My Amazing Spider-Man escrita por LisRou


Capítulo 12
Sonhos e tragédia


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo da maratona! ♡

Sem acreditar com os salvos e os comentários! MASP e eu agradecemos muuuito o carinho e ficamos muuuito felizes em ver que estão gostando! Recebi mensagem de fãs dos quadrinhos que ficaram muito satisfeitos de ver que está tendo ligações das antigas HQ's com a fic, e isso... Gente, sério, meu coração não aguenta. Muito obrigada! É justamente isso que eu quero: que vcs vibram e se encantem ainda mais!

Bom, vamos ao capítulo. Estão preparados para dar risada? E ficar nervoso com o que pode acontecer com nossa MJ? Pois devorem o capítulo sem moderação!

Obs.: Prestem muita atenção nesse sonho da Michelle, gente. A partir daí, os sonhos começam a tomar outro rumo!

Boa leitura! ❤



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POV. Michelle Jones

 

— Pai, por favor... Me deixe tentar. 

— Você tem certeza que quer fazer isso, filha? Seguir essa carreira é correr um risco perigoso... Você não sabe se vai dar certo ou não. 

— Não me custa tentar, pai. Eu já sou maior de idade, mas quero ouvir seu aval. Não vou começar nada sem seu consentimento. 

— E sua faculdade? Como fica?

— Eu consigo equilibrar as duas coisas — nervosa, a moça de cabelos ruivos fez os fios emaranhados chacoalharem de um lado para o outro enquanto gesticulava com o pai. — Prometo. Eu vou conseguir. 

O mais velho prendeu o fôlego. Passou as mãos na cabeça, bagunçando as mechas escuras diferente das dela, como se estivesse abafando as preocupações. Ele tinha confiança na sua filha. Mas o que eu entendi ali, principalmente em seu semblante, era uma preocupação genuína por se tratar da única filha que ele tinha. 

Por fim, o homem com a barba pouco crescida suspirou. 

— Está bem, está bem — deu ultimato. — Mas por favor, Mary Jane, faça valer à pena esse meu voto de confiança. 

— Eu farei sim, pai. Prometo a você. — Sem se conter, a moça pulou em seus braços, envolvendo-o pelo tronco, beijando-lhe a bochecha marcada. A jovem quase conseguiu lhe arrancar um sorriso. — Obrigada, obrigada, obrigada. 

A ruiva bonita tinha os olhos brilhando como estrelas, emocionada e feliz. Porém, pegando suas comemorações de surpresa — e assustando o pai também, a campanhia da casa tocou alto e bom som, desesperadamente. Uma, duas, três, incontáveis vezes. Seu pai ficou em alerta, mas quem partiu dali para ver quem estava na porta feito um desesperado foi a moça, os cabelos avermelhados chicoteando nos olhos no processo. 

Ao abrir a maçaneta, ela tinha dado de cara com Peter 1.

— MJ?! — Os olhos do rapaz estavam marejados, refletindo a agonia que seu corpo comportava, mas ao vê-la, suas pálpebras arregalaram, as mãos escondendo um papel no bolso interno do casaco. — Desculpe, moça...

— Eu conheço você? — Ela inquiriu, franzindo o cenho. 

Peter engoliu em seco, tentando esticar o pescoço para ver por dentro da casa que conhecia. Era a mesma moradia da moça que seu coração era inclinado. Ele não tinha dúvidas. 

— Não, não me conhece, mas... — Nervoso e trêmulo, Peter 1 tentou mais uma vez. — Existe alguma MJ morando aqui? 

A jovem enlaçou os braços, sobreerguendo o queixo. 

— Eu sou MJ. Quem é você? 

As pálpebras de Peter 1 se abriram tanto que quase, bem quase, chegaram a sumir. 

— Você? MJ? — Repetiu, ainda sem entender. 

Impaciente, a tal MJ revirou os olhos. 

— Sim, MJ. 

— Michelle...

— Não, não é Michelle — o cortou com grosseria, começando a gesticular com as mãos. — É Mary Jane. Sou Mary Jane Watson. Quem é você?

Sem respirar, Peter 1 meneou o rosto devagar, sem acreditar. 

— Mary... M-Mary Jane... — balbuciou, atônito. 

Ela franziu ainda mais o semblante, mas interpretou o descontrole de Peter como algo psicológico. Tanto que, ficando mais maleável, sua boca se esticou num sorriso lateral. 

— Olha, eu acho que você precisa... Buscar ajuda, tigrão. Porque você... Hum... — Deu uma análise no rapaz de aparência doce e gentil.— ...Você bateu na casa errada. 

O pânico, pavor e um desespero pior perpassaram o rosto de Peter 1, no qual a primeira coisa que ele fez, foi simplesmente... Nada. Esperei, esperei, mas Peter... Meu Deus, ele apenas contemplava a moça feito um lunático, se perguntando como aquilo pôde acontecer. 

Em sua realidade, Michelle Jones, no caso eu, era na verdade Mary Jane. 

Peter 1 só podia estar sonhando que nem eu

 

 

Abri os olhos e levei os dedos às pálpebras. Não havia nada, nenhuma casa, nenhum pai e filha e nenhum Peter 1.

Fiquei agonia por um momento, tentando normalizar minha respiração. Era como se toda frustração e desespero duelassem dentro de mim como guerrearam dentro de Peter na minha cabeça. 

Que raios de sonho foi esse? 

Como Peter 1 poderia confundir essa tal de Mary Jane Watson... comigo? Ele foi naquela casa propositalmente? Claramente ele estava procurando por mim, mas... Só pode ter se confundido. A casa era diferente, a estrutura era diferente... Mesmo assim me parecia muito familiar. Só que aquele sonho era novo. Eu nunca tinha sonhado algo parecido antes disso. Os capítulos anteriores eram somente de ação e desenvolvimento entre mim, Peter 1, 2 e 3, e outros personagens que só de mencionar o nome, meu coração exulta... 

Muito estranho. 

— Ah, pelo amor de Deus, MJ... — Esfreguei minha pele do rosto e me ergui. — Isso foi só um sonho. Como sempre. 

Inspirando fundo, alcancei minha bolsa sobre a mesinha de cabeceira. Peguei o caderno e o lápis, começando a rabiscar. Os traços foram ganhando forma, profundidade, até que eu quase podia tocar os longos cabelos de fogo e compridos envolta do pescoço delgado. Observei a moça esbelta, com sua postura altiva que sobressaiu bastante naquele capítulo do sonho, me perguntando pela centésima vez por que eu tinha sonhado com essa realidade completamente diferente das outras. Como das outras vezes, não obtive resposta.

Suspirando de pura frustração, guardei o caderno de volta na bolsa antes de ir para o banheiro me arrumar. Assim que estava limpa e pronta, olhei pela janela e, surpresa, avistei o sedã preto na entrada com Oswaldo atrás do volante, então tratei de me apressar. 

Meu celular vibrou, anunciando uma mensagem. Uma mensagem de Peter. 

 

Bom dia, Michelle. 

Hoje vamos para Bronx. Pedi para Oswaldo, depois de te buscar, dar uma passadinha aqui em casa pra irmos juntos. ;) 

 

Reli aquela mensagem umas três vezes para ter certeza de que não estava vendo coisas. Pelo menos ele não deu a entender que era para entrarmos dentro da casa dele, certo? Certo?

Ignorei a dúvida que martelou minha cabeça. Sei lá... Uma dúvida a respeito do porquê ele prefere pegar uma carona com Oswaldo do que ir com a motocicleta que tinha. Mas não dei muita confiança, até porque o combustível tá caro pra dedeu. 

— Bom dia, meu amor. Aonde pensa que vai de estômago vazio tão cedo? — exigiu mamãe ao me ver descendo as escadas correndo.

— O motorista já chegou. Se sairmos agora, evitamos o trânsito das sete.

— Cinco minutos não vão fazer diferença. — Ela me pegou pela mão tão logo meus pés tocaram o assoalho de tacos do térreo e começou a me empurrar para a cozinha. — Venha comer alguma coisa antes.

— Mas, mãe...

— Você precisa tomar bastante leite para o seu tornozelo ficar forte.

— Mas eu não quebrei, só torci!

Ela me lançou um olhar do tipo “não discuta comigo, eu sou sua mãe” que me fez encolher, vencida. Mamãe é daquele tipo de pessoa que pensa que todos os problemas do mundo podem ser resolvidos com comida. Concluí que seria mais rápido ceder que argumentar. Então deixei que ela me arrastasse até a sala de jantar. Ela só voltou para a cozinha depois que tomei uma caneca bem cheia de leite. E depois de se certificar de que separara para mim uma porção de pão doce para levar pro trabalho.

Eu tinha acabado de engolir o último pedaço — macio e delicioso — quando Gayle entrou na sala, sua mochila multicolorida pendurada no ombro, os olhos inchados. Eu já tinha assistido àquela cena antes. Mais ou menos uma vez por semana nos últimos dois anos, para ser exata. Ainda assim, vê-la daquele jeito sempre botava um nó em minha garganta.

— Ah, Gayle, eu sinto muito. — Corri abraçá-la, desejando matar o tal Eugene por ter feito minha irmãzinha chorar. — Ele é um cretino. Não merece você.

— Não mesmo. — Ela fungou em meu ombro. — Ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Melhor assim. Não tive tempo de me apaixonar.

Eu me afastei, secando com os dedos as lágrimas que ela tentava bravamente deter, sem sucesso.

— O que ele fez? — reclamei.

— Ele riu de mim na frente dos amigos, depois que eu expliquei a minha teoria sobre a existência de vida fora da Terra. — Deixou escapar uma risada irritada. — Ele não entendeu. Ele não é muito esperto. Quer dizer, a gente só conhece um pedacinho de nada do universo, MJ. A gente nem sabe o que tem do outro lado da nossa própria galáxia, porque o centro é tão brilhante e poeirento que não dá pra ver nada. Não é tão maluco assim pensar que em algum lugar por aí existe um mundo que contenha vida. Além disso, eu acho um pouco presunçoso deduzir que temos todo o universo só pra gente. Mas o Eugene ficou me zoando, me fez parecer uma idiota que acredita em ET de cabeça grande! — Revirou os olhos.

— Cretino — rosnei.

— E burro! Ele nem sabe o que é uma nebulosa. Pensa que é o nome de uma música da Rita Lee!

— Ah, meu Deus. — Mordi o lábio para não rir, mas meus ombros começaram a sacudir. E os dela também. Meu coração bateu aliviado.

— De agora em diante eu só vou sair com um cara depois que ele responder a um questionário imenso. QI abaixo de 100 não me interessa mais — concluiu, mais animada. Então relanceou o vestido preto que eu usava e assentiu em aprovação. — Quatro dias inteirinhos no mesmo emprego, hein? Se conseguir ficar mais hoje, vai ser o seu novo recorde.

Pois é. Nem eu conseguia acreditar. Quatro dias inteirinhos livres de desastre. Quatro dias em que tudo o que eu me propus fazer saiu exatamente como deveria. Eu estava radiante! E também desconfiada. Nunca tinha tido uma maré de sorte tão grande. Na verdade, nem mesmo uma pequena. Só esperava que toda essa calma não se convertesse em um tsunami de catástrofe mais tarde.

— Você vai pra aula? — Analisei as meias-luas arroxeadas sob seus olhos. — Com essa cara inchada? Vai deixar aquele imbecil saber que andou chorando?

— Usei todos os corretivos que tinha. — Abriu os braços, desolada. — Eu tenho prova hoje.

— Humm... Tenho uma ideia.

Pegando-a pela mão, eu a empurrei para o segundo andar. Colei o ouvido na porta de dona Lila, sondando. Julio Iglesias já cantarolava, ainda que timidamente. Ela estava acordada. Arrisquei bater.

Ouvi sua bengala resmungar contra o piso enquanto ela vinha atender. Imensos óculos de grau surgiram no vão da porta, deixando seus olhos escuros, ainda sem maquiagem, do tamanho de bolas de tênis.

— MJ. Gayle. — Ela arreganhou a porta, chegando para o lado para nos dar passagem. — O que estão fazendo aqui assim tão cedo, meninas? Aconteceu alguma coisa?

— Bom dia, dona Lila. — Entrei, arrastando minha irmã comigo. — Desculpe incomodá-la a esta hora, mas nós temos uma emergência e só a senhora pode nos socorrer...

 

*

 

— Meu Deus, será que ele vai demorar mais um pouco? — Soltei pela milésima vez naqueles quinze minutos, mesmo que sem querer, observando a entrada do prédio. Terminei de engolir meu terceiro pão doce.

— Acho que chegamos muito cedo, srta. MJ. 

— Mas se demorarmos mais, podemos nos atrasar, seu Oswaldo — expliquei, inquieta, a perna batendo contra a outra. — Quanto mais evitarmos o engarrafamento, melhor.

— Isso é verdade. — Oswaldo soou cabisbaixo, somente com uma mão no volante, o outro braço no banco de carona. — Acho que a srta. devia entrar e chamá-lo. 

— Vou tentar ligar para ele — subir até seu apartamento estava fora de cogitação.

Coloquei meu telefone na orelha e nada de Peter atender. Perdi a conta de quantas vezes chamou, chamou e nada. 

Tentei por mensagem:

 

Oi, Peter. Tá td bem? 

Estamos aqui embaixo esperando você tem 20 min...

 

Um tracinho só. A mensagem foi enviada, mas chegar até ele... Não chegou. E isso estava começando a me dar nos nervos. Ou alguém ia lá chamá-lo, ou eu ia me atrasar no meu quarto dia e não estava afim de ter uma observação de atraso à essa altura do campeonato. Deus me livre perder meu recorde! E como eu era a novata, não acho justo tomar certa liberdade com um senhor que estava há muitos anos na empresa em pedir para que fosse chamá-lo. Ainda mais sendo o responsável pela nossa carona. 

Pois é. Eu não tinha escolha. 

— Eu vou lá — com esse pensamento em mente e decidida ir atrás dele mesmo se fosse no inferno, eu saltei do carro, deixando meus pertences no banco traseiro. 

Subi as escadinhas de entrada e passei pela recepção, anunciando que era amiga de Peter e que precisava vê-lo. Até mostrei minhas constantes chamadas perdidas para seu número de telefone no meu celular. A garota, extrovertida e muito simpática mesmo com a cara inchada de sono, confirmou o que eu estava dizendo e me passou o andar com o número do apartamento. 

Subi seis lances de escada e, assim que fiquei diante da porta de madeira, eu me surpreendi ao vê-la entreaberta. 

Mas o que...?

Encrespei o cenho e bati na porta mesmo assim. 

— Peter. — Minha mão colidiu contra o mármore escuro. 

De repente, um pow bem concentrado soou na parte de trás da parede, me sobressaltando. O coração pulou tão alto com o susto que, de reflexo, coloquei minha mão no peito acelerado. 

— Peter?! Tá tudo bem aí?

Pelo amor de Deus!

Sem conseguir mais esperar, deixei minhas dúvidas de lado e empurrei a porta devagar, ficando em alerta, observando tudo que podia e não podia ver. As luzes do cômodo estavam apagadas, mas um vulto escuro, a cabeça encoberta por um capuz, se movimentava no fundo da sala.

— Ah, merda. — Pulei no concreto feito uma rolha, voltando e ficando atrás da porta, do outro lado, puxando-a para que ela me desse alguma cobertura.

Ah, meu Deus do céu, Peter estava sendo assaltado!

O que eu devia fazer? Ligar para ele? Como se Peter não atende a porcaria do celular e todas ligações caem na caixa postal?! E Oswaldo? Mas no que ele poderia ajudar estando lá embaixo? Depois de ponderar por um instante, deduzi que era mais sensato ligar para o funcionário afim dele informar a portaria do prédio.

Tateando o bolso sem sair do meu esconderijo, consegui pegar o telefone. Levou séculos para Oswaldo atender. Assim que a ligação completou, expliquei resumidamente o que estava acontecendo e prometeu se prontificar subir com alguém. Desliguei e dei uma espiada na sala. Eu só conseguia ver parte da silhueta do assaltante — que parecia imenso —, pois metade do corpo estava dentro de um armário. Eu não tinha ideia do que Peter guardava ali. Documentos? Projetos secretos? Dinheiro? 

Ah, droga. O que quer que fosse, o ladrão pegou e enfiou debaixo do braço antes de desaparecer nas sombras.

Onde diabos estava Oswaldo e  os funcionários desse lugar?

Eu não podia deixar aquele cara ir embora. Depois de dez minutos, ninguém apareceu para me socorrer, então decidi agir. Devagar, me agachando, saí de trás da porta devagarinho e me arrastei no piso, enxergando nada, apenas uma fresta de luz que vinha de uma portinha do lado de dentro. Passei a mão na primeira coisa que encontrei e entrei de fininho na sala. Eu me escondi atrás de um sofá, espiando. O bandido parecia estar no banheiro de Peter. Uma pancada surda de gaveta se fechando confirmou minhas suspeitas e eu me encolhi, apertando com força a... régua de alumínio?

Merda.

Ok. Escuro desse jeito ele não teria como saber.

A porta do banheiro se abriu e os passos do sujeito ecoaram pela sala, cada vez mais próximos. Eu me preparei e, assim que ele passou por mim, saí de trás da poltrona com um impulso, pulando em suas costas.

— Seu filho da mãe! — Passei um braço em seu pescoço, pressionando a régua em sua garganta. — Você vai pra cadeia!

Ele não reagiu. Não moveu um único músculo, na verdade. E eu não entendi por que seus cabelos estavam molhados e ele não vestia nada na parte de cima. Onde estava o moletom? Que tipo de ladrão era ele, que aproveitava para tomar uma ducha durante um assalto?

Mas então ele abriu a boca.

— Eu vou ser preso sob qual acusação, MJ?

— Peter?!

Todo o meu corpo relaxou, aliviado, e foi uma péssima ideia, porque comecei a escorregar para baixo. Tentei me agarrar em alguma coisa, só que Peter ainda estava um pouco molhado — e muito cheiroso. Não sei como meu cérebro foi capaz de registrar esse fato, já que comecei a deslizar pelo corpo dele, os dedos buscando apoio em qualquer coisa. Consegui me agarrar ao tecido felpudo, mas infelizmente a toalha não estava firme o bastante, de modo que ela e eu escorregamos, até minha bunda bater com força no chão. Doeu.

— Cacete — reclamei, sentindo a pancada reverberar por toda a coluna. Quando a dor cedeu e eu voltei a enxergar alguma coisa, dei de cara com...

Ah. Meu. Deus!

Dei um gritinho, cobrindo os olhos com uma das mãos, e joguei a toalha para que ele cobrisse aquele traseiro liso, bem esculpido e de aparência firme como granito. Mas a porcaria da toalha ficou presa nos velcros da minha bota imobilizadora. Tive que usar as duas mãos para desprendê-la, mantendo a vista abaixada... quase o tempo todo. Com o rosto queimando tanto que se poderia grelhar um filé ali e deixá-lo bem passado em poucos minutos, consegui libertar o tecido com um safanão. Algumas tiras da bota se abriram com um créééééc.

— Aqui. — Estendi a toalha para Peter, trabalhando nas tiras com dedos trêmulos, ainda mantendo os olhos no chão.

— Obrigado.

A roupa de banho se foi e eu me virei para o outro lado, tentando lhe dar alguma privacidade. Só que, bom, como eu havia acendido as luzes da sala, a janela na minha frente (com uma foto de uma moça colada no vidro) que ocupava o fundo se transformara em um espelho gigante, que refletiu as costas de Peter... e tudo que tinha abaixo dela, em todos os seus gloriosos e fabulosos detalhes.

Mas ele bloqueou parte da minha visão ao envolver a toalha nos quadris, prendendo-a com firmeza, antes de se virar e, ah, caramba! Eu sei que não deveria olhar. Mas o que eu podia fazer? Era o mesmo que alguém colocar um brigadeiro diante de mim e esperar que eu dissesse “eca! Tira isso daqui”. Sou um ser humano, afinal de contas, e não consegui me impedir de dar uma espiadinha em toda a pele clara que recobria cada vale, cada reentrância do seu tórax.

Embora já devesse esperar por algo semelhante, fiquei surpresa ao constatar o quanto Peter se escondia por detrás das roupas de nerd. Eu admirei cada detalhe: o peito definido, a barriga plana, os braços torneados... Então me inclinei um pouco para a frente, apertando os olhos para o espelho. Aquela linha rosada no seu ombro era uma cicatriz?

Seu tórax subiu e desceu com certa rispidez, como se bufasse. O movimento atraiu minha atenção, e eu ergui a vista, encontrando seus olhos no reflexo. E eles não pareciam nada contentes.

Desejando que o chão se abrisse e me engolisse, a cara mais quente que a superfície do sol, me movimentei no piso frio de granito até ficar de frente para ele outra vez.

— Desculpa — falei para seus pés. Tamanho 44, talvez? — Eu não quis... — O quê? O que eu poderia dizer que não piorasse ainda mais as coisas? — Eu sinto muito.

— Você deveria estar na cama.

Ah, meu Deus. Ele não devia sugerir aquele tipo de coisa agora. Eu já estava achando muito difícil não imaginar como seria estar na cama com ele, poder encaixar as mãos no abdomen marcado e deslizar a ponta dos dedos em todos os gominhos. E depois a boca. Por isso eu agradeceria muito se ele não instigasse minha imaginação a criar cenas vívidas de nós dois, suados e enroscados como o fio de um fone de ouvido esquecido dentro da bolsa há muitas semanas, suas mãos grandes e fortes acariciando minha cintura... ou quem sabe minhas coxas... aquele peito largo pressionado contra o meu, os pelos castanhos raspando na pele sensível dos meus mami-...

Espere. Ele não quis dizer estar na cama com ele, quis? Só estar na cama. Sozinha. Tipo, ainda estar em casa e não ali.

— Um... hã... — comecei, mortificada, ainda que ele não pudesse saber o que se passava na minha cabeça. Ou talvez pudesse. Argh! — U-um pesadelo não me deixou dormir. O Oswaldo já estava me esperando... achei melhor evitar o engarrafamento.

— Parece que nós tivemos a mesma ideia. Acabei de chegar da corrida. Só tive tempo de tomar um banho antes de você me atacar com a régua.

Aquilo despertou minha curiosidade.

— Você correu de casa até aqui? — perguntei, espantada, embora aquele tanquinho devesse ter me preparado para tal coisa.

— Correr me ajuda a espairecer. — Detectei algo diferente em seu tom. Só não fui capaz de precisar o que era. — Agora, se puder me dar um minu...

A luz se acendeu inesperadamente. Peter e eu nos viramos. Ah! Agora o segurança do prédio resolveu dar as caras. E — ah, meu Deus do céu — apontava a arma para Peter!

— Parado! Já cham... Parker? — Vacilou.

— Bom dia, seu Souza. Agradeço por ter aparecido, mas tudo não passou de um mal-entendido. — Peter cruzou os braços atrás das costas, tentando manter alguma dignidade. Eu nem tentei e continuei ali, estatelada, rezando para que minha calcinha não estivesse aparecendo.

O sujeito olhou para Peter, a toalha em sua cintura, para mim, ainda no chão, e franziu a testa.

— Está tudo bem, menina? — perguntou.

— Sim. Desculpa. — Soltei um suspiro trêmulo. — Eu fiz uma enorme confusão. Pensei que Peter fosse um assaltante.

— Tem certeza de que foi isso que aconteceu? — insistiu, erguendo uma sobrancelha.

Peter gemeu, esfregando a cara, me deixando confusa.

— Tenho — garanti ao segurança. — Lamento ter incomodado.

Ele abaixou a arma, mas continuou me encarando.

— Não foi incômodo nenhum. Me avise se por acaso mais... algum ladrão a incomodar. Estarei atento. — Mas a última parte foi dirigida a Peter. Depois de mais um momento, ele saiu, fechando a porta.

— Ótimo. — Peter soltou uma pesada expiração. — Agora eu sou suspeito de assédio sexual.

— Era isso que ele estava pensando? — Ah, meu Deus, que confusão!

Os lábios de Peter se comprimiram até se tornarem uma pálida linha fina, mas ele me estendeu a mão. Com o movimento e a ajuda da luz, o do músculo bíceps esquerdo se expandiu e encolheu. Perfeitamente.

Tão logo fiquei sobre meus próprios pés, ele disse:

— Eu preciso de um minuto, Michelle.

Ah, um cai fora educado. Ele até que foi bem gentil.

— C-claro. — Com a vergonha escorrendo por cada poro do meu corpo, mantive o olhar baixo e tratei de dar o fora dali.

Atordoada, com as emoções e os sentidos em um verdadeiro pandemônio, voltei para o corredor do lado de fora, incapaz de notar qualquer coisa. Nem bem havia descido as escadas do lado de fora e subi de novo, indo até o bebedouro na recepção para tomar um grande copo de água. E mais outro. Cheguei a molhar dois dedos e batê-los de leve nas bochechas, tentando esfriá-las. Mas, Deus do céu, o cheiro dele tinha se impregnado nas minhas roupas, e a imagem de Peter nu em pelo — não sei se essa é a expressão certa, já que ele não era muito peludo, mas enfim — parecia ter criado raízes em meus pensamentos. E como eu poderia tirar da cabeça aquela bunda firme e pequena, que parecia convidar minha mão a descansar ali, se ela surgia atrás de minhas pálpebras a cada vez que eu piscava?

Era como quando mamãe fazia um dos seus deliciosos pães doces com cobertura de creme e mandava que eu esperasse esfriar para poder comer, a fim de evitar uma dor de estômago. Eu sabia que ela estava certa, mas sempre acabava comendo mesmo assim. Foi parecido naquele momento. O cara era meu colega de trabalho, caramba! Ter fantasias com ele, envolvendo pouca — ou nenhuma — roupa, era errado. Ver a coisa em cores e músculos e pele clara e músculos e gominhos e aqueles músculos era muito, muito errado!

Meu celular apitou, me assustando. Com os dedos instáveis, eu o peguei no bolso do vestido. Alguém tinha me mandado a foto de uma garota com maquiagem carregada, as maçãs bem marcadas, nariz fino e olhos grandes e esfumados. Aproximei o celular do rosto. Aquela era Gayle?

 

Olha, MJ! Sou uma Kardashian fabulosa!

A dona Lila prometeu me ensinar todos os truques de make!

Ela é fantástica!

Vc é minha heroína. Sua ideia foi genial!

 

Vc tá bem?

 

Vou ficar. E vc, o q anda fazendo?

 

Acabo de ver meu fotógrafo pelado.

 

O Q???????

 

Ele me flagrou olhado pro pto dele.

Acho q vou ser demitida.

 

Vc ficou encarando o pinto do fotógrafo?????

 

O PEITO, Gayle!

PEITO!

 

Aaah! :/

Sabia que tava interessante d .

O q ele disse?

 

Me mandou sair da sua casa.

Sabe o que é esquisito?

Tdo nele engana, Gayle. Tdo mesmo. As roupas largas escondem muita coisa!  Parece que ele é magro, mas não é!

Tem mto músculo e os bíceps parecem duas toras, como nos sonhos.

 

Deu uma bela conferida, hein?

 

Conferi. Tirei a prova e fiz as contas.

 

Vc já sabe o que eu penso, mana.

Eu soube de uma psicóloga q estuda o comportamento dos sonhos. 

O irmão dela tá na minha sala. Vou ver com ele. Daqui a pouco te aviso se deu certo

Enquanto isso, vê se ñ fica encarando o pau do seu fotógrafo!

 

Eu NÃO estava!

 

Guardei o celular, coloquei o copo sob a bica do bebedouro e girei o botão. Ele fez um crec. 

— Não, não, não — tornei a girá-lo, e, graças aos céus, ele cumpriu sua função, cortando o fluxo de água. Mas ficou meio pendurado na base. — Qual é o seu problema comigo?!

Tive que interromper minha discussão com o equipamento, pois aviste o segurança na portaria. Deixei o copo e tive que explicar a Souza que, não, Peter não estava me molestando. Não, eu não estava acobertando o ataque por medo de ser demitida, pois erámos parceiros no trabalho. Jamais admitiria tal coisa, por mais que precisasse da grana. Sim, eu o procuraria caso me sentisse ameaçada dentro do prédio. Sim, ele podia ficar com os pãezinhos que “saltara” da minha bolsa.

Mal terminei de falar e ouvi a sineta do elevador. Arrisquei a olhar para trás e lá estava ele, caminhando com todo esplendor e roupas pelos corredores.

Ok. Era melhor ir ao ponto de uma vez. Se Peter ia me dispensar — ele tinha o controle pra isso, pelo menos não teria ninguém por perto para testemunhar. E não acho que JJ iria se opor. Um pouco trêmula, com o pulso ainda acelerado, reuni o pouco de orgulho que me restava e permaneci no lugar, vendo-o se aproximando.

— Vamos, MJ.

Eu já tinha feito aquilo muitas vezes — ser demitida, quero dizer; nunca tinha deixado um dos meus chefes pelados — e, claro, sempre me sentia triste e frustrada por perder o emprego. Mas dessa vez era diferente. Eu não queria falhar.

Tomando fôlego, o segui. Peter havia acabado de descer as escadinhas, lindo em uma camiseta azul polo, de mangas compridas dobradas até os cotovelos, os dois primeiros botões dela entreabertos.

Voltei a atenção para minhas mãos enlaçadas.

— Eu... — Comecei, mas ele me interrompeu:

— Venha comigo. 

Franzi o cenho, mas não ousei contextar, apenas o segui na calçada até o carro, no qual Peter disse alguma coisa para Oswaldo, até que seguiu em frente, sua mochila chacoalhando pra cima e pra baixo no processo. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Até a próxima maratona! ♡



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