Um Amor de Natal escrita por Mari Pattinson


Capítulo 1
Objeto de troca?


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoal!

A minha intenção não era postar (ou escrever) nada novo para esse Natal. Eu tinha começado a reescrever Natal na Neve (era o que eu pretendia postar), mas fiquei doente e não conseguia fica sentada em frente ao notebook e, ontem mesmo, me veio a inspiração dessa história e decidi escrevê-la e postá-la.

Só não consegui postá-la ontem, porque não conseguia configurar de jeito algum as Categorias do Nyah pelo celular, então decidi esperar até hoje para fazer tudo com mais calma pelo notebook mesmo.

Ainda estou escrevendo, mas como ela é bem curtinha, acredito que não passe de cinco (5) capítulos. Estou finalizando o segundo e vou postar os próximos na base dos comentários (se tiver algum, haha).

Eu espero que vocês gostem muito, essa foi mais uma das minhas: pensou, escreveu, postou (ao meu melhor estilo 2011/12), e espero que tenham tido um lindo Natal perto das pessoas que amam!

Nos vemos nas notas finais!



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13 de setembro de 2010, 17:00h, Forks, WA

PDV: Bella

Observei minha mãe terminar de desembaraçar meus cabelos. Não que eu fosse incapaz de realizar tal tarefa, mas, ela queria “me mimar" um pouco no dia do meu aniversário e nós passávamos tanto tempo distantes uma da outra, por causa de seu trabalho quase interminável na fábrica de roupas de inverno da cidade, que não me opus àquele gesto de carinho.

Ela passava a escova delicadamente por minhas mechas castanhas e levemente onduladas nas pontas, e me olhava através do espelho com seus olhos azuis penetrantes.

─ Seu pai teria tanto orgulho de você, da mulher que se tornou ─ disse ela, usando minha toalha de banho para tirar o excesso de água de meus cabelos.

Suspirei, saudosa do homem que mal havia conhecido. Meu pai, Charlie Swan, trabalhava como policial e foi pego numa emboscada quando eu ainda era um bebê. Tudo o que eu tinha dele era uma foto antiga comigo em seu colo.

Fisicamente, nós éramos bem parecidos: havia herdado seus cabelos e olhos castanhos e provavelmente a sua altura, já que eu era bons centímetros mais alta do que mamãe.

─ Acabei de fazer 18 anos, mãe, ainda não me sinto uma mulher ─ confessei, encarando-a pelo espelho.

Ela revirou os olhos e saiu do banheiro, onde estávamos, dizendo que voltaria logo.

Observei o pequeno cômodo: os azulejos, amarelados pelo tempo, em metade da inacabada área do chuveiro – que havia queimado há alguns meses e eu esperava conseguir consertá-lo antes do inverno rigoroso chegar –; a cortina de plástico de bichinhos do mar, também amarelada e rasgada até a terceira argola, ainda úmida devido ao meu recente banho; o vaso sanitário e a pia de cor creme de modelos provavelmente já extintos na modernidade e o espelho sem moldura com algumas manchinhas de oxidação.

O resto de nossa casa não era muito diferente. Nós não tínhamos muitas condições financeiras, porque meus pais não haviam se casado quando ele faleceu, então eu era a única que recebia pensão do trabalho dele e todos os bens de papai que foram repassados para mim – que também não eram muitos –, eu só poderia usá-los quando completasse 21 anos.

Mesmo que eu também tivesse trabalhado por meio período na loja de artefatos para pesca e acampamento dos Newton durante todo o Ensino Médio, eu e mamãe ainda passávamos por muitas dificuldades, e muitas vezes precisávamos de doações,  fossem de alimentos ou de roupas. Tudo havia piorado quando os Newton me dispensaram depois que terminei a escola, alegando que o filho deles, Mike, ficaria com o turno integral e eles não teriam mais como me pagar.

Desde então, trabalhei como babá para algumas famílias da cidade, mas como era um serviço esporádico, era complicado ter uma renda fixa no final do mês para pagar todas as nossas contas.

─ Meu amor, pode vir aqui por um instante? ─ perguntou mamãe, sua voz um pouco abafada significava que ela estava em nosso quarto.

Saí do banheiro, e caminhei pelo curto corredor até nosso quartinho. Eu e mamãe dividíamos a antiga cama de casal que ela usava com meu pai, já que uma cama de solteiro não estava em nossas prioridades.

A pintura bege das paredes já estava descascando e os móveis antigos de madeira gritavam por uma reforma, mas não havia muito que pudéssemos fazer de imediato.

Franzi o cenho ao ver uma grande caixa preta enfeitada com um laço cor-de-rosa no meio de nossa cama.

─ Mamãe! ─ Eu sinceramente esperava que minha mãe não tivesse sido irresponsável a ponto de ter me comprado um presente quando estávamos tão apertadas com as contas e outras urgências.

─ É um presente do Senhor Black, você sabe como ele é sempre generoso! ─ disse ela, dando-me um sorriso gigantesco.

Jacob Black era o chefe de mamãe, dono da fábrica e também de uma rede de lojas de roupas de inverno espalhadas pelas cidades. E mamãe estava certa, todo ano ele me mandava um bolo de aniversário... E era o que eu estava esperando, não um presente daquele tamanho!

─ Vamos, Bella, abra! ─ mamãe exclamou, gesticulando para a caixa.


20:00h

Observei-me pela quinquagésima vez no reflexo do espelho do kit de maquiagem que o Sr. Black me dera. Mamãe pintou suavemente o meu rosto e marcou meus lábios com um tom de vermelho vibrante que eu nunca havia visto antes.

O vestido preto – também presente dele – me servia perfeitamente, e descobri o motivo de mamãe ter tirado minhas medidas algumas semanas antes. Ele tinha um decote em “v" que ia até a altura dos meus seios, e seguia em camadas até um palmo de meus joelhos.

Nunca havia tido uma roupa tão bonita e estava grata porque, pelo menos uma vez no ano, eu podia esquecer todos os problemas e dívidas.

Uma batida na porta me despertou de meus pensamentos. Perguntei-me se mamãe havia esquecido a chave; ela tinha ido até a confeitaria do bairro, de onde o Sr. Black havia encomendado o meu bolo, como em todos os outros anos.

Abri a porta, surpreendendo-me ao ver um homem, mais ou menos em seus quarenta anos. Ele tinha a pele morena, os olhos pequeninos e castanhos escuros e os cabelos curtos e pretos. Seus trajes eram extremamente alinhados, o que indicava que ele não pertencia ao meu bairro. Talvez estivesse perdido?

─ Ah, com licença, Senhor, posso ajudá-lo? ─ perguntei, confusa quando ele abriu um sorriso largo para mim.

─ Não está me reconhecendo, pequena Bella? Aliás, não está mais tão pequena assim, não é? ─ falou, em tom divertido.

Um arrepio percorreu minha coluna assim que ouvi aquele apelido; era como se ligasse um sistema de alerta dentro de mim, mas eu não conseguia entender o motivo. Ainda levei alguns segundos encarando o homem à minha frente, quando ele levou a mão direita ao meu rosto e acariciou minha pele, enquanto seus olhos percorriam meu corpo da cabeça aos pés de uma maneira que endossava não só as suas palavras, mas também a minha sensação de desconforto.

─ Vejo que está aproveitando os presentes ─ disse ele, arqueando a sobrancelha esquerda para mim.

E então um click se fez em minha mente: ele era o Senhor Black!

─ Já faz anos que não te vejo, parece que foi ontem que sua mãe te levava para a fábrica! Você adorava o meu escritório, não saía de lá por nada, não se lembra? ─ perguntou com um sorriso, ainda tocando meu rosto e um novo arrepio percorreu meu corpo.

Mas apesar de toda aquela sensação esquisita, eu tinha sim boas memórias no escritório do Senhor Black. Era lá que eu passava a maior parte das manhãs antes de ir para a escola e se não fosse por ele, provavelmente minha mãe teria sido demitida, já que não tinha condições de pagar uma babá para ficar comigo.

─ Senhor Black? ─ perguntei, apenas para ter certeza.

Permiti que ele entrasse, assim que confirmou com a cabeça e disse-lhe para se sentar na poltrona, o assento mais confortável – ou menos desconfortável – da pequena sala de estar.

─ A sua mãe, aonde ela está? ─ perguntou ele, acomodando-se no lugar em que indiquei.

─ Ela foi pegar o bolo ─ respondi-lhe, ganhando um sorriso caloroso em resposta ─ O Senhor gostaria de beber alguma coisa? ─ perguntei. Não que tivessem muitas opções, mas era sempre educado fazer aquele tipo de pergunta para visitas... Não que eu estivesse esperando que ele fosse aparecer...

─ Não precisa se preocupar, minha querida, sente-se aqui comigo e vamos esperar Renée ─ disse ele, mantendo o mesmo sorriso no rosto.

Concordei com a cabeça, sentando-me no sofá de dois lugares, mais afastada da poltrona possível, já que ainda não me sentia confortável perto dele. Não sabia explicar o porquê, mas algo dentro de mim gritava para que eu mantivesse uma distância segura entre nós dois.

─ Obrigada pelos presentes, Senhor ─ falei. O mínimo que eu podia fazer era ser educada, mesmo que os olhares dele me fizessem querer cobrir-me com a primeira coisa que achasse.

─ Não há de quê, pequena Bella! ─ disse ele e, num piscar de olhos, estava sentado ao meu lado.

Tentei disfarçar meu desconforto com um sorriso, mas isso só o ajudou a me interpretar de maneira ainda mais equivocada.

─ Sabe, de onde esses vieram... ─ continuou o Sr. Black, pinçando uma parte da costura de meu vestido sobre minha coxa direita. Reprimi a vontade de empurrá-lo, temendo ser interpretada como ingrata, e torcendo para que ele se afastasse o mais rápido possível, mas ele se inclinou na direção de meu ouvido ─ Há muito mais, é só você me dizer que quer ─ sussurrou, espalmando a mão totalmente em minha coxa.

Meu coração disparou conforme seus lábios se aproximaram de meu pescoço e sua mão começou a subir por minha coxa. Parei-a, meu estômago embrulhado, antes que eu vomitasse em cima dele.

─ Senhor, por favor ─ murmurei, lutando contra a mão dele, que ele insistia em forçar para dentro de meu vestido ─ Acho que o Senhor confundiu as coisas. ─ Eu também lutava contra as lágrimas que teimavam em se acumular no canto dos meus olhos.

─ Acho que não, minha querida ─ disse ele, sorrindo-me daquela mesma maneira que me deixava desconfortável ─ Você já tem dezoito anos, me prove que é uma mulher. ─ O Sr. Black forçou, mais uma vez, a mão para dentro de meu vestido, enquanto eu tentava empurrá-lo. E então fiz a única coisa em que consegui pensar e o meu estômago me ajudou: vomitei nele.

Vomitei o pouco que tinha comido no café da tarde e o que ainda havia restado de almoço dentro do meu corpo.

E em segundos, o Senhor Black estava coberto por uma crosta amarelada e fedida e proferia os mais altos e pesados palavrões enquanto eu ainda tentava me esquivar de seu aperto. E, em mais alguns segundos, minha mãe chegava, um bolo enorme em mãos, que quase foi ao chão quando presenciou aquela cena.

─ Bella! Senhor Black, o que houve aqui?

Puxei mamãe para a cozinha, antes que o Sr. Black dissesse qualquer coisa. Eu tremia e já não conseguia mais segurar as lágrimas.

─ Mamãe, por favor, mande-o embora daqui ─ murmurei, abraçando-a assim que ela colocou o bolo sobre a pia.

─ O que aconteceu, meu amor? ─ ela perguntou, segurando o meu rosto com uma das mãos para poder me encarar.

─ Ele tentou me agarrar, mamãe. Se eu não tivesse... Vomitado... Se você não tivesse chegado, eu não sei o que teria acontecido ─ falei, recebendo uma expressão confusa de mamãe como resposta.

─ Ele tentou te agarrar e você vomitou nele? Francamente, Isabella! Esse homem é o meu chefe e ele pode te dar o mundo! ─ mamãe ralhou comigo, seus olhos azuis eram como adagas nos meus.

─ Mamãe... ─ murmurei, mas ela balançou a cabeça negativamente, enquanto me olhava, decepcionada, como se eu tivesse acabado de cometer um assassinato.

─ Sem mais, Isabella. Você já não é mais uma menina, precisa entender como a vida funciona. Aquele homem na nossa sala é mais do que o necessário para mudarmos de vida.

O meu coração se partiu ao ouvir aquilo. Estava surpresa que a única pessoa a quem eu tinha na vida, a mulher que eu mais amava no mundo, me trataria daquele jeito, como um objeto de troca e ascensão à riqueza.

─ Você vá para o quarto e se recomponha. Vou tentar consertar o seu estrago, espero que o Senhor Black tenha paciência ─ disse ela, revirando os olhos e caminhando até a sala ─ Olá, Senhor Black, peço desculpas pelo ocorrido. Bella ficou um pouco nervosa, o Senhor sabe que ela não está acostumada com rapazes, por isso deve ter tido essa reação, vou pegar algo para o Senhor se limpar...

Não fiquei mais um segundo para tentar ouvi-la. Roubei alguns pacotes de biscoitos e corri para o quarto, lutando contra as lágrimas e os soluços que teimavam em escapar por meus lábios. Peguei minha antiga mochila escolar e coloquei os biscoitos e todas as minhas peças de roupa – que, por não serem tantas, não deixavam a mochila demasiadamente pesada. Precisava ser rápida e precisava estar longe o suficiente de casa antes que os dois desconfiassem que eu tinha fugido.

Não me submeteria a eles. Aquele homem nojento, sendo chefe ou não de minha mãe... O horror tomou conta de mim novamente. Como ela pôde sequer cogitar fazer aquilo comigo?

Nossa vida não era fácil, mas... Ainda assim, eu sabia que não merecia ser vendida daquele jeito, muito menos a um homem que, mal me conhecia, achava que já tinha direitos sobre mim por causa de míseros presentes... Os presentes! Peguei o kit de maquiagem e também o coloquei na mochila. Eu poderia vendê-lo e, com o dinheiro, comprar alguma comida.

─ Bella, já está pronta? ─ mamãe gritou, batendo na porta do quarto.

Meu coração disparou quando percebi que estava divagando demais. Precisava ser mais rápida.

─ Ainda não ─ gritei de volta.

Não daria tempo de tirar aquele maldito vestido, mas pelo menos eu tinha ganhado mais alguns minutos. Calcei meu velho par de tênis e abri a janela com cuidado, para não fazer muito barulho, e agradeci por morar numa casa térrea com janelas baixas.

Não tive dificuldades em sair de lá e logo a brisa noturna e gélida de Forks me envolvia. Eu sabia por onde precisava andar para que eles demorassem mais, ou melhor, nunca me achassem.

Corri para a floresta, um local que eu conhecia tão bem desde minha infância, e me embrenhei pelas árvores, torcendo e rezando para que Jacob Black e minha própria mãe ficassem longe. Para sempre.


13 de outubro, 15:00h, Centro de Seattle, Coffee Shop

─ Obrigada, Senhor McCarthy ─ falei assim que recebi um agasalho quentinho do dono da loja de cafés mais bonita de Seattle.

Não era a mais bonita por ser chique ou bem arrumada, mas porque tinha como gerentes Emmett e Rosalie McCarthy, as pessoas mais gentis que eu havia encontrado desde que, sem rumo, tinha chegado a Seattle.

Em alguns dias de caminhada na floresta de Olympia, percebi que logo seria encontrada, se continuasse na bendita Forks, porque equipes de busca já estavam atrás de mim. Decidi, então, tentar a sorte no leste e assim que cheguei a Seattle, “a sorte" me roubou todos os meus pertences e acabei nas ruas sem qualquer fonte de sobrevivência – não que antes eu tivesse muitas. Se não fosse pelos McCarthy, eu teria morrido de fome, sede e/ou frio.

Eles também não tinham muito, estavam começando a vida juntos e não gostava de abusar, mas sempre que podiam, me deixavam tomar banho em seu apartamento e nos dias mais frios eu ficava dentro do café, mesmo sem consumir nada – na verdade, eu sempre acabava consumindo alguma coisinha ou outra que eles me ofereciam de bom grado – e só não me deixavam dormir lá porque não queriam encrenca com o dono do estabelecimento.

Geralmente, eu procurava dormir com outras pessoas como eu, pessoas que também não tinham mais casa. Isso nos oferecia certa segurança, principalmente a física. E foi assim que conheci Alice. Ela podia ser considerada a minha “irmã das ruas”; era um pouco mais velha do que eu e havia fugido de casa aos 16 anos, após ser violada pelo padrasto.

Alice era uma garota baixinha, de cabelos curtos e pretos e olhos azuis tão gentis que ao olhá-los, não se podia adivinhar as durezas que ela já tinha passado na vida. Foi ela quem me ensinou a me defender de possíveis folgados “roubadores de cobertores"  ou “mãos bobas".

Nós geralmente estávamos juntas, mas ela preferia passar os dias do outro lado da cidade, por isso não costumava pegar a comida dos McCarthy.

─ Não há de quê, Bella ─ disse Emmett, sentando-se ao meu lado no banquinho em frente ao Café. Percebi que ele estava um pouco hesitante, quando abriu e fechou a boca algumas vezes e eu o incentivei a falar o que quer que fosse ─ O Chefe descobriu...

Ele não precisava completar para que eu entendesse. O chefe dele havia descoberto que ele e Rosalie me ajudavam e os ameaçou: se continuassem me ajudando ou se me visse pelas redondezas, os dois estariam demitidos.

─ Se esse lugar fosse nosso, você sabe, não sabe, Bella? Que nós faríamos o impossível para ajudá-la? ─ perguntou-me baixinho, fitando-me com seus adoráveis olhos azuis.

─ Emmett, mesmo esse lugar não sendo de vocês, vocês já fizeram tanto por mim! ─ falei, emocionada, ao me lembrar de todos os momentos em que eles haviam estendido a mão para uma completa estranha.

─ Sinto muito não poder fazer mais... Olha, eu peguei algumas coisas, leve com você. ─ Ele abriu a mochila surrada que havia me dado e colocou alguns biscoitos num saquinho ─ Você sabe onde moramos. Se precisar de algo e nós pudermos ajudá-la, é só bater lá.

─ Obrigada por tudo ─ falei, abraçando-o brevemente. Já fazia algum tempo desde meu último banho e provavelmente não estava cheirando tão agradável.

─ Espero te ver de novo ─ disse ele, não se importando e me abraçando apertado.

─ Qualquer dia a gente se vê ─ afirmei, pegando a mochila e acenando para ele antes de me distanciar, procurando algum lugar novo para passar os dias.


21 de novembro, 22:00h, pelas ruas de Seattle

─ Se quiserem um pouco disso... ─ disse o Senhor grisalho, apontando para o saco de biscoitos em suas mãos ─ Me mostrem que sabem usar isso. ─ Ele apontou para a genitália e sorriu maliciosamente para mim e para Alice.

Fiz um som de nojo, enquanto Alice deu de ombros. Eu detestava aquilo, porque não era justo que ela sempre se submetesse em troca de comida, mas ela, mais “endurecida", dizia não se importar de fazer o trabalho sujo. Como minha “irmã mais velha" das ruas, ela se sentia muito protetora em relação a mim. Estávamos numa praça, sentadas sobre os bancos gélidos e quase congelando com os cobertores finos que conseguimos através de doações.

─ Deixa, eu vou dessa vez ─ falei, levantando-me e recebendo uma negativa dela.

─ Não, Bella. Você não precisa fazer isso ─ Alice contrapôs, puxando meu braço e usando-me como apoio para também se levantar.

─ As duas podem vir, se quiserem. Não me importo de dividir ─ o velho disse, aproximando-se.

─ Eu vou, Alice. Está na hora de eu crescer. Não é justo que você faça o trabalho sujo o tempo todo ─ falei, engolindo o nó em minha garganta e forçando um sorriso.

Eu sabia que odiaria o que quer que acontecesse. Sabia que me odiaria por trocar o meu corpo por comida – era aquilo que Renée queria que eu fizesse com Jacob – mas era isso, ou sabe-se lá quando teríamos alguma migalha de novo.


...

─ Sua garota nojenta, me vomitou todo! ─ o velho vociferou, lançando-me contra o chão, e se não fosse pela neve fofinha, meu rosto já dolorido poderia ter se fraturado.

─ Já chega, cara! Olha o que você está fazendo! ─ Alice gritou, impedindo que o homem me chutasse mais uma vez ─ Não seja idiota, quer matá-la?

─ Quem é que daria falta de uma garota perdida feito essa? Quem é que daria falta de qualquer um de vocês? ─ perguntou ele, em desdém.

─ Cara, pelo amor de Deus, vai embora, ela cometeu um erro ─ disse Tyler, um dos garotos, também sem casa, que geralmente ficava conosco.

Depois que me distanciei dos McCarthy, eu e Alice costumávamos nos juntar, de tempos em tempos, a outras pessoas que estavam nas ruas e formávamos pequenos grupos. Nas últimas semanas, havíamos nos aproximado de Tyler e Paul.

Eles eram fortes e bem... Espertos. Furtavam algumas lojas de conveniência, enquanto eu ficava na retaguarda e, quando não conseguíamos nada, passávamos fome e frio juntos, como uma verdadeira equipe. Isso quando não surgia alguém feito o tal velho que propunha alguma atividade adulta em troca de comida. E, novamente, era Alice quem aceitava.

─ Se isso acontecer de novo... ─ o velho disse, em tom ameaçador, puxando meus cabelos com força e olhando-me profundamente nos olhos com um ódio que me fez estremecer ─ Vou fazer você engolir seu próprio vômito, sua... ─ e me xingou, xingou Renée e minha família inteira também ─ E isso aqui... ─ Esfregou os biscoitos no meu rosto e me sorriu diabolicamente ─ Pode enfiar no seu...

Um barulho de sirenes ao longe fez o homem soltar minha cabeça, que novamente bateu contra a neve. Ele xingou mais algumas vezes antes de sair em disparada na direção do carro luxento dele e foi embora, como se nada tivesse acontecido.

─ Bella, pelo amor de Deus, fala comigo! ─ Alice falou, ajudando-me a me sentar. Seus olhos estavam arregalados enquanto me encarava e soltei uma risada sem humor.

─ Eu devo estar parecendo um monstro ─ murmurei, levando minhas mãos ao meu pescoço, sentindo minha garganta arranhar devido às mais recentes “atividades".

─ O que ele fez com você? ─ perguntou ela, preocupada.

─ Ele colocou tudo de uma vez e eu vomitei nele ─ resumi, acariciando a pele de meu pescoço ─ E ele descontou “o estrago" das roupas dele no meu rosto.

Alice soltou um palavrão e continuou analisando meu rosto.

─ Tem um corte na sua bochecha, talvez precise de pontos ─ disse ela, gesticulando para o local indicado.

─ Está tudo bem ─ murmurei ─ Só preciso descansar um pouco... E me desculpem por não conseguir a comida. ─ Voltei-me aos rapazes também.

Todos me lançaram um sorriso solidário e Alice deu uma risadinha.

─ Da próxima vez deixa comigo. ─ Ela piscou para mim ─ Precisa praticar antes de querer fazer certas coisas, Bella.

─ Como é que eu ia adivinhar que o cara ia colocar o negócio todo dele dentro da minha boca? E de uma só vez, ainda?

─ Então o velhote tinha um negócio grande? ─ Tyler zombou, fazendo os outros rirem enquanto eu fazia uma careta de nojo ─ O desgraçado ainda fugiu...

Mal Tyler fechou a boca, uma viatura policial parou bem à nossa frente. Um rapaz alto, forte e loiro saiu do lado do motorista e arregalou os olhos quando me viu.

─ O que houve por aqui? ─ perguntou ele, ainda olhando para mim.

─ Olha só, seu policial... ─ Alice já começou na base da ironia. Ela não gostava muito dos policiais, porque eles geralmente só apareciam para nos expulsar de onde estávamos para meio que “limpar a cidade".

Porque meu pai havia sido policial, eu tentava ser um pouco mais flexível, embora tenha encontrado mais policiais detestáveis do que amáveis durante aqueles dois meses nas ruas. Fora os que eram ainda mais violentos do que o velho que me agredira.

─ Ei, calma aí, mocinha! ─ o policial interferiu quando Alice começou a parte mais agressiva de seu discurso ─ Alguns moradores chamaram a polícia após ouvirem gritos vindos da praça. Só estou aqui para averiguar a situação e ajudá-los no que for possível.

O policial se aproximou de nós com um pequeno sorriso e se agachou à minha frente.

─ Sou o Oficial Cullen, pode me contar o que houve? ─ perguntou ele, fitando-me com seus olhos esverdeados e gentis, ele era um dos amáveis, estava na cara. E era desse tipo de policial que o mundo precisava!

─ Não foi nada, ele já foi embora ─ respondi, tentando não soar mal agradecida ─ Está tudo bem...

─ Você não me parece exatamente bem ─ o Oficial constatou, olhando atentamente para o meu rosto que eu, sinceramente, não fazia ideia de como estava aparentando ─ Posso te levar até a delegacia se quiser fazer um boletim de ocorrência.

Neguei rapidamente com a cabeça. Se eu me identificasse, ele poderia entrar em contato com Renée e a última coisa que eu queria era reencontrá-la. Não duvidava nada que Jacob ainda estivesse por perto e me enojava pensar em tudo o que os dois haviam tramado para mim.

─ Então deixe-me ao menos fazer um curativo na sua bochecha ─ disse ele.

─ Você também é médico? ─ brinquei, ao que ele riu.

─ Não, mas eu conheço um, ele vai cuidar disso ─ respondeu, levantando-se e estendendo sua mão para mim.

─ E os meus amigos? ─ perguntei, aceitando sua ajuda para me levantar e olhando para as três pessoas que, de certa forma, haviam se tornado a minha família.

─ Eles podem vir, se quiserem ─ afirmou sem hesitar, o que me aqueceu por dentro ─ Vai ser bom se protegerem da neve e do frio.

Um pouco desconfiado, os três aceitaram, e Alice se prontificou a ir no banco do carona, segundo ela, para o caso do policial tentar tirar proveito da minha situação “fragilizada" – isso tudo verbalizado, como se ele não estivesse ali, ouvindo tudo, mas o Oficial Cullen fez nada além de gargalhar.

Eu desconfiava, porém, que Alice estava tão surpresa com a gentileza dele, que talvez tenha se interessado, para além de sua bela aparência.

E então eu me acomodei entre os grandalhões do Paul e do Tyler no banco traseiro, enquanto o Oficial nos levava ao encontro do tal “médico".


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Notas finais do capítulo

Oie de novo!

Me contem o que vocês acharam/as suas impressões!

Logo nos vemos novamente (quem sabe amanhã?).

Se quiserem, há novas/velhas histórias em meu perfil!

Beijos,

Mari.