TO DIE WITH THE SUN; reescrita de harry potter escrita por SWEETBADWOLF


Capítulo 26
Capítulo 26 — A Trama se Inicia




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Outubro estava chegando e com ela o tempo frio e úmido também. Sophie se encontrava sentada nos gramados do castelo, próxima ao lago, com Aslan deitado ao seu lado, aproveitavam o sol frio que pairava sobre eles. Ela estava encostada em uma árvore solitária, olhando para o lago e tocando em sua corrente de um leão enrolado em um sol em seu pescoço, ela estava pensativa sobre aquele mês de Setembro.

Havia sido uma loucura feliz. Com a entrada de Erik Lehnsherr e Charles Francis no grupo, mais Teresa Lisbon da Grifinória, Patrick Jane e Castiel Collins da Lufa-Lufa e Dean Winchester da Sonserina terem deixado de serem apenas penetras e finalmente terem entrado oficialmente para a família dela, tudo se tornou mais diferente.

Primeiro, que sua amizade com Erik se mostrou ser a mais forte que ela já teve, muito mais forte da que tinha com os gêmeos e Harriet que havia conhecido desde do primeiro trem para Hogwarts. Era uma amizade tão cheia de confiança e amor um pelo o outro, fazia com que a alma dela se tornasse inteira, era como se uma parte dela finalmente estivesse inteira com Erik ao seu lado. E quando conversaram sobre isso, duas semanas atrás, ela soube que o sentimento era recíproco.

Dessa forma, onde ela ia, Erik estava ao seu lado e vice-versa.

Erik era uma força calma da natureza. Não havia dúvidas que ele estava na casa de Hogwarts certa, pois ele era como uma cobra. Silenciosa e astuciosa, sempre com o seu rosto neutro e suas palavras frias, raramente ele mostraria algum tipo de emoção. Sophie via ele como um vulcão, e tinha quase certeza que quando entrasse em erupção ele seria como o Krakatoa de 1883.

Filho de Megalodonte, Tubarão Branco é.

Segundo, com Charles era uma amizade mais tímida e cheia de muitos afetos. Ele ainda não havia se soltado totalmente, teve dias em que Sophie via tanta tristeza nos olhos dele que tornava impossível para ela não abraçá-lo. E teve outros dias em que seu sorriso e seus olhos azuis cristalinos iluminavam todo o ambiente em que estavam. Ela fazia sempre questão de mostrar para ele que ela estava ali para ele, e ela era muito feliz em ver que Castiel e Patrick faziam o mesmo por ele.

Muitas vezes isso fazia ela pensar em como David teria tratado o Charles. Ela simplesmente sabia que ele iria abraçar o Francis mais do que todos, e sempre fazer questão de fazer o rapaz sorrir pelo menos cinco vezes no dia.

Ela percebeu que ele não recebia muitos correios. E quando recebia, sempre parecia nervoso em pegar a carta largada em sua frente. Ele nunca abria as cartas na frente do grupo, e sempre desviava do assunto quando lhe perguntavam se estava tudo bem. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas também não queria forçar ele a contar, por conta disso, estava esperando e dando todos os sinais possíveis para Charles entender que ela estava ali para quando ele quisesse conversar.

Em terceiro veio Teresa. Foi no seu segundo ano que ela e a garota de cabelos castanhos e olhos verdes grama conversaram pela primeira vez. Teresa era extremamente talentosa em Defesa Contra as Artes das Trevas, e quando ela viu que Sophie estava perdida em um feitiço de defesa, não demorou para ajudá-la. Desde daquele dia, as duas conversavam de vez em quando, comentavam algumas coisas, se ajudavam quando precisavam, mas nunca haviam se aproximado tanto como estavam naquele ano.

E Sophie pudesse voltar no tempo, ela falaria para a versão mais nova dela se aproximar de Teresa naquele mesmo segundo ano. A amizade de Teresa dava um equilíbrio para a amizade que ela tinha com Harriet. Pois onde Harriet vivia no mundo da lua, sempre sorridente, sempre mantendo o grupo calmo, Teresa era pé firme no chão, bastante realista e extremamente tão sem paciência quanto a Potter.

E existia uma fidelidade em Teresa Lisbon que encantava Sophie. A ruiva já havia percebido a muito tempo que Patrick era o melhor amigo de Teresa - particularmente houve momentos em que ela pensou que até mais que isso -, e Sophie era encantada com a necessidade da morena sempre proteger Patrick, garantir que ninguém toque naquele loiro maroto.

— É o meu dever proteger aquela criatura chamada Patrick Jane, porque se eu o deixar por conta própria ele vai levar vinte socos naquele nariz por pessoas diferentes em menos de dez minutos. – Teresa havia dito certa vez para Sophie.

Então, toda essa fidelidade, essa força que Teresa carregava, e seu desejo de proteção para aqueles quem ela se importava, fazia Sophie ver a garota como uma irmã que ela sabia que se tivesse tido a escolha, teria gostado de ter.

E em quarto lugar, entra Patrick Jane. Assim como Teresa, Sophie havia tido seu primeiro contato com Patrick no segundo ano. Mas, ao contrário de Teresa, o loiro maroto havia encontrado ela chorando na noite de Halloween antes do jantar, na biblioteca. Ela estava triste pois naquela noite a saudade que sentia de seus pais era maior do que nunca, e queria um lugar vazio para apenas chorar sem precisar se explicar para os gêmeos ou Harriet.

Mas Patrick a encontrou. Ele não havia dito nada, apenas havia se sentado no chão ao lado dela, e ficou lá, em silêncio até ela enfim parar de chorar.

— Por que você estava chorando? - ele perguntou baixinho.

— Saudade dos meus pais. – ela respondeu, cansada demais para inventar uma mentira. – Eu os perdi na primeira guerra.

— Hum. – ele sussurrou baixo. – Quer chá? – ele perguntou olhando para o rosto dela, um sorriso gentil que combinava com seu tom de voz e olhos carinhosos. – É como um abraço em uma xícara.

— Não quero ir pro grande salão. – ela respondeu com um suspiro.

— Não precisamos ir para o grande salão, podemos ir para a cozinha. – ele retrucou sorrindo maroto.

— Você sabe onde a cozinha fica?! – ela perguntou surpresa.

— Meh, eu sou um gênio. – ele respondeu dando de ombros e se levantando, se virou para ela e lhe estendeu a mão. – Sou Patrick Jane.

— Jane?

— Como uma menina. – ele piscou para ela.

Ele a fez rir e isso foi o necessário para ela segurar a mão dele e ir tomar chá com ele. Patrick nunca havia dito para ninguém sobre aquela noite, e não havia mencionado novamente com ela. Mas, assim como Teresa, ele e ela conversavam de vez em quando, e as vezes – muitas vezes— ele irritava ela por diversão.

Patrick era um maroto, disso ela tinha certeza. Ele era diferente dos gêmeos, sua forma de ser um maroto era apenas em ser inteligente e irritar as pessoas falando sobre coisas que ele observava delas ou em apenas ter aquele sorriso pateta em seu rosto. E era verdade, se Teresa o deixasse sozinho por muito tempo em um dia ele iria receber muitos socos naquele nariz. Mas, por mais que não parecesse, ele era bastante protetor também – apesar de mostrar mais o seu lado medroso para os outros –, se fosse necessário ele protegeria Teresa em um piscar de olhos, e nas últimas semanas Sophie percebeu que ela havia entrado naquela pequena lista de protegidas dele também, mas ele não usaria a força física, ele atacaria com palavras, ele seria capaz de diminuir uma pessoa em um cinco minutos com apenas palavras.

Em quinto, Castiel Collins. Ela o conheceu ainda no primeiro ano, ele tinha dois extremos, em um dia ele era um rapaz tímido e quieto, no outro dia ele apareceria correndo atrás de Patrick com uma vassoura e cantando "Over the Rainbow" do IZ, com Patrick ao lado dele dançando balé. Muitas vezes Sophie se assustava com qual desses extremos ela encontraria no dia – principalmente o violento e cantor.

Castiel era realmente muito parecido com Charles, tanto é que o grupo estava realmente os chamando de gêmeos perdidos. Mas era aí que as semelhanças acabavam, pois mesmo o Castiel tímido era mais tagarela que o Charles. O lado bom nisso, era que o Collins dava bastante incentivo para o Francis falar mais e a se divertir mais. Sophie agradecia Cas todos os dias por isso.

E se tinha uma coisa que a Potter achava adorável em Castiel, era como ele não sabia mentir. Uma mentirinha branca ele não era capaz de fazer.

Em sexto, a praga mais praga de todos do grupo, Dean Winchester.

Dean, assim como Castiel, ela conheceu no primeiro ano de Hogwarts. E ele foi insuportável para com ela desde do início, fazendo gracinha, mostrando a língua para ela quando ela tomava esporro de Snape nas primeiras aulas e tudo mais. Particularmente, ela tinha certeza que o Winchester não gostava dela. Mas então em um dia quando Flint foi bem rude com ela, Dean era o único por perto e não perdeu tempo em defendê-la, e bater de frente com uma garoto mais velho com cara de trasgo foi o suficiente para ela entender que Dean gostava dela e que ser insuportável era o jeito dele de mostrar isso.

— Posso me sentar com você?

Sophie olhou para o lado e sorriu para Jorge que já estava se sentando ao seu lado sem dar tempo para ela responder.

— Já sentou mesmo. – disse ela sorrindo.

Eles ficaram em silêncio observando o lago por dois minutos até Jorge perguntar:

— O que faz aqui sozinha?

— Pensando. – ela respondeu com um suspiro. – Sobre como nossa família cresceu este ano.

— Está sendo ótimo, não está? – perguntou Jorge sorrindo. – Patrick é o meu favorito.

— Não diga isso para ele, vai apenas aumentar o ego. – riu Sophie.

— E nele? – perguntou Jorge novamente fazendo Sophie olhar para ele confusa. – Ainda pensa nele? – apontou para a corrente que ela ainda acariciava.

— Todos os dias. – respondeu ela cheia de saudade. – Eu prometi que nunca iria esquecê-lo, sabe? Só queria mais tempo.

— Eu fui o único a ver a interação de vocês de perto. – começou o Weasley voltando a olhar para o lago. – Você sabe que do meu gêmeo, eu sou o mais observador, e o que eu observava era algo bem além do tempo.

— O que quer dizer? – ela questionou, se lembrando do sonho que teve ainda no começo de Setembro.

— Quero dizer que o que eu vi, não chega aos pés do que eu vejo com você é o Fred. – respondeu ele e Sophie choramingou.

— Até você?! – ela exclamou surpresa.

— Oh, mais alguém já falou sobre isso antes?

— Patrick, Teresa, Charles, Erik, Castiel e Dean. – respondeu ela em forma de resmungo.

— Poxa, e eu pensando que seria o primeiro. – ele deu de ombros. – Mas bem, isso só mostra mais ainda o meu ponto. Vocês dois é um erro.

— Ele é o seu irmão.

— Sim, e você é minha irmã. – retrucou ele. – Por parte de mim pelo menos, não vamos encarar isso muito literalmente senão vocês dois seria algo meio encestuoso. – eles fizeram careta um para o outro. – De qualquer forma, ele ser o meu irmão só me dá mais certeza que é um erro. Eu o conheço melhor que ninguém, fui o primeiro para quem ele falou sobre te pedir em namoro e já deixo claro que mostrei meu descontamento desde do início.
“Ele escutou o Jordan falando sobre namoro e bam! Decidiu que estava na hora de começar a namorar também e é claro que tinha que ser você! Ele já te conhece desde do primeiro trem, você é segura para ele pedir em namoro e você aceitar. E foi o que aconteceu.”

— E isso é errado? Quero dizer... Conhecemos um ao outro... – Sophie disse timidamente.

— Sophie, ele não viu o que eu via com você e o David. Se tivesse visto um por cento do que vi, teria vergonha na cara de pensar em te pedir em namoro. - retrucou Jorge exasperado.

— Eu e o David somos amigos! Nunca conversamos, nunca nos conhecemos realmente...

— Isso não é verdade e você sabe disso. – retrucou Jorge. – Vocês conversavam pela tinta das palavras, ele te contava coisas e você contava coisas para ele, você mesmo me disse isso. E tudo bem, você são amigos, mas se ele tivesse tido mais tempo aqui em Hogwarts, olha eu não tenho dúvida que hoje em dia ou daqui a três anos, você e ele seriam o casal mais meloso desse mundo.

— Jorge... – a Potter suspirou colocando as mãos no rosto.

— Olha, eu só estou dizendo tudo isso porque estou preocupado. – continuou Jorge mais calmo. – Eu conheço Fred, e eu sei que ele está se fazendo de cego de propósito para o seu desconforto. Tess, Pat, Cas e Dean já viram isso, Harriet ainda não porque ainda está procurando queijo na lua, mas se eu e mais quatro integrantes deste grupo, seis contado seu irmão e minha irmã, viram isso, você acha mesmo que Fred já não viu?
“Ele está se fazendo de cego porque ele não quer lidar com as consequências da idiotice que fez, e também porque agora ele tem uma namorada é como um pavão se exibindo para os outros garotos, e garotos são idiotas, Sophie. Mesmo eu sou idiota. Mas o Fred é mais.”

Sophie riu baixo tristemente e dopois soltou outro suspiro trêmulo.

— E certo, talvez você esteja certa e esse relacionamento dure. Talvez no meio do caminho essa estranheza toda desapareça e vocês irão fazer um casal fofo. – continuou o Weasley. – Mas, eu sei, que em algum momento ele vai fazer ou vai dizer besteiras. E uma dessas besteiras vai ser tão grande que até eu vou querer dar um soco na cara dele. E em algum momento neste namoro, ele vai pedir para você tirar essa corrente que outro rapaz te deu por puro ciúmes. A questão é, você tiraria se ele pedisse?

— Eu não tiraria essa corrente nem mesmo se o Remus me pedisse, Jorge. – respondeu Sophie séria. – Ela se tornou parte de mim.

— Fico feliz em ouvir isso. – Jorge sorriu para ela.

Sophie ficou em silêncio e com a voz embargada sussurrou:

— Queria que minha mãe estivesse aqui.

Jorge olhou triste para ela.

— Ela saberia o que fazer. – Sophie abaixou a cabeça, deixando lágrimas silenciosas caírem.

Aslan na mesma hora se levantou de onde estava deitado e foi até ela, deitando no colo dela como apoio. Sophie abraçou seu leão com força, quase da mesma forma que abraçava o antigo de pelúcia que ela tinha. E Jorge abraçou ela de lado.

— Eu sei, leoa. – ele sussurrou triste. – Eu também queria que ela e seu pai estivessem aqui. Tenho certeza que os dois teriam chutado a bunda do meu gêmeo idiota tão forte que ele não sentaria durante bons anos.

Sophie riu e concordou.

— Obrigada, Jorge.

— De nada, Sophie.

 

•°•°•°°•TDWTS•°°•°•°•


Outubro chegou, espalhando, pelos jardins, uma friagem úmida que entrava pelo castelo. Madame Pomfrey, a enfermeira, esteve muito ocupada com uma repentina onda de gripe entre professores, funcionários e alunos. Sua poção reanimadora fazia efeito instantâneo, embora deixasse quem a bebia fumegando pelas orelhas durante muitas horas. Gina Weasley, que andava pálida, foi intimada por Percy a tomar a poção. A fumaça saindo por baixo dos seus cabelos muito vivos dava a impressão de que a cabeça inteira estava em chamas.

Gotas de chuva do tamanho de balas de revólver fustigavam as janelas do castelo durante dias seguidos; as águas do lago subiram, os canteiros de flores viraram um rio lamacento, e as abóboras de Hagrid ficaram do tamanho de um barraco. O entusiasmo de Olívio Wood pelas sessões de treinamento regulares, no entanto, não esfriou, razão por que Harry pôde ser encontrado, no fim de uma tarde de sábado tempestuosa, nas vésperas do Dia das Bruxas, voltando à Torre da Grifinória, encharcado até os ossos e coberto de lama.

Enquanto andava ele se permitiu pensar novamente sobre a voz que havia escutado em sua detenção com Lockhart. Ele havia contado para Sophie – que ficou bastante preocupada – e eles dois contaram para todo o grupo sobre a visita de Dobby, o elfo doméstico. Cada um deles tinham uma teoria para dizer – menos Patrick e Erik que prefeririam ficar em silêncio pensativo. E depois de dois dias sem escutar mais nenhuma voz, todos chegaram ao com censo de que havia sido o sono que o fez escutar a voz.

Todos, menos ele. Ele tinha certeza que não estava com tanto sono ao ponto de escutar vozes, principalmente vozes que diziam querer matar alguém.

Quando Harry vinha acabrunhado pelo corredor deserto encontrou alguém que parecia tão preocupado quanto ele. Nick Quase Sem Cabeça, o fantasma da Torre da Grifinória, olhava desanimado pela janela, murmurando para si mesmo “... não satisfaz os requisitos... pouco mais de um centímetro, se tanto...”.

— Oi, Nick – cumprimentou Harry.

— Olá, olá. – Assustou-se ele olhando para os lados. Usava um elegante chapéu emplumado sobre a longa cabeleira crespa e uma túnica com rufos, que escondia o fato do seu pescoço estar quase completamente separado da cabeça. Nick era transparente como fumaça, e Harry via através dele o céu escuro e a chuva torrencial lá fora.

“Você parece preocupado, jovem Potter”, disse Nick, dobrando, ao falar, uma carta transparente e guardando-a no interior do gibão.

— Você também – disse Harry.

— Ah – Nick Quase Sem Cabeça fez um aceno com a mão elegante –, uma questão de menor importância... Não é que eu queira realmente entrar... Achei que devia me candidatar, mas pelo visto “não satisfaço as exigências”...

Apesar do seu tom leve, tinha no rosto uma expressão de muita amargura.

— Mas a pessoa pensaria, não é – disse ele de repente, tirando mais uma vez a carta do bolso –, que ter levado quarenta e cinco golpes de machado cego no pescoço qualificaria alguém a entrar para a Caça Sem Cabeça?

— Ah, sim – respondeu Harry, que obviamente deveria concordar.

— Quero dizer, ninguém gostaria mais do que eu que o corte tivesse sido rápido e limpo, e que minha cabeça tivesse realmente caído, quero dizer, teria me poupado muita dor e ridículo. No entanto... – Nick Quase Sem Cabeça abriu a carta com uma sacudidela e leu furioso:

Só podemos aceitar caçadores cujas cabeças tenham se separado dos corpos. O senhor compreenderá que, do contrário, seria impossível os sócios participarem das atividades de caça como Balanço de Cabeça a Cavalo e Polo de Cabeça. É com o maior pesar, portanto, que devemos informar-lhe que o senhor não satisfaz as nossas exigências. Com os nossos cumprimentos, Sir Patrício Delaney-Podmore.

Espumando de raiva, Nick Quase sem cabeça guardou a carta.

— Pouco mais de um centímetro de pele e um tendão seguram minha cabeça, Harry! A maioria das pessoas acharia que fui decapitado, mas ah, não, não é o bastante para o Sr. Realmente Decapitado Podmore.

Nick Quase Sem Cabeça respirou fundo várias vezes e então disse, num tom muito mais calmo:

— Então... o que é que o está preocupando? Tem alguma coisa que eu possa fazer?

— Não – disse Harry. – Mas, sabe, você podia conversar com a Sophie, tenho certeza que ela acabaria com esse tal de Podmore.

— Ah, disso não tenho dúvidas, jovem Potter. Sua irmã é a leoa mais feroz que tive a honra de conhecer! Puxou sua mãe, eu lhe digo...

O resto do que Nick ia dizer foi abafado por um miado agudo de alguém junto aos seus calcanhares. Ele olhou e deu com um par de olhos amarelos que mais pareciam globos de luz. Era Madame Nor-r-ra, a gata esquelética e cinzenta que o zelador, Argo Filch, usava como uma espécie de delegada na sua luta incansável contra os estudantes.

 

— É melhor você sair daqui, Harry – disse Nick depressa. – Filch não está de bom humor, pegou a gripe, e uns alunos do terceiro ano sem querer grudaram miolos de sapo pelo teto da masmorra cinco. Ele esteve limpando a manhã inteira e se vir você pingando lama para todo lado...


— Certo – disse Harry se afastando do olhar acusador de Madame Nor-r-ra, mas não foi suficientemente rápido.

Atraído ao local pela força misteriosa que parecia ligá-lo àquela gata nojenta, Argo Filch irrompeu de repente pela tapeçaria à direita de Harry, chiando furioso à procura do infrator. Trazia um lenço de grossa lã escocesa amarrado à cabeça e seu nariz estava estranhamente purpúreo.

— Sujeira! – gritou, os maxilares tremendo, os olhos assustadoramente saltados, apontando a poça de lama que pingava das vestes de quadribol de Harry. – Bagunça e sujeira por toda parte! Para mim, chega, é o que lhe digo. Venha comigo, Potter!

Então Harry acenou um triste adeus a Nick Quase Sem Cabeça e acompanhou Filch ao andar de baixo, duplicando o número de pegadas de lama no assoalho.

Harry nunca estivera no interior da sala de Filch antes; era um lugar que a maioria dos estudantes evitava. O local era encardido e escuro, sem janelas, iluminado por uma única lâmpada de óleo pendurada no teto baixo. Um leve cheiro de peixe frito impregnava a sala.

Arquivos de madeira estavam dispostos ao longo das paredes; pelas etiquetas, Harry pôde ver que continham detalhes sobre cada aluno que Filch já castigara. Fred e Jorge, tinham uma gaveta separada.

Uma coleção muitíssimo polida de correntes e algemas estava pendurada na parede atrás da mesa de Filch. Era do conhecimento geral que ele estava sempre pedindo a Dumbledore que o deixasse pendurar os alunos no teto pelos tornozelos.

Filch pegou uma pena no tinteiro em cima da mesa e começou a procurar um pergaminho.

— Bosta – resmungou furioso –, bosta frita de dragão... miolos de sapos... tripas de ratos... Para mim já chega... vou fazer disto um exemplo... onde está o formulário... aqui...

Ele retirou um grande rolo de pergaminho da gaveta da escrivaninha e abriu-o à sua frente, mergulhando a longa pena negra no tinteiro.

Nome: Harry Potter. Crime: estar podre...

— Foi só um pouquinho de lama! – exclamou Harry.

— Foi só um pouquinho de lama para você, moleque, mas para mim é mais uma hora de limpeza! – gritou Filch, uma gota nojenta estremecendo na ponta do nariz de bolota. – Crime: estar podre e sujar o castelo. Sentença sugerida:...

Filch, secando o nariz sempre a pingar, lançou um olhar desagradável a Harry, que esperava prendendo a respiração, a sentença desabar sobre sua cabeça. Mas quando Filch baixou a pena, ouvi-se um forte estampido no teto da sala, que fez a lâmpada a óleo chocalhar.

— PIRRAÇA! – rugiu Filch, atirando a pena no chão num assomo de raiva. – Desta vez eu te pego, eu te pego!

E sem nem olhar para Harry, Filch saiu correndo da sala, com Madame Nor-r-ra do lado. Pirraça era o poltergeist da escola, uma ameaça aérea e sorridente que vivia a provocar desordem e aflição. Harry não gostava muito do Pirraça, mas não pôde deixar de se sentir grato pelo seu senso de oportunidade. Era de esperar, seja o que for que Pirraça tivesse feito (e parecia que desta vez estragara alguma coisa muito importante), desviasse a atenção de Filch de Harry.

Achando que devia provavelmente esperar Filch voltar, Harry afundou em uma cadeira comida por traças ao lado da escrivaninha. Sobre ela só havia uma coisa além do formulário incompleto: um envelope roxo, grande e brilhante com letras prateadas na face. Com uma olhada rápida à porta para ver se Filch já estava voltando, Harry apanhou o envelope e leu:

 

FEITICEXPRESSO
Um curso de magia por correspondência para principiantes

 

 

Intrigado, Harry sacudiu o envelope aberto e puxou o maço de pergaminhos que havia dentro, com inscrições prateadas dizendo:


Você se sente antiquado no mundo da magia moderna? Vê-se inventando desculpas para não executar feitiços simples?
Ouve caçoadas por manejar tão mal uma varinha de condão?
Temos a solução!

Feiticexpresso é um curso inteiramente novo, que garante resultados rápidos e fácil assimilação.
Centenas de bruxos e bruxas já se beneficiaram com o método do Feiticexpresso!

Madame Z. Nettles of Topsham nos escreve:
Eu não tinha memória para guardar encantamentos e minhas poções eram motivo de riso na família!
Agora, depois do curso Feiticexpresso, sou o centro das atenções nas festas, e meus amigos me pedem a receita da Minha Solução Cintilante!

Bruxo D. J. Prod of Didsbury nos conta: “Minha mulher costumava caçoar dos meus feitiços pouco eficazes, mas depois de um mês no seu fabuloso Feiticexpresso consegui transformá-la num iaque! Muito obrigado, Feiticexpresso!”

 

Fascinado, Harry correu os dedos pelo resto do conteúdo do envelope. Para que na vida Filch queria um curso Feiticexpresso? Será que isto queria dizer que ele não era um bruxo formado? Harry estava começando a ler a “Lição Um: Como segurar sua varinha (Algumas dicas úteis)” quando o ruído de passos arrastados pelo corredor lhe avisara que Filch estava voltando. Harry enfiou o pergaminho de volta no envelope e atirou-o sobre a mesa pouco antes da porta se abrir.

 

 

Filch exibia um ar triunfante.

 

 

— Aquele armário que desaparece foi muitíssimo valioso! – disse todo alegre à Madame Nor-r-ra. – Vamos acabar com o Pirraça desta vez, minha doce...

 

 

Seus olhos pousaram em Harry e daí correram para o envelope do Feiticexpresso que, o garoto percebeu tarde demais, fora colocado meio metro mais longe do que estava antes.

 

 

A cara cerosa de Filch ficou vermelho-tijolo. Harry se preparou para uma maré de fúria. Filch capengou até a escrivaninha, agarrou o envelope e jogou-o dentro de uma gaveta.

 

 

— Você... você leu...? – gaguejou.

 

 

— Não – mentiu Harry depressa.

 

 

Filch torcia as mãos nodosas.

 

 

— Se eu sonhar que você leu a minha, minha não, a correspondência de um amigo, seja como for, mas...

 

 

Harry olhava fixo para ele, assustado; Filch nunca parecera mais furioso. Seus olhos saltavam, um tique nervoso estremecia sua bochecha mole, e o lenço escocês não melhorava sua aparência.

 

 

— Muito bem, pode ir, e não diga uma palavra, não que... mas, se você não leu, vá logo, tenho que fazer o relatório sobre o Pirraça, vá...

 

 

Espantado com a sua sorte, Harry saiu correndo da sala e tomou o corredor de volta para o saguão. Escapar da sala de Filch sem castigo provavelmente era uma espécie de recorde na escola.

 

 

— Harry! Harry! Funcionou?

 

 

Nick Quase Sem Cabeça saiu deslizando de uma sala de aula. Atrás dele, Harry pôde ver os destroços de um grande armário preto e dourado que parecia ter sido jogado de uma grande altura.

 

 

— Convenci Pirraça a largá-lo bem em cima da sala de Filch – disse Nick ansioso. – Achei que iria distraí-lo...

 

 

— Aquilo foi você? – perguntou Harry, grato. – Funcionou sim, eu não peguei nem uma detenção. Obrigado, Nick!

 

 

Os dois saíram juntos pelo corredor. Nick Quase Sem Cabeça, Harry reparou, ainda segurava a carta de recusa de Sir Patrício.

 

 

— Eu gostaria de poder fazer alguma coisa sobre a Caça Sem Cabeça – comentou Harry.

 

 

Nick Quase Sem Cabeça parou de repente, e Harry passou por dentro dele. Gostaria de não ter feito isso; era como entrar embaixo de um chuveiro gelado.

 

 

— Mas tem uma coisa que você pode fazer por mim – disse Nick animado. – Harry, seria pedir muito, mas, não, você não iria...

 

 

— Aonde?

 

 

— Bem, este Dia das Bruxas será o meu quingentésimo aniversário de morte – disse Nick Quase Sem Cabeça, empertigando-se com o ar solene.

 

 

— Ah! – exclamou Harry, sem saber se devia fazer cara triste ou alegre com a notícia. – Para...béns?

 

 

— Obrigado. Estou dando uma festa em uma das masmorras maiores. Vêm amigos de todo o país. Seria uma honra tão grande se você pudesse comparecer! O Sr. Weasley e a Srta. Granger também seriam muito bem-vindos, assim como Sophie e seu grupo é claro, mas você não vai preferir comparecer à festa da escola? - Ele observava Harry.

 

 

— Não – disse Harry depressa –, eu vou, Mione e Rony também!

 

 

— Meu caro rapaz! Harry Potter no meu aniversário de morte! E... – hesitou, parecendo agitado – você acha que seria possível mencionar a Sir Patrício que me acha muito assustador e impressionante?

 

 

— Claro... claro.

 

 

O rosto de Nick Quase Sem Cabeça se abriu num grande sorriso.

 

 

•°•°•°°•TDWTS•°•°•°°•

 

 

— Aniversário de morte? – perguntou Harriet após Harry contar sobre o pedido de Nick durante o café-da-manhã. – Poxa tem que ter muito orgulho de tal data.

 

 

— É meio mórbido, não? – questionou Teresa com uma careta.

 

 

— Não quando é o aniversário de quingentésimo anos. – respondeu Rony dando de ombros.

 

 

— E deixa eu ver se entendi, você disse para ele que todos nós iríamos? – perguntou Sophie com a testa franzida para o irmão.

 

 

— Não – todos relaxaram – eu disse para ele que Mione e Rony iriam comigo.

 

 

— Oi?! – gritaram o Weasley e a Granger. – Por que?! - perguntou Rony.

 

 

— Eu não quero ir sozinho e com certeza não iria negar um pedido tão simples para o Nick depois dele ter salvado a minha pele do Filch. – respondeu Harry. – Não faz essa cara, vai ser legal.

 

 

— Ata. – murmurou Rony.

 

 

Harry estava prestes a contar sobre o Feiticexpresso para o grupo quando Simas Finnigan explodiu a torta de pêra fazendo vários pedaços espalharam por todo o salão, e Filch que estava passando naquele momento soltou um grito tão assustador que todos do grupo saíram correndo para lados diferentes o mais longe possível do Grande Salão, e Harry acabou esquecendo.

 

 

•°•°•°°•TDWTS•°°•°•°•


Eles estavam num canto bem confortável da biblioteca. Sophie estava deitada com a cabeça nas coxas de Teresa e Harriet estava com a cabeça deitada na coxa da ruiva. Patrick estava dormindo ao lado delas e Castiel estava lendo com Charles um livro sobre faunos enquanto Erik estava cochilando um pouco escorado no Francis. E então Dean chegou.

— Gente, eu sou um idiota. – disse o Winchester se sentando ao lado do Erik que nem abriu os olhos.

Nenhum deles disse nada para Dean, ignorando-o completamente. O rapaz ergueu a sobrancelha esquerda para eles:

— Gente, eu sou um idiota.

Castiel e Charles continuaram lendo o livro não fazendo questão nem de olhar no rosto do sonserino. Patrick e Erik continuavam com os olhos fechados, e as garotas também nem olhavam para ele.

Dean, já estava se sentindo ofendido e até mesmo já estava planejando fazer um grande drama para aqueles que deveriam ser seus amigos e prestarem a atenção neles, disse novamente mais alto:

— Galera, eu sou um...

— Dean se você está esperando que eu, ou qualquer um de nós, discorde disso que você está dizendo então ficaremos aqui por um bom tempo com você repetindo ser um idiota. O que, se não ficou claro, nós concordamos com você. – Erik disse por fim ainda com os olhos fechados.

Dean suspirou.

— Eu to no grupo certo mesmo. – sussurrou ele.

— Sophie?

Sophie se voltou para a voz e viu Benjamin Greenfire parado de pé próximo de onde eles estavam. Parecia um tanto sem jeito porém com uma postura decidida de alguém que tinha que falar com ela.

— Olá, Ben. – ela cumprimentou. – Precisa de algo?

— Será... Eu posso falar com você? – ele perguntou sério.

— Claro. – ela se levantou e foi até ele. Os dois saíram da biblioteca, ficando no corredor. – O que houve?

— Eu... Eu não sabia com quem falar sobre isso, e a Gina vive falando de você então achei melhor do que com os irmãos dela. – disse o garoto parecendo nervoso agora.

— O que tem a Gina? Ela está bem? – Sophie perguntou preocupada.

— Eu não sei. - ele respondeu. – Ela tem andado estranho nos últimos dias, bastante pálida e não sei... É diferente da garota que eu conheci no trem.

Sophie se encostou na parede pensativa.

— Com tantas lições acontecendo eu nem parei para prestar atenção nela. – comentou a Potter baixinho. – Ela não pegou aquela gripe?

— Percy já fez ela tomar o remédio. Não pode ser a gripe. – respondeu Benjamin.

— Mas faz a pouco tempo, não faz? – ela perguntou novamente e o agora acenou confirmando. – Espera aqui. – ela voltou para a biblioteca onde o grupo estava. – Erik, pode vir aqui? – ela chamou.

Erik abriu os olhos e após bocejar e se espreguiçar se levantou e foi até ela.

— Diga.

— Você pretende ser medibruxo, certo? – ela perguntou enquanto iam para fora da biblioteca.

— Sim.

— Então já sabe algumas coisas sobre medicina, não é? – perguntou a ruiva novamente e Erik confirmou com a cabeça. – Certo, o Ben aqui disse que a Gina tem andado estranha, bastante pálida, né Ben?

— Isso. – concordou o Greenfire.

— E ela pegou aquela gripe não faz muito tempo...

— Já tomou o remédio? – perguntou Erik cruzando os braços.

— Sim. – respondeu Sophie. – Poderia ser efeito do remédio? Você me disse uma vez que existem remédios que causam alguns efeitos colaterais dependendo da pessoa.

— Bem, sim, existem. – concordou Erik. – Se faz pouco tempo que ela tomou o remédio...

— No meio desse mês. – disse Ben prontamente.

— Então é bem provável que seja isso. – confirmou Erik. – Não vai durar muito, daqui a alguns dias ela estará bem.

— Obrigada, Erik. - ela agradeceu ao amigo que apenas piscou para ela e voltou-se para dentro. – Bem, nada para se preocupar então.

— Sim, fico mais aliviado. – suspirou Benjamin sorrindo. – Obrigado, Sophie.

— Eu que agradeço, Ben. Gina é minha garota favorita, qualquer coisa que acontecer com ela, por favor me diga, sim? – ela pediu. – Obrigada por cuidar dela.

 

•°•°•°°•TDWTS•°•°•°°•


Até chegar o Dia das Bruxas, Harry já se arrependera de sua promessa precipitada de ir à festa do aniversário de morte. O resto da escola estava animado com a proximidade da Festa das Bruxas; o Salão Principal fora decorado com os morcegos vivos de sempre, as enormes abóboras de Hagrid tinham sido recortadas para fazer lanternas tão grandes que cabiam três homens dentro, e havia boatos de que Dumbledore contratara uma trupe de esqueletos dançarinos para divertir o pessoal.

— O que fazemos quando nos arrependemos das promessas que fazemos? – perguntou Harry para Sophie uma noite antes da festa.

— Cumprimos mesmo assim. – respondeu ela sorrindo. – Você que lute, querido irmão.

Então, às sete horas, Harry, Rony e Mione passaram direto pela porta do Salão Principal apinhado de gente, que brilhava convidativo com pratos de ouro e velas, e tomaram o caminho das masmorras.

O corredor que levava à festa de Nick Quase Sem Cabeça tinha sido iluminado, também, com velas em toda a sua extensão, embora o efeito não fosse nada alegre: eram velas longas, finas e pretas, de luz azul, que projetavam uma claridade fantasmagórica mesmo nos rostos de gente viva. A temperatura caía a cada passo que davam. Quando Harry estremeceu e puxou as vestes mais para junto do corpo, ouviu um som que lembrava mil unhas arranhando um imenso quadro-negro.

— Será que isso é música?— cochichou Rony.

Eles dobraram um canto e viram Nick Quase Sem Cabeça parado em um portal adornado com reposteiros de veludo negro.

— Meus caros amigos – disse ele pesaroso. – Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos... fico tão contente que tenham podido vir...

E tirou o chapéu emplumado fazendo uma reverência e indicando a porta. Era uma cena incrível. A masmorra continha centenas de pessoas esbranquiçadas e translúcidas, a maioria deslizando por uma pista de dança, valsando ao som medonho de trinta serrotes musicais, tocados por uma orquestra reunida em cima de uma plataforma drapeada de negro. Um lustre no alto projetava uma luz azul-meia-noite com outras mil velas negras.

A respiração dos garotos se condensava, formando uma névoa à frente deles; parecia que estavam entrando em uma câmara frigorífica.

— Vamos dar uma circulada? – sugeriu Harry, querendo esquentar os pés.

— Cuidado para não atravessar ninguém – recomendou Rony, nervoso, e os três saíram contornando a pista de dança.

Passaram por um grupo de freiras soturnas, um homem vestido de trapos que usava correntes e o Frei Gorducho, um alegre fantasma da Lufa-Lufa, que conversava com um cavalheiro que tinha uma flecha espetada na testa.

Harry não se surpreendeu ao ver que os outros fantasmas davam distância ao Barão Sangrento, um fantasma da Sonserina, muito magro, de olhos arregalados e coberto de manchas de sangue prateado.

— Ah, não! – exclamou Mione, parando de repente. – Deem meia-volta, deem meia-volta, não quero falar com a Murta Que Geme...

— Quem? – perguntou Harry ao retrocederem.

— Ela assombra um boxe no banheiro das meninas no primeiro andar – disse Mione.

— Ela assombra um boxe?

— É. O boxe esteve quebrado o ano inteiro porque ela não para de ter acessos de raiva e inundar o banheiro. Eu nunca entrei lá sempre que pude evitar; é horrível tentar fazer xixi com ela gemendo do lado...

— Olhem, comida! – exclamou Rony.

 

Do lado oposto da masmorra havia uma longa mesa, também coberta de veludo negro. Eles se aproximaram pressurosos mas no instante seguinte pararam de chofre, horrorizados. O cheiro era bem desagradável. Grandes peixes podres estavam dispostos em belas travessas de prata; bolos carbonizados estavam arrumados em salvas; havia uma grande terrina de picadinho de miúdos de carneiro cheio de vermes, um pedaço de queijo coberto de uma camada de mofo esverdeado e, o orgulho do bufê, um enorme bolo cinzento em forma de sepultura, com os dizeres em glacê de asfalto:

 

 


SIR NICOLAS DE MIMSY-PORPINGTON
FALECIDO EM 31 DE OUTUBRO DE 1492.

 

 


Harry observou, espantado, um fantasma imponente se aproximar da mesa, abaixar-se e atravessá-la, a boca aberta de modo a engolir um salmão fedorento.

 

 

— O senhor pode provar a comida quando a atravessa? – perguntou-lhe Harry.

 

 

— Quase – respondeu o fantasma triste e se afastou.

 

 

— Imagino que tenham deixado o peixe apodrecer para acentuar o gosto – disse Mione em tom de quem sabe das coisas, apertando o nariz e se debruçando para examinar o picadinho pútrido.

 

 

— Podemos ir andando? Estou me sentindo enjoado – disse Rony.

 

 

Nem bem tinham se virado, porém, quando um homenzinho saiu voando de repente de debaixo da mesa e parou no ar diante deles.

 

 

— Alô, Pirraça – cumprimentou Harry cauteloso.

 

 

Ao contrário dos fantasmas à volta, Pirraça, o poltergeist, era o oposto de pálido e transparente. Usava um chapéu de festa laranja-vivo, uma gravata-borboleta giratória e exibia um largo sorriso no rosto largo e maldoso.

 

 

— Aperitivos – disse simpático, oferecendo aos garotos uma tigela de amendoins cobertos de fungo.

 

 

— Não, muito obrigada – disse Mione.

 

 

— Ouvi você falando da coitada da Murta – disse Pirraça, os olhos dançando. – Que grosseria com a coitada. – Ele tomou fôlego e berrou: – OI! MURTA!

 

 

— Ah, não, Pirraça, não conte a ela o que eu disse, ela vai ficar realmente chateada – cochichou Mione frenética. – Não falei por mal, ela não me incomoda, ah, alô, Murta.

 

 

O fantasma atarracado de uma moça deslizou até eles. Tinha a cara mais triste que Harry já vira, meio oculta por cabelos escorridos e espessos, e óculos perolados.

 

 

— Que foi? – perguntou aborrecida.

 

 

— Como vai, Murta? – cumprimentou Mione fingindo animação. – Que bom ver você fora do banheiro.

 

 

Murta fungou.

 

 

— A Srta. Granger estava mesmo falando em você... – disse Pirraça sonsamente ao ouvido da Murta.

 

 

— Só estava dizendo... dizendo... como você está bonita esta noite – completou Mione, fechando a cara para Pirraça.

 

 

Murta olhou para Mione desconfiada.

 

 

— Você está caçoando de mim – disse, lágrimas prateadas marejando rapidamente os seus olhos penetrantes.

 

 

— Não, sério, eu não acabei de falar como a Murta está bonita? – falou Mione, cutucando dolorosamente Harry e Rony nas costelas.

 

 

— Ah, claro...


— Falou...

— Não mintam para mim! – exclamou Murta, as lágrimas agora escorrendo livremente pelo rosto, enquanto Pirraça, feliz, dava risadinhas por cima do ombro dela. – Vocês acham que não sei como as pessoas me chamam pelas costas? Murta Gorda! Murta Feiosa Murta infeliz, chorona, apática!

— Você esqueceu do espinhenta – sibilou Pirraça ao ouvido dela.

A Murta Que Geme prorrompeu em soluços aflitos e fugiu da masmorra. Pirraça disparou atrás dela, jogando amendoins mofados e gritando:

— Espinhenta! Espinhenta!

— Ah, meu Deus! – lamentou-se Hermione.

Nick Quase Sem Cabeça agora deslizava por entre os convidados em direção aos garotos.

— Estão se divertindo?

— Ah, claro – mentiram.

 

•°•°•°°•TDWTS•°•°•°°•


— Não devemos guardar um pouco de comida para os três? – Charles perguntou para Sophie.

— Bem lembrado, Charles. – concordou Sophie. – Mas até encontrarmos com eles a comida já vai ta fria. É melhor deixar para mais tarde irmos para a cozinha.

Aslan, que estava sentado lado dela comendo, parou de comer de repente e olhou em volta, sua postura mudando completamente. Ele saiu do banco e ficou de pé parado olhando para o teto, mostrando os dentes e rosnando, estava claramente em pose de ataque.

— Sophie o que ele tem? – perguntou Dean olhando curioso para o leão.

— Eu não sei. – respondeu Sophie sentindo um arrepio na espinha. – Mas tenho um mau pressentimento. Aslan. – o leão olhou para ela. – O que foi?

Era impressionante o quão expressivo os olhos daquele leão poderiam ser, olhando para ela, aqueles olhos mostravam preocupação para com ela, como se estivesse com medo de que algo acontecesse com ela. Ele colocou ficou de pé com duas patas, colocando as duas da frente nos ombros dela, e se ela estava entendendo bem o que aquele felino estava querendo dizer, então era para ela ficar sentada ali.

Aslan tocou o nariz dela com o focinho antes de se afastar, e voltando para sua pose ameaçadora, rosnou alto para o teto e saiu correndo para fora do Grande Salão.

Sophie ainda estava sem entender e confusa.

— Sophie? O que foi isso? – Harriet perguntou preocupada.

A Potter saiu da confusão e olhou para os amigos que estavam com os rostos tão confusos quanto ela estava. A ruiva então olhou na direção de Dumbledore e viu que o mesmo estava olhando para ela.

— Algo ruim.

 

•°•°•°°•TDWTS•°°•°•°•


— Não dá para aguentar muito mais que isso – murmurou Rony, os dentes batendo, quando a orquestra tornou a entrar em ação, e os fantasmas voltaram à pista de dança. – Estou com fome e com frio. Estou morrendo.

— Vamos – concordou Harry.

Os três saíram em direção à porta, acenando com a cabeça e sorrindo para todos que olhavam, e um minuto depois estavam andando depressa pelo corredor cheio de velas.

— Talvez o pudim ainda não tenha acabado – disse Rony esperançoso, seguindo à frente em direção à escada do saguão de entrada.

E então Harry ouviu.

“... rasgar... romper... matar...

Era a mesma voz, a mesma voz gélida e assassina que ouvira na sala de Lockhart.

Ele parou quase tropeçando, apoiando-se na parede de pedra, escutando com toda a atenção, olhando para os lados, apertando os olhos para ver nos dois sentidos do corredor mal iluminado.

— Harry, que é que você...?

— É aquela voz de novo, fiquem quietos um minuto...

“... tanta fome... tanto tempo...

— Ouçam! – disse Harry com urgência, e Rony e Mione pararam, observando-o.

“... matar... hora de matar...

A voz foi ficando mais fraca. Harry tinha certeza de que estava se afastando – se afastando para o alto. Uma mistura de medo e excitação se apoderou dele ao fixar o olhar no teto escuro; como é que ela podia estar se afastando para o alto? Seria um fantasma, para quem tetos de pedra não faziam diferença?

— Por aqui – gritou ele e começou a subir correndo as escadas para o saguão.

Não adiantava querer ouvir nada ali, o vozerio na festa do Salão Principal ecoava pelo saguão. Harry subiu correndo a escadaria de mármore até o primeiro andar, com Rony e Mione nos seus calcanhares.

— Harry, que é que estamos...

— PSIU!

Harry apurou os ouvidos. Longe, vinda do andar de cima, e cada vez mais fraca, ele ouviu a voz:

... O leão... Inimigo... Venha para mim... Sinto cheiro de sangue... SINTO CHEIRO DE SANGUE!

Sentiu o coração gelar assim como todo o corpo.

— Vai matar o Aslan! – gritou ele, e sem dar atenção aos rostos perplexos de Rony e Mione, subiu correndo o lance seguinte de escada, três degraus de cada vez, tentando escutar apesar do barulho que seus passos faziam...

 

De repente, um enorme e forte rugido estourou no ar fazendo os três gelarem e se encararem com os rostos assustados de medo. Harry precipitou-se pelo segundo andar, Rony e Mione ofegantes atrás dele, e não parou até entrar no último corredor deserto.

 

 

Então Mione soltou uma súbita exclamação, apontando para o corredor.

 

 

— Olhem!

 

 

Alguma coisa brilhava na parede em frente. Eles se aproximaram devagarinho, apertando os olhos para ver na penumbra. Alguém tinha pintado palavras de uns trinta centímetros na parede entre as duas janelas, que refulgiam à luz das chamas das tochas.

 

 


A CÂMARA SECRETA FOI ABERTA.
INIMIGOS DO HERDEIRO, CUIDADO.


— Que coisa é aquela, sem se mexer ali embaixo? – perguntou Rony, com um ligeiro tremor na voz.


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