Brotherhood escrita por Lorelai Gipsy Danger


Capítulo 2
Capítulo 1 Part.: 1


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que não teria data certa, bem, aqui estamos, alguns meses depois.

A fanfic está sem visualização, sem comentários, uma pena, mas já esperava, ng aguenta uma autora que está sempre deletando a mesma fanfic e começando tudo de novo. Mas é o que temos para hoje.

Espero que gostem!



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Era tarde e  finalmente mais um dia de trabalho chegava ao fim e ela só queria ir para casa. Lá fora o frio tornava a noite ainda mais silenciosa e perigosa. Àquela hora, todos já estavam em suas casas, ficando pelas ruas  apenas aqueles que faziam dela sua moradia, ou meio da ganhar a vida.  A mulher olhava para a imensidão da noite, visivelmente exausta, ela já havia finalizado suas responsabilidades e estava pronta para encerar o expediente, porém, apesar de de tudo, para ela, aquela era a melhor hora do dia.    

— Finalmente hora de ir embora! — comentou com a colega de trabalho enquanto trocavam de roupa no pequeno, e sujo, banheiro para funcionários da lanchonete. — Boa noite, Elisabeth! Até amanhã! — Pegando a bolsa e o casaco, Rose caminhou para porta do banheiro, mas antes de sair, ouviu o que Elisabeth disse.    

— Até, Rose, vê se não se atrasa! — Elisabeth comentou, terminando de se vestir. Com longos cabelos louros e olhos azuis, a colega de trabalho e Rose tinham a mesma idade, embora  parecesse ser bem mais nova. Rindo do comentário de Elisabeth, Rose vestiu seu casaco de moletom preto por cima da blusa velha e fechou o zíper até o pescoço. Jogando o capuz sobre a cabeça para se proteger do frio, colocou a bolsa sobre o ombro e saiu pela porta lateral da lanchonete, conhecida também como porta de serviço para o beco escuro e fedido.

A caminhada de volta para casa era relativamente longa e solitária, mas ela estava acostumada. Era quase madrugada e não mais havia muitos ônibus circulando, e ela não tinha paciência para ficar no ponto de à espera dos que restavam, por isso, preferia ir andando. Entre esperar pelo transporte, ou caminhar até sua casa, Rose não sabia qual das alternativas era pior, porém, após anos usando a escuridão da cidade como sua maior aliada, sabia quais caminhos percorrer.

Enquanto andava pelas ruas escuras, vazias e sujas, pensava na vida e respirava um pouco de ar (não tão) puro. Bem da verdade, Rose não tinha problemas em trocar o ônibus, ou até mesmo o metrô, pela caminhada, ela não era muito fã de lugares cheios de pessoas. Seu limite para contato humano, com pessoas estranhas, era preenchido, e superado, diariamente durante as interináveis e doloridas horas de trabalho e, quando terminava seu expediente, tudo que não queria era falar com mais algum estranho. Pessoas tinham a estranha compulsão de puxar conversar com ela nos transportes coletivos.

A caminhada durava quase uma hora, sendo essa a única atividade física praticada, com regularidade, por Rose em toda a sua vida. O prédio onde morava ficava numa esquina, muito movimenta, em um bairro pobre. No andar de baixo, havia um pequeno mercado e um bar, que nunca frequentava para evitar que as pessoas pensassem que, só porque ela morava perto e frequentava os estabelecimentos, eram amigos íntimos e poderiam se meter em sua vida. Rose não conhecia ninguém naquele prédio, mesmo morando lá há dois anos, e tinha todos as intenções de continuar dessa forma.

— Nick, baby,  cheguei! — avisou ao entrar, fechando a porta atrás de si. Desde cedo aprendeu a importância de portas trancas. Jogando as chaves sobre a bancada da cozinha, pendurou a bolsa e o casaco no armário da entrada. — Nick? — chamou novamente, fez silêncio e esperou ouvir algum barulho, sem sucesso. Rose entendeu que o apartamento estava vazio, algo incomum.  Àquela hora, Nick costumava já estar em casa. Nick Stokes era o namorado de Rose e estavam juntos há dois anos. Ele trabalhava em uma loja de reparos em aparelhos eletrônicos no shopping center próximo ao apartamento, porém, haviam se conhecido na lanchonete onde ela trabalha.

Rose jamais esqueceria a primeira vez que viu Nick entrando pela porta do Rocket café, ensopado pela chuva torrencial que caia. Ele havia entrado para se abrigar, mas logo foi abordado pelo não-tão-simpático gerente, com a política de “se pretende ficar, precisa consumir” .

O que o senhor gostaria? perguntou Rose assim que Nick se sentou, ainda tentando tirar o casaco encharcado.

Um café sem açúcar, por favor. Até então o homem não havia se preocupado em olhar para pessoa que falava com ele, a batalha para se desvencilhar das mangas era sua maior tarefa.

            Não levou cinco minutos para Rose voltar à mesa com o bule e a xícara em mãos para servir Nick, que, nesse momento, já havia desistido de tirar o casaco do corpo e, só então, decidiu olhar quem se aproximava.

            Rose lhe serviu o café em silêncio, um pouco nervosa, pois era óbvio que havia achando o homem bonito e interessante. “Talvez eu esteja solteira tempo demais” pensou consigo. Rose não reparava nas pessoas, não se relacionava com elas, tentava ao máximo se manter longe delas e interagir o mínimo necessário, mas o suficiente para receber o pedido, ou o pagamento da conta.

Gostaria de mais algo mais, senhor? Ainda encarando sua tarefa, Rose perguntou.

Sim! Nick respondeu com um sorriso. Gostaria de saber seu nome. Ele perguntou encarando seu rosto, pois não consegui ver seus olhos. Mostrando a placa com seu nome, Rose nada disse. Rose? Bonito nome. Sem dizer mais nada, sentindo seu rosto corar de vergonha, ela se afastou da mesa e desapareceu no fundo da loja.

            Ela não viu quando Nick foi embora naquele dia, ou quando Elisabeth foi até mesa para pegar o papel com o telefone de Nick.

Nick apareceu diariamente depois daquele e, em todos eles, sentou-se na mesma mesa e pediu o mesmo café sem açúcar. No começo ele fingia estar ali apenas pelo café, mas, sempre que ela se aproximava, tentava iniciar uma conversa perguntando coisas como: “como vai o dia?”, “você está bem?” e, gradualmente, as tentativas se tornaram conversas de fato. Não foi fácil quebrar as barreiras de Rose, mas Nick soube como encontrar seu caminho, até que, finalmente, ela aceita seu convite para jantar. Quando se deram conta, já estavam completamente apaixonados ecom as malas prontas para morarem juntos. Com Nick, ela encontrou o equilibro e a força que faltavam para manter-se no caminho da sobriedade. Rose havia aprendido muito cedo a não confiar no próximo, por isso se mantinha afastada das pessoas, porém, Nick inspirava confiava.

O apartamento era pequeno, mas aconchegante e com móveis de segunda mão. Dividido em quatro partes, era composto por um quarto, com uma cama de casal e duas mesinhas de cabeceira, um armário e duas cômodas ; sala, com um sofá vermelho (que já viu dias melhores), duas poltronas pretas, uma TV  e uma mesa de centro ; cozinha, com uma geladeira vintage amarela desbotada (mas não por estilo e, sim, porque já estava no apartamento quando alugaram), um fogão branco amarelado e armários azuis desbotados, uma mesa e quatro as cadeiras vermelhas com detalhes em prata; o banheiro ficava no quarto e tinha azulejos verdes nas paredes e no chão, uma pia simples branca, um espelho oval pequeno e uma privada rosa.

O lar que dividia com Nick não era o mais luxuoso, mas era onde Rose encontrava refúgio após o longo dia no trabalho, o qual ela odiava, porém, sua única opção de sustento. Depois de uma vida de idas e vindas de reformatórios e confusões com a lei, ela nunca conseguiu terminar a escola, logo as ofertas de emprego eram limitadas.

Rose gostava de manter algumas rotinas, por isso, sempre que chegava à casa, primeiro tomava um banho, em seguida, jantava, assitindo um pouco de TV e, só então, ia dormir. Ter uma rotina a acalmava e a fazia evitar as tentações. Depois de um dia estressante e cansativo, era fácil ter a vontade de recorrer a meios ilícitos para relaxar e se esquecer da dura realidade da vida. Nick sempre a acompanhava e dava força, na maioria dos dias ele a esperava com o jantar pronto, mesmo ela chegando mais tarde que ele, e quando ele não tinha vontade de cozinhar, pediam algo pelo telefone.

Contudo, aquele dia não estava nem um pouco perto de ser o de costume e ela estava prestes a descobrir o quão frágil era a vida que ela havia construído.

Decidida a tomar um banho enquanto esperava por Nick, Rose procurou uma roupa limpa nas gavetas da cômoda, achando uma blusa velha e uma calcinha preta. Precisavam ir até à lavanderia da esquina com urgência, ou eles não teriam roupas limpas para a próxima semana.

Assim que entrou no banheiro para tomar banho, Nick passou pela porta da sala e Rose correu até ele com um sorriso genuinamente feliz.

— Por que demorou? — perguntou indo em direção a Nick, sua intenção era beijá-lo, no entanto, sua ação foi interrompida, o que deixou Rose sem graça e desconfortável. — Não trouxe comida? — Tentou disfarçar a vergonha e percebendo as mãos vazias a . — Pensei que tivesse saído para comprar.

— Desculpa, esqueci. — respondeu seco, tirando seu casaco e o pendurando na cadeira. Foi até a cozinha e pegou um copo d’água.

— Está tudo bem? — Quis saber, ela estranhava seu comportamento, geralmente, ele era mais carinhoso e receptivo.

— Sim! — falou friamente, continuando a não olhá-la.

— Está com fome? — Tentava manter uma conversa.

— Não! — Foi sucinto.

— Okay. — disse desconfortável, ao perceber que não receberia nenhuma resposta mais direta ou efusiva. — Vou tomar um banho e depois improvisamos algo para comer, pode ser? — perguntou e não obteve respostas. Decidiu deixá-lo sozinho, talvez ele estivesse com problemas e precisasse de um momento para se aclamar e pensar no que o estivesse incomodando. Rose tentava não tirar conclusões precipitadas da situação.

Ela odiava entrar em conflito com Nick, o que chegava a ser irônico, pois, no passado, ela nunca fugia de uma boa briga, sua atitude era totalmente rebelde e descontrolada, jamais levava desaforo para casa, porém, no presente, principalmente quando se tratava de Nick, ela era, quase, um anjo.

Sem mais perguntas, seguiu até o banheiro e entrou no chuveiro, a sensação da água quente caindo em seu corpo a fazia relaxar e a ajudava a amenizar as dores nas pernas e nas costas. Após passar dezoito horas do dia em pé, servindo comida de mesa em mesa, aguentando piadas e desaforos de clientes mal-educados, aquele momento era o céu e ela aproveitava bastante cada segundo.

Enquanto ela tomava banho, Nick, muito nervoso, andava de um lado para o outro, agradecendo por não haver mais perguntas, não queria dar explicações a Rose, pois precisava pensar no que faria a seguir e colocar sua cabeça no lugar. Enquanto buscava soluções para seus problemas, sentiu seu celular vibrar e no visor aparecer um número bem conhecido.

                — Falei para não me ligar enquanto estiver aqui. — repreendeu quem estava do outro lado da linha e se certificou de que Rose não estava próxima. — Ela poderia estar por perto. — Olhava furtivamente para cima dos ombros.

Não me interessa. — respondeu a mulher grosseiramente. — Já arrumou suas coisas?

— Ainda não, você sabe que não será tão rápido assim. — respondeu em um sussurro. — Não me apresse.

Não me venha com desculpas esfarrapadas, cumpra com o plano, que eu não pego no seu pé, simples assim. — A voz demonstrava impaciência. — Te espero no lugar de sempre e é melhor não se atrasar, Nick. Já sinto a sua falta.

— Não vou me atrasar, estarei lá na hora combinada. — Desligou e sentou-se no sofá. — Rose? — chamou baixo e não houve resposta, percebeu ser sua a oportunidade.

Prontamente colocou-se de pé, andando apressado para o quarto. Seu objetivo era reunir o máximo de seus pertences e sair dali antes de Rose terminar o banho, sabia que ela costumava demorar, o que daria tempo suficiente para juntar tudo e dar o fora dali quanto antes.

Ele corria de um lado para o outro no pequeno quarto, abrindo todas as gavetas que existiam em busca de suas coisas, mas, por mais rápido que fosse não conseguiu ser tanto quanto esperava.

— O que estava fazendo? — perguntou Rose, observando o que ele fazia e vendo a bolsa em cima da cama. Nick foi pego desprevenido, Rose levou menos tempo que o esperado e ele não contava com isso. — Por que está enfiando todas as suas roupas dentro dessa bolsa? — A voz de Rose carregava uma certa incredulidade. Era claro o que acontecia, mas ela esperava uma reposta diferente.

— Estou juntando as minhas coisas. — Sua resposta foi óbvia e evasiva e isso foi proposital, precisava de mais alguns minutos para pensar no que falar.

— Isso eu sei, eu estou vendo, você deixou todas as gavetas abertas. — falou olhando para todo o quarto. — Só não entendo o porquê? — Ela sabia qual era a resposta, porém seu coração se recusava a acreditar. O típico duelo entre razão e emoção.

— Estou juntando minhas coisas, pois vou precisar delas. — Mais uma resposta evasiva.

— E irá precisar delas para quê? — Dessa vez ela não desistiria de ter uma resposta direta.

— Porque eu vou... — Não sabia mais qual desculpa dar. — Precisamos conversar. — Parou de guardar suas roupas e sentou-se na cama, achava melhor falar de uma vez, do que enrolar.

Ao ouvir aquelas palavras, Rose sentiu um frio na barriga, nada de bom vinha depois daquela frase.

— Rose, eu vou embora. — disse sem rodeios.

— Como assim? — Camuflava a dor e a raiva com a ignorância. — Vai viajar?

— Acho que não entendeu. — Passou a mão pelo cabelo. Ele sabia o que Rose estava fazendo e aquilo o irritava. — Não vou viajar, estou indo embora de vez e não vou voltar. — Deixava a verdade mais clara possível, para que ela não tivesse a chance de continuar com o jogo de gato e rato. Rose era uma mulher muito inteligente, apesar de se fazer de burra a maioria das vezes, e Nick sabia disso.

— Você conseguiu outro emprego, é isso? — Rose ainda fingia não entender.

— Não. — A olhou fixamente e suspirou, incrédulo com o papel ao qual ela se prestava. — Eu estou te deixando, Rose. — falou por fim e, dessa vez, ela teria que aceitar.

— Eu entendi da primeira vez. — Limpou discretamente algumas lágrimas. — Só não queria acreditar. — Sentou-se na cama de costas para ele. — Por quê? — Sua voz trazia a tristeza que tentava esconder.

— Não faça isso, Rose. — pediu. — Deixa isso para lá, você não precisa saber.

— Você está terminando comigo e não quer me dizer o motivo? — Riu da ironia e virou-se para olhá-lo. — Eu tenho direito de saber.

— Não está sendo fácil te deixar. — declarou cabisbaixo. Havia alguma verdade em suas palavras.

— Não estou vendo ninguém apontar uma arma para a sua cabeça, te obrigando a isso. — Os velhos olhos vermelhos de lágrimas não caídas estavam de volta, encarando-o fixamente. — Me diz a verdade, Nick!

— Você quer mesmo que eu diga? — perguntou e respirou fundo, como se tomasse coragem para contar a verdade, ou parte dela. — Então espero que saiba lidar com a ela. — Respirou fundo mais uma vez e a olhou. — Eu estou cansado dessa vida,, cansado da mesmice, da mediocridade e da pobreza, não é isso que quero para mim. — disse em voz alta. — Estou farto de acordar todos os dias mais cansado do que quando fui dormir, estou cheio de ser explorado naquela loja para te sustentar e, depois de um dia inteiro de trabalho, ainda ter que voltar para esse apartamento velho e te mimar.

— Me sustentar? Me mimar? — Aquilo foi como um soco. — Eu me mato de trabalhar todos os dias também, Nick. — O olhou incrédula, com as lágrimas escorrendo. — Eu faço hora extra a semana toda, eu abro e fecho a lanchonete todos os dias e ainda trabalho nas minhas folgas, faço isso tudo para você poder trabalhar menos e você diz que está cansado de me sustentar e me mimar? Eu não estou acreditando nisso. — Levantou-se da cama, mas manteve-se distante, estava furiosa.  — Só faltou dizer que está cansado de mim também.

— Não, de você não. Eu te amo, Rose. — disse e viu a esperança nos olhos de Rose. — Mas estou cansado da sua passividade diante de tudo isso. — Em sua voz havia um tom de reprovação e decepção. — Quando conhecia você, achei que quisesse mais da vida, mas agora percebo que você não quer sair da inércia. Você está acomodada com essa vida vazia.

— Nick, você fala como se eu fosse para o trabalho e ficasse sentada lá, esperando o dinheiro cair no meu colo. — Ela chorava e sua voz saiu mais alta do que esperava, seus braços estavam cruzados a sua frente.

— Você é preguiçosa, Rose. — disse com raiva.

— Crise de meia-idade aos 29 anos, Nick? — falou irritada, limpando as lágrimas, estava ofendida, primeiro por ser chamada de preguiçosa, quando passava o dia todo se matando de trabalhar e, segundo, porque sabia ser tudo mentira. Nick nunca fora um bom mentiroso e, mais que muitas coisas na vida, Rose odiava mentiras. — Não é esse o motivo para você ir. Você está inventando isso. Me diz a verdade. — Foi até ele, ficando alguns centímetros de distância. — Tem outra pessoa?

— Tem. — respondeu firme. Essa era uma parte da verdade que ele não queria contar, mas precisaria, para ela deixá-lo ir embora sem muita resistência. — E ela também quer da vida algo mais.

— Não acredito que seja isso. — Afastou-se bruscamente. — Você não teria tempo para isso. Me conte a verdade, Nick! — De novo, Rose tentava se enganar e fechar os olhos para verdade.

— Rose, não faça isso. — bufou, cansado.

— Não fazer o quê? — Ela chorava. — Eu tenho o direito de saber a verdade. —  O olhava e não acreditava no que acontecia. — Eu mereço a verdade, Nick.

— Você é obcecada pela verdade. — Riu da ironia. — E eu estou te dando ela, mas você não quer aceitar! — gritou. — Você é mais esperta do que isso, Rose, e nós dois sabemos disso. Essa vida não condiz em nada com o que a sua cabecinha linda é capaz de fazer.

— Por que eu sinto que você não está me contando tudo? — questionou, cruzando os braços na frente do peito, tentando se acalmar e compreender porque ele havia dito aquilo.

— Às vezes é melhor não saber. — Voltou a arrumar suas roupas, percebendo ter falado mais do que devia.

— Eu que decido o que é melhor para mim. — Estava impaciente, alguns alertas soavam em sua cabeça. Aquela situação toda estava um caos e ela estava muito confusa.

— Você é péssima em decidir qualquer coisa para si. — A encarou sério. — Você escolheu viver essa vida vazia e pobre, por exemplo. — Riu de raiva. — Quando sabe muito bem que poderia fazer muito mais, porém, você prefere passar seus dias servindo mesas.

— O que quer dizer com isso? — Estava ficando com raiva e apreensiva com as palavras dele.

— Não se faça de tonta, Rose, não combina com você.

— Você fala como se fosse apenas uma questão de estalar os dedos e, pronto, vida nova. Como eu poderia fazer algo para mudar a minha vida se eu fico dobrando os meus horários no trabalho só para que você não precise trabalhar tanto e ainda ter a coragem de me dizer isso tudo?

— Você é medrosa. — disse bruscamente, e se arrepende em seguida. — Por isso vai passar o resto da vida, nessa existência vazia e triste e não me culpe pelo seu fracasso. Eu tenho pena de você.

— Guarde a sua pena para quem se interesse, seu ingrato. — Rose respirava fundo e raivosamente, havia fúria em seu olhar, mas, mesmo assim, ela ainda não conseguia odiar Nick. — Eu continuo esperando. — gritou.

— Você quer mesmo saber toda verdade? — perguntou aos gritos, devolvendo a atitude. — Eu nunca te amei! — falou mais alto possível. — Eu nunca te amei. — repetiu e sentiu a mão de Rose pesar em seu rosto, o tapa foi dolorido e cheio de decepção. — Esquece o que eu disse ainda agora sobre não ter me cansado de você e te amar. Eu estava acomodado.

— Seu safado. — Levantou novamente sua mão, mas o movimento foi parado por Nick, que a empurrou para longe, fazendo-a perde o equilíbrio e cair no chão. — E por quê? — perguntou caída, limpado o rosto das lágrimas. — Por que gastou tanto tempo me fazendo acreditar que gostava de mim? — Foi então algo mudou, se antes Rose não conseguia odiá-lo, naquele momento era exatamente esse sentimento que começava a surgir.

— Por um tempo eu achei que gostava de você. — Uma lágrima solitária escorreu no rosto de Rose e ela fez força para esconder a dor. — Mas de fato ter alguém que se matava de trabalhar para me sustentar foi algo fácil de se acostumar. — Deu de ombros, admitindo as palavras de Rose, e pegou sua bolsa. — Você era bonita e estava disposta a fazer tudo para me agradar. Juntei o útil ao agradável.

Rose nada mais disse e, ainda com a respiração descompassada, caminhou lentamente para o banheiro, batendo a porta atrás de si com força. Tentava controlar a raiva crescente em seu peito, sentia-se usada e traída. Deixou seu corpo ir ao chão, derrotado e, àquela altura, não podia mais segurar o choro, seu sofrimento era alto e seus soluços de tristeza chegavam aos ouvidos de Nick, que precisou conter a vontade de acolhê-la, Rose não merecia o que ele a fazia passar, mas era tarde e não havia mais volta. Enquanto ele terminava, com calma, de organizar seus bens, Rose debulhava-se em lágrimas.

— Rose, abre a porta, preciso pegar minhas coisas que estão aí dentro. — Bateu na porta. — Vamos, abra. — Respirando fundo, Rose sentou-se e limpou o rosto. — Está mais calma?

— Não te interessa. — falou saindo do banheiro. — O que você fez com as nossas fotos? — questionou-o ao perceber os porta-retratos vazios.

— Fiz um favor a você. — respondeu baixo.

— Quanta gentileza. — Debochou.

Assim que se certificou de que não deixava nada para trás, Nick fechou o zíper de sua última bolsa, ao todo eram duas, todas cheias de seus objetos pessoais e roupas, assim como Rose, ele não tinha muitas coisas. Seguia para fora do quarto, indo para porta da rua, quando Rose lhe chamou de volta.

— Nick! — Com passos rápidos cobriu toda a distância entre eles. — Você esqueceu mais uma coisa. — Estendendo a mão e mostrou o anel de prata. . — Uma vez que irá se livrar das fotos, por favor, livre-se disso também. — Trouxe a mão para si e triou o anel do dedo.

Ela esperou uma reação, e, por alguns segundos pensou ter visto um pesar, porém, nada aconteceu, foi com naturalidade e sem nenhuma sentimento em seu rosto que Nick pegou anel de sua mão e saiu. De repente Rose sentiu uma dificuldade imensa de respirar e suas pernas fraquejarem. Uma crise de pânico se aproximava e sabia que estava perdendo o controle de suas emoções, a dor a dominava e precisava ser remediada e ela só pensava em uma forma de silenciar aquele sentimento.

Rose estava perdida e esse sentimento não era bom conselheiro para quem tentava manter-se longe de velhos hábitos, pois, naquele momento, eles lhe eram muito atraentes e o pânico só a ajudava a pensar assim. Antigos hábitos, péssimos amigos, que Rose conhecia bem e, pelo menos um deles, estava mais próximo do que deveria.

Quando conheceu Nick, Rose fazia uso constante e abusivo de substâncias controladas e bebida, ela estava tentando se manter sóbria, mas era uma luta que ela perdia quase diariamente, junto com seus empregos. Quando começou a trabalhar na lanchonete aquele era o segundo emprego que ela arrumava no mês e tentava com todas as forças mantê-lo. Havia pouco tempo que havia para aquela região, uma tentativa, desesperada, de sair do fundo do poço e se afastar de quem não a ajudava e se manter sóbria.  Ele a ajudou. Ele mudou a vida de Rose e agora ia embora, levando junto o que a mantinha de pé.

Escondido em um fundo falso no armário da cozinha, na maioria dos dias ela nem lembrava, estava um de seus melhores amigos do passado: o Uísque. Logo nos primeiros goles, metade da garrafa foi consumida junto com algumas pílulas de analgésicos que Nick havia comprado dias atrás para um dor nas costas e ela o havia escondido antes de deixa-lo entrar no banheiro para pegar seus pertences. Uma mistura perigosa e inebriante que a fez perder a consciência.


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