My Amazing Spider-Man escrita por LisRou


Capítulo 10
Assuntos inconvenientes




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POV. Peter Parker

 

•Algumas horas antes...

 

Eu estava terminando de colocar meu sobretudo. Tinha conferido a hora pela terceira vez em menos de cinco minutos — ou foram três? Não sabia dizer — e, naquele instante, enquanto admirava os ponteiros marcando trinta minutos para às sete, me questionei porquê estava tão ansioso.

Por que?

Bom, não vou ser um hipócrita e mentir pra mim mesmo na cara dura que eu não estou ansioso para começar minha parceria com a garota do bebedouro.

Michelle Jones Watson.

Algo nela me alertava controle e cuidado. Além de ser muito espontânea e, mesmo assim, também ter uma personalidade bastante forte, tive a sensação de que... Bom, de que a conhecia. Não sei. De alguma forma senti uma ligação com ela e acredito que MJ sentiu a mesma coisa, porque a maneira que nos tratamos mesmo depois de, bom, ter quase passado com minha moto por cima dela na calçada, nos demos bem. É o que penso. Me responsabilizei pelo seu acidente, é claro, porém a facilidade com que lidamos um com outro foi muito além que um simples cuidado, ou remorso.

A garota, além de ter o perfil de propaganda que será o ideal para o Clarim, era impetuosa, espirituosa, e isso certamente seria um ponto positivo. Ela só precisava realçar ainda mais e se usufruir da sua personalidade nos melhores ângulos. E isso não seria difícil, com certeza não seria! E sua beleza não ficava para trás, muito pelo contrário. Não sei se ela tinha ideia do quanto era bonita.

Tentei não pensar muito nisso conforme olhava meu reflexo na suíte pela última vez, mas era impossível. Achar uma mulher bonita era natural para nós, homens, mas também era muito natural reconhecer quando um cara encontra A mulher bonita, que se destacava no meio das outras. Por mais que haja uma impressão dentro de mim de que já a conhecia antes — só impressão, porque com certeza me lembraria daquele rosto —, o choque quando a encontrei, quando a vi de perto, conversei com ela, a conheci mesmo que fosse um pouco, foi grande.

Até mesmo as palavras e imagens que reverberaram meu subconsciente depois de vê-la, feito um sonho, como se eu fosse um maluco.

Michelle Jones era muito, muito bonita. Sem brincadeira, acho que nunca vi uma mulher com tanta presença que nem ela. Alta, com curvas bem concentradas, a pele sem mácula tão morena que podia refletir a luz do sol, os cabelos escuros ondulados e os olhos bem expressivos... Ela não precisava soltar uma gracinha para mim para querer chamar minha atenção. Ou dizer coisas que a chatearam. Era só olhar em seus olhos que ali continham tudo.

Por mais que a sensação persistisse, me forcei a deixar tudo no mais âmbito profissional possível. Eu precisava fazer com que as fotografias ficassem excelentes e se destacassem no meio das demais propagandas. Meu emprego e minha performance dependia disso. Não podia deixar que certos pensamentos começassem a sondar minha cabeça e me desconcentrar.

Olhei o relógio pela última vez — juro que foi a última!, constatando que o horário estava muito, muito sem noção com a demora. Parece que o tempo congelou. Ou talvez você só tenha acordado cedo demais, idiota. Bufei, indo até minha cama, que ficava do lado da suíte, e me sentei na borda, ligando a TV. Meu apartamento podia ser pequeno, mas era aconchegante e muito bem localizado.

No entanto, antes que eu pudesse pensar, uma notícia no jornal da manhã logo de cara pegou-me de surpresa. Em alerta, aprumei minha coluna e me atentei ao que o repórter dizia:

"Navio, partido da Central Park, sofre um assalto a mãos armadas na altura leste do oceano. Ainda não foram confirmado feridos, mas os criminosos permanecem mantendo-os em..."

Sem perder meu tempo, me levantei num salto e peguei meu celular, ligando para Oswaldo, um dos assistentes mais competentes e gente boa do jornal. E o mais antigo também. 

— Oi, Peter — sua voz soou na linha ao mesmo tempo que eu tirava minhas roupas na velocidade da luz. Alcancei meu traje dentro do armário. — Posso ajudá-lo?

— Pode sim, Oswaldo — Coloquei-o rápido, encaixando minha máscara e por fim abri minha janela, observando ao redor, procurando se alguém estava me observando. Tudo sob controle, comecei escalar a parede do prédio. — Desculpa estar te ligando esse horário, mas preciso que você faça um favor pra mim. Fiquei de buscar uma pessoa, mas não vou conseguir. Aconteceu um imprevisto.

— Claro, eu busco. Me passa o endereço.

— Você não existe, Oswaldo. Cara, muito obrigado mesmo.

Passei todas as informações, aliviado por MJ ter uma carona, e assim que desliguei o telefone, comecei a subir mais rápido. A maneira que minhas pernas se locomoviam e minhas mãos impulsionavam o concreto, agradeci aos céus por essa roupa ter muito elastano. Há muito tempo não era fã, mas aprendi o quanto esse material era excepcional.

Cheguei ao teto do prédio com o coração acelerado, sentindo o vento forte de Nova York e, depois de deixar meu celular escondido debaixo da caixa d'água, com um impulso, comecei a correr. Corri até alcançar o parapeito, e saltei, sem conter o grito pela adrenalina recluso na minha garganta. Não dá para segurar! Era bom demais sentir o vento na cara e a gravidade me levando para baixo, querendo que eu colidisse ao chão, mas aí a surpreendo, lançando minha teia nos edifícios e balançando-me por toda cidade.

Avistei um helicóptero ao longe, na direção de Central Park. Conforme eu chegava, a polícia ficou no meu campo de visão, uma quantidade de pessoas consideradas em frente ao porto, apontando para o mar alto. Como o navio estava no meio do oceano, bastante longe da cidade, não teria como ir até ele se não fosse pelo helicóptero localizado por cima.

Tomando impulso com minhas pernas e desvencilhando de quatro antenas, fiz a acrobacia e atirei a teia no esqui do veículo, passando por entre as pessoas em terra.

— Vai, vai, vai, vai! — Eu disse, esticando meu braço o máximo que podia. — Alcança e resista, vai! VAI!— Gritei com todas as minhas forças para a teia, como se ela tivesse conhecimento e pudesse me entender. Mas ela compreendeu mesmo, porque assim que a ponta colidiu contra o esqui do helicóptero, ao som das gritarias do povo que me assistia lá embaixo, eu exultei. — Isso, minha amiga!

— Homem-Aranha! Homem-Aranha! Homem-Aranha!

Acenei para a multidão empolgada e com o impulso, fui até o navio num salto, caindo em pé bem em cima do caís cheio.

Os assaltantes se viraram para mim no susto. Os reféns mantidos ali, com as armas apontadas na cabeça, suspiraram audivelmente e gritaram de alívio no processo.

— E aí! — Eu disse, sendo recepcionado amigavelmente com um tiro no meio da cara, peito, braço e tronco. Às vezes me surpreendia com minha velocidade. Tudo desviei no embalo. — Isso é maneira de tratar as visitas?

— Seu maldito! — O de cabelo platinado, que tava se achando a última bolachinha do pacote com um monte de cordões, pulseiras e anéis de ouro, estirpe de um marginal, tentou me acertar um soco com a pistola.

— Vocês são tão clichês... — Me abaixei, colidindo um gancho de direita no seu abdômen, e um chute lateral no que tentou acertar um golpe do meu lado. Covardia é o sobrenome do meio desses camaradas. Pressentindo alguém vindo logo atrás de mim, joguei minha cabeça com uma força concentrada, golpeando o nariz. Ouço um osso se estalar. — Poxa, cara, foi mal aí... Se machucou?

Enquanto o bendito urrava de dor, suas duas mãos sobre o nariz machucado e quase se ajoelhando no chão, rolei no chão e chutei o abdômen do quarto criminoso, fazendo-o colidir com uma pilha de caixas. As benditas cujas desabaram feito dominó, caindo em cima de um refém que estava na ponta do caís.

Que caiu na porcaria do mar.

Droga!

— Essa não! Meu noivo, meu noivo! — Gritou a mulher, se pendurando no mastro. Como reflexo, peguei o colarinho do homem de nariz quebrado (que agora parecia um bulldog francês de cara amassada) e o estiquei num puxão, fazendo-o ficar de pé.

— Já tá melhor, né? Fica em pé, vai. — Ordenei, enrolando-o junto com os outros até a teia fazer um campo de força ao redor deles.

— Por favor, ajudem o meu noivo! — A mulher tornou a gritar, alvoroçando o caís.

Assim que os coloquei preso num mastro, as teias firmes para contê-los da fuga — mesmo com dois deles desacordados, não perdi mais o meu tempo e corri até a borda para saltar. 

 E saltei. Tive a impressão de ter pulado contra a ponta do Ice Berg. 

Puta merda, que água gelada dos infernos!

Quase falei em voz alta, mas além de estar debaixo d'água, a visão do que estava lá embaixo me impediu. Uma daquelas caixas que havia despencado durante o confronto, afundando no mar, continha uns... Invólucros de prata que me lembravam os frascos de experimentos da Oscorp. Conforme caíam, alguns foram abertos. A cor azul claro, muito claro como se fosse tinta, se espalhou na água feito fumaça. Fiquei estático, sem saber o que fazer ao enxergar que a vítima estava sendo levada pela hélice do barco ao mesmo tempo que a fumaça o envolvia. 

Meu Deus!

Com o peito apertado, fazendo com que meus ossos doessem conforme meu coração pulsava acelerado, nadei, nadei, lutando para alcançar aquele cara. Ele não sobreviveria. Um pouco daquele frasco espumou no rosto dele, e percebi que respirar... Céus, ele não estava mais respirando! E a hélice...

A hélice havia engolido-o...?

Cheguei a uma distância de um braço, fazendo força para não ser sugado também, e envolvi sua mão com meus dedos, puxando-o com rigor. O cara veio inteiro, só desacordado, e eu estava quase sem ar para ficar assustado. Precisava nos tirar daqui!  E eu não era nenhuma sereia, mas pela minha velocidade, até que me saí bem. Era mais meu desespero para não morrer afogado mesmo.

Emergimos, e eu puxei o ar em haustos, pois a máscara colada na cara dificultava. Não demorou muito para sermos o centro das atenções. Os tripulantes, ao nos verem, jogaram um bote em nossa direção. Coloquei o corpo do rapaz entre o buraco da borracha laranja e branca, e o permiti que o levassem. Tentei não pensar muito no que acontecera lá embaixo, mas... Céus, é pouco provável que ele tenha sobrevivido.

Atirei minha teia e saltei, as gotículas da água escorrendo de mim e molhando o caís no processo, conforme pousei.

— Morrie! Morrie! Por favor, querido, abra os olhos! — A mulher se jogou sobre o corpo desacordado, e eu realmente achei que ela estava dizendo "morri", "morri", "morri". Até olhei para ela, checando se estava tudo bem, se não tinha um órgão faltando, mas depois percebi que na verdade ela estava chamando o nome dele. — Morrie!

Prendi os lábios, ficando em alerta, torcendo para que ele acordasse. Torcendo para que seu nome não tivesse uma associação com o que acontecera debaixo d'água. Toda a tripulação passou pela mesma tensão.

— Por favor, Bench, acorde! Por favor... — Trinta segundos e nada do rapaz, milagrosamente, responder. Até que a garota tomou a iniciativa de fazer uma respiração boca a boca, enquanto um outro passageiro comprimia e pressionava seu peito.

Não soube dizer quanto tempo se passou. Pareceram minutos, horas, mas assim que o loiro começou a cuspir água e respirar, um alívio perpassou todo meu corpo feito uma correnteza. Mesmo estando todo molhado, foi quentura e paz que tomaram controle em tudo dentro de mim. Jamais me perdoaria se algo tivesse lhe acontecido. Foi minha culpa ele ter caído mar aberto.

E eu já tinha culpas demais para sustentar nas costas.

— Graças a Deus... — Suspirou a moça e noiva, o envolvendo num abraço calorado, como se viver sem ele fosse um martírio. Como se tudo que fizesse sentido estivesse ali, diante dela, com vida e finalmente respirando.

Tentei não sentir, juro que tentei... Mas minha garganta ficou amarga e meu peito se comprimiu. A inveja do cara me pegou de jeito. Ainda mais quando uma das mais belas lembrança que eu tinha repetiu na minha mente, emergindo em minhas memórias, chicoteando meu coração.

— Eu vou seguir você aonde for — declarei, sentindo sua respiração no meu rosto, olhando profundamente em seus olhos e orando para que ela visse minha alma expressa ali. Meu coração curvado e quebrantado, todo e todo dela. — Eu vou seguir você por todos os lugares. — Envolvi sua cintura mais forte e suas mãos acariciam meus cabelos da nuca, um sorriso lindo e emocionado esticando em seus lábios. Suas pálpebras marejam. As minhas também também. Tudo nela era meu reflexo. Gwen me completava. — Eu vou seguir você pelo resto da minha vida.

Fechei os olhos com força, sentindo uma compressão muito forte no peito e balancei a cabeça, expulsando aquela imagem que, agora, era mais uma lembrança bonita e distante. Uma memória que estava marcada em mim à ferro brasa.

Estou feliz por ele. Por eles. Ambos terão aquilo que eu nunca terei: um futuro juntos.

Ao som de gritarias e agradecimentos, lancei minha teia pelo esqui e sobrevoei, deixando o restante do trabalho para a polícia.

 

*

 

Nunca tomei um banho tão rápido em toda minha vida. Até porque, já tinha tomado um banho de mar, então...

Deixei meu uniforme perto do aquecedor do apartamento, e coloquei uma outra roupa, ainda com os cabelos molhados pelo banho. Depois de pronto e devidamente seco, fui pilotando muito rápido à Manhattan, com certeza levando baitas multas no processo, mas valeria à pena, porque pretendia ganhar altas quantias no projeto que planejava com Michelle Jones. Era o que eu esperava. E para isso era necessário chegar pelo menos só cinco minutos atrasado.

Quando entrei no polo, a encontrei observando meu uniforme antigo na vitrine do escritório — uma forma de JJ mostrar que sempre estaria a frente do Homem-Aranha, segundo ele. Mas o significado para mim era outro. Um novo recomeço, novos horizontes, e até mesmo o Homem-Aranha passaria por esse tipo de evolução.

O fato de MJ ter ficado interessada, não me passou desprevinido, muito pelo contrário. Especialmente quando ela deu a entender que tinha escutado minha conversa com Brant no telefone. No entanto, algo passou pela minha cabeça, conforme a observava e a levava até o sedã do Oswaldo para irmos até a sede do Clarim Diário. Na verdade, era algo que não parava de martelar o tempo todo, sendo mais exato: por quê MJ estava tão atenta e tão desconfiada ao mesmo tempo? Por que parecia que sua mente divagava quando me olhava?

O que ela tinha que me fazia ficar cada vez mais... Perplexo, pelo amor de Deus?

Deixei aquelas perguntas de lado. Ou melhor, lutei para deixar.

— Joseph preparou alguns memorandos — lembrei, sentado ao seu lado, girando meu rosto em sua direção.

— Ok. — Franziu o cenho, parecendo perdida. Segurei uma risada conforme ela ligava o Tablet e mexia afoita. Mas como eu estava com pressa, peguei meu celular, checando os e-mails:

— Também preciso que você envie um e-mail para a embaixada. O endereço está na memória. Comece com "Prezado John Jonah e equipe, venho lhes informar que estou apta para tirar as fotos dos..."

— Peraí. Só um segundo — a maluca teve a audácia de me pedir para esperar. A encarei estupefato, percorrendo cada expressão do seu rosto enquanto ela permanecia no emblema do IPad. Foi depois de um minuto inteiro que a vi desanuviar a expressão, parecendo satisfeita. — Tudo bem. Pode começar de novo.

"Tudo bem. Pode começar de novo", sua voz se repetiu na minha cabeça.

Mas que mulher abusadinha...

E corajosa também...

A encarei, ainda mantendo a perplexidade — por mais que eu lutasse da mesma maneira que enfrentava um marginal para disfarçar —, mas estava satisfeito e... encantado com sua personalidade. Lidar com ela poderia não ser fácil, mas senti que seria divertido.

Seria diferente de tudo que já lidei.

MJ pareceu se dar conta do que tinha me dito e, por incrível que pareça, dois tons adoráveis de carmim pintaram as laterais do rosto.

— Q-Quer dizer... — Gaguejou, parecendo se encolher no banco. — Estou pronta... se você... se você quiser fazer isso agora...

Tentei conter o sorriso. Tentei mesmo. Mas era difícil. Talvez porque essa mulher diante de mim com certeza seria muito diferente de tudo que já conheci e lidei — e também ela sem jeito era a coisa mais adorável que eu já tinha visto, e alguma coisa dentro de mim pareceu satisfeito, ansioso e focado para descobrir como seria o próximo capítulo.

Quando abri a boca para dizer que ela era muito, muito corajosa — e pronto para soltar uma outra piadinha qualquer, meu celular tocou. O nome tia May aqueceu meu peito e, de primeira, me esqueci de tudo e coloquei o telefone no ouvido.

— Oi, tia May.

— Ah, querido, que saudade... — Foi dizendo assim que atendi, o timbre beirando a melancolia. — Quando vem me visitar, Peter?

— Vou ver se consigo na semana que vem. — Espiei MJ pelo canto de olho e notei que estava concentrada em seu aparelho.

— Venha sim, por favor. Tenho uma novidade para te contar! Não vai acreditar quem veio conversar comigo hoje...

— Quem?

— Advinhe...

Eu ri, me desvencilhando do desafio.

— Fala logo, tia May.

— Você não sabe brincar, né... Poxa... — Fingiu magoada, e eu bufei, meneando o rosto como se ela estivesse vendo. Até pensei que May desistiria, ou tentaria me fazer pensar, mas me surpreendeu: — A Anna. Lembra dela?

Ah, droga...

E tinha como esquecer daquela maluca?

Revirei os olhos e reprimi um grunhido. Anna. Vizinha, casamenteira e amiga — para meu meior desgosto — de tia May, que sempre fez questão de enfatizar a sobrinha solteira quando a visita. 

Era só o me faltava.

— Ah não, tia, nem comece, por favor.

— Poxa, Peter. Só uma chance, querido. Só uma... Você está sozinho por tanto tempo, por que não dar uma saidinha só para conhecer a sobrinha da Anna? O que custa?

— Custa as minhas vontades, May. Por favor, não insista nesse assunto, eu te peço — fui claro, deixando meu desconforto muito transparente para ela. — Não estou afim.

Ouço tia May soltar um suspiro prolongado. O silêncio que se seguiu foi o suficiente para que somente sua respiração fosse ouvida. Esse clima que eu odiava se estendeu.

— Viver no passado nunca fez e nunca fará bem, querido — disse mansa, suave, a voz acariciando meus ouvidos como um veludo, mas golpeando meu corpo feito chicote. Além de odiar o clima, detestava aquele sermão. Me sentia podre por dentro. — Você precisa serguir em frente e ser feliz, Peter. 

Como se um peso tivesse abatido meus ombros, eu também soltei um suspiro pesado.

— Me perdoe, May, mas preciso desligar.

Não esperei pela sua resposta, estava muito desesperado para sair daquele assunto, por isso desliguei o celular, murmurando palavrões que não me orgulhava, ainda mais depois de uma conversa com minha tia que enxergava como uma mãe, mas foi inevitável. Inspirei fundo e encostei minha cabeça no apoio, cerrando as pálpebras, a densa escuridão me rondando.

O assunto era muito delicado, e sempre me desconfortava. Era tão difícil May entender que não quero um novo relacionamento?

Que jamais amaria outra vez?

— Peter? — tive a impressão de ouvir MJ me chamar.

— Sim?

— Posso fazer alguma coisa por você?

Cansado, lutando para desanuviar os pensamentos, esfreguei o rosto, os cabelos, finalmente me endireitando. Forcei-me a deixar aquele assunto de lado e me concentrei nos olhos escuros e expressivos, que expeliam profunda preocupação, assim como sua voz: mansa e prestativa. 

Surpreendentemente, uma sensação quente e reconfortante me envolveu. Contudo não dei tanta importância.

Inspirei fundo:

— Não, não. Obrigado. — MJ não pareceu convencida, mas ficou em silêncio. Melhor assim. — Terminamos o e-mail do Amadeu?

Ela arregalou os olhos, deixando-os normais um segundo depois.

— Acho que sim — começou a mexer no tablet, inquieta. —  Mas... humm... talvez... você queira repassar comigo antes de enviar — arriscou, tornando a me olhar. — Apenas para que eu possa ter certeza de que não deixei nada escapar.

Estreitei minhas pálpebras.

— Você não conseguiu pegar tudo, não é? — Sobreergui uma sobrancelha.

Ficando corada e sem me responder, ela baixou a cabeça e me estendeu o aparelho. Permaneci em seu rosto por um momento até contemplar a tela acesa.

E o que eu li ali, me fez soltar uma gargalhada grande, irrefreável.

"Ao sr. Chefe do réptil de Admiração"

Cacete!

Minha barriga se contraiu, meus ombros balançaram e meus olhos transbordaram com lágrimas. O que ela digitou, mesmo sendo errado por conta do editor do teclado, era justamente o que a maioria dos funcionários pensavam do JJ, Amadeu e equipe. Sr. Amedontra. Ri mais, meneando o rosto. Toda sensação pesada abandonara meu corpo enquanto repetia aquele e-mail comédia na minha cabeça, e realmente me perguntei como não conheci essa garota antes.

Deve ser por isso que achava que a conhecia em outra vida, ou em sonhos. Porque olha, esse e-mail aqui, é justamente tudo o que eu queria dizer.

Mas lutei para tornar o âmbito profissional:

— É por isso que eu odeio essas porcarias de e-mail's. — Lhe estendi o IPad novamente, as bochechas quentes, segurando o sorriso. — Muito bem, vamos começar de novo. Faça o favor de avisar se eu estiver indo rápido demais.

Mesmo com o cenho franzido e as bochechas bastante rosadas — eu podia ver, ela assentiu, tornando a digitar conforme eu dizia.

E outra coisa dentro de mim fazia o mesmo gesto que eu: me alertava que aquela parceria continuaria a mexer muito, muito com minha sanidade.





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