My Amazing Spider-Man escrita por LisRou


Capítulo 11
Modelo Mirim




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POV. Michelle Jones 

 

Assim que pisei no escritório do Clarim Diário, notei que qualquer vestígio do incidente da semana anterior havia sido completamente apagado. O lugar parecia novo, assim como o bebedouro, e não havia mais o plec-plec-plec irritante do ar-condicionado.

Menos tensa do que quando estivera ali pela primeira vez, pude admirar melhor o lugar enquanto mancava ao lado de Peter, atravessando o andar. Reparei nas maquetes de todo tipo de construção, nas diversas saletas e cubículos onde pessoas se concentravam na tela dos computadores, em desenhos de projetos, sem dar nenhuma atenção a outra coisa.

A secretária de cabelo chanel abriu um largo sorriso ao avistar meu acompanhante.

— Finalmente apareceu, Peter — saudou, entusiasmada. E então me viu. Seu sorriso congelou, os olhos faiscaram conforme se levantava da cadeira e eu estava certa de que ela teria pulado no meu pescoço se Peter não estivesse à distância de uma régua de mim.

— Bom dia pra você também, Betty — devolveu ele, sem interromper o passo. — Esta é Michelle Jones, a nova modelo integrante da empresa. Já sabe como proceder.

— Ela é a nova modelo? — O horror cruzou seu rosto. Suas sobrancelhas finas arquearam tanto que desapareceram sob a franja reta, a boca escancarada como se se preparasse para um exame dental.

É, eu também estava chocada por ter conseguido a vaga.

— Fique longe do bebedouro — a moça arreganhou os dentes.

No entanto, Peter não percebeu a reação dela e seguiu em frente, parando ao lado da porta larga no fundo da sala e indicando que eu passasse.

O corredor dava em uma saleta de paredes em tons de cinza, onde havia uma mesa de madeira clara e um MacBook. O único armário não me parecia muito prático, mais como um frigobar do que mobília de escritório. A janela ia do chão ao teto — ah, meu Deus, não me deixe quebrar isso. Nem cair lá embaixo! — e, bem em frente, o simpático cacto me disse que este seria o tom daquela empresa: bonita, mas muito espinhosa. Atrás da mesa, uma parede de vidro (qual era o problema daquelas pessoas?!) coberta por persianas de madeira separava o ambiente de uma ampla sala.

— É aqui que você vai ficar para estudar nossas produções — disse Peter, um tanto formal. — Termine aqueles e-mails e então me avise. Se tiver alguma dúvida, peça ajuda à Betty Brant.

— Tudo bem. — Uau! Eu tinha uma sala só minha!

Depois de assentir, Peter seguiu para o escritório atrás de minha mesa. Um pouco receosa, ocupei a cadeira de couro branco — lembrete: não comer no escritório, sobretudo coisas com molho — e liguei o computador. No começo tive um pouco de dificuldade, nunca tinha usado um Mac antes, mas depois peguei o jeito e trabalhei nos e-mails por algum tempo. Consegui terminar minhas respostas ao serviço perto da hora do almoço. Parei para dar uma conferida na nossa agenda.

A reunião começaria em meia hora.

Olhei para trás, espiando por entre os vãos da persiana a sala de decoração sóbria, muita madeira amendoada que destacava as paredes cinza-escuras. Diante da janela que ocupava toda a parede, havia uma mesa larga de aparência sólida. Perto de uma estante gigante, um conjunto de sofá compunha uma salinha de reuniões mais informal. A estação de trabalho e a bagunça de papéis sobre ela fugia do padrão organizado. E era ali que Peter Parker trabalhava naquele instante.

Ele havia tirado o sobretudo, que pendurara na cadeira, enrolara as mangas da camisa até os cotovelos e se debruçava sobre um rolo de papel. Havia algo de muito belo naquela cena; o homem de quase dois metros curvado sobre o tampo, a cabeça quase batendo na luminária cromada, o lápis parecendo pequeno demais em sua mão grande. Meu estômago deu uma pirueta. Mais rudimentar que meu cérebro, ele estava com problemas em se convencer de que aquele homem não era Peter 3.

Criando coragem para interrompê-lo, me levantei da cadeira, alisei a saia e bati na porta. Ele me mandou entrar sem desgrudar os olhos do papel. Abrindo a porta de vidro com extremo cuidado, passei por ela e, assim que estava lá dentro, minha pele se arrepiou. Por culpa do ar-condicionado  que funcionava a todo vapor. Não tinha nada a ver com seu cheiro delicioso impregnado em cada superfície. Claro que não.

Parei a poucos metros dele, cruzando os braços em frente ao corpo.

— A reunião é daqui a trinta minutos. Vai ser necessário eu ir? 

— Sim, vai. — Largou o lápis, endireitando as costas, e massageou a nuca. Enquanto ele se levantava, desenrolava as mangas da camisa e vestia o sobretudo, espiei os papéis em que ele trabalhara. Um rascunho de uma planta baixa gigantesca com tantos cômodos que não consegui entender do que se tratava.

Curiosa, cheguei mais perto da bancada, observando os diversos quadradinhos e retângulos, e tentei decifrá-los. Estava tão absorta que não percebi que Peter havia feito o mesmo, até que falou:

— É um hotel. — Afastou alguns documentos do caminho para que a planta ficasse totalmente visível. — O jornal está em parceria com a mesma empresa da Perfumerie Paris*. A ideia é que seja voltado para pessoas de negócios. Ou seja, a estadia não vai durar muito. Possíveis reuniões e seminários também podem acontecer, por isso todas as áreas precisam ser aproveitadas ao máximo. Esse é o segundo andar. Aqui é o auditório, e esses dois são depósitos. — Seu indicador correu pelo desenho. — O retângulo maior é o restaurante e aqui atrás a cozinha. Sala de TV, área de circulação, banheiros, e aqui a sala de reuniões e uma de apoio. — Bateu o dedo no papel. — Tudo isso vou pedir para que Michael edite no Photoshop junto à sua imagem.

— Vai tirar foto minha usando o banheiro? — Tive que perguntar, não resistir. 

Ele gargalhou. 

— Se você se sentir a vontade... — Brincou, arqueando uma sobrancelha. Estalei os dentes, mas acabei sorrindo. 

Era muito natural sorrir com ele assim.

— E tem essa sala de reuniões... — Balancei a cabeça, sem saber se ria ou chorava. Como poderíamos divulgar uma sala de reuniões com minha imagem? E o que diabos era uma sala de apoio?

É claro que Peter não tinha como adivinhar os rumos que meus pensamentos tomavam, por isso deduziu tudo errado.

— Não gosta? — ele quis saber, parecendo achar graça.

— Não é isso. — Eu me afastei da bancada, enrubescendo. Dei de ombros. — Parece... Eu não entendo muito, mas me parece uma boa ideia, eu acho. 

Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça.

— Não é o que o seu rosto diz. — Aqueles olhos castanhos misteriosos se prenderam aos meus, e eu achei muito difícil pensar em alguma coisa.

Deve ter sido por isso que acabei por lhe contar a verdade.

— Não é nada disso. Parece realmente bom! É só que... — Soltei um suspiro, fitando o papel. — Como a pensão pode competir com salas de reuniões e auditórios, se nós na empresa mal temos assentos para todo mundo na sala de TV?

— Se nós formos bem e conseguirmos encantar esse público mais frio que o Ice Berg, tudo vai funcionar, acredite. — Ele virou o corpo, recostando os quadris na mesa. 

Meu cenho se encrespou, a boca pressionada em uma linha fina conforme o estudava em silêncio por tanto tempo, seus olhos nos meus tão intensamente que meus joelhos oscilaram de leve.

— Tudo bem, então — eu disse por fim, lutando para confiar nele. 

Ele me deu um meio sorriso provocador, mas logo se aprumou, estendendo a mão para a porta. 

— Vamos?

— Sim, estou pronta.

 

*

 

Apesar de um pouco receosa, eu me saí bem na reunião. E nas outras duas também. Uma delas aconteceu fora do escritório, no restaurante da esquina, onde acabamos almoçando, embora já passasse das três horas. Mais tarde, acompanhei Peter em uma videoconferência. Tive problemas com o programa, mas, depois que entendi como tudo funcionava, até que me virei bem. Pelo menos foi o que eu pensei, já que Peter não reclamou.

Encontrei JJ frente a frente, e nunca tinha visto um cara tão... mal humorado e elétrico que nem ele. Não parecia ficar quieto em lugar nenhum, e seu maior objetivo é buscar pontos fracos em heróis que só queriam fazer o bem em paz. Eu achei que, de cara, ele não fosse gostar da escolha de Peter em me dar uma chance, e eu achei certo, mas depois... Ele simplesmente deu de ombros. 

— Me surpreenda, Parker! Ai de você e dessa garota se não der resultados! Eu quero resultados, entendeu? — Foi o que ele disse para Peter, na minha frente, como se eu não estivesse ali. A raiva foi tanta que por pouco não lhe acertei uma bofetada. 

Só que eu não queria ser mandada embora no meu primeiro dia de trabalho por um acidente cometido por mim... de propósito. De qualquer forma, o seu sim a minha admissão, apesar de grosseiro, foi um grande alívio. 

No fim da tarde, eu estava em minha sala sendo preparadas por três profissionais enquanto Peter analisava um contrato do outro lado. O cabelereiro estava com pressa, pensei, enquanto sentia mãos afoitas em cima das minhas mechas, na luta para alisá-las a tempo com o secador e uma chapinha que era do tamanho do meu braco. A maquiadora cuidava do meu rosto, o estilista de minhas roupas e acessórios, e fiquei com medo de perder alguma parte do corpo no processo. Essa transformação toda estava demais. 

— Deixe os cabelos dela de lado, Erick — chorou a maquiadora, enfiando os dedos nos meus fios. 

— Deixa que daqui cuido eu, Stephania, por gentileza — muito expressivo, o rapaz bateu na mão da garota. — Vai ser melhor para o rosto dessa menina bonita, deixar o cabelo dividido no meio. Eu sei. Agora... coloque mais esfumado as maçãs do rosto, presta atenção!

— Deixa que daqui cuido eu, tá? Hm! — Deu língua, pegando um pincel e me pintando pela milésima vez. O pincel espalhou pó compacto no meu nariz. Prendi a respiração para não espirrar. 

— Prontíssima! — O cabeleleiro e estilista disseram em uníssono. 

— Calma aí — a mulher profissional pediu, passando um gloss no meu lábio inferior com a ponta dos dedos. — Espalha o brilho, Michelle Jones, fazendo favor. 

— MJ. Ela gosta de ser chamada de MJ, Stephania. 

A voz de Peter sobressaiu sobre as demais e, tarde demais, percebi que ele tinha se levantado da sua poltrona, se aproximado e encostado numa pilastra, as mãos nos bolsos do jeans escuro, os olhos fixos em mim. 

Fiquei nervosa, tentando não reparar muito a sua análise nada... ligeira. Pelo contrário, era escancarada. Minhas mãos começaram a suar e um sorriso de lado se esticou na sua boca bem desenhada, como se ele soubesse que eu estava quase me enfiando debaixo daquele tapete felpudo.  Eu deveria estar parecendo um unicórnio, não é?, quis perguntar, mas achei que não seria uma boa ideia com os profissionais aqui, pertinho de mim. Se sentiriam ofendidos e com razão. O problema é que não tinha nenhum espelho para poder me enxergar...

— Pronto! — A mulher extravagante anunciou (berrou no meu ouvido, para ser mais exata), e se aprumou. — Consegui realçar a beleza exótica dessa garota. 

— Exótica? — Aquilo era bom? Pelo amor de Deus, diz que sim! 

— Está um arraso — o homem com o casaco azul cheio de gliter mexeu no meu cabelo uma última vez, colocando-o na frente dos meus ombros. Então, a maquiadora fez o que eu queria que tivesse feito desde o início, erguendo um espelho de mão diante de mim. 

Arregalei os olhos, sentindo minha garganta secar.

Pelos céus... Essa... Essa sou eu? 

Me encarei de volta, ficando completamente estática e sem fala. Eu achei que eles teriam pêgo pesado na transformação, mas na verdade, a composição que fizeram estava o mais natural possível, desde meu look, maquiagem, cabelos e até os sapatos simples. Os fios estavam lisos, tão macios que me lembraria de perguntar qual produto o cara usou. Era muito difícil domar meu cabelo. A maquiagem... Meu Deus, parecia que eu não tinha nada no rosto, mas também parecia que eu estava perfeitamente produzida. Os cílios maiores, as maçãs das minhas bochechas mais realçadas, minhas pálpebras superiores numa sombra cinza, um preto esfumado nas pontas e pálpebras inferiores. A cor clara nos meus lábios não me deixou pálida, muito pelo contrário. Ela desenhou e cresceu perfeitamente minha boca que, por um momento, pensei que eles tivesse me dopado e feito um botox em mim. 

— Uau! — Acabei murmurando no mesmo instante que me levantei. Eles tiraram o véu sobre meu colo e fiquei de pé, endireitada sobre meu salto plataforma de três centímetros. — Eu...

— Você... — Instigou o estilista. 

— Eu gostei — disse por fim, virando-me e vendo a composição da regata preta com a saia lápis num verde musgo de costas. 

— E você, Parker? O que achou? — Inquiriu o cabelereiro, me surpreendendo. 

Os olhos de Peter chisparam em minha direção, a boca se esticando lentamente até se tornar um sorriso largo de tirar o fôlego. Não tive alternativa que não fosse corar. 

— Está... Apresentável — o tom brincalhão deu as caras enquanto se aproximou. — Tão apresentável que, se JJ não disser o mesmo, perco o controle e vou perguntar se ele quer fazer uma consulta pra usar um óculos. Eu usava, conheço uma ótima. 

Eu ri, não pude evitar. 

— Que bom que o seu apresentável quer dizer isso...

— Quer dizer que você está linda. 

Ok. Certo. Eu estava bonita sim, eu reconheço, mas é normal o coração tropeçar no peito depois de um elogio desse? Tipo, eu não esperava que o sorriso de Peter desaparecesse e uma seriedade além do comum predominasse sua expressão, os olhos passeando pelo meu rosto, cabelos, pescoço... Se antes eu tinha corado, agora eu poderia ser comparada a um bule de chá. Cada pedacinho de pele que ele observava esquentou. 

E não foi pouca. 

— Eu... — Pensei em fazer uma piadinha para abafar o clima, mas fiquei sem fala. Outra vez. — ...Hm... Obrigada. 

Peter sorriu de novo, deixando aquela intensidade e uma emoção que não soube decifrar o quê a tempo de lado, e tornou a sua mesa, pegando sua câmera que, um pouco antes de conferir os relatórios, ele a tinha concertado. 

— Vamos começar, então. 

 

 


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