O Enigma de Delfos escrita por valberto


Capítulo 3
Capítulo 3 - A menina que não errava o alvo.




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A despedida dos heróis no dia seguinte foi rápida e não deu margem a sentimentalismos. Num momento estavam todos lá, conversando e tomando café no chalé de Astréia, e no outro Isabel já tinha aberto um portal para a última localização conhecida do Djed.

Quando o portal fechou-se e os ventos pararam de zunir, Jade virou-se para a amiga e abriu um largo sorriso. 

— É bom estar de volta ao lar. - Disse ela finalmente, pousando a mão sobre a barriga. 

— É bom ter você aqui de volta. Dá uma ideia de familiaridade. De simplicidade. Não sei explicar. 

— Bom, você está me devendo uma volta pelo acampamento para ver como estão as coisas. - Disse Jade, piscando o olho e se dirigindo a uma pequena ponte de madeira que ligava o chalé de Astréia ao resto dos chalés. Bem que Astréia poderia ter fundado o seu chalé mais para o lado da margem, pensou a menina enquanto passava sobre a construção firme de madeira grossa. 

O layout do Santuário era basicamente o mesmo, mas haviam mais estradas de pedras encaixadas para todos os lados. Algumas trilhas de barro foram pavimentadas, ladeadas por cercas vivas e estatuetas de meio metro dos deuses do Olimpo. Zeus ganhava mais destaque e quase não se viam estátuas de Apolo e Ártemis. Em algumas estátuas os deuses estavam em poses diferentes: as de Hermes sempre pareciam apontar para alguma direção,como se fossem setas ou placas de trânsito; as de Deméter marcavam o caminho para as hortas comunitárias e uma do deus da guerra era especialmente cômica, pois parecia que Ares estava segurando para não fazer xixi nas calças. Essa última, claro, apontava para os banheiros públicos. 

Jade nem precisou perguntar o porquê de uma estátua tão zombeteira para um deus sério como Ares. Logo abaixo da imagem de mármore branquinho e manchado pela ação do tempo estava uma plaquinha que dizia: devemos lutar especialmente contra a intolerância e o mal humor. 

O caminho para o chalé de Apolo foi feito em silêncio. Jade deixava que Nathália fosse de braços dados com ela, guiando-a pelo caminho que ela mesma conhecia tão bem. O cuidado da amiga nos pequenos detalhes a reconfortou. Seu coração estava feliz porque sabia que agora ela tinha com quem contar. Não que não pudesse contar com Oliver ou os outros. Mas havia algo de protetor em Nathália que ela não sabia explicar. Algo que ela não sentia nem com a sua mãe. 

A estrada para o chalé de Apolo terminou num pequeno pátio de mosaico que lembrava um pouco a bandeira da Argentina: um fundo de pedras brancas com um lindo sol amarelo sorridente no seu centro. Dava mais ou menos a metade de uma quadra de basquete e estava sendo lindamente banhada pelo sol. A casa continuava a mesma: no estilo renascentista, como se tivesse saído de uma vila francesa ou italiana. O solário do terceiro andar continuava o mesmo, mas a casa parecia maior, mais bonita. 

Jade, infelizmente não conseguiu sentir-se em casa. Não era mais o seu lar. Ela sentia-se deslocada, perdida, como se aquele lugar não lhe pertencesse mais. Ela era agora “a estranha no ninho”. O desconforto tomou conta dela e ela começou a se virar para ir embora quando ouviu uma voz esganiçada sair da direção do chalé. 

— Tia Nath! Tia Nath!

Jade virou-se e viu uma menina loira e magra correndo com um arco nas mãos, indo na direção de Nathália. Ela era magra mesmo, alta para a idade que aparentava o rosto, como um vara-pau em formato de menina. Seus cabelos loiros tinham fios finos que dançavam caoticamente em sua cabeça à medida que ela corria animadamente, mostrando um sorriso escancarado de alegria.

— Tia Nath eu consegui. Eu acertei o alvo. Bem no centro. Você tem que ver. Ficou incrível!

— Ora Ju, que coisa boa. Mas você não viu que estamos com visitas? Essa é Jade. Ela é uma ex-campista que vai passar uns dias conosco. 

A menina voltou-se para Jade, arregalando os olhos e abrindo um grande sorriso, que apenas as crianças podem dar. 

— Olá Dona Jade. Eu sou Ady Jussara, mas pode me chamar de Ju. Sou filha de Apolo! - A voz da menina era puro entusiasmo. 

— Ora, prazer em conhecer você Ju. Eu sou Jade. - Riu a menina.

— Engraçado… o seu nome é o mesmo da lendária líder do chalé de Apolo. 

— “Lendária”? - Inquiriu Jade. 

— Sim. Quando os inimigos do Olimpo prenderam Apolo, Zeus e os outros, Jade e seus amigos enfrentaram os inimigos dos deuses e salvaram todo mundo. Eu achei que todo mundo no santuário conhecia essa história…

— Foi mesmo? Essa Jade deve ser muito especial. - Comentou Nathália, divertindo-se com a ingenuidade da menina. Ela não era muito mais velha do que a própria Jade quando ela salvou o mundo. 

— Ah sim, ela é. Mas vamos Tia Nath! Vem ver. - Exigiu a menina, puxando Nathália pelo braço. 

— Vamos “Tia Nath”... - Brincou Jade. - Também quero ver o que é tão importante. 

As três seguiram pelo caminho indicado por Jussara. Um caminho que Jade já conhecia: o posto de treino com arco e flecha. Um lugar que todo filho de Apolo conhecia tão bem quanto a palma da própria mão. Jade olhou em volta, revivendo memórias de tempos passados. A árvore que Lucas tinha criado para barrar a luta dela com Nathália continuava lá, destoando da área em volta. 

— Eu achei que você ia mandar por essa árvore abaixo. - Comentou Jade, acariciando o tronco. 

— Eu até tentei, mas essa árvore simplesmente não cai. Eu mesmo dei umas boas suingadas de machado nela. Não se pode ver nem as marcas onde eu bati. A danada se regenera mais rápido que vilão em filme de super herói. 

— Ei, eu não trouxe vocês aqui para falar dessa árvore. Vem, vou mostrar! - Exasperou-se a menina de cabelos loiros finos. - Ela pegou uma flecha e disparou. Bem no centro. Como era de se esperar de alguém que tem a bênção de Apolo correndo no sangue. Então ela disparou uma segunda e uma terceira vez. Cada flecha atingindo o centro do alvo, partindo a flecha anterior. Foi assim com a quarta flecha e todas as outras até que a aljava da menina estava vazia. 

— 15 flechas no alvo. Muito bom! - Aplaudiu Nathália. 

— Nem mesmo eu teria feito melhor. - Comentou Jade. - Você poderia muito bem fazer o papel de Kate Bishop na série do Gavião Arqueiro, mocinha. 

— Você sabe atirar com o arco, Jade? - Perguntou curiosa Jussara. 

— Eu já dei meus disparos quando era mais nova… mas arco e flecha não são a especialidade de Balder. 

— Balder é seu pai? - Perguntou a menina, recolhendo o que sobrou das flechas do alvo. 

— Sim. - Respondeu Jade. - É conhecido como o deus da justiça e da sabedoria, e todos os deuses o louvam pela sua beleza.

Jussara parou o que estava fazendo e ficou olhando sem entender, como se sua cabeça estivesse em curto-circuito. 

— Lembra quando falei para você dos outros deuses, Ju? - Perguntou Nathália, tentando remediar a situação. - Pois bem, Jade é filha de um deus do Panteão do Norte. O pai dela é um tipo de Apolo, diferente do seu. É tipo um mesmo aspecto. 

— Ah, tá! - Concluiu a menina. - Isso nos faz primas, Jade. 

— Eu acho que nunca tive uma prima tão talentosa. Acho que saio ganhando aqui. - Brincou Jade mais uma vez. 

— Mas que poderes o seu pai te deu? Se não é o arco, nem o poder do sol, e nem o poder da cura ou premonição, o que você ganhou? - Perguntou a menina. 

Sem hesitar, Jade puxou uma adaga da cintura e testou a lâmina contra uma das flechas. Estava afiada como uma faca ginsu. Então ela espalmou a mão e passou a lâmina sobre a palma várias vezes. Nem mesmo uma vermelhidão. 

— Que da hora, prima. Vamos, eu quero te mostrar o meu beliche no chalé de Apolo. 

— Outra hora pequena, outra hora. 

Ao longe ouviu-se uma explosão. Vinha do chalé de Hefesto. Sem pensar muito no que faziam, as três rumaram para lá. 

 


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