I Would Die 4 U escrita por Mayara Silva


Capítulo 2
Se você for má eu irei te perdoar




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Corredores, Ebony - 17:44 hrs

 

Após a reunião, Prince ainda passou na sala de gravação para tocar um pouco. Ele só se deu conta do horário quando seu celular tocou. Detestava ter que carregá-lo por aí, mas era o único jeito de ficar sozinho ou sua assessora o acompanharia para onde quer que fosse.

Todas as suas obrigações estavam na agenda e, 30 minutos antes, o alarme tocou. Seu ensaio fotográfico aconteceria logo.

 

— Hum… décimo segundo andar…

 

Murmurou, seguido de um suspiro de cansaço. Prince deixou sua guitarra na sala mesmo, chamou um funcionário para levá-la ao seu carro e nem o esperou chegar, seguiu pelos corredores quase vazios.

Prince nunca havia ido à sede da Ebony, não conhecia aqueles corredores. Ele caminhou até encontrar as escadas e o elevador. Queria evitar aquela caixa ambulante, o detestava, era confinado demais para seu gosto, mas ainda não era pior que ir do segundo ao décimo segundo andar a pé, então deixou seu desgosto por elevadores de lado e chamou um. Entrou e seguiu.

 

Mexeu na gola do casaco e jogou os cachos para o lado. Prince se olhou um pouco no espelho, era vaidoso, mas moderado. A cada pausa repentina do elevador, o seu coração parava. A cada movimento, a vertigem o atingia sutilmente. Ele precisava se distrair com alguma coisa para esquecer aquele espaço confinado e nada melhor que olhar para si mesmo no espelho.

 

No quinto andar, percebeu que alguém ia dividir o espaço consigo. Já estava quase passando mal, mas disfarçou bem. Colocou os óculos escuros e permaneceu sereno.

Uma morena bonita entrou. Ela tinha lindos cachos rebeldes, pele bem escura e lábios carnudos. Usava óculos de sol, tão lindos quanto os seus brincos dourados. Prince obviamente ficou a observando.

 

Alguns minutos se passaram até as luzes começarem a piscar um pouco. Prince suspirou, já irritado com aquele elevador.

 

— Eles têm tanto dinheiro e não fazem um elevador decente…

 

Comentou o cantor. Foi um misto de comentário e desabafo, mas também uma desculpa para iniciar uma conversa, ele realmente havia achado aquela morena interessante.

Ela custou um pouco a responder, murmurou alguma coisa e, então, aquiesceu. Prince achou aquilo estranho. A não ser que ela não o conhecesse, o que era bem difícil àquela altura do campeonato, normalmente as garotas não o evitavam assim, pelo menos não mais.

 

— Você é tímida?

 

Indagou o rapaz, tomando cuidado com o tom que estava usando, para não intimidá-la. Ele queria deixá-la confortável. A mulher apertou a bolsa de mão que segurava e negou com a cabeça.

 

— É meu primeiro trabalho… Tô um pouco nervosa, eu acho.

 

Murmurou. Prince sorriu e ia comentar alguma coisa, quando de repente aconteceu o que parecia ter sido uma pane. As luzes se apagaram por alguns segundos e o elevador chacoalhou com força, derrubando os dois. A garota soltou um grito, assustada, e Prince se contentou em tentar se segurar nas paredes.

O elevador parou. Parou e não se moveu mais. E, para piorar, parou entre um andar e outro. As portas não se abriam mais, em compensação as luzes piscaram um pouco antes de retornarem completamente. Prince estava imerso em adrenalina e medo. Suava frio, mas não iria mostrar isso para aquela garota assim, de graça.

 

— V-você está b… !

 

Não teve tempo de completar sua frase. Virou-se e reparou que, com o balançar do elevador, os óculos dela haviam caído, óculos esses que escondiam a característica única da mulher mais linda que ele havia conhecido.

Não era algo comum. De tantas mulheres com quem ficou, nenhuma delas carregava consigo a pele negra aveludada juntamente com os olhos cravejados de diamantes azuis como o céu.

 

— Luna…?

 

x ----- x

 

Elevador, entre 8° e 9° andar - 18:20 hrs

 

— Ei! Alguém aí? É o Prince! Alguém escuta? EI!!

 

— Não adianta… Para! Eles não vão te ouvir…

 

Luna e Prince estavam nervosos com aquela situação, mas ela estava lidando bem melhor. Tentou se manter calma, sentou-se no chão e procurou manter a respiração regular, pois não havia visto nenhuma entrada de ar ali. Aquilo era preocupante e os chiliques do Prince não ajudavam nem um pouco.

 

— Era só o que me faltava! Como se não bastasse estar preso nesta jaula confinada, ainda estou preso com você! Puta que me pariu!!

 

— Para, Prince!

 

— Ah, faça-me o favor! De todas as mulheres de Hollywood, de todas as possibilidades, o destino tinha que escolher justamente você pra cruzar o meu caminho?! O que você veio fazer aqui, afinal de contas?!!

 

— Hãm… eu… Ah, não é da sua conta!

 

Prince inspirou fundo, se preparando para revidar a palavra dela, quando o elevador sucintamente emitiu um ruído agudo, estranho e intrigante. Isso foi suficiente para que ambos se calassem, o que foi necessário para o cantor perceber que estava perdendo a cabeça, ali, e não podia deixar isso acontecer.

 

— Hunf… Que bom, que legal…

 

— Olha… eu sei que eu tenho umas pendências contigo, mas precisamos colaborar um com o outro pra sair bem dessa. Não concorda comigo?

 

Prince soltou um suspiro e a encarou, com um olhar cético.

 

— E desde quando a senhorita se tornou um poço de prudência?

 

Luna ficou em silêncio. Ela mordeu os lábios e suspirou.

 

— Ah, Prince, coisas aconteceram na minha vida… e vejo que na sua também. 

 

O rapaz ficou em silêncio. Ele ainda não sabia o que pensar de Luna. Há uns 5 anos não a via. Ela não o tratava como um super astro, ela o tratava como um ex colega de classe. Era tão diferente… ela parecia diferente. Ele ainda não havia assimilado tudo.

Sem muito o que dizer e tentando manter a postura, Prince apenas sentou-se no chão e passou a mão nos cabelos.

 

— Eu odeio elevadores… Nunca mais vou entrar em um…

 

Luna deixou um sorriso discreto estampar o seu rosto.

 

— Lembro que você sempre evitava o elevador do colégio.

 

O cantor revirou os olhos.

 

— Ah, disso você lembra.

 

Luna deu ombros. Ela havia percebido como o ex colega de classe estava evasivo, então não insistiu mais. Pegou o celular da bolsa e tentou entrar em contato com alguém, sem sucesso.

 

— Droga… sem sinal.

 

— Típico.

 

— Você não tem um celular aí?

 

Prince revirou os bolsos.

 

— Deve ter ficado no estúdio…

 

— Ah…

 

Um silêncio profundo invadiu aquele pequeno espaço onde se encontravam. Talvez fosse uma coisa boa, pelo menos economizariam ar, precisariam muito disso para aguardar a chegada do socorro… pelo menos até alguém dar por falta deles.

 

x ----- x

 

Sala de fotografia, Ebony - 20:01 hrs

 

As modelos estavam descansando no camarim, um pouco entediadas. Kim, a fotógrafa e designer de moda, andava de um lado para o outro, nervosa. Prince achava um charme se atrasar, como uma noiva em um casamento, mas àquela altura isso já estava indo longe demais, era o filme dele que estava em jogo.

Ted entrou na sala, com todo aquele seu espetáculo, quando percebeu que o seu astro não estava presente.

 

— Ué… Cadê o….

 

— É isso que eu quero saber!

 

Kim se aproximou do homem, com sangue nos olhos, e o puxou pela gola do casaco.

 

— Cadê o "seu astro", Ted?! Se ele atrasar mais uns minutos, eu vou ter que cancelar o ensaio! A promoção do filme vai precisar ser adiada!

 

— C-calma, calma… Eu juro que isso não é normal, okay? Eu vou ver o que aconteceu!

 

Ted podia parecer irresponsável e um tanto fanfarrão às vezes, mas Prince não o teria contratado se ele não fosse realmente competente. O homem tentou ligar para o celular do cantor, porém não teve retorno. Sabia que isso não era normal, então saiu daquela sala para questionar as últimas pessoas que estiveram com ele, iria refazer os seus passos.

 

x ----- x

 

Elevador - 20:10 hrs

 

As horas se passavam sem que eles percebessem, o silêncio parecia ficar cada vez mais ensurdecedor e cada novo ruído alfinetava seus corações cansados e assustados, mas nenhum deles havia ousado abrir a boca para espantar aqueles pensamentos.

Prince não estava a fim de começar nenhum papo, então Luna resolveu dar esse primeiro passo. Encostada na parede esquerda do elevador, ela encolheu e abraçou as próprias pernas, enquanto seus olhos iam na direção do rapaz. O olhou mais um pouco, aproveitou que ele não queria fazer contato visual consigo. Luna sorriu, Prince estava tão bonito, pela primeira vez ele havia chamado positivamente sua atenção.

 

— Você mudou mesmo…

 

Ela comentou, mas Prince não parecia ter se importado. Encostado no lado oposto, à direita do elevador, ele relaxou suas pernas e se cobriu com o seu longo casaco roxo.

 

— Você também.

 

Luna sorriu.

 

— Eu tô muito feliz que você conseguiu ser reconhecido, Prince. Eu era muito boba na época pra perceber o quanto você tinha capacidade…

 

— É? Bom… e quem me garante que você não está sendo uma bajuladora qualquer que nem certos idiotas lá fora?

 

Prince mandou essa na lata. Luna achou compreensível o questionamento dele, mas não conseguiu esconder o quão ficou extremamente aborrecida por ter sido comparada a esse tipo de pessoa. Prince sabia que a Luna de antigamente não deixaria barato uma ofensa como aquela. Ele queria ver se, no fim das contas, ela havia mudado muito ou não.

 

— Eu tô falando sério, seu queer de araque.

 

Disse, rispidamente. O cantor pareceu um pouco surpreso, mas surpreendentemente não se aborreceu.

 

Queer… que apelido idiota…

 

— E o que você é, então? Você não é cis gênero… é?

 

O homem revirou os olhos.

 

— Não fará diferença nenhuma para você saber o que eu sou. Rótulos são limitadores… O que eu sinto é mais importante.

 

Com aquela resposta, Luna ficou em silêncio. Ela passou a observar como Prince parecia tão seguro de si, tão confiante, como ele havia adquirido sua própria filosofia de vida. Ela se arrependia um pouco por não ter percebido todo esse potencial antes, mas talvez tenha sido melhor assim, talvez conseguir o seu amor poderia ter o conformado, talvez ele nunca tivesse chegado até onde estava agora.

O destino é muito subjetivo.

 

A garota sorriu em resposta, até perceber que Prince parecia um pouco desligado da conversa. Ele parecia murmurar faixas dispersas, parecia ter tido alguma ideia musical.

 

“I'm not a woman”

“I'm not a man”

“Tananan...”

 

Prince murmurou e levou a mão aos bolsos, buscando um papel e caneta.

 

— Uau… Você não larga do seu trabalho, hein?

 

O rapaz deixou um sorriso enfeitar o seu rosto, enquanto escrevia, e aquiesceu.

 

— Hurum… e você, com o que trabalha?

 

— Eu sou modelo. Bom… Foi isso que eu vim fazer aqui.

 

O cantor parou de escrever por uns instantes e a encarou.

 

— Hum… É, isso não me admira. Você é muito bonita, era só questão de tempo até alguém te achar.

 

— Obrigada, Prince.

 

Após mover positivamente a cabeça mais uma vez, ele voltou a prestar atenção no papel.

 

— Você… sabia que eu estaria aqui?

 

— Hum? Ah, bom… não… não, na verdade. Eu vim porque fui contratada por um tal de Ted pra posar com um “cliente sigiloso”.

 

Prince parou de escrever na hora assim que ela proferiu o nome do Ted. Ele a encarou, chocado.

 

— Ted te contratou??

 

— Hum… Er, sim. É seu funcionário, né? Quando eu te vi no elevador, tive essa suspeita. Se você não fosse o tal do cliente sigiloso, não sei mais quem poderia ser. Se bem que em Hollywood poderia ser qualquer um...

 

Ele suspirou. Já teria que acrescentar “dar um esporro no Ted“ na lista de afazeres após sair daquele elevador.

 

— Você... não gostou dele ter me contratado?

 

Prince ficou em silêncio, ainda não sabia se queria falar sobre aquilo, Luna ainda lhe trazia lembranças difíceis. Ele sabia que não era culpa dela, eles eram jovens e inconsequentes na época, ficar emburrado com o pequeno conflito que tiveram no passado era uma coisa infantil e ele tinha ciência disso, mas era muito sincero consigo mesmo e entendia que ainda não havia deixado todo o passado no passado.

 

— Esqueça… não é nada importante. Você… bom, você ainda tem contato com suas amigas? A ruivinha e a morena que andava contigo…

 

— Manuella, sim. A Samantha tá trabalhando pros lados de Utah, não nos falamos mais. E você? Você andava com um tal de André, né?

 

Prince sorriu ao se lembrar do amigo.

 

— Perdemos contato, mas eu soube que a carreira musical dele também está alavancando. Eu espero que ele consiga o que quer.

 

— Sim…

 

Prince ia fazer uma pergunta, mas pensou um pouco antes de prosseguir, o que deixou o ambiente silencioso novamente. Ele encarou a mulher e tornou a falar.

 

— Luna…

 

— Hum?

 

— Você… ainda mantém contato com aquele seu ex?

 

A garota pareceu intrigada com a pergunta, mas respondeu sem maiores problemas.

 

— Nunca mais nos falamos. Pensei que ele iria ser insistente, mas ele aceitou bem o término. Vocês mantiveram contato depois da confusão no metrô, não foi?

 

— Er… sim. Como soube?

 

— Bairro pequeno, as informações corriam na época. Eu ainda fiquei uns dois dias em Minneapolis antes de me mudar, deu tempo pra a notícia chegar em mim.

 

Ela deixou uma risada escapar.

 

— Espero que ele não tenha me difamado muito…

 

— Ele tinha me dito que não te aguentava mais… Acho que consigo entendê-lo.

 

Prince provocou, não segurando um sorriso perverso. Luna riu novamente.

 

— Aquele idiota. Vocês perderam contato?

 

O cantor aquiesceu e se ajeitou em seu próprio cantinho.

 

— Nós nem passamos muito tempo juntos. Ele me intrigava… como se guardasse algum segredo.

 

— Michael? Ele era assim mesmo… Preciso confessar uma coisa, ele gostava de personagens.

 

— Sim… Daryl era um deles.

 

— Você conheceu o Daryl? Foi o nome que ele usou quando nos conhecemos. Eu só vim saber que ele se chamava Michael semanas depois do nosso namoro começar. Parando pra pensar, é realmente bem intrigante… Onde será que ele deve tá agora?

 

O cantor achou aquela confissão bem curiosa, mas deu ombros e buscou não se aprofundar. Prince estava no melhor da sua vida, ele não se importava mais com aqueles detalhes, ou pelo menos tentava mantê-los em seu passado.

 

— É uma boa pergunta, mas me recuso a dar um palpite.

 

Tomou a caneta em mãos e tornou a escrever. Luna arqueou a sobrancelha, mas enfim entendeu como o Prince funcionava agora. 

Aquilo significava assunto encerrado.

 

x ----- x

 

Sala de gravação - 20:24 hrs

 

Ted entrou na sala de gravação com tanto vigor, que os discos nas paredes vibraram com o movimento da porta. Ele estava acompanhado da Nanda, assessora do cantor, o funcionário que havia ido pegar sua guitarra, um funcionário da agência e mais alguns seguranças.

O único resquício de que Prince havia passado por ali era o seu celular solitário.

 

— E-eu juro… O senhor Nelson me ligou, disse pra eu levar a guitarra para o carro. Quando eu cheguei, ele não estava mais aqui.

 

Murmurou o senhor. Ted se aproximou do celular do cantor e percebeu todas as ligações não atendidas que havia feito. Ele explorou um pouco mais e reparou que Prince havia desativado manualmente o alarme para o lembrete do ensaio de fotos. 

 

— Ele desativou o alarme…

 

O homem se aproximou da assessora e mostrou a ela.

 

— Ele sabia do compromisso… Ele deve ter se perdido entre o segundo e o décimo segundo andar.

 

— Se perdido? O senhor Nelson não é idiota, Ted.

 

— Bom, alguma coisa entre o segundo e o décimo segundo andar aconteceu. Vamos averiguar isso agora.

 

— Okay, mas, por via das dúvidas, eu vou pedir as imagens das câmeras de segurança do lado de fora do prédio. Ele também pode ter saído por algum motivo…

 

O homem aquiesceu.

 

— Isso. Isso, faça isso.

 

Nanda assentiu e saiu rapidamente dali. Todos estavam nervosos e apreensivos, aquela situação não era comum e quem era mais experiente na área sabia como eram instáveis esses jovens astros, infelizmente eles já estavam pensando no pior.

Saíram da sala e começaram as buscas intensivas pelo prédio.

 


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