Pássaro da Solidão escrita por Nikka fuza


Capítulo 3
Capítulo 02




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Eu me retirei para me arrumar, pensando em como aquela situação deveria ser estranha. Meu pai e o senhor Hathaway eram tão próximos, passaram anos sem se encontrar e quando acontece, tudo mudou. Eu não podia julgar meu pai por desejar ajudar o Sr Hathaway, eu certamente faria o mesmo por Vasilisa. 

 

Apesar de compreender a decisão de meu pai, eu não me sentia nem um pouco empolgada com a ideia de passar tanto tempo em companhia de um velho solitário. Ainda assim, eu me arrumei com o auxílio de Meredith, uma jovem um pouco mais velha que eu que era empregada em minha casa, substituindo sua mãe, que trabalhou conosco por anos e adoeceu no último verão, e logo estava acomodada junto aos meus pais na Carruagem da família, seguindo a estrada até Northwich Hall. 

 

Eu já me sentia aborrecida antes mesmo da noite começar, mas aquele sentimento passou quando cruzamos os portões da propriedade que me deslumbrou de imediato. O crepúsculo se aproximava, então eu ainda conseguia ver com clareza cada detalhe do jardim que cercava a casa, eu encarei tudo pela janela do veículo, enquanto uma brisa morna balançava meus cabelos. 

 

Eu já havia caminhado até os grandes portões daquele lugar, mas nunca ultrapassei aquele limite. A carruagem seguia pela trilha principal que havia sido renovada recentemente, me encantando a cada metro percorrido. Por um momento, imaginei como aquele lugar ficaria enfeitado para um baile, grandioso como era, seria um baile digno da realeza.

 

— Eu passei muitos dias nesse lugar, Charles e eu costumávamos pescar no lago que tem no lado sul da propriedade — meu pai revelou com um suspiro saudoso.

 

Será que um dia falarei de Dragonfly Park da mesma maneira?

 

Se um dia eu me casar, viverei longe daqui? Ou passarei todos os meus dias em Wilmslow como minha mãe? 

 

Aqueles pensamentos inoportunos tomaram conta de minha mente enquanto meu pai contava a minha mãe sobre os dias de glória daquele lugar. 

 

— Rose, está tudo bem? 

 

Janine chamou minha atenção quando estávamos quase na entrada da propriedade.

 

— Ahh sim, perdoe-me, eu estava imaginando como eram os bailes nesse lugar — eu forcei um sorriso, mascarando um pouco dos meus pensamentos.

 

— Querida, os bailes dos Hathaway eram equivalentes aos grandes bailes de Londres, esse lugar ficava belíssimo, e muitos convidados vinham de longe para o evento — meu pai narrou.

 

A carruagem parou na frente da casa, e logo um criado se aproximou, abrindo a porta e auxiliando minha mãe a descer, antes de estender a mão para mim. Assim que estava fora da carruagem, eu ergui o olhar, contemplando a grandiosidade diante de mim. Eu não sabia sequer como classificar aquele lugar, mas sem dúvida fazia com que a Mazur House, e até mesmo Dragonfly Park, se assemelhassem a pequenas cabanas perto de Northwich Hall.

 

Meu pai acompanhou meu olhar, parado ao meu lado.

 

— É uma pena que Charles não tenha tido nenhum filho, você poderia ser a senhora desse lugar — Ele me provocou.

 

Eu soltei uma pequena risada diante de tal absurdo. Eu? Senhora de uma propriedade desse porte? Eu nem saberia como agir, prefiro não fugir tanto assim da minha realidade, apenas gostaria de continuar tendo a mesma vida confortável que tenho no momento.

 

— Talvez se agradarmos o Sr Hathaway, ele nos convide para ir até Kent. Quem sabe eu consiga conquistar um Duque assim — eu zombei, recebendo uma risada em troca.

 

O homem que nos recepcionou avisou que nos levaria até a sala que o Sr Hathaway havia separado para nossa recepção e nós o seguimos em silêncio. Assim que passamos pelas grandes portas da residência, eu ergui o rosto, admirando todos os detalhes daquele hall de entrada. Nossos passos ecoavam pelo cômodo enquanto seguíamos o rapaz.

 

Nós fomos deixados em uma luxuosa sala de estar na ala leste da casa, eu fui até uma das grandes janelas, observando uma parte do jardim que não tinha sido capaz de apreciar antes. 

 

Meus pais estavam presos em uma conversa enquanto minha mente divagava mais uma vez. Como alguém consegue viver sozinho em um local tão grande ?

 

Meu devaneio foi interrompido quando um som alto e estridente ecoou por cada cômodo da casa.

 

— O que foi isso? — eu me virei assustada.

 

— Um pássaro, eu acho — minha mãe franziu o cenho. 

 

— Aqui dentro?

 

— Não seja tola, querida. Com certeza veio de fora — Meu pai me tranquilizou.

 

Mas aquele som ecoou mais uma vez, sobressaltando minha mãe.

 

— Não veio de fora — eu devolvi.

 

Mas, antes que meu pai pudesse arrumar qualquer explicação, a porta foi aberta e nosso anfitrião entrou. Charles Hathaway era diferente do que eu imaginava, fisicamente ele parecia um homem normal para sua idade, meu pai mesmo se aproximando de sessenta anos, ainda possuía vigor e força física que refletia a elegância de sua figura. Mas aquele homem, ele externava fragilidade e um cansaço extremo, visíveis através de seus passos lentos.

 

— Charles, eu disse que voltaria — Meu pai se aproximou com um sorriso no rosto.

 

— Obrigado pela companhia, Abe.

 

— Venha, conheça minha família. Srª Mazur e a minha filha, Srtª Rosemarie Mazur.

 

O Sr Hathaway fez uma reverência para minha mãe, que correspondeu de imediato, mas quando ele se virou em minha direção, seu semblante se transformou, parecendo surpreso ao me ver. Eu fiz uma reverência, apesar de estranhar sua reação, o homem imediatamente se afastou, evitando até mesmo me olhar pelo restante da visita. 

 

Minha noite foi exatamente como eu temia que fosse, fastidiosa e entediante. Pelo menos a comida estava boa.

 

Como eles esperam que uma jovem dama passe todas as noites daquela maneira entediante? Eu ia até lá, comia em silêncio, ouvia as histórias do Senhor Hathaway e do meu pai sobre a juventude dos dois, se o nosso anfitrião estivesse se sentindo bem, nós nos reunimos na sala de estar para tomar chá e conversar um pouco mais, caso contrário, voltávamos para casa imediatamente após a refeição, ignorando toda a etiqueta que aprendemos durante toda nossa vida. 

 

Eu não podia negar que o senhor Hathaway era muito inteligente e conhecia diversos assuntos, apesar de sua saúde fragilizada e da sua mania de me ignorar, era fascinante ouvi-lo compartilhar seus conhecimentos, mas eu sentia falta de jantar na casa dos Dragomir, ou então visitar Sydney, ou passar um tempo com a Senhora Tanner.

 

Ainda assim, me vi ocupando o mesmo lugar em sua mesa que ocupei nos últimos dias. Era minha quarta visita, e eu já estava cansada do silêncio quando meu pai decidiu introduzir um assunto enquanto saboreavamos o peixe.

 

— Charles, você ainda gosta de música? 

 

— Sim, eu sempre…

 

— Rosemarie é uma excelente musicista.

 

Eu levantei meu olhar ao ouvir meu nome, a atenção do Sr Hathaway tinha se voltado para mim, me deixando um pouco desconfortável com a maneira que ele me olhava. O homem não parecia ter raiva de mim, mas era como se tentasse evitar me olhar a todo custo.

 

— A Senhorita gosta de tocar piano? — ele forçou um sorriso, se dirigindo a mim pela primeira vez, parecendo um pouco incerto do que deveria falar.

 

— Sim, eu gosto muito, eu gostaria de aprender outros instrumentos, mas o piano é o mais adequado para uma mulher — eu declarei, recebendo um olhar irritado da minha mãe.

 

Eu havia feito aquele comentário para provocá-la, e aquela reação era exatamente o que eu esperava, eu só não esperava o que aconteceu a seguir.

 

a gargalhada do Sr Hathaway foi audível, atraindo nossa atenção imediata.

 

— Por Deus, você é de fato igual a ela — o homem comentou entre risos.

 

Eu franzi o cenho, me sentindo confusa por seu comentário.

 

— Perdoe-me, mas sobre quem o senhor está falando, Sr Hathaway?

 

— A jovem falecida srtª Hathaway, a senhorita me lembra muito ela — ele esclareceu.

 

— Mesmo? Eu não penso que sejam parecidas, Charles — meu pai me observou.

 

— Talvez seja minha mente me pregando peças sobre uma pessoa querida que me deixou há trinta anos, mas Caroline era tão bonita e espirituosa, ela tinha quase a sua idade quando a doença a levou — ele narrou, fazendo com que eu me movesse desconfortável em minha cadeira.

 

Então é por esse motivo que ele tem me evitado por todo esse tempo? Eu trago lembranças dolorosas sobre uma pessoa querida? 

 

Não pude evitar sentir pena, todas as pessoas que ele amou foram tiradas dele, ele tem estado sozinho por tantas décadas. E eu pensando que ele era apenas um velho amargurado.

 

— Eu sinto muito por sua perda.

 

 Aquela parecia a única resposta aceitável diante de sua explicação, eu não sabia como reagir, e logo um clima que beirava o constrangimento tomou conta da mesa, fazendo com que todos voltassem a desfrutar seus pratos no mais absoluto silêncio. Nós terminamos de comer e seguimos para a sala de estar onde costumávamos nos reunir depois de todas as refeições, foi quando aquele som estridente que ouvi no primeiro dia que o visitei voltou a soar. Eu estava prestes a perguntar ao homem o que era aquele barulho, quando sons de passos nos interromperam.

 

Eu me surpreendi quando um casal se aproximou pelo corredor, parecendo bem íntimos do dono da casa.

 

— Doutor Hunter, pensei que chegariam mais cedo — o senhor Hathaway os cumprimentou.

 

— Nós tivemos um problema com a carruagem, Sr Hathaway. Gostaríamos de ter chegado bem mais cedo — o homem explicou.

 

 O Sr Hathaway retomou o caminho até a sala, e nós o seguimos sem discutir.

 

— Por favor, me permita apresentar meu antigo amigo Ibrahim Mazur — Charles apresentou meu pai ao homem, que logo apertou a sua mão.

 

Nós nos entreolhamos, esperando que todas as apresentações terminassem.

 

— É um prazer conhecê-lo Sr Mazur, essa é minha esposa, Srª Hunter.

 

A mulher fez uma breve reverência, atraindo minha atenção para sua aparência. Ela era alguns anos mais velha que eu, era bastante branca com traços delicados, e eu não sabia especificar o que, mas algo nela era diferente.

 

— Deixe-me apresentar a srª Mazur e a srtª Mazur — Meu pai nos introduziu e logo fizemos reverencia como a srª Hunter fizera antes.

 

— O Doutor Hunter é meu médico particular, ele vive comigo há quinze anos — o Sr Hathaway explicou.

 

— Nós permanecemos em Kent por dois dias para resolver algumas pendências, e acabamos nos atrasando um pouco na viagem — o médico explicou.

 

Agora que estávamos em um grupo maior de pessoas, acabamos nos dividindo. meu pai ficou conversando em um canto da sala com o sr Hathaway e o sr Hunter enquanto minha mãe e eu fizemos companhia para a Srª Hunter próximo ao piano.

 

— É um alívio saber que terei mais companhia feminina durante nossa estadia, eu pensei que teria que visitar a cidade para conhecer outras mulheres durante o período que o sr Hathaway decidir permanecer em Cheshire. 

 

Eu a encarei boquiaberta ao ouvi-la falar, aquele era um sotaque que eu nunca tinha ouvido antes e era simplesmente encantador.

 

— É um prazer conhecê-la, srª Hunter, é bom ter mais alguém para conversar, a srª deve se juntar a mim para um chá qualquer dia.

 

— Será um prazer, srª Mazur.

 

— Srª Hunter, me perdoe a curiosidade, mas de onde a senhora é? — eu a interrompi, recebendo um olhar reprovador da minha mãe.

 

— Rosemarie, por favor!

 

— Não tem problema nenhum, eu vim da Rússia há alguns anos — ela explicou com um sorriso educado no rosto.

 

— Rússia?

 

— Sim, Meu nome é Oksana, eu conheci Mark através do senhor Hathaway.

 

Aquilo era diferente do que eu imaginava, aparentemente o sr Hathaway era mais sociável do que eu pensava para um velho recluso. E Oksana era um nome tão diferente e bonito, todos os meus mais profundos sentidos foram aguçados pela curiosidade.

 

— Por favor, me conte todos os detalhes, como você veio da Rússia? Como conheceu o sr Hunter — eu supliquei, finalmente me sentindo satisfeita pela companhia daquela noite.

 

— Perdoe minha filha, srª Hunter, não é necessário responder pergunta nenhuma, apenas…

 

— Não é incomodo algum, senhora Mazur, eu não tenho nenhuma objeção em contar minha história — ela nos tranquilizou.

 

Eu aguardei ansiosa até que ela revelasse todos os detalhes que eu tanto ansiava saber, eu tinha tanto a lhe perguntar sobre seu país, sua cultura, eu gostaria de saber tudo!

 

— Minha mãe ficou viúva quando eu era apenas um bebe, então ela conseguiu um emprego como dama de companhia da Senhora Tatiana Ivashkov, a família Ivashkov era uma das mais ricas e influentes da região onde eu vivia, era quase certo que eu seria sua substituta como dama de companhia, e quando os Ivashkov decidiram se mudar para a Inglaterra, eu não tive muita alternativa a não ser acompanhá-los.

 

Aquele relato parecia terrível, ela abandonou tudo o que conhecia apenas porque sua senhora decidiu mudar de país? 

 

— Os Ivashkov se instalaram em uma propriedade em Kent, próximo a Goldfield Park, a propriedade do Senhor Hathaway, apesar dele raramente deixar a propriedade, nunca se opôs em receber visitas, e foi numa dessas ocasiões que eu conheci o Senhor Hunter — ela terminou seu relato.

 

Aquilo estava longe de satisfazer minha curiosidade, eu estava prestes a enchê-la de perguntas quando a voz do meu pai nos interrompeu.

 

— Rosemarie, você poderia nos entreter com um pouco de música?

 

Eu não pude negar seu pedido, ocupei meu lugar ao piano com um sorriso no rosto, passando a dedilhar as teclas com destreza.

 

Eu me limitei a tocar minhas músicas preferidas, eu as treinava tanto, que sequer precisava de partituras. Eu toquei até irmos embora, não tendo chance de voltar a conversar com a senhora Hunter, mas depois daquela noite, nada foi igual.

 

A senhora Hunter passou a nos visitar frequentemente algumas vezes para tomar chá, outras apenas para se distrair. De qualquer forma, os dias que seguiram nós nos tornamos grandes amigas, ela me contava tudo sobre seu país e sua cultura e também contou-me detalhes da vida solitária do Senhor Hathaway. Até mesmo o meu relacionamento com o homem havia mudado, ele deixou de me evitar e passou a compartilhar todo o seu diverso conhecimento comigo, muitas vezes me instruindo, provavelmente como faria com sua irmã, a quem eu tanto lhe lembrava. 

 

Toda aquela interação, fez com que eu passasse a nutrir um certo carinho pelo senhor Hathaway, visitá-lo não era mais um grande sacrifício para mim, na verdade, não eu até senti falta nos dias que outras famílias decidiram visitá-lo.

 

— Ele não sai nem para o jardim? — Eu observei as grandes janelas de Northwich Hall enquanto caminhava ao lado de minha mais nova amiga.

 

Já faz cinco dias desde que Oksana chegou a Northwich Hall, ela tinha me convidado para passar o dia em sua companhia e eu não pensei duas vezes antes de aceitar.

 

— Ele sai em determinados horários do dia, principalmente para observar os pássaros — ela declarou.

 

— Observar pássaros?

 

Aquele era um hábito muito incomum, pelo menos, eu não conhecia ninguém que observasse pássaros sem o objetivo de caçar.

 

— É algo relacionado a esposa dele, não sei ao certo — ela franziu o cenho.

 

Algo relacionado a falecida esposa. Parece que minha curiosidade nunca seria totalmente saciada.

 

— Faz muito tempo que você é casada com o sr Hunter? — decidi mudar de assunto.

 

— Três anos, nós demoramos um pouco para nos casar por conta da situação do sr Hunter.

 

— O que você quer dizer?

 

— O Sr Hathaway contratou Mark assim que ele se formou e os dois vivem juntos desde então. Ele temia que sua situação profissional o impedisse de constituir uma família, mas isso não foi problema para o sr Hathaway. Quando Mark decidiu conversar com ele, ele apenas pediu que um quarto maior fosse disponibilizado para nós, e então, pudemos nos casar — ela explicou.

 

Nós retomamos o caminho em direção a casa, de braços dados, como duas antigas amigas.

 

— Fico feliz que tenha dado certo, espero um dia ter essa sorte — eu suspirei.

 

— O que você quer dizer, srtª Mazur? A senhorita é uma das jovens mais prendadas que eu já conheci, é tão bela e jovem, impossível não conseguir um bom casamento.

 

— Meu maior temor é que meu pai se vá antes que eu consiga esse casamento, minha herança é alienada a um primo distante de meu pai — eu expliquei sem nenhuma vergonha.

 

— Creio que você esteja se desesperando a toa, seu pai é um homem forte e saudável, você é uma bela dama, em breve alguma proposta aparecerá — ela me tranquilizou — eu já vi isso acontecer várias vezes, principalmente com a família Ivashkov.

 

— A família Ivashkov tem muitas jovens damas?

 

— A senhora Ivashkov nunca pôde ter filhos, então, ela e o marido adotaram os filhos da irmã dela. A pobre mulher morreu no parto da filha mais jovem e o pai achou melhor deixar os quatro filhos para que a tia criasse.

 

Eu franzi o cenho diante daquele relato, como um pai deixaria seus filhos para outras pessoas criarem?

 

— Mas eles adotaram quatro crianças?

 

— Sim, três garotas e um rapaz.

 

— Se eles estavam em busca de um herdeiro, por que não adotaram apenas o rapaz? — eu ponderei.

 

— Rose, você deveria saber que filhas são mais vantajosas que muitos filhos.

 

— Como isso pode ser? — eu a encarei sem saber a que ela se referia, sempre ouvi as famílias se orgulham da quantidade de filhos homens.

 

— Quanto mais filhas, maior a possibilidade de grandes alianças através de um casamento, grandes famílias apostam o seu futuro nisso — ela apontou.

 

Ela tinha razão em seu pensamento, muitas famílias consolidavam alianças através de casamentos vantajosos.

 

— E as jovens conseguiram se casar?

 

Nós entramos na casa, seguindo para a sala de estar onde costumávamos nos reunir.

 

— A mais velha se casou ainda na Rússia, com um rapaz de uma importante família da região em que nós vivíamos. A segunda mais velha, está sendo cortejada por um rapaz, creio que em breve ela se casará. 

 

Eu estava prestes a responder, quando mais uma vez aquele som que me assombrava sempre que eu visitava essa casa soou, me sobressaltando.

 

— Por Deus, o que foi isso? — Eu encarei minha companheira.

 

— Foi apenas a Betsy — ela explicou como se aquilo fizesse algum sentido para mim.  

 

Quem é Betsy? 

 

— Sr Hathaway nunca falou a vocês sobre a Betsy? — ela notou a confusão em meu rosto.

 

— Não, quem é Betsy?

 

Ela indicou que eu a seguisse para fora da sala, nós caminhamos por corredores que ladeavam toda a ala leste da propriedade, mesmo aparentando ser uma área de pouco uso, aquele lugar não deixava nada a desejar em sua decoração luxuosa. nossos passos ecoavam pelo piso de mármore enquanto a luz do sol adentrava, nos iluminando enquanto percorriamos nosso caminho. 

 

Nós chegamos a diante de uma grande porta de vidro que revelava o que parecia ser uma estufa do outro lado. 

 

— Me espere aqui — Oksana pediu, passando pelas portas em seguida.

 

Ela não demorou para retornar, acenando para que eu a seguisse para dentro da estufa. O local era amplo, tinha muitas árvores espalhadas e diversos tipos de flores e vegetações, trepadeiras cobriam as colunas de sustentação, subindo por elas até quase alcançar o teto de vidro. 

 

— Esse é o lugar preferido do Sr Hathaway, ele tem uma grande estufa em Goldfield Park também — Oksana comentou.

 

— É incrível — eu balbuciei, olhando em volta. 

 

Não era a primeira vez que via uma estufa, mas era a primeira vez que entrava em uma tão grande. O sol penetrava através das vidraças no teto, refletindo sobre a vegetação, fazendo com que eu me sentisse presa em uma pequena floresta particular.

 

— Esse também é o lugar favorito da Srª Hunter, afinal, é aqui onde ela cultiva as ervas que ela utiliza — a voz do sr Hathaway chamou minha atenção.

 

Ele saiu de trás de uma das árvores, vindo em minha direção com seus passos lentos.

 

— Ervas? 

 

— Eu gosto muito de ervas, srtª Mazur, muitas vezes ajudo o sr Hunter nos atendimentos e sei qual erva usar para ajudar a tratar seus pacientes — ela explicou.

 

Aquela era uma informação empolgante, eu gostaria de aprender mais sobre ervas, se me fosse permitido! Talvez eu deva me casar com um médico!

 

— O seu semblante denuncia sua curiosidade, criança — O velho homem zombou, fazendo meu rosto corar.

 

— Eu gosto de aprender coisas novas, mas esse lugar não acabou com minhas dúvidas — eu devolvi.

 

— E quais são as suas dúvidas, srtª Mazur?

 

— Quem é Betsy? — Eu fui direto ao ponto.

 

Foi quando, para minha surpresa, um grito agudo e ensurdecedor ecoou pelo cômodo, eu olhei para o outro lado da estufa, sentindo meu coração disparar ao ver um grande pássaro vindo em minha direção em um voo rasante. 

 

Santo Deus, eu estou perdida!

 

 

 

 


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