O Enigma de Delfos escrita por valberto


Capítulo 2
Capítulo 2 - Quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam as mesmas.




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— Mas como é que é? - A pergunta engasgou na garganta de Nathália, fazendo-a tossir e derrubar coca-cola pelo nariz. Ela esperava guardar alguma coisa como um item: uma espada, um mapa, uma bússola mágica... Mas guardar a amiga? 

— Sei que é um pedido estranho. - Adiantou-se Oliver, em tom sério. - Mas a missão que nós vamos é perigosa demais para alguém no estado em que Jade se encontra. 

— E não estamos falando no Estado do Distrito Federal. - Adiantou-se Isabel,antes que Eric pudesse abrir a boca para fazer qualquer piada. Não fosse o barrigão de Jade e a nova missão que tinha pela frente, esse seria o fato que mais chamaria a atenção de Nathália: Isabel fazendo piadas. 

— Eu não estou num estado de doença, Oliver. - Exasperou-se Jade. - Mas o bom senso diz que mesmo com meus poderes e a bênção de meu pai adotivo eu não devo me meter em missões pelos deuses. É… - Ela fez uma pausa, acariciando a barriga com ternura. - Arriscado demais. Por isso eu pedi aos meninos que me trouxessem aqui. Não conheço nenhum lugar na terra onde eu me sinta mais segura do que aqui. Aqui tem os campistas, têm a proteção da barreira dos deuses, tem você… - Disse ela pegando a mão de Nathália e pousando-a sobre o seu ventre inchado. - Ninguém mais me protegeria com mais cuidado e devoção. 

Nathália sentiu o bebê dentro de Jade chutar. Era a primeira vez que sentia um bebê chutando no ventre de uma mãe. Ela foi invadida por um calor diferente. Ela sentiu sua tatuagem mágica do Dragão de Tebas aquecendo em suas costas, como há anos ele não fazia. Ela levantou os olhos e viu que todos da mesa estavam olhando para ela, como se estivessem aguardando a sua resposta. 

— Mas é claro que eu aceito. Eu juro pelas águas do Rio Estígio que nada e nem ninguém vai chegar nem perto de ameaçar a vida de Jade ou dessa criança. 

— Crianças… - Interviu Oliver. - Jade está grávida de gêmeos. 

— Crianças! Eu juro. Duas vezes!

— Está feito então. Vamos passar a noite aqui e amanhã seguimos para a nossa missão. 

— E podem me dar algum detalhe dessa missão? - Perguntou Nathália. Ela tinha aprendido que toda informação nessa altura do campeonato poderia ser útil. 

— Estamos em busca de um artefato. Djed. O Pilar de Osíris. É um pequeno cetro, menor que uma varinha de Harry Potter. Na verdade, está mais para o tamanho de um controle remoto universal daqueles grandes. Ele tem poderes regenerativos fantásticos. Dizem que um toque é capaz de curar qualquer ferida ou doença e que sua presença constante pode até mesmo renascer os mortos. É poder demais para ficar nas mãos de um semideus. 

— Osíris não é um deus egípcio? - Perguntou Nathália temendo que seus conhecimentos em mitologia estivessem fora do lugar. 

— Sim, ele é. Quando eu fui adotada por Balder tinha outros pretendentes. A mera presença deles abriu um universo de possibilidade para interagirmos com outros deuses e outras mitologias. - Explicou Jade. 

— Tipo um multiverso de deuses. só que sem o Tom Holland canastrão. - Completou Isabel. 

— Pois bem, alguém muito poderoso roubou esse artefato e cabe a nós trazer esse negócio de volta. - Continuou Eric. - Rastreamos o ladrão até a cidade do Novo Gama, bem aqui do lado. Lutamos com uns bonecos de massa e o danado do ladrão conseguiu fugir. 

— Bonecos de massa? Tipo aqueles dos Power Rangers? - Perguntou Nathália, incrédula. 

— Pois é. Tudo indica que esse ladrão está trabalhando para os mesmos caras que empregam os homens de preto. A galera dos novos deuses: o Garoto da Técnica, a loira da TV, esses caras. 

— Temos uma pista sólida. Um dos contatos do meu tio me disse que o submundo está se movimentando para comprar a peça. Provavelmente num leilão. Precisamos estar nesse leilão e comprar a peça de volta… - Disse Oliver mexendo no que sobrou do seu prato. 

— Ou roubar a peça de volta. - Completou Eric. 

— Entendo. Vocês estão querendo se infiltrar num leilão do submundo que deve estar lotado de inimigos dos deuses. Gente poderosa que quer o usar o pilar de Osíris para alguma coisa que não presta. É mesmo uma missão perigosa demais. - Respondeu Nathália, olhando com ternura para Jade e segurando suas mãos com firmeza. - Você fez bem em vir aqui, Jade. 

— Você entendeu. Embora sinta que cada fibra do meu corpo anseia por mais essa aventura, eu devo pensar nos pequenos.  

— E eles já tem nome? 

— Oliver e Eric não comecem! - Sentenciou Jade. - Não vou colocar nenhum nome Jedi ou de anime dos meus filhos. 

— Mas Jade… Vegeta e Bulma são tão lindos… Ou Ichigo e Rukia… Olha que charme: Nada de Valentina ou Enzo… Pode ser até Asuna e Kirito! Já pensou em… hei! - Reclamou subitamente o rapaz ao receber um pedala robinho dado por Nathália. Oliver por sua vez colocou as duas mãos sobre a boca… Vai saber se era para se proteger ou para não rir alto do amigo. 

— Você nunca ouviu que não se pode contrariar mulheres grávidas? - Ralhou Nathália, alisando o nó dos dedos. - E nem mais um pio, ou vão ter de achar outro filho de Hermes para essa missão. Imagino que vão todos se acomodar na casa de Astréia…?

— Sim. - Respondeu Oliver. - Nenhum outro filho de Astréia foi reclamado ainda? 

— Que eu saiba você continua sendo o único. Em compensação Eric deve ter uma dúzia ou mais de novos irmãos e irmãs para conhecer. 

A noite seguiu sem maiores contratempos. Depois de alojar os amigos no chalé de Astréia, Nathália viu-se de novo perdida em seus pensamentos na sua mesa de trabalho. Ser a líder do chalé de Ares já tinha bastante papelada, mas ser a chefe de segurança e líder do Acampamento Meio-Sangue do Vale do Amanhecer pareceu que tinha triplicado as suas obrigações. Tinha tanta papelada na sua mesa que, às vezes, sentia-se como Naruto em Boruto. Ela olhou sua pilha de obrigações, suspirou e comentou consigo mesma: “é só mais uma batalha para lutar”. 

Com tantas obrigações, manter apenas um diário era impraticável. BêPê foi gentil e providenciou um computador pessoal para Nathália. Nada muito sofisticado, mas bom o bastante para carregar relatórios e bancos de dados com facilidade. De bônus Nathália poderia ver vídeos no youtube e quando minha paciência conseguia até mesmo acessar vídeos no netflix. A filha de Ares estalou os dedos antes de iniciar mais uma batalha com aquele monte de placas e circuitos. 

Já passava da uma da manhã quando resolveu levantar e esticar as pernas. Lá fora o silêncio abafado da noite só cedia espaço para os cantos noturnos das corujas. Haviam muitas corujas, nativas da região onde o vale tinha sido erguido originalmente. Nos tempos clássicos, a coruja era o emblema da cidade de Atenas. Era o pássaro sagrado da deusa Atenas, a divindade patrona da cidade. As pinturas de vasos, as estátuas e os relevos mostram frequentemente Atenas na companhia de uma coruja, que às vezes voa em volta dela e, em outras ocasiões, fica sentada em seus ombros, dando-lhe seus conselhos. Além de ser uma feroz protetora da cidade, Atenas era a deusa da sabedoria, e a coruja era a encarnação de seus poderes intelectuais. Os filhos de Atenas diziam se tratar de um bom presságio. Afinal de contas, por que não seria vantajoso morar num lugar em que o símbolo da deusa do conhecimento circula livremente por aí? Ela abriu a janela e apreciou a brisa da noite, renovando o ar em seu pequeno escritório. 

Silenciosamente ela orou para que os deuses sorrissem aos caminhos de seus amigos na perigosa jornada que iam enfrentar no dia seguinte. Uma pequena coruja de pelagem cinzenta pousou bem à sua frente, quase que inquirindo-a com o olhar profundo. A pequena coruja bateu asas e se aninhou confortavelmente sobre um nicho da parede. Seria a coruja o símbolo que a missão dos amigos teria as bênçãos de Atenas? 

Sem aviso a ave se agitou e alçou voo, sem antes guinchar alto. O sangue de Nathália gelou. Não se tratava de uma coruja comum e sim de uma “rasga mortalha”. Diziam as lendas dos mortais que quando esta coruja passa sobre a casa ou pousa no telhado e dá um piado, alguém que mora nesta casa morrerá.

Nathália deu de ombros. Fosse o que fosse, bênção ou mau agouro ela enfrentaria como sempre fez. 


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