Scream escrita por Mayara Silva


Capítulo 10
HIStory - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui ♡

Boa leitura u3u



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Salão principal - 18:55 hrs

 

Por dentro, tudo parecia calmo e vazio. A bagunça que os impostores haviam feito ainda estava lá. O vaso quebrado pela fúria desenfreada de Vênus, as ranhuras no corrimão da escadaria pela luta do cantor com Mercúrio, as marcas de golpes pelas paredes, tudo estava exatamente igual a dois dias atrás. Janet observou cada detalhe, em silêncio, em seguida adentrou à casa, em passos cuidadosos.

Poucos lugares estavam iluminados, o silêncio era aterrador. A mulher já havia comprado a história depois de tudo que havia visto, mas dentro do seu coração ainda havia a esperança de que tudo aquilo fosse um mal entendido, de que eram apenas invasores triviais. Ela torcia para que fosse desse jeito.

 

Ao longe, um par de olhos negros observava o casal de irmãos. Passos puderam ser ouvidos do andar de cima, o que fez Michael perceber que o jogo já havia começado.

 

— Eles já sabem que estamos aqui…

 

Sussurrou. Ouvir aquilo fez sua irmã arrepiar-se de medo, Janet já estava imersa demais naquela situação. Ela levou a mão discretamente para a faca de bolso e apertou-a entre os dedos.

 

— Vamos.

 

Michael segurou em sua mão e a encarou nos olhos uma última vez antes de seguirem os ruídos. Se queriam enfrentá-los, precisavam bater de frente com eles. A mulher aquiesceu, mostrando-se pronta, logo em seguida foram em frente.

Subiram as escadas e seguiram pelo corredor, em direção à porta de onde vinha o barulho. Ambos engoliram seco, o cantor levou a mão à maçaneta e abriu.

 

Não havia nada. Ao menos, nada incomum.

Era a sala da lareira. Tudo parecia em seu devido lugar, uma decoração arcaica e muito confortável, quadros espalhados por todo o cenário, luzes acesas, lareira vazia. Ambos permaneceram alertas, como se estivessem em um filme de terror. Michael empunhou o taco, pronto para defender sua irmãzinha se fosse preciso.

Adentraram. Começaram a explorar o lugar. Para Janet, tudo parecia nos conformes, porém Michael conhecia a casa onde morava, havia algo ali que não fazia parte da decoração.

 

Um espelho.

 

Michael não tinha uma boa relação com espelhos. Ao menos, não os deixava à mercê, em qualquer lugar de sua casa. Era algo extremamente pessoal seu.

Todavia, ele estava lá, sobretudo um espelho de corpo. Ele se aproximou e observou o próprio reflexo.

 

— O que isso…

 

— O que foi, Michael?

 

— Eu… Eu não lembro de ter comprado isso.

 

A mulher se aproximou e encarou o objeto, que também a refletiu.

 

— Hum… Parece normal pra mim. Ele é bem sua cara, decoração antiga.

 

— Mas…

 

— Você compra muita coisa, Michael, sua casa é cheia de decorações. Tem certeza que esse espelho não é seu?

 

Ele tinha, mas sua irmã acabou o fazendo duvidar de suas memórias. Janet desencanou do espelho e continuou explorando aquela sala, porém já não tinha muito o que ver.

 

— Vamos embora, não tem nada aqui.

 

A mulher estava pronta para sair, mas Michael continuou observando aquele objeto. Virou um pouco o rosto para o lado, para o outro, e o seu reflexo repetiu. Ele não estava muito convencido. Um movimento com a mão, e o reflexo repetiu.

 

Estava desconfiado.

 

Passou a encarar o seu reflexo, olho no olho, alguma coisa ali não parecia certa. Piscou uma vez. Duas. Na terceira, o seu reflexo não repetiu.

 

— Você é muito esperto…

 

Sussurrou. Michael o encarou com espanto, em seguida se afastou rapidamente do objeto, indo até sua irmã.

 

— Você viu??

 

— Vi o quê?

 

Ele segurou sua mão e a puxou em direção ao espelho. Obviamente o seu reflexo não estava mais colaborando. Janet arqueou a sobrancelha.

 

— Maninho…

 

— Olhe.

 

Sussurrou, mantendo os olhos nos do reflexo, o pegaria na mentira em poucos segundos.

 

Lentamente, Michael exibiu um dos braços no qual um pequeno coração, desenhado por sua irmã, encontrava-se rabiscado em sua pele. Removeu um pouco da manga em um rápido movimento, a fim de desmascarar o impostor.

O que ele não contava era que Vênus havia feito o seu dever de casa, e, agora, devido à alta precisão de sua metamorfose, o reflexo também possuía um desenho idêntico em seu braço. Era um detalhe pequeno demais, o que contribuiu para que o copiasse em poucos instantes. O cantor o encarou com incredulidade.

 

— Não… não é possível…

 

— Michael…

 

— Eu sei o que você quer e você não vai conseguir! Ela acredita em mim!

 

Exclamou. Janet suspirou, estava começando a ficar preocupada e já não era mais com os invasores.

 

— Mike, depois, vamos dar uma olhada nas receitas que o seu médico anda passando, tá bom?

 

Michael estava concentrado demais em desmascarar o impostor que sequer reparou no comentário da irmã. Teve uma ideia de momento.

 

Fez um movimento rápido. Logo outro, e mais outro. O seu reflexo repetiu todos.

 

— Mike, vamos embora…

 

Esse impostor jamais poderia dançar no mesmo ritmo, pensou consigo. Iniciou um passo considerado fácil por si próprio, subestimava as habilidades do algoz. Começou a deslizar os pés em um movimento no qual o dançarino permanecia no mesmo ponto. O reflexo copiou.

 

Ele havia aprendido, havia o estudado. Michael não podia subestimá-lo mais.

 

Fez um mais difícil. A coreografia de “Dangerous”.

Michael não se lembrava muito da ordem dos passos, há tempos não se apresentava, mas considerava isso uma vantagem, uma vez que, se o impostor o estudou através de seu acervo, então ele só poderia ter decorado a coreografia correta.

Vênus o surpreendeu mais uma vez, pois conseguiu copiar todos os seus movimentos improvisados.

 

— Michael, se você não parar com isso, eu vou ligar pro Tito vir te buscar.

 

Não desistiu, ainda havia uma carta na manga. Vênus estava conseguindo descredibilizá-lo, ele não tinha nada a perder naquele momento.

Coreografia de “Scream”.

Lembrava bem dos primeiros passos: baixo, cima, rosto à esquerda, braço à direita, levantar a camisa à altura do peito. Vênus conseguia copiá-lo em uma velocidade absurda, mas esperava que ele não previsse esse detalhe.

E havia conseguido.

Um detalhe tão simples, mas que poderia passar despercebido.

 

Haviam algumas coisas que Vênus tinha em comum com uma grande parte dos terráqueos, uma delas era ter o umbigo para dentro.

O do Michael era para fora.

Ele era mesmo muito esperto.

 

Janet comparou um com o outro, um tanto confusa. Sem escapatória, o reflexo atravessou a parede de vidro e agarrou o pescoço de seu alvo com força. A mulher levou um susto com o movimento brusco daquela coisa e acabou recuando. Ela não entendeu o que estava acontecendo, mas sabia que precisava agir depressa.

 

— Michael!!

 

O cantor segurou o pulso de seu algoz e tentou se desvencilhar, sem sucesso. O olhar de Vênus transmitia o seu mais puro sentimento de ódio e dizia, com todas as palavras, que se Michael não fizesse alguma coisa agora, poderia dar adeus à sua vida para sempre.

 

Inesperadamente, Janet reagiu.

 

Um tiro de revólver acertou um dos braços do impostor, que gemeu de dor e largou o cantor imediatamente. Michael caiu, demorou um pouco para perceber o que havia acontecido.

Vênus aos poucos começou a desfazer sua metamorfose, mas ainda não havia retrocedido à sua aparência completamente. No momento, seu corpo era apenas uma forma abstrata com braços e pernas. Janet não esperou, atirou novamente. Ele gemeu mais uma vez e, em uma tentativa de se preservar, arrastou-se desesperadamente para a primeira fresta que detectou. Havia um tubo de ventilação em uma das paredes, em uma distância alta e considerável, o que não foi suficiente para impedir o impostor de agarrar-se nela, como um animal, e esgueirar-se até aquela saída minúscula, enfiando-se nas frestas sem muita dificuldade, deixando para trás uma tenebrosa trilha de sangue.

 

De repente, tudo ficou em silêncio. Ambos estavam ofegantes, ambos apenas conseguiam ouvir o som de suas respirações intensas, estavam suando de pavor. Michael havia finalmente digerido o que havia acontecido ali, e Janet, estava em choque com o que havia presenciado.

 

— Que... porra... era aquela...?

 

Murmurou. Michael lentamente virou-se para sua irmã, encarando-a nos olhos, e, em seguida, observando a arma que ela estava empunhando.

 

— Você... você veio armada?!

 

— Ainda bem que eu vim, não é?! Senão, você só seria uma lembrança agora!

 

Michael lentamente se levantou, com um pouco de dificuldade. Ele suspirou, Vênus parecia ter passado por alguma espécie de upgrade, parecia muito pior do que da última vez que havia o visto.

 

— Jan, ele está pior, ele… Não, não é possível…

 

O homem levou as mãos à cabeça, parecia estar entrando em desespero aos poucos. Janet tomou em mãos o taco de beisebol, que ele havia deixado cair enquanto dançava, e o devolveu.

 

— Toma. Se aquela coisa voltar, arrebenta ela! Por favor, não entra em modo pacífico agora! Eu vou ligar pra polícia e eu tô cagando se eles não acreditarem.

 

Passos puderam ser ouvidos do corredor. Antes que qualquer coisa se aproximasse deles, Janet correu para a porta e a fechou. Começou a empurrar alguns móveis para formar uma barricada. Michael se providenciou para ajudá-la.

 

— Continua aqui, eu vou ligar agora.

 

— Jan…

 

— Continua! Por favor, não para!

 

Michael sabia que isso não ia adiantar, uma criatura que passa pelas frestas de um tubo de ventilação consegue arrombar uma porta ou até mesmo deslizar-se pelas fendas dela com tranquilidade. De qualquer forma, se isso acalmava sua irmã, ele o faria, ao menos lhe daria tempo para planejar alguma coisa.

 

Janet removeu o celular do bolso e reparou que havia uma chamada de seu irmão Tito. Atendeu. Sua intenção era ligar primeiramente para a polícia, porém, naquele momento, qualquer ajuda era importante.

 

— Tito?!

 

x ---- x

 

Holidays bar - 18:59 hrs

 

A viagem até o rancho Santa Fe havia, de certa forma, unido os irmãos Marlon, Jermaine e Tito que não se viam há um tempo devido aos negócios. Os três escolheram um lugarzinho pacato e aconchegante, longe dos centros anárquicos da Califórnia, para bater um papo e aproveitar o momento.

Todavia, era unânime o tópico que haviam escolhido para debater.

 

— Hoje, o papo do Michael foi estranho…

 

Comentou Marlon. Jermaine aquiesceu e deu um toque em Tito, para chamar sua atenção.

 

— Desgruda disso.

 

— Eu sei, eu sei… Deixa só eu ver uma coisa…

 

Ele estava navegando pelo celular. Marlon continuou.

 

— Eu nunca vi ele falar aquelas coisas… Cara, foi muito estranho.

 

— Pode ser efeito colateral de algum remédio. É a coisa mais provável pra mim.

 

— Mas pra afetar os meninos também?

 

— Quem disse que as crianças viram o mesmo que ele? Um ladrão invadiu a casa e rendeu os quatro, Michael estava sob efeito de algum medicamento e viu coisas. Eu realmente espero que Janet tenha ido com ele até a delegacia, porque isso é sério de qualquer forma.

 

— Olha isso…

 

Tito se aproximou dos irmãos e mostrou a tela do celular. Ele havia feito algumas pesquisas com as palavras-chave “Neverland” e “Michael Jackson”. Não havia nada realmente muito promissor, exceto uma notícia, em vídeo, que aparecia em segundo plano nos resultados, de um site de fofocas pequeno.

 

— Se a casa dele foi tomada, não é possível que ninguém esteja falando nada…

 

— Aí sim, hein? Me surpreendeu…

 

Marlon comentou, em seguida tomou um gole da bebida que acabara de chegar. Tito o encarou com tédio.

 

— Eles gravaram Neverland?

 

Indagou Jermaine, que pegou o celular do irmão e começou a explorar. Arrastou o dedo pela linha de tempo do vídeo e colocou na parte que os interessava.

 

Era uma gravação intrigante.

 

Embora a qualidade da imagem fosse aceitável, haviam alguns tremores de câmera, sinais de que a captação daquele conteúdo estava sendo feita na surdina.

Pelas frestas de Neverland, em um belo fim de tarde, Michael e Janet, ou o que aparentava ser eles, apareceram caminhando pelos campos verdes. Eles estavam vestidos com roupas estranhas e pareciam bem mais novos. Em uma tela menor, no canto inferior direito, uma mulher começava a dialogar com a apresentadora.

 

— “Essas imagens foram feitas hoje, Lisandra? Confirma pra mim!”

 

— “Foram sim, Patrícia! Eu tô a caminho do estúdio, acabei de sair de Neverland. Não tem ninguém por lá, ficamos a tarde toda! Não tem segurança nos arredores, ninguém na recepção. A gente só fez essas filmagens porque não tinham guardas.”

 

— “Isso que você falou é muito importante, porque daqui a pouco vamos conversar com um dos funcionários do Jackson sobre isso. Ele não quis se identificar, mas já nos disse de antemão que to-do mun-do foi expulso de lá pelo patrão. O que será que o Jacko tá planejando, hein?”

 

— Porra, que voz irritante… Como é que isso tem audiência?

 

Indagou Marlon. Jermaine suspirou e pausou o vídeo.

 

— Já deu pra entender…

 

— Michael não está mentindo, mas isso já estava óbvio. O que pega…

 

— O que pega é a ideia do ladrão que se transforma num sapato. Aquilo ali é viajado demais…

 

— Eu vou ligar pra Janet e ver o que ela já resolveu disso.

 

Tito saiu daquela página e buscou o número da irmã nos contatos. Logo em seguida, ligou, e se surpreendeu com a rapidez com que foi atendido.

 

— Tito?!

 

— Janet? Onde você tá? A ligação tá bem ruim…

 

— Tito… Eu tô em Neverland. Liga pra polícia agora! Fala que tem uns ladrões aqui, fala qualquer coisa!

 

— Você … Espera aí, você foi ver?? Você é doida??

 

Marlon e Jermaine se entreolharam, preocupados.

 

— Onde ela tá?

 

— Eu fui ver porque eu não tava acreditando, mas é verdade, tudo aquilo lá é verdade! Liga pra polícia, eu vou dar o fora daqui e…

 

— Janet! Jan… Puta merda…

 

Murmurou o homem, seu semblante havia mudado totalmente. A ligação chiou por alguns instantes antes de desligar completamente. Tito não pensou duas vezes e, logo, ligou para a polícia.

 


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:

Michael seguiu o caminho dos esconderijos, porém Janet estava com medo, sequer havia prestado atenção nos passos do irmão. Fugiu pela saída mais óbvia, a segunda porta que havia na sala e dava em direção a outro cômodo. Quando o cantor virou-se, reparou que sua irmã não estava consigo, mas já era tarde demais para retornar, Vênus já havia se materializado.

— Não… Não, Janet!

Arriscou. Usaria seus punhos se fosse necessário, mas não abandonaria sua irmã com ele. Quando saiu da passagem, deparou-se apenas com a segunda porta aberta.

Vênus havia a seguido.



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