I Would Die 4 U escrita por Mayara Silva


Capítulo 3
Sou sua consciência, sou amor




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Elevador - 22:03 hrs

 

A cada hora que passava, mais abafado o ar ficava, mais estreita aquela caixa parecia, mais escuro o ambiente estava. Prince e Luna se encontravam deitados no chão, cansados e abatidos. Eles estavam suando, suas peles brilhavam, não havia absolutamente nenhuma ventilação visível e as luzes do elevador já cediam à escuridão. Estavam com calor, no escuro, mas também estavam fracos demais para fazer alguma coisa, até que Prince resolveu agir.

 

— O que vai fazer...?

 

O cantor não deu ouvidos. Ele lentamente se levantou, com um pouco de dificuldade por estar meio atordoado com o calor, e removeu o casaco que usava. Arrebitou as mangas brancas e começou a fazer pressão na porta, a fim de abrir nem que fosse uma pequena brecha para a entrada e saída de ar.

 

— Prince… para! Poupa fôlego…

 

Mais uma vez Luna foi ignorada. Ele estava disposto a gastar suas últimas forças para fazer esse esforço, pois sabia que não durariam muito se continuassem esperando.

 

— Prince!

 

Luna chamou uma última vez, preocupada. Ela encarou o cantor por alguns instantes, pensando se assistiria àquilo ou faria alguma coisa, até que chegou à conclusão de que ele estava certo, eles não podiam ficar parados sem fazer nada, além do mais, não era justo que ele se esforçasse sozinho.

A garota se levantou, com um pouco de dificuldade, tirou o casaco de modelo curto que vestia e usou toda a força que tinha para ajudá-lo a abrir nem que fosse uma brecha bem pequena, isso já ajudaria muito para que eles não morressem sufocados antes da chegada do socorro.

 

Felizmente aquele esforço rendeu resultados, pois a porta cedeu e uma fresta foi aberta, mas em compensação o elevador emitiu vários ruídos estranhos que obrigaram os dois a pararem com os esforços, por conta do risco de queda ou qualquer coisa pior.

Prince suspirou de alívio quando viu os lindos feixes de luz da sala acima de suas cabeças transpassarem a fresta. Ele jogou seu corpo cansado no chão e voltou a se deitar. Luna o acompanhou, mas acrescentou um abraço forte e cheio de energia.

 

— Deu certo!!

 

Embora estivesse apenas vibrando, Prince a encarou, um pouco chocado, ele realmente não estava esperando aquela reação. Sem dizer uma palavra, a garota lentamente se afastou, um pouco sem graça.

 

— Não faça isso.

 

— Isso o quê...?

 

Prince esbanjou um sereno sorriso enigmático.

 

— Eu gostei do seu abraço.

 

Luna também retribuiu as palavras com um sorriso. Ela empurrou o cantor de leve e se afastou.

 

— Não vou ceder aos seus encantos.

 

— Ah, que pena… Não sabe o que está perdendo.

 

Brincou o rapaz, o que fez a garota soltar uma risada. Agora que finalmente havia uma ventilação improvisada, eles estavam se sentindo mais à vontade para conversar sem perder o fôlego.

 

— Falando sério, agora, Prince...

 

Luna suspirou.

 

— Me perdoa pela forma que eu te tratei, na última vez que nos vimos. Eu… eu sei que é ridículo falar sobre isso agora que você é famoso, eu vou te entender se não quiser me perdoar, mas… eu não fui justa com você. Eu era inconsequente.

 

— E…?

 

A garota arqueou a sobrancelha.

 

— E?

 

Prince fez um sinal para que ela prosseguisse. Luna custou a entender, até perceber do que se tratava.

 

— Eu… era inconsequente… e muito grosseira?

 

— E?

 

— Er… e maluca.

 

— E?

 

— Não sei, doida, maluca, brava, metida...!

 

O indicador do cantor tocou suavemente os seus lábios carnudos, a silenciando. A garota pousou seus grandes olhos azuis nos olhos castanhos dele, esperando seu próximo ato.

 

— Eu te perdoo.

 

Luna sorriu. O ambiente ficou em silêncio novamente, até que Prince lentamente se afastou da garota.

 

— Mas confessa que você era bem insistente, hein? Um grude.

 

— Ei! Eu acabei de te perdoar, não me faça retirar o que eu disse.

 

Brincou o rapaz, fazendo ambos caírem na risada, mas um ruído suspeito os calou em sequência. Eles sabiam que era questão de tempo para aquele elevador ceder.

 

— Não é possível que ninguém deu por sua falta…

 

Murmurou a garota. Prince não respondeu, não queria admitir, mas estava quase acreditando naquela possibilidade.

 

x ----- x

 

Corredores - 22:30 hrs

 

O exterior do prédio já estava abarrotado de luzes vibrantes em azul e vermelho dos carros policiais. Seus condutores estavam mantendo os curiosos distante enquanto dois deles iam atender a ocorrência. Após muito diálogo jurídico, as câmeras de vigilância da parte de fora foram averiguadas e não havia registro nenhum do cantor. Nanda e alguns funcionários da Ebony ficaram para atender os oficiais, enquanto Ted estava nos corredores, acompanhado de uma equipe, buscando por algum sinal do Prince.

Infelizmente não era tão fácil assim obter o direito de averiguar todas as imagens, então enquanto os advogados da assessoria resolviam esses trâmites jurídicos para conseguir acessar as câmeras internas, Ted resolveu ir para a prática e fazer a sua busca à moda antiga.

Já estavam vasculhando o 5º andar.

 

— Ele não evaporou, não é possível…

 

Sussurrava o homem, enquanto adentrava cada sala daquelas, desocupadas ou não, mantendo o jovem astro em mente. Ele tentava voltar no tempo e pensar se Prince havia lhe dado alguma pista, se ele estava mal, se havia algum sinal diferente em seu semblante, mas Ted só conseguia lembrar do rapaz focado em seu trabalho, como de costume. Ele estava por um triz de perder o controle.

 

— Tem alguma saída de emergência por aqui?? Escadas secretas, caminhos alternativos, elevadores, qualquer coisa!

 

— Temos tudo isso, é um prédio enorme! Eu vou mandar homens para averiguar as escadas.

 

— Perfeito, perfeito!

 

Disse Ted, sentindo que fez algum progresso. Pensando no jovem astro e em como ele estava recebendo e lidando com a fama em tão tenra idade, o homem se preocupou de que ele estivesse se cobrando demais, usado algum entorpecente que o mantivesse acordado ou qualquer coisa do tipo, pois sabia como ele era louco por trabalho, chegando a cortar frequentemente as refeições por causa disso. O seu receio era de que ele tivesse passado mal em algum desses andares, em algum buraco por esse prédio, e agora estivesse por um triz, devido ao tempo que passou.

 

— Eu vou olhar os elevadores, manda um cara já ir averiguando o 6º andar!

 

Disse. Ted nem lembrava mais que os funcionários da Ebony não eram os funcionários do Prince, que ele não tinha poder sobre eles, mas o calor do momento estava o deixando tão pressionado que esses meros detalhes passaram despercebidos em sua mente. Ele deu a ordem mesmo assim e os caras, provavelmente na mesma vibe, acataram e seguiram adiante.

Querendo ou não, uma tragédia na Ebony significava marketing negativo e era tudo o que aqueles homens mais queriam evitar.

 

Ted correu até o elevador mais próximo e começou a apertar o botão incessantemente.

 

— Anda, porraaa!

 

— Não, senhor, esse não! Esse elevador está em manutenção, nem interfone ele tem.

 

— Quê?? E cadê a placa?? Vocês não avisam nada?!

 

O funcionário olhou e olhou mais uma vez. Uma expressão de terror tomou conta do seu rosto.

 

— Mas havia uma placa aqui, isso é procedimento padrão!

 

— Bom, agora não tem nada! Agora só parece… Puta merda…

 

A ficha havia caído ali.

 

x ----- x

 

Elevador - 22:15 hrs

 

O calor havia passado, porém, agora, o frio tomava conta daquele pequeno espaço. Era outono, faltava pouco para o inverno, a diferença entre a temperatura de uma estação e outra era quase insignificante. Prince e Luna voltaram a se deitar no chão, estavam cansados para ficar em pé ou sentados. Sabiam que não era uma atitude muito inteligente compartilhar o calor de seus corpos com o solo frio, por isso Prince havia estendido sua capa para que eles pudessem minimamente preservar as suas temperaturas corporais. Isso seguraria a onda por um curto período de tempo.

 

— Prince…

 

Sussurrou a garota. A respiração do cantor estava um pouco mais densa, sinal de que o seu casaco que jazia no chão lhe fazia muita falta. Luna se perguntava por que ele estava fazendo aquilo por ela.

 

— Você… deve ter namorado bastante de lá pra cá…

 

Comentou ela, a fim de mantê-los conversando. Luna tinha medo da possibilidade de não ouvir mais a voz do ex colega, tinha medo dela mesma não conseguir respondê-lo mais. Além do quê, ela também estava curiosa. Não era o momento, mas era a oportunidade perfeita.

 

— Hurum…

 

O cantor se limitou a respostas curtas. Luna suspirou.

 

— Você… tem saído com alguém?

 

— Hurum…

 

— Ela… Qual o nome dela? Ela é bonita?

 

Ele demorou a responder. Uma coisa que Luna aprenderia com o tempo era que Prince era naturalmente enigmático. Ele gostava de ver as pessoas interessadas no seu eu, em ver as pessoas acreditarem que o conheciam bem. De alguma forma, isso era interessante.

 

— Apollonia.

 

Não obteve mais respostas que isso. Luna aquiesceu, já imaginava a resposta, um homem como ele dificilmente ficaria solteiro, porém ela não entendia por que, agora, isso parecia fazer alguma diferença para o seu coração. Ela estava se sentindo mal por não ter olhado para ele antes da fama e aquilo a incomodava muito.

 

— Sua namorada…

 

Prince fez uma expressão de negação.

 

— Você é muito inocente. Eu não tenho namorada.

 

Isso fez a garota pensar um pouco. Prince agora era famoso, é óbvio que ele não ia se limitar a um namoro trivial. Luna se sentiu mesmo muito inocente.

 

— Entendi…

 

Silêncio. O frio parecia ter piorado quando ambos se calaram, o que fez Luna se esforçar para continuar falando.

 

— Prince…

 

— O quê...?

 

— Você… me amava… não amava?

 

— Sim…

 

— Você… ainda me ama...?

 

Silêncio. Aquele ambiente frio estava começando a ficar mais hostil, falar naquela situação parecia uma tarefa difícil, mas a garota queria seguir com aquela conversa até o fim.

Prince custou a falar, mas disse o que sentia que precisava dizer.

 

— Eu morreria por você.

 

Aquela frase cessou as perguntas por uns instantes. Prince não sabia se ela estava satisfeita, se estava confusa, se estava sorrindo ou não, mas esperava que não precisasse explanar mais do que já havia dito. Ele não podia negar que ainda era apaixonado por ela.

E como odiava isso.

 

Luna, por sua vez, não sabia o que responder. Sentia que, pela primeira vez, não estava no controle da situação. Ela só queria seguir o seu coração, como fazia na juventude, e beijar aquele homem sem pensar duas vezes, mas o frio não permitia. A garota suspirou, cansada, e se abraçou, procurando manter o calor.

 

Prince havia percebido como Luna estava quieta e resolveu ver se ela estava bem. Quando se levantou para observá-la, teve a certeza de que ela sairia daquele elevador com sequelas graves se ele não fizesse alguma coisa. O cantor prontamente puxou o seu casaco do chão e se contentou em jogar por sob os ombros dela, a cobrindo por completo.

 

— P-Prince… para…

 

Ele também estava usando uma camisa quente e branca de mangas longas, que removeu sem pensar duas vezes e fez a garota se cobrir com ela.

 

— Você tá louco...?

 

— Quieta, sua teimosa.

 

Ele amarrou as mangas da camisa no corpo dela e se certificou de que ela estaria bem aquecida. Agora estava torcendo para que o resgate os tirasse dali antes que ele esvaísse em hipotermia.

 

— Você vai morrer…

 

Sussurrou a garota, preocupada. Ela tentou abraçar o cantor, mas ele apenas se contentou em levar as mãos ao rosto dela e acariciar as maçãs do seu rosto com os polegares.

 

— Por você…

 

Um barulho alto e assustador veio do elevador. Aquele som fez ambos sentirem que seus últimos momentos já estavam contados. Luna, sem pensar duas vezes, mesmo morrendo de dor pelo frio, abraçou o cantor, com força e com medo. As luzes piscaram algumas vezes antes de acenderem por completo. O elevador moveu-se sutilmente para baixo, parecia ter voltado a funcionar. O medo ainda estava arraigado em seus corações, mas pela primeira vez eles também sentiram alívio, esperança, pelo visto haviam os encontrado.

 

— Eu só vou te largar… quando essa porta abrir…

 

Luna sussurrou. Prince não protestou, pelo contrário, puxou a menina para mais perto e permitiu ser o seu apoio naquele momento, assim como ela estava sendo o seu.

O elevador parou, assim como os seus corações o fizeram por alguns segundos. Ao abrir as portas, a forte iluminação dos corredores os cegaram por alguns instantes. Entre toda aquela luz, algumas silhuetas se fizeram presentes e foi possível ouvir a reconhecível voz do Ted.

 

— PRINCE!!

 

Ele vibrou. Tanto Prince quanto Luna estavam fracos demais para responder alguma coisa, então apenas aceitaram que todo aquele inferno havia acabado e deixaram que os funcionários os socorressem.

 


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