— Se nós fossemos caminhando moles dessa maneira, nesse ritmo só chegaríamos lá amanhã! Vamos, Yuuki-kun!

— Akane… espera!

Por estar sendo puxado, Yuuki tentava se recompor e acompanhar os passos dela. Não haveria de demorar muito, mas era de se esperar que ele fora surpreendido com o ato dela. Adaptou seu compasso ao chão e assim que olhou para frente, mais uma vez viu a linda menina que segurava sua mão a sorrir. Seu coração acelerou novamente, tudo parecia desacelerar ao seu redor, seu rosto corou. Akane, entretanto, não estava prestando atenção naquilo e por instinto decidiu avisar:

— Se você tropeçar, não espere que um beijinho vá curar, viu? Olha por onde anda.

— Não, não era isso que--

— Bobo, só olhe pra frente, só isso.

Tendo eles chegado ao dormitório, a professora os aguardava, de braços cruzados. Toda a preocupação que ela poderia ter se esvaiu ao ver os dois a voltarem com sorrisos em seus rostos, adquirindo um em seu semblante também.

— E eu preocupada com aonde estavam e como estavam… vocês dois estavam só flertando um com o outro…

A frase que a mulher proferiu para aqueles dois deixou Yuuki totalmente sem jeito. Akane, pelo contrário, não parecia tão abalada, e entrou mais no clima.

— Flertar faz parte da adolescência, sensei. Estamos só aproveitando nossa juventude ao máximo, não é, Yuuki-kun?

— A-Ah… É… E-Eu… Hã..

— Ser jovem é muito bom, só façam questão de não exagerarem no namorico e ir muito longe, hein? Vocês ainda estão no colégio, esperem um pouco mais pra poderem aproveitar da forma que quiserem.

— Não se preocupe, sensei. Quando for a hora, eu faço questão de cuidar direitinho dele.

— Certo, entrem, já está tarde, não é hora de criança ficar na rua.

— Nós não somos crianças.

Ambos entraram, junto da professora, e cada um foi para seu quarto, desejando boa noite.

— O que houve para você sair tão tarde?

— Eu também não sei. Em um momento, eu só senti que deveria ir lá fora, e no final, eu me encontrei com a Akane em um parque não muito longe daqui.

— Akane… quer dizer a nova moradora do quarto das meninas, não é?

— Sim, ela mesma. Ela é minha amiga de infância. Já faz tempo que eu não a vejo, e reencontrar ela após todo esse tempo longe…

— Imagino… mas agora vamos dormir… Amanhã temos um dia longo pela frente.

…

Alguns dias depois, ainda de manhã nos primeiros períodos, enquanto os alunos já se ajeitavam em suas carteiras e a professora entrava, pouco após dela, adentrou uma garota, a qual a mulher a frente se surpreendia um pouco por sua presença. Aquela garota tinha uma média estatura, cabelos de cor lavanda claro, quase branco como a neve e portando um rabo de cavalo como cabelo, olhos de cor azuis e um semblante aparentemente desinteressado com o mundo ao seu arredor.

Uma vez que pisara naquela classe, todos os olhares se voltaram para si, como se a mesma fosse algum tipo de celebridade. O assento que ela ocupava? Justamente o vazio ao lado esquerdo da carteira de Akane. Claro que aquilo chamou a atenção dela, dado o mistério envolvido em sua presença naquele momento. Mas nada podia dizer pois a aula estava em andamento. Porém, seu olhar por muitas vezes ficava fixado na jovem, que por um breve momento retornou o olhar para si, antes de retornar para seu mundo.

No final daquele periodo, enquanto havia troca de professores, a curiosidade instigou Miyagi, que a observou. Virando-se, tentou uma abordagem para com ela, repetindo da professora o mesmo nome que ouvira lhe chamar.

— Shiori-chan… não é? Pensei que essa mesa estaria vaga para algum aluno que fosse se transferir posteriormente…

Suas palavras pareciam não surtir efeito, pois a garota não parecia lhe dar atenção, frustrando suas expectativas.

— ...você é um rosto novo por aqui…

A voz levemente áspera que saiu da boca da menina tomou a atenção de Akane por imediato. Ainda assim, a tal “Shiori” não a encarava de forma alguma, estava com os olhos fixos a própria mesa.

— ...É uma aluna transferida?

— Ah… sim, me transferi há poucos dias atrás… Meu nome é Miyagi Akane. E o seu?

— Izumi Shiori. Se quiser, pode me chamar de Shiori-chan.

— E você pode me chamar de Akane se quiser. Sem os honoríficos mesmo. É um prazer conhecê-la.

— Prazer.

Foi uma rápida apresentação, porém, Izumi havia enfim virado seu rosto para poder encarar Akane durante esse breve momento. Todavia, seu semblante permanecia o mesmo. Na sala, sussurros se corriam, os olhares direcionados à ambas as garotas, e quando Miyagi notava algo de estranho, desviavam seus olhares. Bastava baixar sua guarda que tudo retornava gradualmente, a deixando irritada por dentro.

…

Horário de saída, e pouco fora Akane sair de sala para uma horda de garotos lhe rodearem. Eram perguntas atrás de perguntas, deixando a menina um pouco pressionada a respeito daquilo. Shiori, no entanto, não teve dificuldade de passar por aquele mar de gente. Pelo contrário, era como se a mesma fosse invisível. Por conta de seu jeito sempre sério de desinteressado, com um olhar que aparentava observar constantemente o vazio que era sua vida, ela ganhou a fama de esquisita por toda a escola, e por onde passava por aquele lugar, sempre havia um olhar que lhe era atraído. Uma forma com a qual ela conseguia fazer aqueles olhares diminuírem era se isolar ainda mais da realidade, e a forma mais natural dela fazer o mesmo era vestir seus confiáveis fones de ouvido, que sempre que podia, estavam em volta do seu pescoço, para fácil acesso. Esse método era uma constante em sua vida, tanto que se pudesse, vivia sua vida somente a escutar suas músicas, pois ali, para si, encontrava algum tipo de sentido, algum tipo de coerência, um lugar aonde suas atitudes jamais seriam julgadas pelos sons que adentravam seus ouvidos.

Quanto a Akane, ela conseguiu se desvencilhar dos rapazes. Porém, para seu azar, este estaria para acompanhar Shizue e Emiko até o café ao qual elas ficaram prometidas de ir aquele dia. Ela não gostou nada daquilo, e então o disse para ir, com um tom ríspido, partindo de volta para o dormitório.

— Ser popular com as meninas não é fácil, não é?

— Nem brinca com isso.

Conforme caminhavam, Yuuki então olhou para Emiko, que rapidamente bateu seus olhos nele e desviou.

— O-o que foi?

— Não é nada…

— Se quiserem que eu vá pra casa enquanto vocês vão para o café, por mim tudo bem, ok?

Emiko imediatamente corou e tentou se explicar, sem muito sucesso. Yuuki também havia ficado sem jeito, e calado se manteve, evitando olhar para a de roxo.

…

Após aproveitarem um tempo gastando conversa no café, saíram os três. Yuuki estava um pouco atrás das duas que conversavam a frente entre si. O tempo estava levemente nublado e um vento percorria pelas ruas da cidade. Até que em um momento, houve forte ventania, suficiente para levantar a saia das duas meninas que estavam a sua frente e revelar ao garoto as calcinhas que as meninas estavam usando: ambas listradas, uma vermelha e outra azul. Imediatamente elas se cobriram, mas não foram rápidas o suficiente. O nariz de Hisashi sangrou, como reação ao contemplar as roupas íntimas das duas e fez o que pode para poder disfarçar. Porém seu rosto corado entregava tudo, e quando as duas se viraram, uma mais envergonhada que a outra, ele se viu sem saída.

— V-V-Você viu?