No dia seguinte, pela manhã, após uma noite boa noite de sono, Judy acordou em sua cama e sempre que via sua raposa de pelúcia, já o abraçava porque lembrava de Nick. Isso era sua motivação diária. Ela sabia que chegou onde chegou por causa dele. Assim que terminasse de se arrumar, iria para o DPZ para mais um dia de trabalho. Em outra casa, Nick teve que mudar sua rotina completamente já que tinha um trabalho de verdade. Pelo menos, morando com a mãe Katy, tinha um delicioso café da manhã todo dia. Katy tinha muito orgulho seu filho, que não estava mais ruas aplicando seus golpes e arrumando confusão. Apesar disso, ainda se preocupava com seu filho, já que fazer parte da polícia não era o trabalho mais seguro de Zootopia, mas era melhor do ficar nas ruas. E desde que voltou a morar com a mãe, Nick falou muito sobre a coelha que o fez mudar de vida e Katy tinha muita curiosidade em conhecer Judy, conhecer como ela conseguiu mudá-lo.

Algumas horas depois os dois se encontraram no DPZ, na sala onde o Chefe Bogo designava as funções dos policiais naquele dia. Como de costume ele deixava Nick e Judy no final, já que eles recebiam geralmente algumas tarefas especiais, pois eles resolveram sozinhos um dos maiores casos que o departamento de polícia já teve. Nesse dia, entretanto, Nick e Judy receberam uma tarefa mais burocrática do que usual.

— Wilde, Hopps, alguém tem que terminar os relatórios do caso dos Uivantes – Bogo se dirigiu a porta. – Como vocês resolveram o caso, nada mais justo do que vocês terminarem.

— Pelo menos uma folga hoje. – Nick brincou.

— Depois que terminarem, vou dar novas instruções para vocês. – Bogo respondeu.

— Sério? – Judy perguntou. – Você tinha que abrir a boca, Nick.

— Brincadeirinha. Aproveitem para terminar o quanto antes. – Bogo saiu da sala e se dirigiu ao seu escritório.

— Parece que você não conhece o chefe que tem. – Nick brincou com a Judy.

— Conheço sim, ele é só um pouco imprevisível as vezes. – Judy saiu da cadeira e se dirigiu a porta. – Vamos lá, temos muito trabalho a fazer.

— Você que manda. – Nick seguiu ela.

Judy, então, foi até a sala que ela usava como escritório dentro do DPZ, a mesma sala em que ela estava terminando o relatório do Emmitt Lontrosa quando foi chamada pelo Chefe Bogo. Nick a seguiu até o mesmo lugar, ele ainda não conhecia muito bem os interiores do departamento de polícia. Judy ligou o computador e percebeu que ninguém tinha mexido dos arquivos do caso. “Curioso, não mexeram em nada. Será que esperavam que eu fosse voltar?” Ela pensou. Nick procurou por uma cadeira e a colocou ao lado de Judy, Eles passariam algumas horas juntos para terminar o relatório.

— Eu tinha começado o relatório antes de sair da corporação. – Ela mostrou a parte de tinha feito.

— Porque você tinha saído? – Nick perguntou. Ele tinha a suspeita que algo tinha acontecido já que ela o procurou sem a roupa de policial. – Era o seu sonho.

— Meu sonho era fazer do mundo um lugar melhor e na época, minhas ações fizeram o contrário. Eu não me sentia digna de usar esse distintivo. – Ela olha para o distintivo e depois volta a olhar a tela.

— É por isso que você foi me procurar e já estava sem o uniforme. – Disse Nick, enquanto lia o que já estava escrito do relatório.

— Sabia que você ia reparar. – Judy sabia que ele prestava atenções nos detalhes. Ele tinha reparado no spray anti-raposa. – Mas foi por isso mesmo.

— Pode onde a gente começa? – Nick terminou de ler o que já estava escrito.

— O relatório do Emmitt está quase pronto. – Ela rolou a página no computador e mostrou a parte final. – Eu consigo terminar agora em alguns minutos, mas o que vamos precisar fazer é o relatório geral da investigação.

— Pelo nome, é descrever toda a investigação até como foi resolvida, certo? – Ele olhou para ela.

— Raposa esperta. Acertou!– Ela o olhou e depois voltou sua atenção para a tela do computador. – Só vou terminar esse relatório e nós começamos.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, enquanto Judy terminava o relatório do Emmitt que ela já tinha começado antes. Curiosamente, apesar de estarem no trabalho, dentro do departamento de polícia, não estavam achando ruim ou chato. Nick não admitiria tão fácil que estar com Judy ao seu lado já fazia valer a pena qualquer trabalho que precisava fazer, ele se sentia bem perto dela, era seu porto-seguro. E Judy confiava em Nick mais do que em qualquer outro animal, ela o escolheu para ser seu parceiro na polícia, e na verdade, ela não tinha motivos para escolher outro animal no lugar dele, ele foi o único que a apoiou, quando ninguém mais o fez.

— Pronto. Terminei. Agora é só salvar no sistema e podemos começar. – Ela fechou o arquivo e depois o enviou no sistema da delegacia.

— Por onde começamos? – Ele perguntou.

— Bom, pelo início da investigação, quando comecei e você ainda não estava presente – Ela abriu um novo arquivo em branco.

— Eu lembro que nos conhecemos na sorveteria, mas depois não sei o que aconteceu para você chegar até mim. – Nick disse.

— Eu assumi o caso do Emmitt para provar para o Chefe Bogo que conseguia ser uma policial de verdade. – Ela começou a digitar o relatório. – A única pista que tinha era uma foto da última aparição dele, ele segurava um dos seus patolés e você aparecia na foto.

— Agora faz sentido. – Ele sorriu. – Depois você foi até mim para perguntar sobre ele e eu disse que sabia onde ele foi mas não onde estava.

— Isso, você me levou naquele clube naturalista todo esquisito. – Ela riu, só de lembrar que entrou lá. – Mas acabou sendo bem útil.

— O Yax contou sobre a placa do carro em que o Emmitt foi visto sendo levado de lá. – Ele adorava a risada dela. – Depois fomos para o departamento de trânsito verificar a placa.

— Boa memória, Nick. – Ela o olha e depois volta a olhar a tela.

— Foi o início de uma aventura que me trouxe até aqui, com você. – Ele adorou ver Judy ficar um pouco envergonhada, já que se referiu a ela diretamente. Ela parou por um momento e sentiu o coração acelerar. Judy sabia que era verdade, ela adorou a aventura que tiveram juntos com esse caso e por isso escolheu Nick para ser seu parceiro na polícia, porque queria manter, dentre outras coisas, seu melhor amigo ao seu lado; mas ambos sabiam que queriam algo além disso.

— Verdade. – Ela respondeu sem olhar para ele. – Uma aventura que eu adorei também. – Disse de maneira acanhada, de um jeito adorável, que encantava Nick.

— Sabia. – Ele a olhou.

— Não me desconcentra, Nick. – Ela quebrou o gelo, para continuar o relatório.

— Tá bom. – Ele sorriu, no fundo adorou a reação dela.

— Com a placa verificada, descobrimos que era do serviço de limousines do Senhor Big, em Tundralândia. – Ela continuou o relatório.

Conforme foram lembrando dos passos da investigação, algumas memórias voltavam a tona, algumas boas, algumas nem tanto, mas tinha uma que era especial para Judy. Naquela noite, quando foram ao Distrito Florestal em busca do Senhor Manchas para ter algumas respostas sobre o Emmitt. Foi naquela noite, que, pela primeira vez, alguém a apoiou de verdade, alguém acreditou nela. Ela nem soube porque Nick se dispôs a fazer isso, quando simplesmente poderia ter ido embora, para continuar com seus “negócios”. Ela aproveitou a oportunidade, já que não sabia quando que poderia conversar sobre o caso novamente.

— O Manchas nos atacou logo que entramos na casa dele – Nick continuou. – E por sorte conseguimos sair com vida.

— Mas depois, quando os reforços chegaram, Manchas simplesmente desapareceu de onde eu tinha prendido ele e… – Ela ficou um pouco apreensiva em continuar.

— Foi quando o Chefe Bogo tentou pegar o seu distintivo antes da hora, não foi? – Nick se arrumou na cadeira e a olhou.

— Foi, e você não deixou. – Ela sorriu ao lembrar disso. – Você poderia ter voltado para sua vida normal, não teria uma coelha boba atrás de você.

— Como eu poderia? – Ele perguntou, olhando para ela. – Quando te vi, sozinha, indefesa, sem apoio; eu me vi. Mas desta vez eu poderia fazer a diferença na vida de alguém.

— Nick. – Ela não acreditava no que tinha ouvido.

— E veja onde isso nos levou. Estou aqui, trabalhando com você. – Ele gostava do novo trabalho, principalmente porque voltou a ter contato com a própria mãe por causa disso.

— Realmente, eu não estaria aqui se não fosse por você. – Ela completou. – Eu nem te agradeci por isso.

— Você já agradeceu. – Ele apontou para o próprio distintivo. Para Nick, o agradecimento era ter convidado para ingressar na corporação, era um sinal de que, pelo menos, para um animal, ele era confiável o suficiente para ser um policial.

Os dois nem perceberam o tempo passando e já era quase a hora do almoço quando terminaram o relatório. Terminaram antes do esperado. Bogo tinha a expectativa de que terminariam no período tarde já que era um dos maiores casos que a delegacia já teve, por isso tinha dado o dia inteiro para realizem o relatório. Como terminaram antes, Bogo designou os policiais para realizarem uma patrulha pela Savana Central com o carro oficial. Algo que eles já tinham feito antes. Depois que Judy mostrou o seu valor junto com Nick, Bogo designava funções mais complexas do que simplesmente guarda de trânsito.

Depois do almoço na cafeteria, os dois saíram para patrulha conforme orientado pelo Bogo. Os dois foram até o estacionamento e antes que entrassem, Nick disse que dessa vez queria dirigir; na maioria das vezes Judy que dirigia, mas ele foi aprendendo com o tempo. Teria que aprender de alguma maneira.

Conforme foram andando pelas ruas da cidade, Nick foi pensando onde ele estaria se não fosse pela Judy, já que passou por alguns lugares onde já tinhas suas trapaças pela vida. “Onde eu estaria agora, se ela não tivesse voltado?”. Uma dúvida, que ele não sabia se algum dia conseguiria a resposta.

Após algumas horas andando pela cidade, ouviram pela rádio que a previsão do tempo para noite, e que teria uma chuva ainda mais intensa do que na noite anterior. O instinto protetor presente nas raposas não permitiria que Judy ficasse sozinha nessa noite.

Final da tarde, quando estavam voltando para o DPZ, viram as nuvens aumentarem pela cidade, era a chuva que estava por vir. Quando chegaram no DPZ, Nick ofereceu a Judy para que passasse essa noite em sua casa.

— Judy, vem comigo para casa, essa noite vai ser de chuva forte. – Ele disse.

— o que? – Ela perguntou, surpresa.

— Você ouvir. Minha mãe vai adorar te conhecer. – Ele sorriu.

— Eu…eu não sei. – Ela estava um pouco assustada mas seu dizia que sim, embora sua cabeça tentasse negar. Estar com ele, onde quer que esteja já era o suficiente, mas estava um pouco nervosa por conhecer a mãe do então seu melhor amigo.

— É melhor a gente ir antes comece a chover. – Ele disse, indo embora.

— Estou indo. – Ela respondeu, depois de pensar um pouco. Ela o seguiu.

Ao passar pelo saguão principal, os dois se despediram do Garramansa. Ele sabia que tinha algo entre eles e adora os ver juntos. Quando saíram da delegacia, já estava escuro e com uma garoa bem fina. Os dois foram para o carro de Judy e seguiram para casa de Nick, mas Judy quis passar em seu apartamento para pegar algumas coisas para passar a noite lá.

Então se dirigiram para a casa de Nick e quando chegaram lá, a chuva começou a aumentar. Saíram rapidamente do carro que ficou estacionado na frente como da última vez que Judy deu uma carona para ele.

Judy não sabia, mas seria uma noite com algumas surpresas agradáveis e aconchegantes.