Doce Criada escrita por BlackCat69


Capítulo 8
Capítulo: som de sinos




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Na madrugada, alguns habitantes de Bielog despertaram com o barulho da sege avançando a todo vapor pelas ruas da pequena cidade.

No interior da cabine, Naruto se agarrava firme, enquanto o transporte se sacudia pra lá e pra cá. 

Sai freou os cavalos a poucos centímetros na frente do portão da cerca. 

Com o portão fechado, o Sr. Diskin auxiliou seu patrão na hora de escalar o cercado e passar para o outro lado. 

O cercado servia mais para impedir que as ovelhas se espalhassem longe da propriedade Hyuuga, do que deter algum invasor, haja vista ser normal que os habitantes de Bielog se dispusessem de armas. 

A família Hyuuga foi despertada com o barulho da agitação das ovelhas.

Neji Hyuuga, sobrinho de Hiashi, dormia no chão da sala, e tendo despertado; livrou-se da coberta e alcançou seu mosquete, acreditando que algum animal apareceu assustando as ovelhas. 

Provavelmente, um lobo. 

Todavia, o barulho de palmas que viera em seguida, causou-lhe estranhamento. 

— Senhor Hyuuga, Senhor Hyuuga! — chamava o Sr. Diskin entre as sequencias de palmas. 

Naruto atrás de seu criado, repetidas vezes, puxava sua capa, por conta de uma ovelha que queria mastigá-la. 

Patrão e criado se punham a cinco passos na frente da porta da morada Hyuuga. 

No quarto que Hinata dividia com Hanabi, as duas se abraçavam assustadas. 

Contudo, a azulada reconheceu a voz do cocheiro.

Soltou-se da irmã, retirando-se, apressadamente, do quarto. 

Temendo ficar sozinha, Hanabi foi atrás da mais velha. 

Os gritos do criado persistiam, enquanto Neji esfregava a cabeça, na dúvida se abria ou não a porta. 

Chegando à sala, Hinata parou ao lado do primo, segurando-o pelo braço, avisou-o:

— É o Sr. Diskin, cocheiro da família Uzumaki. 

— Tem certeza? — Neji questionou, notadamente, incomodado com a gritaria do criado. 

— Tenho, abrirei a porta. — Ela se afastou do parente. 

— Um momento.

O primo a detivera com as palavras, segurando o mosquete na mão esquerda, ele se agachou e juntou a coberta do chão.  

Ele estendeu o tecido para a prima, pedindo-a que cobrisse o chemise. 

A azulada imediatamente pusera a coberta sobre os ombros e segurou as pontas na região frontal de seu corpo. 

— É melhor prendermos os cabelos. — Hanabi falou à irmã. 

— Sem necessidade. — Disse Neji. — Apenas cobrir o corpo é o suficiente, arrumar-se mais que isso para receber pessoas que interromperam nosso sono é demais, não me importa que sejam ricos. UM MOMENTO! 

Seu grito assustou as primas. 

As palmas e os chamados do Sr. Diskin cessaram imediatamente, e Neji se aliviou. 

Restava somente o barulho das agitadas ovelhas. 

— Me levem para a sala! — escutaram a voz de Hiashi.

Hanabi se apressou em ir ao quarto do pai para ajudá-lo a se levantar. 

— O que está acontecendo? — o Sr. Hyuuga perguntou, impaciente. 

— É o criado do Sr. Uzumaki, ao menos Hinata diz reconhecer a voz dele. — Hanabi explicou a situação. 

— Espere eu me sentar na sala, antes de abrir a porta, Hinata. — Hiashi ordenou. 

— Sim, meu pai. — A azulada respondeu, com a mão na maçaneta. 

De coração agitado, supunha que o criado estaria ali para repassar uma notícia importante, não existiria outro motivo para uma visita naquele horário. 

Felicitava-se antecipadamente, só poderia pensar que a família Uzumaki almejava recontratá-la. 

— Pode abrir a porta, Hinata. 

Escutando a permissão de Hiashi acomodado na cadeira de balanço e de lado à lareira; a azulada deu uma funda respirada e abriu a porta. 

A ovelha que atormentava o Sr. Uzumaki havia conseguido engolir dois pedaços da capa.

Ele passou a ignorar o animal quando escutou a porta ser aberta. 

A Sra. Hyuuga iluminada pelo luar, envolta de tecidos brancos e de cabelos compridos soltos fez os ônix de Sai cintilarem impressionados.

A boca de Naruto fez uma meia abertura, enquanto sua íris azulada chamejou. 

Sua vontade foi de fixar aquela bela visão em um quadro. 

— Sr. Diskin, Sr. Uzumaki. — A perolada se curvou, agindo cautelosa para a coberta não escorregar pelo seu corpo. 

— Boa... — Naruto travava, esforçou-se para completar: — Bo-boa noite... 

— Boa madrugada.

Neji cumprimentou de forma seca, saindo de casa, parou um passo na frente da prima, segurando seu mosquete, de modo super protetor. 

Sai recuou um passo, um tanto intimidado pela cara séria e pela presença da arma daquele homem de cabelos compridos.   

A atenção do Hyuuga se fixou na aparência do loiro, avaliando a meia mascara de cor preta e a imensa capa a cobri-lo quase inteiramente. 

— Sou Naruto Uzumaki. — Apresentou-se, aproximando-se dois passos, realizou uma reverencia. 

— Sou Neji Hyuuga, sobrinho de Hiashi Hyuuga. É um desprazer conhecê-lo. 

— Primo! — a perolada repreendeu. 

O parente sequer ligou, mantendo um olhar de desprezo àquele homem de mascara. 

— Está tudo bem, Sra. Hyuuga. — Naruto fitou-a. — Eu imagino o porquê da raiva de seu parente... eu vim... consertar a situação. 

— Boa sorte. — Neji desejou, retornando ao interior da casa. Avisou em alto e bom som: — Por precaução, manterei meu mosquete carregado. Já aviso que sou muito nervoso, então tenha cautela com as palavras. 

— Por favor, entrem. — Hinata convidou tanto o patrão quanto o criado. 

Sai não conseguiria avançar um único passo, suas pernas se encontravam geladas. Questionou:

— Tudo bem se eu aguardar aqui fora, Sr. Uzumaki? 

— Como queira. — Naruto respondeu, indo para a porta. 

Na sala, a perolada tratou de arranjar uma cadeira para o Sr. Uzumaki.

Ela posicionou o assento, frontalmente, ao pai. 

O loiro queria negar, todavia não podia vencer o cansaço e as dores que se acumulavam. 

Assim que se sentou, Hinata ofereceu água, mas quanto aquilo, ele ainda tinha força para negar. 

Hanabi avaliava a aparência do visitante, como alguém tão rico aparentava ser morto de fome? Bem, talvez se precipitasse em julgá-lo, afinal a meia-máscara e aquela imensa capa preta, com alguns buracos, cobria-o quase inteiramente. 

Após um momento, vendo que Hiashi não dispensaria a presença das irmãs Hyuugas e do sobrinho, o loiro resolveu começar:

— E-eu... la-lamento muito pela indelicada intromissão, Sr. Hyuuga. 

— Não importa. Sr. Uzumaki. Peço apenas que seja rápido e claro, para minha família retornar a descansar. 

Hiashi disse, preferindo manter sua vista na lareira. 

— Meu sobrinho chegou ontem de viagem, e passa a noite aqui para ficar bem descansado antes de partir bem cedo, durante o nascer do sol. Ele levará minha filha mais velha para o convento, bem longe de Bielog.

 

A pele de Naruto gelou. 

 

Convento?

 

Bem longe de Bielog?

 

— Eu... preciso impedir que isso aconteça, Sr. Hyuuga.

O coração de Hinata palpitou forte, um arrepio a percorreu dos pés à cabeça. 

Hiashi mantendo a tranquilidade, interrogou-o:

— Hum, é mesmo? Por qual motivo, Sr. Uzumaki?

— Eu fiquei sabendo da dispensa da Sra. Hyuuga poucas horas atrás. Meu filho mais velho é quem mais assume os negócios da família, eu só me informo dos detalhes no fim de cada ano... mas... eu descobri, por acaso, sobre ele ter dispensado-a. E não concordo com essa decisão, a quero de volta. 

Hanabi sorriu, apertando o braço da irmã.

Hinata conteve a agitação de seu corpo, esforçando-se em manter a postura. 

Neji bufou. 

— Entendo, é muito boa a sua vontade, Sr. Uzumaki. Mas acontece que a dispensa dela trouxe consequencias que nem mesmo o segundo trabalho que foi arranjado para ela, em nome de sua família, serviu para entregá-la uma imagem positiva em Bielog.

A azulada se expressou de forma triste, abaixando um pouco a cabeça. 

Foram dias difíceis. 

Ela trabalhou com a limpeza no estabelecimento de Tazuna Thornton, mas quando ele começou a perder clientela, a perolada sabia que não demoraria a ser dispensada, mesmo ele sendo um homem muito bondoso, ele precisava se sustentar.  

Hinata passou a ter vergonha de encarar as pessoas na rua, acostumou-se a manter o olhar baixo. 

Preocupado e notando a expressividade dolorosa de Hinata, Naruto retornou a fitar Hiashi, questionando-o: 

— Há que se refere, Sr. Hyuuga?

Pacientemente, embalando-se na cadeira, Hiashi explicou:

— Bem, Bielog sabe o quanto a família Uzumaki é reservada, e por mais que a própria governanta tenha arranjado um trabalho para minha filha, as pessoas acreditam que a Sra. Hollingshead só fez isso para evitar algum escândalo. Nem preciso mencionar que ela não durou muito tempo no novo trabalho. Se uma criada foi dispensada tão rápido da propriedade Uzumaki foi por que alguma coisa aconteceu. 

Foi desnecessário detalhar sobre que tipo de coisa.

Naruto entendeu.  

Obviamente, os habitantes imaginavam algo de indecente.

— Minha filha ficou mal falada em Bielog, e com isso, espantou até mesmo um bom pretendente para minha segunda filha. 

Hanabi afastou a mão de Hinata, pondo-se atrás da irmã, ocultando sua face da visita. 

A Hyuuga mais nova mordeu o lábio inferior, lutando contra a vontade de chorar.

Bastava se lembrar do jovem Konohamaru fugindo de sua companhia que seu coração se apertou. 

Na igreja, quase ninguém quis sentar perto das duas.

Hinata quis abraçá-la, mas Hanabi não queria sair detrás da irmã. 

Hiashi deu seguimento:

— Eu não permitirei que recontrate minha filha, Sr. Uzumaki. As pessoas acreditarão que é só mais uma maneira de tentar abafar os boatos. E mesmo que recontratá-la melhorasse a imagem de minha filha, é um risco muito grande entregá-la ao seu serviço novamente, Sr. Uzumaki. Pois se ela for dispensada de novo, aí é que a imagem dela será destruída de vez. 

Fazia mais sentido a decisão de Hiashi em enviar Hinata para um convento. 

Para mulheres jovens solteiras e mal faladas, o caminho devoto a Deus era a única salvação.

Era uma opção mais segura, considerando a situação. 

Naruto seriamente pediu:

— Podemos firmar um contrato, Sr. Hyuuga. Assegurarei de todas as formas de que ela não será dispensada novamente. 

— Aprecio sua boa vontade, Sr. Uzumaki. Acontece que é um risco muito grande. E mesmo que cumpra o contrato, não pode obrigar as pessoas a mudarem o pensamento a respeito de minha filha. 

— Eu... posso aumentar o salário de sua filha, ainda mais. Posso empregar a sua segunda filha também. 

Aquilo afetaria a distribuição salarial dos outros criados, mas jazia desesperado em obter de volta a doce criada. 

A criada a quem Miina chamara de mãe. 

Pela sua filha, qualquer dano valeria a pena. 

Pressionando uma extremidade da bengala contra o chão, usou-a como apoio para se ajoelhar em uma perna. 

Hinata abriu a boca, surpresa. 

Nunca soubera de um patrão que foi tão longe por uma criada. 

Naruto se mantendo ajoelhado, dissera:

— Eu imploro, Sr. Hyuuga. 

— Humpf. — Neji de cenho franzido palpitou: — Para um patrão fazer tudo isso pela criada é por que tem intenções a mais, eu não confiaria nele, tio.

 — Primo! — Hinata corou. 

Hanabi saiu detrás da irmã, impressionada assistia a imploração do patrão. 

— Eu tenho a melhor das intenções.  — Garantiu Naruto para Neji. — Quero ser justo, não importa se cometi um erro contra um rei, um príncipe, um criado. Vou corrigir esse erro não importa como.  

Nada tocado pelo pequeno discurso do Uzumaki, Neji verbalizou: 

— Uma pena que Hinata não seja uma rainha, a guilhotina seria uma boa maneira de corrigir esse erro. 

Hiashi tentado se reservara em uma reflexão silenciosa, atraiu a atenção de Naruto:

— Como mencionei anteriormente, minha segunda filha perdeu um pretendente, Sr. Uzumaki. Por causa da irmã que ficou mal falada. O seu filho mais velho tem a mesma faixa etária que Hanabi?

Suspeitando o que Hiashi pediria, Naruto respondeu:

— Ele tem... vinte e dois. 

Aprovando, Hiashi estabeleceu: 

— Bom, bom. Ele pode casar com Hanabi, e o senhor terá Hinata como criada permanente. 

Uma vez que o senhor Hyuuga notara o desespero do Uzumaki em conseguir Hinata de volta, soubera que o patrão aceitaria qualquer coisa. 

Naruto engoliu a seco.

Hanabi ficou de lábios entreabertos. 

Aos poucos, formou um sorriso. 

— É a única saída que ofereço, não me importa quão dinheiro ofereça, Sr. Uzumaki. Os Hyuugas desfrutaram de riqueza um dia, todavia, mais que bens materiais, nós aprendemos a valorizar nossa honra. A linhagem Hyuuga se permeia de bons valores. A imagem de minhas filhas vem em primeiro lugar. 

Compreendendo a decisão de Hiashi, Naruto se levantou, cuidadoso, retornou a sentar, repousando a bengala sobre as coxas. 

Lamentoso, o loiro dissera: 

— Senhor Hyuuga... eu não envolverei meu filho, eu já o fiz pagar por muita coisa, por me ausentar dos assuntos de minha família. A dispensa da Sra. Hyuuga ocorreu, por conta da ausência de minha supervisão. Agora vou corrigir esse erro, sem jogar mais responsabilidades para meu filho. 

Hanabi ficou cabisbaixa, mesmo se o filho mais velho Uzumaki fosse feinho como o pai, seria tudo casar com o herdeiro das plantações de batata. Adoraria ver a cara do jovem Sarutobi e das garotas que a olhavam com nojo pela rua. 

Hiashi suspirou, dizendo-o:

— Nesse caso, peço que o senhor se retire. Minha família precisa descansar. 

Naruto endureceu o maxilar. 

 

“— Manhe...”

 

A voz de Miina retumbou na mente do Sr. Uzumaki.

Naruto apoiou a bengala contra o chão e se ergueu.

Neji avançou um passo na direção do loiro, faria questão de acompanhá-lo até a porta. 

Mas estando de pé, Naruto não se retirou da casa. 

Fixando sua vista em Hiashi, decidiu:

— Sr. Hyuuga, eu peço a mão de sua filha mais velha, em casamento. 

Os perolados da azulada se tornaram imensos, do tamanho de pires. 

Hanabi soltou um gritinho de alegria, abraçando a irmã de lado. 

Neji fez uma carranca. 

A satisfação embrulhou as feições envelhecidas de Hiashi que assentiu.

Por meio daquele matrimônio, a situação financeira da família daria um grande salto.

Sua filha não conseguiria partido melhor. 

Um contrato de casamento era bem mais seguro que o contrato entre patrão e criada. 

E acompanhando aquela decisão, despertaria a admiração dos habitantes em saber que uma criada cativou o patrão a ponto de se casar com ela. 

Em cidade grande, seria um casamento visto com mal olhos, porém em cidade pequena como Bielog era algo que poderia ser relevado. 

Mataria-se dois coelhos em uma única cajadada. 

— Bem, poderá levar minha filha quando estiver indo para a igreja, Sr. Uzumaki. Ela não entrará em sua casa se não estiver casada. 

— Entendido. Retornarei antes do próximo anoitecer, Sr. Hyuuga. Providenciarei uma cerimônia simples e rápida. 

— Faça como achar melhor, contanto que ela esteja casada antes de retornar para sua propriedade. — Chamou pela sua outra filha: — Vamos Hanabi, ajude-me a retornar para meu quarto. 

Toda feliz, Hanabi se afastou de Hinata e foi levar o pai para o quarto. 

Após os dois se retirarem da sala,  Neji foi se deitar perto da lareira, antes pendurou seu mosquete na parede, e pediu à prima:

— Hinata, abra a porta para o Sr. Uzumaki ir embora, quero minha coberta de volta. 

Hinata que jazia paralisada, tentava acalmar suas emoções. 

Digerir o que acabou de acontecer desorganizava o raciocínio dela. 

— Não quero incomodá-la mais, posso sair sozinho. 

O Uzumaki falou, rumando-se à porta. 

Repentinamente, a perolada abriu a porta na frente do loiro. 

Assustada com sua própria ação, ela não conseguiu pronunciar nada. 

Agira por simples impulso. 

Ele agradeceu com um assentimento. 

Os dois mal conseguiam se fitar diretamente.

Depois que o Uzumaki se retirou da casa, Hinata fechou a porta.

De costas contra a madeira, Hinata via quase tudo girar, precisava descansar de imediato. 

Acordaria no dia seguinte acreditando que foi apenas um sonho. 

 

Naruto por outro lado sequer suspeitaria que fosse um sonho, pois nem dormiria mesmo estando quase desmaiando de dor e cansaço. 

Correria contra o tempo para providenciar um matrimônio decente.


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