Headle 2 escrita por Fénix Fanfics


Capítulo 3
Que Deus me segure


Notas iniciais do capítulo

Desfrutem ♥



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Era um restaurante simples perto do laboratório, elas sempre jantavam ali quando podiam. Os colegas de Sara iam geralmente para lancheria, um local que Heather não gostava, então, acabavam indo para o restaurante para que ela se sentisse mais confortável. Longe do olhar desaprovador dos amigos de Sara.

Quando chegou com o bebê, Heather não entendeu nada, e até estranhou. Sara não era muito maternal, e nunca havia falado sobre o desejo de ter filhos, mas havia ficado extremamente terno ver ela com aquele bebê nos braços e uma maleta infantil a tiracolo. Ela se dirigiu até a ruiva e sentou-se à mesa.

— Kessy, graças a Deus. – O bebê parecia alheio ao desespero do olhar de Sara, que estava sem saber o que fazer com aquela criança.

— Quem é esse bebê, Sara? – Ela perguntou um pouco preocupada, mas ao mesmo tempo já dando atenção ao pequeno que era muito simpático e apenas sorria para ela.

— Ele estava na cena do crime, a gente acha que a mãe dele o dopou para que não fosse encontrado pelo assassino. E estamos sem assistente social, então ele é minha responsabilidade até amanhã a noite. Mas eu não sei o que fazer com ele, nunca cuidei de uma criança. 

— Ele parece estar ótimo. – Ela sorriu. – E gostando de estar com você. 

A criança balbuciou, tinha uma voz delicada, parecia ter concordado com Heather, pois o menino havia tirado as mãos da boca e as colocado, babadas mesmo, no rosto de Sara, segurando.

Logo o garçom chegou, perguntando se queriam pedir algo. Sara pegou um prato simples, sem carne, acompanhado de água. Heather pediu um prato parecido, porém com carne, ela ainda não havia se rendido ao vegetarianismo, ela pediu um suco para acompanhar. E também pediram a gentileza de fazerem algo para o bebê, uma papinha, algo que ele pudesse comer. Como elas já eram conhecidas no local, o garçom disse que daria um jeito de trazer algo para a criança.

Antes ainda de trazer os pratos, o garçom trouxe uma cadeirinha infantil, para colocar a criança. 

— Será que ele já consegue ficar sentado na cadeira? – Questionou a Heather.

— Ele parece ter uns seis meses. Deve conseguir. – Heather percebeu que Sara não sabia exatamente o que fazer. – Baby, deixa que eu coloco ele na cadeirinha. 

Heather levantou-se e acomodou o pequeno na cadeira. Logo chegaram as comidas e elas começaram a jantar. A ruiva também tomou para si a tarefa de dar o que comer ao pequeno Zack, que estava faminto, nem parecia que havia comido há pouco no hospital. Sara teve que parar  de jantar para admirar Heather alimentando a criança, ela havia perdido o ar de durona e dominante, e falava com uma voz fofa e infantil, enquanto fazia um aviãozinho com a colher.

Logo que terminaram de jantar, elas saíram para caminhar um pouco, ainda tinha alguns minutos antes de voltar ao laboratório. Sara carregava Zack no colo, enquanto conversava com Heather, elas já iam em direção ao trabalho de Sara.

— Foi muito estranho e ao mesmo tempo fofo ver você cuidando do Zack. Eu sei que você teve uma filha e uma neta, mas não conhecia esse seu lado. – Sara sorriu. – Você alguma vez pensou em ser mãe novamente, depois de tudo com Zoe e Allison?

— Na verdade não. Perder elas foi quase como perder a minha vida. Quando Zoe se foi, uma parte de mim morreu, e é algo impossível de recuperar. Eu nunca mais fui a mesma depois de Zoe e Allison. – Heather pareceu triste ao lembrar da filha, ninguém sabia o quanto isso ainda doía. – E você, pensou em algum dia engravidar, ter um filho?

— Nunca pensei em engravidar, mas você sabe, eu cresci em lares adotivos, e por um tempo pensei em ser uma casa de passagem ou adotar uma criança. Meus lares adotivos não foram bons, eu não tive sorte, e sempre achei que poderia dar um bom lar a uma criança. Mas o tempo passou, isso nunca se concretizou, e agora eu acho que foi melhor.

— Por que melhor?

— Por que aqui com Zack no colo, eu me dou conta que levo zero jeito com crianças. – Ela riu.

— Eu já acho que você tem muito jeito. Só está um pouco ansiosa, o que é normal, já que mudanças…

— E a terapeuta ataca novamente. – Sara riu enquanto rolava os olhos.

— Que Deus me segure a hora que eu puder te castigar senhorita Sidle. – Ela sussurrou com uma expressão divertida, mas com um tom ameaçador.

Elas já estavam na frente do laboratório nesse momento, prestes a se despedir quando Zack fez uma careta diferente. Sara estranhou na hora, mas Heather sabia exatamente o que queria dizer. Alguns barulhos de pum e ele já fedia a ovo podre. 

— Acho que alguém fez cocô. – Heather sorriu para a criança.

— Ah meu Deus, não… Eu não sei trocar fralda. – O seu tom era de pura preocupação e desespero.

— Tem tutorial na internet, vai ser divertido. – Heather falou debochada, já ameaçando deixar ela sozinha ali com Zack. 

— Kessy, não faz isso comigo. Me ajuda. Por favor. – Sara estava implorando. 

— Baby, você sabe que eu não gosto de entrar aí, no seu local de trabalho.

— Kessy, por favor. Eu estou implorando. – Suplicou. – Eu não posso fazer isso sozinha. 

— Está certo. Mas é só por que eu adoro ver você implorando algo, e por causa dessas bochechas fofas. – Ela apertou de leve as bochechas do Zack.

— Graças a Deus. – Suspirou aliviada.

— Mas é só o momento de trocar ele e depois vou embora. 

— Ok. Obrigada.

O laboratório não era um local para crianças, então não havia banheiro com trocador ou algo assim. Elas subiram até a sala de convivência e assim que notaram que estava vazia, foram até lá. Colocaram Zack sobre o sofá, que previamente haviam coberto com uma mantinha. 

— Certo, agora você tira a calça dele e abre a fralda.

— Que? Como? – Sara se surpreendeu, achou que a Heather faria a tarefa. – Eu achei que vo…

— Eu disse que ia te ajudar, mas não disse que iria fazer. Vamos logo. – Ela ordenou.

Ainda que contragosto, Sara obedeceu, primeiro tirou a calça do bebê, depois abriu a fralda.

— Meu Deus do céu, é pior que ovo podre. – Reclamou fazendo careta, e afastando o rosto da criança que apenas riu.

— Baby! – Heather a repreendeu. – Você vai em cenas de crime onde há cadáveres em decomposição, entra em lixeiras e está reclamando do coco do bebê? Sério mesmo? – Ela riu.

— Fede muito! – Se defendeu. – E agora?

— Tira a fralda suja, limpa ele com os lenços umedecidos, e depois é só colocar a fralda limpa.

— Ok então.

Se dando por vencida ela prosseguiu, exatamente como Heather havia dito. Primeiro limpando o bebê com o lenços umedecidos, depois Heather a ajudou Sara a posicionar a fralda e a instruiu a fechar. Por último vestiu as calças do bebê, e logo Zack estava pronto.

— Pronto bebê. – Sara ergueu ele por baixo dos braços e deu um beijo na bochecha dele, que riu instantaneamente. – Você ri pra tudo.

— Ele ri para você, Baby. – Heather achava magnífico a maneira que Sara interagia com a criança.

Heather já estava pronta para ir embora quando Nick e Greg chegaram a sala de convivência. Tudo que Sara queria evitar era um confronto entre eles. Eles se assustaram ao ver ela lá parada, que já ergueu os ombros, cruzando os braços, ficando em uma posição mais dominante, e com um ar superior. A única que a via de modo mais relaxado e até vulnerável, era Sara. Quando estava perto de outras pessoas, era quase instintivo vestir o personagem de Lady Heather. Era como sua forma de defesa.

— Ahn, oi. – Greg foi o primeiro a cumprimentar, com um tom constrangido, já que Nick nem se deu ao trabalho.

— Olá. – Heather respondeu com educação, mas ainda sim, com superioridade.

— Então esse é o Zack? – Nick foi direto ao bebê, passando direto por Heather. – Que meninão mais lindo. Me lembrou o Warrick.

— A mim também. – Sara admitiu. 

D.B. também chegou na sala de convivência em seguida, entrou, e percebeu logo a presença dos meninos, do bebê, de Sara e Heather. 

— Olá Heather, tudo bem? – Ele a cumprimentou com uma educação genuína, ao contrário dos meninos, ele não tinha nenhum problema com Heather e até simpatizava com ela.

— Olá. – Ela respondeu com a mesma educação.

— Sara, queria falar com você. 

— Claro.

— É que aqui não é um lugar para um bebê. Infelizmente não podemos manter o Zack aqui, e não podemos manter ele sem a permanência de um responsável da equipe por perto. Gostaria de saber se você não se importa de levar ele para casa hoje, a gente espera que até amanhã no início do turno a assistente social já esteja aqui para levá-lo.

— Vocês não encontraram nenhum parente dele ainda? – Sara perguntou preocupada.

— Não. Molly não tinha pais, e o pai da criança é nosso principal suspeito no momento. Ele também já falou que não quer a criança. Então, provavelmente ele vai para o sistema de adoção.

Julie chegou no meio da conversa, pegando somente as últimas palavras do supervisor. 

— E pelo visto a adoção dele vai ser um pouco complicada. – Tinha um certo pesar na voz da loira.

— Por que? – A perita se sobressaltou.

— Molly Davis era HIV positivo. A não ser que ela tenha contraído após o nascimento do Zack, há grandes chances que ele seja também. Já liguei para o hospital e pedi para testarem o sangue coletado. 

— Quando sai o resultado?

— O teste rápido deve estar saindo nos próximos minutos, se der positivo, eles vão enviar uma amostra para um exame de PCR, e esse pode levar alguns dias.

— Mas há diversas mulheres que têm HIV, e engravidam, sem contaminar os filhos durante a gestação. – Heather interceptou.

— Com certeza, mas nesse caso a mãe deve ser positiva e o pai negativo e, principalmente, há de ter um cuidado especial com a gestação. E Molly não tinha nada em sua casa que indicasse que ela sabia da doença, então acho difícil que tenha sido descoberto no pré-natal. – Julie explicou. – No entanto, o melhor é aguardar o resultado do hospital.

Neste exato momento, a perita Finlay ouviu seu telefone tocar.

— É do hospital. – Ela atendeu, e todos se calaram aguardando o resultado. – Finlay…. Já fizeram? E o resultado?... Ok. Certo. Quantos dias?... Obrigada. – Ela suspirou ainda antes de desligar.

Todos já sabiam o resultado, mas Sara ainda olhava Finlay com um pouco de esperança. Queria muito que o resultado fosse diferente.

— Infelizmente Zack testou positivo no teste rápido, eles vão enviar a amostra para confirmação por PCR. Eles pediram com urgência, ainda sim, vai demorar uns três dias úteis.

Todos olharam para Sara, enquanto Sara mantinha os olhos fixos naquela criança. Ele estava brincando com a ponta da coberta, e fazendo uns barulhos com a boca, soprando o ar entre os lábios. Aquilo havia sido uma pontada em seu coração.

Sara era uma menina jovem e saudável quando entrou no sistema de adoção. E como em um flash de memória ela se recordava o que era passar de lar em lar, como um objeto, sem amor, tratada muitas vezes como empregada, sem ter um local para si ou qualquer tipo de referência. Seu coração apertou. Hoje a adoção era muito mais solicitada que anteriormente, mas uma criança mulata e soropositiva, certamente cresceria assim, como ela cresceu. Saindo do seu devaneio, ela pegou a bolsa e depois o bebê no colo.

— Vamos, Kessy?

— Vamos, Baby. 

Sem se despedir, Sara saiu, levando o bebê no colo. Sem saber o que fazer. 

 


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