P.O.V Geral

Dois disparos puderam ser ouvidos dentro e fora da grande casa de campo. O caseiro e a governanta acordaram assustados e alarmados, os barulhos dos tiros também acordaram o bebê que descansava num dos quartos de hóspedes.

A criança começou a chorar.

Lá fora, o caseiro dos Benson se preparava para deixar a choupana às pressas, pegou a velha espingarda e correu na penumbra.

Do lado de dentro, a governanta saiu de um dos quartos dos empregados e ouvindo o choro do bebê, entrou no quarto de hóspedes pegando o pequeno que já estava vermelho de tanto chorar.

Acalentando o neto de seus patrões, deixou o quarto ainda confusa e com medo de uma possível invasão.

Seria um assalto com vítimas?

Ela não sabia a origem dos tiros.

O caseiro chamou sua colega aos gritos, batendo na porta enorme de carvalho, a governanta ainda com medo, seguiu pelo corredor com o bebê que ainda chorava.

Não parecia ter ninguém na casa de campo além deles.

Onde estavam os pais da criança?

— O que está acontecendo, Antony? - Perguntou assim que abriu a porta.

O homem de 40 anos entrou na casa indo fazer uma vasculha completa.

Ele foi averiguar cada cômodo até se deparar com o escritório do chefe, chamou e estranhou por ninguém responder, estava trancado.

Sem pensar duas vezes, o caseiro derrubou a porta com fortes pisões e a visão o horrorizou.

Era como se fosse cena de um filme macabro.

Durante quase 15 anos trabalhando ali, nunca havia se deparado com algo parecido.

Ali dentro do escritório se encontravam duas vítimas.

Vítimas de um homicídio seguido por um suicídio.

O filho dos patrões e a mãe do bebê.

Mortos um nos braços do outro.

— LYDIA, NÃO SUBA MAIS, APENAS LIGUE PARA OS PATRÕES! - Antony gritou ainda abalado.

Ele encostou a porta e desceu pálido, quase tropeçando.

Precisavam acionar a polícia também.

— O que houve, homem? - Lydia o olhou ainda mais nervosa.

— Eles estão mortos... Os pais da criança. - Antony olhou para Julian.

Lydia quase desmaiou.

Ela tinha visto Edward Benson crescer.

Era um bom menino aos seus olhos. Gostava de brincar quando criança correndo pela casa de campo.

— M-mas c-como? - A governanta começou a chorar.

— Lydia, pelo amor de Deus, ligue para os patrões agora! - Antony pediu desesperado.

Ele não queria entrar em detalhes e deixar a senhora ainda mais abalada.

Com as mãos trêmulas, passou o bebê para o caseiro e se apressou indo fazer a ligação.

Dóia profundamente nela ter que dar aquela terrível notícia para Leonard e Marissa Benson bem no dia da comemoração da união do casal.

Aquela data ficaria marcada para o resto de suas vidas.

[...]

Hospital Geral, Onyon Valley, às 23h:34min...

O celular de Leonard tocou.

— É a Lydia. - Disse para a esposa antes de atender.

Ele e Marissa estavam esperando notícias da ex-nora que havia dado entrada com uma hemorragia após um aborto espontâneo.

A expressão do homem paralisou em seu rosto já marcado pela idade.

Tinha mais de 50 anos.

— Como isso aconteceu? - Sua voz saiu arrastada, num tom mais baixo.

Não podia acreditar.

Era a pior notícia de sua vida.

E diante da esposa já com os nervos aflorados, não podia entrar em desespero.

— Chame a polícia, já estamos indo, Lydia... - Desligou ainda sem muita reação.

Estava completamente desnorteado.

— O que houve, Leo? - Marissa o chamou pelo apelido.

Percebeu que o marido havia ficado abalado.

— O Edward... Fez algo terrível. - Contou para a mulher o que havia acontecido.

Marissa foi ao chão aos prantos.

Ela passou mal e por sorte, estavam dentro de um hospital.

[...]

P.O.V Do Freddie

Acordei com o meu celular tocando.

Era o meu pai.

Atendi antes que Sam acordasse, sentei na cama.

— Oi, pai. - Já se passava da meia-noite.

— Filho... Desculpe por eu estar ligando tão tarde... - Sua voz estava muito rouca. - Mas aconteceram três tragédias... A Victoria estava grávida e perdeu o bebê... Seu irmão surtou... Ele assassinou a Melanie e depois cometeu suicídio... - Deus, como eu queria que aquilo fosse apenas um pesadelo.

Olhei para a Sam que dormia tão serena.

Mortos?

Ed e a Mel estavam mortos.

— Pai... Meu Deus... Como está a mamãe? Vou dar um jeito... Estou indo para aí. - Avisei.

— Sua mãe está no hospital, teve que tomar tranquilizantes. Não venha... Agora não, está chovendo e é perigoso nas estradas. - Me alertou.

— E o Julian? Ele está bem? - Fui para perto da janela.

Aquela sensação horrível tomando conta do meu corpo.

Eu queria gritar... Extravasar aquela dor.

— Lydia está cuidando dele, graças a Deus, o menino está bem... - Me tranquilizou.

Victoria estava grávida e perdeu o bebê.

Era informações demais.

Sam se mexeu na cama e mudou de posição, o edredom escorregou do seu corpo, me aproximei para cobrí-la e ela acabou despertando.

— Com quêm está falando? - Perguntou sonolenta.

— Pai, preciso desligar agora... Vou conversar com a Sam. - Falei me preparando para dar a notícia.

A ligação foi encerrada.

— O que aconteceu? - Ela sentou na cama já agoniada.

— Amor... Nossos irmãos morreram. - Contei sabendo que aquilo iria machucá-la.

Machucá-la ainda mais porque meu irmão tirou a vida de sua irmã.

Deixando uma criança inocente sendo órfã...

— Morreram? - Me olhou descrente.

E por mais doloroso que fosse, tive que explicar como aconteceu.

— AQUELE MALDITO! DESGRAÇADO! CANALHA! COMO ELE PÔDE? - Ela saiu da cama quase caindo e correu para fora do quarto.

Fui atrás dela.

— FILHO DA PUTA! - Derrubou um vaso decorativo.

— Sam, pelo amor de Deus, você não...

— ELE DESTRUIU A MINHA VIDA! ELE AGORA DESTRUIU A MINHA FAMÍLIA! AQUELE INFELIZ! MONSTRO! EU O ODEIO MAIS QUE TUDO! QUE QUEIME NO INFERNO! - Ela estava fora de si.

Jogou mais um objeto de decoração que espatifou contra a parede.

Alice acordou e ouvi seu choro.

Fui abraçá-la, Sam se debateu começando a gritar.

Chorei tentando contê-la.

Também doía em mim.

E ela acabou desmaiando em meus braços.