquanto falava para aquela câmera. Escuta, eu não quero ser sua inimiga, eu só quero conversar...

Foi interrompida quando um corpo saltou sobre ela no escuro.

— Rapunzel! – chamou a escocesa, correndo para dentro do quarto.

A garota de cabelos escuros jogou-se contra Rapunzel, apertando seu pescoço alvo com violência. A frigideira rolou para longe, e a jovem de olhos verdes agora segurava os pulsos firmes de sua algoz.

— Já chega! Eu já não me importo de deixar provas para trás! Eu não quero conversar com você! Só quero te matar!

Então, a celta a agarrou por trás, fazendo um mata leão, puxando-a de cima de sua amiga, mas a alemã morena estava muito forte, e estava difícil puxa-la dali, talvez seria inteligente esperar que a falta de ar fizesse algum efeito, mas não tinha como garantir que a loira não iria desfalecer antes disso.

— Rapunzel! Os dedos dela! – aconselhou Merida.

Com relutância, a garota imprensada contra o chão fez o que sua amiga aconselhou. Agarrou seus dedos da forma que pôde e os torceu de modo a faze-los soltar sua garganta.

Sem opções, Cassandra concentrou-se na garota que a enforcava, agarrando seu braço, erguendo-se, caminhando para trás e rangendo os dentes. Com um movimento, atirou-a sobre o chão, fazendo-a passar por cima de si, deslaçando o aperto em seu pescoço, libertando-se.

A ruiva caiu sobre a loira, ambas gemeram com o impacto dos corpos se chocando, estavam de fato lidando com uma inimiga formidável.

— Fica fora disso, escocesa! Isso não tem nada a ver com você!

— Uma lunática está tentando assassinar minha amiga, mas isso não tem nada a ver comigo?! Jura?! – respondeu enquanto se erguia e ajudava a amiga a levantar.

— Eu não vou avisar outra vez!

A cacheada ergueu os punhos, vestida em seu pijama, iluminada pela luz do luar.

— Pode vir!

— Gente, por favor, vamos conversar! – implorou Rapunzel enquanto passava a mão no pescoço dolorido.

A morena raivosa avançou sobre a escocesa, e a mesma empurrou a garota de olhos verdes para longe.

Começaram a trocar socos. A celta com a guarda fechada a maior parte do tempo, sem notar grandes brechas para atacar de volta, mas vez ou outra se arriscava com um golpe ou dois, mas sem fazer muito efeito. Sua inimiga estava mesmo consumida de ódio.

Então, Merida deixou passar um golpe que atingiu suas costelas ainda doloridas. Ela gritou baixando a guarda, e a alemã de cabelos escuros aproveitou a oportunidade, chutando-lhe a face, fazendo-a cair para trás, atordoada.

— Merida! – chamou a loira.

Cassandra olhou da ruiva à sua conterrânea, a face vermelha irritada. Então, avançou sobre a mesma.

— Não! Cassandra! Cassandra! Espera, por favor! – implorou a garota com olhos de esmeralda, erguendo as mãos, mas sendo ignorada.

A morena agarrou Rapunzel pelos pulsos e começou a puxa-la na direção da varanda com toda sua força, enquanto a mesma implorava.

Agarrou-a novamente pelo pescoço e começou a empurrar a mesma sobre a sacada, mas a loira agarrou-lhe novamente os pulsos e envolveu-a com suas pernas para se manter naquele andar da casa.

Contudo, a alemã de cabelos negros seguia a empurra-la enquanto a sufocava com seus dedos fortes. Rapunzel corria o sério risco de perder a consciência e depois despencar daquela terrível altura.

— Cassandra, por favor! – falou com a voz falhando enquanto seu rosto assumia tons de vermelho e seus olhos claros lacrimejavam sob a luz da lua.

Mas a predadora a olhava no fundo de seus olhos serenos com uma fúria inflexível, enquanto rangia os dentes em meio a um semblante terrível de satisfação.

De repente, um novo par de mãos surgiu, agarrando os pés da loira, que ainda envolviam o corpo magro de Cassandra e puxando-a de cima da varanda, fazendo-a cair de costas sobre o chão de madeira.

— Não! – praguejou a morena, e sem olhar para trás, tentou acertar uma cotovelada contra Merida, que já esperando por aquilo, ergueu os antebraços para se defender, e assim se fez.

A garota de cabelos negros avançou sobre a ruiva, mas sua oponente retribuiu o chute em sua face, fazendo-a cair sobre o chão.

A cacheada correu até Rapunzel, que recuperava o fôlego ainda deitada e encolhida.

— Rapunzel, você tá bem? – perguntou preocupada.

— Eu estou bem – falou massageando o pescoço macio, a voz já melhorando – Merida, por favor, deixa eu conversar com ela!

— O quê?! Tá maluca?! – criticou franzindo o cenho.

Então a escocesa sentiu puxarem-na pelos cabelos. Surpreendida, afastou-se da amiga, e de imediato, protegeu o rosto novamente com os antebraços.

Arrastando-a de volta para dentro da casa, Cassandra a derrubou, jogou-se sobre a mesma, colocando uma perna em cada lado de seu corpo, e começou a agredi-la com socos, de costas para a varanda, e para Rapunzel.

Mas a celta seguia com os antebraços erguidos, protegendo-se.

— Rapunzel! Acorda! Ela não está interessada em conversar! Ela vai matar nós duas! – gritou enquanto se defendia.

— Desiste! Aquela covarde mentirosa não vai...

A morena foi surpreendida quando sentiu um par de braços femininos a envolverem por trás. Então foi arrancada com força de cima de Merida, que também olhou perplexa, e assim foi erguida para o alto e atirada contra o chão com um peso considerável sobre si.

A loira havia colocado em prática o golpe que havia feito apenas com sacos de pancada.

A alemã de cabelos negros ficou severamente atordoada, sentiu seus ossos serem esmagados, e ficou imóvel no chão.

Mas a jovem com olhos verdes não pararia com aquilo, colocou-se sobre Cassandra, e começou a desferir socos como sua oponente houvera feito com sua amiga a poucos instantes.

O rosto de sua conterrânea estava parcialmente coberto pela escuridão e parcialmente iluminado pelo frio brilho azulado da lua. Ela não conseguia se defender como fizera a ruiva, estava atordoada demais para isso. Então todos os socos que Rapunzel acertara em sua face lhe atingia em cheio.

Inicialmente, a loira relutava em fazer aquilo, abominava a sensação da carne macia em seus punhos femininos. Mas de repente, à medida que batia, começou a notar a semelhança que havia entre aquela garota e Gothel.

Sempre que o soco atingia a face encolerizada da morena parcialmente escondida pela escuridão, a mesma parecia se transformar na mulher que lhe aterrorizara na infância. Então deixou de relutar, e agora a atacava com força total.

A ruiva, que seguia deitada sobre o chão, sorriu ao notar a nova atitude de sua amiga.

Não demorou muito para que a delicada garota com olhos de esmeralda deixasse de enxergar sua compatriota de cabelos negros e visse apenas a algoz de sua infância, de quem sentia estar se vingando. Começou a se sentir bem enquanto a agredia.

A cacheada notou que Cassandra já estava com face mergulhada em sangue e perdendo a consciência, e sua amiga não parecia que ia parar tão cedo. Temeu que aquilo pudesse tirar a alma de Rapunzel. Então interveio.

Puxou a amiga também pelas costas, afastando-a de sua vítima, dizendo: “Rapunzel! Já chega! Você já venceu! Essa não é você!”.

A loira não queria parar de bater, mas não conseguiu continuar, pois o puxão da escocesa fora mais forte e  afizera cair sentada, longe da morena.

A alemã de cabelos negros não demorou a se erguer, embora tremesse e enxugasse o sangue vermelho de sua face úmida.

— Droga... Eu juro por Deus, Rapunzel, eu vou te matar! Isso não vai ficar assim!

— Cassandra, chega! Você já perdeu! – disse a celta se erguendo junto da companheira.

— É isso que você acha, ruivinha? – respondeu a inimiga com o corpo curvado, o olho esquerdo fechado e arfando com os ombros subindo e descendo – O que você acha que vai acontecer? Acha que os outros vão simplesmente desistir se vocês aparecerem lá embaixo me segurando?

— Você é muito jovem para jogar sua vida fora fazendo o que eles fazem – falou Merida se aproximando – Por favor, à essa altura os vizinhos já devem ter percebido que tem algo de errado e chamado a polícia. Se você desistir agora, podemos dizer isso pra eles e quem sabe, você pode até sair impune disso tudo.

Cassandra baixou a cabeça, como se estivesse disposta a fazer um trato.

A ruiva se tranquilizou diante daquilo, olhou para Rapunzel, que estava com o rosto esmorecido e sério.

Então, a morena acertou um soco no rosto da cacheada, fazendo-a cair gemendo para o lado.

— Merida! – gritou a de olhos verdes.

— Eu sou policial, é claro que eu não vou sair impune de nada disso! – disse para aquela que acabara de bater – E também, tudo isso seria por nada ao fim de tudo se você saísse viva!

Lançou-se sobre a loira, novamente apertando-lhe o pescoço, a mesma novamente segurando seus pulsos. Tentou novamente leva-la em direção à varanda, mas Rapunzel não permitiria, afastou-se da mesma.

As duas acabaram presas uma à outra, girando sem parar. Uma tentando empurra-la daquele andar da casa, a outra tentado se manter ali. Nenhuma das duas sentia medo naquele momento.

Então, a garota de olhos de esmeralda, decidiu pôr um fim naquilo. Parou de girar, pulou e chutou com os dois pés a moça que lhe apertava o pescoço.

A morena cambaleou violentamente para trás, assustada, com os olhos arregalados e gemendo. Assustou-se quando acertou a sacada, e gritou alto quando caiu para o outro lado.

— Espera! Cassandra! Não! – gritou a loira se erguendo, correndo em direção à mesma, iludindo-se de que ainda havia tempo para impedir o inevitável, a mão estendida, como fosse segura-la.

Quando chegou à varanda já era tarde, olhou para baixo, fria por dentro, condenando-se pelo que fez.

A escocesa se ergueu rapidamente ao ver o que ocorreu, juntou-se à Rapunzel para ver o que tinha acontecido.

Viram Cassandra deitada sobre a grama, inconsciente, os braços magros estendidos para os lados, as pernas dobradas para lados distintos, e a face manchada de vermelho. Jazia iluminada pela luz da lua, até que a mesma fosse coberta pelas nuvens, e a mulher inconsciente sobre a grama fosse tomada pela escuridão.

Soluço seguia ajoelhado perante o velho inimigo de seu pai, gemendo de dor com as jovens mãos no estômago.

Jack via aquilo de longe, buscando ajuda-lo, mas seu olhar alternava entre o amigo e sua mãe, que o impedia de fazer algo a respeito, através de gestos de cabeça e olhares frios e rígidos.

Valka queria fazer algo à respeito, mas estava ocupada demais lidando com Grimmel, e sabia que se desse as costas para o mesmo, morreria, e morta não poderia proteger ninguém.

Stoico seguia deitado de lado sobre o chão de madeira, olhando o homem cheio de cicatrizes segurando uma grande faca diante de seu filho. Seu instinto paterno exigia do mesmo uma atitude pertinente à situação, mas estava atordoado demais para se erguer e lutar, se tentasse, certamente iria ao chão, e as esperanças já eram poucas.

O ruivo pensou nas crenças de seus bárbaros antepassados. A de que iriam para Valhalla, onde se reuniriam com seus parentes que morreram gloriosamente no campo de batalha. Não era pagão, não acreditava naquilo, mas acreditava que as famílias se reuniam em um lugar muito melhor do que o mundo cruel a qual os homens são naturalmente fadados a nascer. Também acreditava que aqueles que provavam o inferno da violência e da guerra receberiam uma recompensa especial no Paraíso. Por esse ângulo, não parecia tão ruim morrer ali.

Talvez no fundo aquelas ideias só serviam de consolo porque a morte de seu filho representaria seu fracasso como pai, e após aquilo não teria mais razões para viver.

O castanho de óculos seguia de joelhos, com o corpo magro curvado e a cabeça baixa.

— Tenho pena de seu pai por ter tido um filho como você, garoto. Mesmo não sendo amigo dele, sei que Stoico, o Imenso merecia mais do que isso como filho – falou olhando o garoto de cima com desdém.

O norueguês o olhou com raiva em seus olhos verdes. Então, saltou, mirando sua cabeça no queixo forte de Drago.

O ataque do mais novo atingiu o desmembrado em cheio, fazendo-o cambalear para trás, gemendo atordoado, pondo o punho cerrado sobre o rosto, segurando a faca.

O pai norueguês arregalou os olhos diante daquele feito difícil de acreditar e pareceu que naquele momento, ganhou alguma esperança, de maneira que sua cabeça pareceu ter parado de doer e girar.

Até mesmo a mãe da família e seu oponente pararam para ver aquilo.

Soluço o olhava com os olhos claros arregalados e rangendo seus dentes brancos. Seus lisos cabelos suados caíam sobre a testa alva, e sentia sua cabeça latejar. Agradecia mentalmente a um anime específico por ter lhe ensinado aquele golpe.

— Boa, Soluço! – gritou a mulher escandinava.

Ela acertou um chute diretamente na face do sueco contra quem lutava, fazendo-o cair para trás, indo ao chão. Então partiu para enfrentar o dinamarquês.

Chutou a faca de sua mão, dando à ela o poder de voo. No fogão onde os quatro hóspedes cozinhavam naquela madrugada, ainda havia uma boca acesa no fogo alto, onde o garoto de óculos fritava suas batatas. Foi ali onde a lâmina de Drago decidiu pousar.

Valka ainda chutou a face de Drago, que naquele momento ainda estava atordoado demais para se adequar à situação e agir adequadamente.

Stoico lentamente conseguiu se colocar de joelhos enquanto olhava o que acontecia, e apesar da situação, conseguiu sentir orgulho do caçula, de modo que seus olhos cinzentos quase lacrimejaram.

Grimmel se ergueu lentamente, seu nariz estava sangrando, e sua seiva manchava seus dentes. Olhou para a mulher que o golpeara com ódio e logo correu contra ela, mas o filho da mesma reparou e na hora interveio.

Quando menos esperou, o sueco foi recebido com um chute na cintura, que o fez recuar.

O sueco caminhou para trás sem entender à princípio o que estava acontecendo, franzia o cenho e olhava para a oponente que o derrubara e subjugara. Mas ao notar o ocorrido, decidiu olhar para baixo e reparar em sua pedra de tropeço.

Viu o pequeno e magro filho de seus inimigos, olhando-o com firmeza e erguendo os punhos, pronto para enfrenta-lo.

— Você tentou me acertar entre as pernas, não foi garoto?

— Tentei, mas não tinha como garantir que iria conseguir, e também, você poderia segurar minha perna no último segundo.

— Você é bem inteligente, devo reconhecer, mas não pense você que eu sou que nem o Drago. Não vou me aproximar o bastante para te dar a oportunidade de dar um golpe como aquele. Minha maior arma é a inteligência – falou enquanto pegava sua faca do chão e a guardava na bainha atrás de sua cintura – E inteligência vence a força!

Concluiu e logo em seguida, desferiu um chute com a perna direita contra o mais novo.

Soluço conseguiu defender o golpe com seus antebraços, mas a força do mesmo o empurrou para o lado fazendo-o ir ao chão.

Ao ver aquilo, seu pai se viu forçado a abandonar a fraqueza momentânea de seu corpo e voltar à batalha. Fazia força para erguer-se, mas a pernas falhavam.

— E eu sou mais forte e mais inteligente do que você! – acrescentou o homem de cabelos brancos.

Então aproximou-se do mais novo deitado no chão, esperando uma fuga desesperada do mesmo, arrastando-se de costas sobre a madeira, fazendo cara de criança assustada.

Mas suas expectativas foram subvertidas, pois quando chegou perto de seu pequeno inimigo, fora recebido com um chute no joelho.

Gemeu, afastando-se.

O ruivo norueguês olhou aquilo, e fora o suficiente para perceber o quanto seu filho estava sendo muito mais forte do que se esperava. Embora as fraquezas humanas e naturais de seu corpo estivessem também evidenciadas ali, não podia abandona-lo e desaponta-lo agora.

Grimmel perdera a paciência, avançou de modo que Soluço não podia fugir, lançou todo o peso de seu corpo contra o mesmo, e o imprensou contra o chão.

— Você realmente sabe como irritar alguém, não é garoto? – falou puxando sua faca.

Valka, que seguia ocupada com Drago, notou o que estava acontecendo e gritou: “Soluço! Não!”.

O castanho de óculos olhava sem esperanças para a faca apontada em sua direção.

Então, uma mão grande e forte surgiu, segurando o braço do sueco antes que o mesmo descesse.

Era Stoico que o olhava com terrível fúria.

— Você não é mais forte do que o meu pai! E lutar contra ele é uma ideia de jerico! – disse o garoto norueguês.

O homem com a faca se intimidara diante daquele olhar aterrorizante. Assustou-se quando fora erguido pelo ruivo sobre sua cabeça, e depois atirado com violência para longe de Soluço. Em direção aos quartos onde os quatro dormiam.

O filho dos escandinavos expirou aliviado ao se ver livre da situação na qual se encontrava.

Breu ainda apontava a picareta para o casal alemão. Sorria enquanto os prendia à uma parede diante de si.

— Não é nada pessoal. Vocês fariam o mesmo pela filha de vocês...

Foi interrompido quando um grito alto e breve, mas com verniz de constância surgiu do lado de fora. Também fora possível ver algo caindo no quintal.

O sorriso no rosto do britânico desapareceu no mesmo instante, pois apesar de nunca ter ouvido a filha gritar daquele jeito, sabia que aquela manifestação desesperada pertencia a ela.

Caminhou angustiado até a janela, a abriu um pouco, e sofreu um terrível choque ao ver Cassandra inconsciente e ensanguentada sobre a grama verde.

— Não... Cassandra! Não... Filha...

Houvera aberto caminho ao ir até a vidraça, e enquanto se lamentava naqueles lampejos de tristeza, Frederick e Arianna aproveitaram o momento para fugir.

O inglês passou por alguns breves instantes permitindo os mais diversos sentimentos nocivos o consumirem naquele momento, e os tornava visíveis através de suas expressões de raiva, tristeza e nojo.

Não se tornara um líder de gangue se permitindo ser consumido pelas emoções, então respirou fundo, e dentro de alguns instantes se recuperou. Embora ainda sentisse ser consumido pelas chamas.

Olhou para Rubi, que o olhava com seus frios olhos azuis em seu alvo rosto sério.

Breu agarrou a picareta e a colocou sobre o ombro direito, caminhando até a russa.

— Eu quero que se lembre, Rubi, isso não é nada pessoal. Sua morte e a do seu filho é só um meio para um fim.

— Rubi! – gritou Valka ao ver a amiga em perigo.

Quando o britânico tirou a arma de cima de si, foi quando a platinada decidiu reagir, acertando com rapidez e violência um chute em sua cintura, fazendo-o se afastar bruscamente.

O inglês riu enquanto se curvava e cambaleava.

— Tinha que ser mesmo a filha do Norte, não é? – falou forçando um sorriso.

Então, Jack apareceu por trás do mesmo, escalando seu corpo, apertando seu pescoço com o braço esquerdo e desferindo vários golpes com o alvo e jovem punho direito.

Breu gemeu, surpreso.

A eslava também se assustou com aquilo, seus olhos claros se arregalaram, a boca feminina se abriu e um medo terrível e frio irrompeu-se dentro de si, tal qual um vulcão em erupção.

— Jack! Não! – gritou ela.

— Meu pai não iria querer ver a senhora morrer! – respondeu ele enquanto batia.

Breu gemia com raiva enquanto tentava se livrar do platinado, que não o soltava de maneira alguma. A picareta negra jazia em suas mãos, e decidiu que já estava na hora de fazê-la provar sangue.

Rubi, ainda com os olhos abertos, notou a intenção do britânico, e arremeteu-se sobre o mesmo, segurando a mão do inimigo no meio da trajetória, antes que atingisse seu filho.

Ao impedir aquilo de acontecer, começou a lutar contra o inglês para tomar-lhe a arma da mão.

Assim os ficaram os três. Breu lutando para tirar um russo de pescoço, e para soltar uma russa de sua picareta.

Merida desceu as escadas junto de Rapunzel, indo adiante da mesma para protege-la de qualquer outra ameaça externa. Mas ficou surpresa ao notar que as primeiras figuras que apareceram foram os pais da loira, a abraçando com força.

— Rapunzel, meu amor! Graças à Deus! Você está bem! – dizia o pai, aos beijos e abraços.

— Meu amor! Me perdoa! Nós nunca mais iremos deixar você sozinha! Nunca mais iremos nos separar de você! – dizia a mãe repetindo o gesto do marido.

— Mamãe! Papai! Que bom que estão bem! – dizia a alemã mais nova chorando.

A ruiva sorriu ao vê-los ali, parecia não ter mais que se preocupar em proteger ou consolar a amiga.

A cacheada então ouviu um gemido familiar. Olhou em direção ao mesmo, e viu seus pais com dificuldades para enfrentar M’ordu.

Fergus, cujo rosto estava sangrando, puxava o inimigo pelos cabelos, derrubando-o contra o chão e colocando-se sobre o mesmo, embora estivesse pulando em um pé só, pois o tatuado soubera explorar tal fraqueza.

Elinor tentava auxiliar o marido como podia, mas era menor e mais fraca do que ambos, e sempre que tentava ajudar, ou o marido a repelia, ou era golpeada, acidentalmente ou de propósito, afastando-a do conflito.

O pai da escocesa socou o descamisado repetidas vezes com seu punho forte de dedos ásperos e grossos, gritando e fazendo careta. A vítima de seus golpes sentia arduamente a dificuldade de enfrentar aquele homem, seu rosto já estava inchado e manchado de sangue.

M’ordu então procurou algo no ambiente que pudesse lhe favorecer.

A esposa do ruivo reparou que a prótese do marido estava próxima aos dedos do inimigo. Ao notar o que ia acontecer, tentou impedir, mas falhou.

O tatuado atingiu em cheio a cabeça do perneta, atordoando-o e o tirando de cima de si. Colocou-se sobre o oponente, a face em fúria, estava prestes a erguer a perna falsa que usava como arma, pronto para matar Fergus à pancadas.

Elinor não queria perder seu amado, mas não sabia o que fazer.

Então, Merida surgiu, dando uma brusca volta em seu corpo e o atacando por trás, sobre o pescoço do mesmo, mordendo sua orelha da forma mais selvagem possível, torcendo a cartilagem do outro ouvido, puxando-o para trás, usando aquele meio violento para afasta-lo de seu pai. Chegou a sentir o sabor de sangue em sua boca, surpreendeu-se quando sua cabeça deu um solavanco para trás, como se seus dentes houvessem se soltado do mesmo, mas eles não haviam feito isso.

O descamisado gritou alto ao sentir um pedaço de sua orelha ter sido arrancado.

A ruiva abriu seus olhos azuis ao ter notado o que ocorreu. Cuspiu a carne que havia em sua boca, junto com um pouco de sangue. Escorria vermelho de seus lábios, pingando de seu queixo feminino.

M’ordu ainda segurava a prótese do outro escocês. Não queria usa-la contra uma jovem moça, mas a mesma havia demonstrado que aquela violência era mais necessária.

Golpeou-a sem olhar para trás, apenas torcendo para que sua inimiga fosse acertada, mas sua cabeça já estava fora de seu alcance.

A cacheada enfiou seus dedos nos olhos do tatuado, fazendo o mesmo novamente gritar de dor, obrigando-o a soltar a perna de Fergus, que aos poucos recobrava a lucidez, ainda deitado de costas no chão.

O tatuado puxou os dedos da mais nova de seu olho direto, libertando-o, ia fazer o mesmo com esquerdo, mas sua mão foi segurada pelo desmembrado abaixo de si, e as unhas afiadas jovem escocesa lhe arranharam as córneas da forma mais dolorosa possível.

Sem escolhas, ergueu-se e jogou-se para trás, forçando o perneta a solta-lo e a garota e sair de seu dorso e parar de ferir seu globo ocular.

A garota celta cambaleou para o lado, saindo daquela investida abrupta.

M’ordu libertou-se, porém, sua investida cega o fez atingir um antigo armário grande e pesado, cheio de porcelanas raras de origem russa. O mesmo balançou ao ser golpeado.

Elinor reparou naquilo, não havia nada que o prendia à parede. Sabia que seu inimigo não seria parado pela selvageria de Merida, uma vez que também era bestial e resistiria mais, também sabia que seu marido já não estava em plenas condições de lutar, uma vez que a prótese estava danificada, e sua filha não era páreo para aquele monstro, mas também sabia que inteligência vencia a força, e aquela era a hora de provar isso.

O descamisado se ergueu gemendo, limpando o sangue de seu rosto bruto. O olho direito estava vermelho, expressando todo seu ódio, o esquerdo sangrava, e o usuário notou que não enxergava nada com o mesmo, estava cego.

— Mãe! Fica atrás de mim! – gritou a ruiva, colocando-se diante do inimigo.

Mas a mãe arfava, olhando para várias coisas, a perna de madeira no chão, o armário alto e pesado, seu marido, carente de um membro, a filha que a olhava sobre o ombro enquanto pedia que se afastasse.

Viu o sangue na face de sua prole, por um segundo, considerou que poderia ter sido de uma ferida na boca, aquilo foi o suficiente para lograr novamente para si a força que ganhou na ponte, quando tirou uma vida. Estava disposta a fazer de novo.

— Fergus, se afaste! – gritou ela.

Embora não compreendesse totalmente, atendeu sal exigência, o tom de voz deixou claro que aquilo não era opcional.

Agarrou a prótese no chão e atirou em direção à virilha de um M’ordu em recuperação, acertando-lhe os órgãos genitais, forçando-o a cair de joelhos, gemendo, com as mãos sobre o mesmo.

Então, a morena correu até o lado esquerdo do armário, tentando derruba-lo sobre o homem sem camisa, mas a mobília era pesada demais.

— Merida! Me ajude! – gritou.

A cacheada a olhava boquiaberta e com os olhos surpresos em seu rosto sujo na escuridão. A última coisa que esperava era ver tal iniciativa de sua mãe. Mas ao ser chamada não demorou a responder.

Correu ao lado direito do móvel antigo e começou a empurra-lo.

O tatuado olhou Fergus se afastando, cogitou que estaria fugindo dele, então avançou sobre o mesmo, caindo de barriga sobre a madeira, os braços fortes e alvos estendidos em direção ao mesmo, começou então ir de quatro na direção do mesmo, tal qual uma fera perigosa e selvagem, fazia careta e rugia da mesma forma que uma.

O ruivo não demonstrou qualquer traço de intimidação. Já havia notado o plano da esposa.

O armário caiu sobre o corpo deitado de M’ordu com violência, fazendo um barulho terrivelmente alto de madeira caindo e quebrando e porcelanas se partindo, levantando poeira.

O pó atingiu o rosto do desmembrado, que olhava sentado para seu inimigo, o rosto machucado e inexpressivo, havendo certa serenidade em seus olhos azuis.

Apenas o direito braço grosso do derrotado emergia da mobília, porém permanecia imóvel. Uma poça de sangue vermelho escuro também brotava próximo de seu membro exposto.

As duas escocesas jaziam de pé, uma de cada lado do móvel caído, arfando com as bocas abertas e erguendo os ombros em sintonia com a respiração, assustadas, suadas e os corações acelerados batendo alto, olhando para o inimigo esmagado pela madeira.

Elinor aos poucos voltou o olhar para a filha. Percebeu que aquele sangue não poderia ter saído de sua boca, não a viu ser golpeada. Aquela compreensão poderia tê-la feito olha-la com outros olhos, a expressão perfeita da violência e selvageria de sua herdeira, mas não a fez.

A mais nova aos poucos olhou a mãe, ainda mantendo seu olhar alarmado, a grande prova de que apesar de tudo, era humana. Surpreendeu-se ao notar que olhar da morena era relativamente sereno.

Um breve balançar de cabeça da mais velha fez Merida se tranquilizar, embora seu peito continuasse subindo e descendo. Fez um pequeno gesto com rosto. Sentia que naquele momento, por mais estranho que parecesse, tudo estava bem entre elas.

Grimmel se erguia do chão assustado, tal qual um animal cercado, e de fato era. Stoico aproximava-se lentamente do mesmo, olhando-o de cima com imponência e superioridade.

O de cabelos brancos apontou a faca para o ruivo. Atacou-o diversas vezes, com a lâmina cortando apenas o ar, pois o barbado afastava-se na distância certa, caminhando para trás.

Enquanto o sueco atacava e o norueguês desviava, acabaram por entrar no corredor onde estavam os quartos de hóspedes. O mais baixo sorriu ao reparar aquilo.

— Não devia ter entrado aqui, Stoico. Acabou de ficar encurralado – falou ao fazê-lo encostar-se de costas para a última porta.

O mais alto não respondeu, apenas o olhou com fúria nos olhos de prata.

Grimmel o atacou novamente, com uma estocada, pronto para atravessar o peito forte de Stoico, mas ficou surpreso quando seu pulso foi segurado na trajetória do golpe, antes mesmo de atingir seu alvo. Seus olhos azuis se arregalaram em terror, e sentiu um arrepio de medo subir por sua espinha.

O ruivo avançou sobre o mesmo gritando, empurrou-o para a porta mais próxima na parede à direita, imprensando seu inimigo contra a madeira com seus braços fortes. Agora, segurando a mão do mesmo ainda fechada, esticou seu braço com força, o de cabelos brancos sentiu o osso se deslocar, reprimiu um gemido.

O norueguês então voltou a longa lâmina militar contra seu dono, e em um movimento abrupto, atravessou-lhe o centro do peito junto da madeira atrás do mesmo, prendendo-o contra a porta.

O sueco arregalou os olhos claros, abrindo a boca, teria gritado se a faca não tivesse lhe atingido os pulmões. A mão pálida soltou sua estimada arma, e o braço deslaçado pendeu para baixo balançando.

Grimmel olhou o cabo emergente de seu peito magro, depois olhou seu algoz, os olhos azuis arregalados, amedrontados, sem acreditar, nem entender, e uma pequena gota de sangue transparecia no canto inferior esquerdo de seus lábios. Tentava dizer algo, mas era incapaz de falar.

Stoico jazia enorme diante do mesmo, o olhar claro ainda mantendo sua fúria, sua barba voluptuosa levemente desfiada. O encarou sem misericórdia por um breve instante, depois falou: “Não devia ter se metido com meu filho!”.

A reação do empalado em meio à ruina foi apenas soltar uma breve tosse, espantado ao se dar conta de seu erro.

Então, o bruto ruivo gritou com a voz grossa, e acertou-lhe um soco com seu imenso punho forte. Atingindo o rosto do sueco, fazendo seu corpo estilhaçar a madeira atrás de si e voar para dentro da escuridão do quarto, desaparecendo na mesma.

Valka seguia a acertar Drago com seus chutes, mas o período de se sentir atordoado já houvera se passado, e o desmembrado se cansara de ser agredido.

Agarrou a perna da mulher com sua mão forte, puxou-a para mais perto de si, e lhe atingiu o rosto com as costas de seu punho, fazendo-a cair para longe.

— Mãe! – gritou Soluço indo até a mesma.

— Val! – gritou o pai norueguês, que voltava vitorioso de seu combate.

Correu na direção de sua nova batalha, gritando para o filho manter-se distante da mesma, e ao ver a mãe sentar-se sobre o chão, embora gemendo aturdida, obedeceu a figura paterna.

Stoico atingiu o dinamarquês com vários socos pesados, enquanto arfava de raiva por ver sua amada ser agredida pelo mesmo. A face de seu oponente sangrava.

Os dois homens abruptos lutavam defronte ao balcão da cozinha. O castanho de óculos estava do outro lado da mesma, próximo ao fogão, encolhido enquanto via os dois se enfrentando.

Olhou para o lado, e reparou que a faca de Drago jazia sobre a chama, e já houvera ficado incandescente.

O desmembrado estava imprensado contra o balcão, com a mão de seu inimigo no pescoço, ainda não havia sucumbido pois erguera o joelho, mantendo certa distância do mesmo, enquanto torcia o dedo da mão que lhe sufocava.

Rangendo os dentes na face vermelha, conseguiu se libertar, e chutar o oponente para longe, voltando a respirar.

Agarrou uma das cadeiras próximas a si e a atirou contra o ruivo, mas o mesmo conseguiu se proteger com os antebraços, embora fosse atingido.

O dinamarquês decidiu mudar a estratégia. Olhou para a norueguesa que se erguia do chão, agarrou outra cadeira e a atirou contra a mesma.

— Não! – gemeu o norueguês.

Como esperado, Stoico arremessou-se diante da mesma, sendo atingido em seu dorso forte, o móvel se transformando em pó e estilhaços ao atingir seu corpo.

— Stoico! – gemeu Valka colocando-se preocupada sobre o marido.

Ao ver aquilo, o filho do casal não hesitou em agarrar a faca cuja lâmina ardia em brasa.

O ruivo estava abatido sobre o chão, consciente, mas com tantos traumas físicos que já não conseguia se mover, e gemia sentindo ossos quebrados. De fato, a família lhe havia derrotado, mas não o abandonado.

Sua esposa ainda estava ali, o olhava com preocupação. Colocou-se diante do marido ao ver Drago agarrando outra cadeira para atirar contra os cônjuges. Infelizmente estava muito zonza para voltar a enfrenta-lo, estava com um trauma físico e seu corpo tremia, e ainda que não estivesse em tal condição, não teria força o bastante para arrastar seu amado dali.

— Valka! Saia da frente! – implorou o Stoico.

Mas a esposa não o fez. Permaneceu de pé sobre o frio chão de madeira no meio da escuridão do ambiente, entre o inimigo e o amante, os braços levemente estendidos para os lados e apontados para o chão em sinal de proteção.

O desmembrado parou um pouco e sorriu ao notar que ali estava sua chance de vingança. Poderia ser melhor, ao invés de olha-lo com o mesmo recato de sempre, sua inimiga poderia estar chorando, ao invés de seus olhos estarem simplesmente nervosos diante do mesmo.

Ergueu a cadeira para atirar novamente, mas ao fazer isso, deixou uma grande abertura, expondo seu peito vasto.

Então surgiu Soluço, segurando a faca com a longa lâmina incandescente, formando algumas brasas, e a enfiou no dinamarquês.

Drago soltou a cadeira, e gritou alto, encolhendo-se, sentindo o fogo consumir suas entranhas.

O castanho de óculos ergueu o rosto e arregalou os olhos sob as lentes sujas ao ver o que tinha feito.

No chão, o ruivo virou-se para ver o que havia acontecido, sua esposa arregalou os olhos, e forçou-se a reagir.

Correu na direção do inimigo, ao chegar, puxou depressa a lâmina de seu corpo e dos dedos de seu filho, o desmembrado reprimiu um gemido.

Embora estivesse quente, o aço já não ardia, pois o sangue de sua presa houvera beijado o fogo e o apascentado.

Então, a mulher aproveitou a distração e a dor de seu oponente, que permanecia encolhido e gemendo, com as mãos sobre a região da barriga onde fora atingido, e acabou com seu sofrimento.

Furou sua garganta, atravessando-lhe o pescoço.

O dinamarquês arregalou os olhos ao sentir a segunda invasão em sua carne. Colocou a mão sobre a ferida, e por fim, foi ao chão.

Deitou-se de costas, olhando para o teto, e demorou a desfalecer.

Pai, mãe e filho se reuniram.

Jack permanecia sobre os ombros de Breu, desferindo socos sem parar, ao mesmo tempo que tentava segurar sua mão direita, impedindo que a mesma o ferisse, mas era difícil proteger-se da mesma, era como lidar com uma cobra, forte e veloz, faltava apenas as presas gotejando seu terrível veneno.

Rubi seguia a segurar sua arma, puxando-a, tentando desarma-lo, mas aquele homem era forte, mesmo puxando com as duas mãos, precisava fazer força para competir com o mesmo.

O britânico estava dividindo suas forças entre aquela mulher e aquele garoto. Conseguiria se livrar de um se não fosse pelo outro. Rangia os dentes sem parar em sua face com marcas vermelhas, enquanto tentava se libertar daquela situação.

A platinada não demorou tanto a reparar que precisava de mais do que força para sobreviver à aquela ocasião. Sendo mulher, necessitava usar a inteligência, e fazia isso muito bem.

Segurou com suas mãos brancas o aço negro da maligna arma de seu inimigo. Girou o corpo para a direita, forçando o usuário da picareta a torcer o braço, consequentemente o pulso foi submisso ao mesmo movimento, assim, fazendo a ferramenta mortal perder seu dono.

— Não! – gritou Breu ao ser desarmado.

Com as mãos livres, atirou o platinado sobre o chão, na direção da mãe, que caiu gemendo sobre o chão. Mas não era forte o bastante para acerta-la, então decidiu encurtar a distância. Sabia muito bem como desarmar ou ferir uma pessoa, independentemente de ser alguém mais forte ou mais fraco, uma mulher não seria diferente.

A russa pulou por cima do filho caído sobre o chão, que ficou surpreso ao ver aquele acontecimento. Correu na direção do inglês, segurando sua arma, pronta para atacar.

Breu avançou sobre a mesma, pronto para ataca-la, ou agarra-la, o que quer que as condições permitissem. Notou que ela corria com as mãos voltadas para a esquerda, com uma careta em sua face alva, fria e feminina, o cenho franzido e os dentes rangendo. Talvez fosse canhota, e não houvesse parado para notar que alavancando o golpe estaria dizendo por onde o mesmo viria.

O britânico decidiu responder com um chute de sua perna destra, que a atingiria em seu lado esquerdo. Ela ainda poderia erguer os antebraços nos últimos segundos, mas longe de arranjar equilíbrio ou distância para se proteger ou desviar do golpe. Sendo dono e usuário experiente da arma de sua inimiga, sabia que não teria como a mesma usa-la para proteger-se, uma vez que as pontas ficavam distantes do lugar onde se manejava.

A ideia era acerta-la com sua perna forte e atira-la contra o chão, afinal, o inglês era mais alto, e também mais forte do que a eslava. Caída, seria fácil tirar a arma da mesma e pôr um fim em sua vida.

Embora o plano todo houvesse ido por água a baixo, ainda assim, poderia conseguir sua vingança contra Norte. Pelo menos isso conseguiria através da morte da filha de seu inimigo.

Aquilo não tinha como dar errado.

Então, enquanto desferia aquele golpe, Breu formava um sorriso maligno em sua face. Mas o mesmo desapareceu, quando Rubi se abaixou rapidamente, de forma quase inacreditável.

A mulher passou por debaixo do chute, ficando à direita do homem, alavancando o golpe novamente, para sua destra.

Então, de forma precisa, Rubi acertou o centro do peito macio do inglês, penetrando-o com a ponta fina da picareta. Seus olhos azuis brilhavam em fúria sob o alvo cenho franzido e os dentes rangendo.

Breu reprimiu um gemido, cambaleou para trás com a picareta presa em seu corpo, segurado o aço e o cabo com seus longos dedos finos.

A platinada voltou a assumir seu semblante sério ao ver o que havia feito.

O britânico parou em pé sobre o chão de madeira no ambiente escuro. O postura perfeitamente correta, como se aquilo não houvesse acontecido. Sorriu para a russa, e logo depois, foi ao chão, com um baque surdo.

As narinas da mulher bufaram de raiva, então aproximou-se do mesmo, e ajoelhou-se ao seu lado.

— Sobre aquela baboseira de termos que morrer só porque tudo nessa situação estava contra nós, eu tenho algo a dizer – falou enquanto arfava – “Os fortes fazem o que devem fazer, os fracos aceitam o que devem aceitar”.

Breu jazia deitado de costas sobre o piso, olhava-a pelo canto dos olhos, sorriu novamente e disse: “Tucídides, boa...”.

Então parou de respirar, embora seus olhos amarelados continuassem abertos.

O russo olhou a mãe de longe, de costas para o mesmo. Por incrível que parecesse, ela parecia perfeitamente natural naquela situação. Outra coisa também estava terrivelmente comum. Recordou-se de ter sido jogado ao chão à alguns instantes, e a eslava ter simplesmente passado por cima dele, sem sequer olhar para trás, como se não se importasse com o que acontecesse com o mesmo. Seus olhos claros se entristeceram ao notar que mesmo após o fim daquele terrível episódio, Rubi nem sequer olhara para ele para saber se estava bem.

A platinada fechou os olhos abertos do morto, um último gesto nobre para com o mesmo.

Depois ficou ajoelhada, recuperando o fôlego, e notou que todos ao redor olhavam para ela.

De repente, ouviu-se a sirene da polícia, e luzes vermelhas e azuis começaram a brilhar dentro da casa.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Aí está, espero que tenham gostado!



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