Parte V - 24 horas. 

Eu sabia que Bella era inocente.

Algo dentro de mim, sempre soube. 

O problema é que talvez, eu tenha descoberto a verdade tarde demais. 

Tenho muito pouco tempo para impedir a execução dela no corredor da morte. 

Por isso, assim que terminei minha conversa com Bella, comecei a agir mesmo sabendo que ela era contra. 

O primeiro passo foi ligar para Alice e pedir o contato da advogada de Bella. 

Não tive tempo para explicar tudo, mas Alice ficou levemente esperançosa com a minha ligação. 

Ao telefone com Doutora Elizabeth, expliquei toda a situação. 

Ela disse que faria o que tivesse ao seu alcance para tentar impedir a execução de Bella, mas que era um caso difícil, principalmente porque não tínhamos provas cabais da inocência da morena. 

Mas não posso permitir que ela morra sendo inocente, nem que para isso eu tenha que fazer alguma loucura, sei lá.  

Depois de falar com a advogada, procurei Jasper e Rosalie para contar à eles tudo o que ouvi diretamente da boca de Isabella. 

— Estou chocado! - Jasper falou surpreso com tudo que lhe contei - Ela é muito doida, cara. Muito doida mesmo de ter feito uma maluquice dessas! - O loiro ainda continuava com os olhos arregalados, perplexo diante do que lhe contei - Se jogar assim no corredor da morte sem ter culpa de nada! Isso é loucura! 

— O problema vai ser provar a inocência dela, Ed. Assim, em menos de 20 horas. - Rosalie comentou olhando seu relógio de pulso - Porque não temos provas. Pelo que você disse ela não pretende mudar o depoimento oficial e mesmo que o fizesse, ela já mudou tanto as versões desse crime que nenhum juiz iria sequer dar o benefício da dúvida. 

— Como não temos provas, Rose?! Ela disse na minha cara que é inocente! - Afirmei  andando de um lado para o outro, mal conseguindo raciocinar de tão nervoso que estou.

— E Renesmee está viva. Ela não matou a filha. Aliás, isso foi o maior agravante dos crimes dela e o principal motivo do júri a condenar a pena de morte anos atrás. - Jasper lembrou dando uma tragada em seu cigarro, em um starbucks perto do presídio.  

— Eu sei meninos, mas como vamos provar que aquela criança é a Renesmee? Temos a possibilidade de fazer exame de DNA? Temos. Mas nenhum exame fica pronto assim, em tão poucas horas. Além do mais, o casal que adotou a Renesmee não sabe da verdadeira origem dela, então sequer poderiam servir de testemunho para o juiz. 

— É, mas podemos conversar com eles, explicar a situação e pedir para que eles permitam o exame de DNA, garantindo que tudo será feito com delicadeza e sigilo. - Argumentei. 

— Parece uma boa ideia. - Rose concordou. 

— Infelizmente, a tal freira que sabia de toda a verdade, está morta há anos e não pode servir de testemunho para salvar a Isabella. - Jasper lembrou - De qualquer forma, vou falar com a promotoria. Tentar explicar a situação toda para ver se conseguimos algum jeito de interromper a execução. Tem que haver algum. 

— Deve ter, só que já passou da meia-noite. Só vamos poder fazer alguma coisa amanhã de manhã, nada funciona de madrugada nesse país, inclusive a justiça. - Rosalie avisou - Sinceramente? Acho que não vai dar tempo. 

— Nem fala isso, Rose! - A interrompi - Não é justo! Isso não pode acontecer, entendeu? Não vou permitir que a Bella morra assim, ela já sofreu demais, ela não merece! Ela viveu um inferno a vida toda e eu não vou permitir que a vida dela acabe assim!

— Ed? Você está chorando. - Rosalie disse e só então eu percebi que uma lágrima estava escorrendo do canto do meu olho esquerdo - Acho que você se envolveu além da conta com esse caso. - A loira secou minha lágrima com o dedo. 

— É, talvez eu tenha me envolvido demais mesmo. - Confessei baixando a cabeça - Por favor, me ajudem a salvar a Bella. Por tudo que é mais sagrado. - Praticamente supliquei e meus amigos me abraçaram forte. 

— Vai dar tudo certo, cara. - Jasper sussurrou no meu ouvido, tentando me consolar. 

[...]

14 horas. 

Não, eu não dormi. 

Passei a noite toda tomando café e analisando detalhes do caso de Isabella, naquele longo e doloroso processo. 

Tem que haver alguma forma de provar que Bella está falando a verdade. 

Já pensei em tantas coisas. 

Polígrafo? Segundo o processo, há quatro anos ela passou por um que atestou que ela disse a verdade quando afirmou que matou Renesmee.

Se eu usar isso como argumento, podem me rebater com o depoimento do polígrafo anterior. 

— Céus... O que eu faço? - Sussurrei passando a mão por meus cabelos, quando recebi uma mensagem de celular. 

Era a advogada de Isabella, avisando que entrou com um pedido na suprema corte local para tentar impedir a execução. 

Minutos depois, Jasper também me ligou avisando que conversou com a promotoria que disse que ia entrar com um pedido extraordinário para tentar adiar a execução de Bella e retornar com as investigações do crime, após novos indícios da inocência da ré. 

Mas tudo isso leva tempo e é tudo o que não temos. 

E se o juiz não analisar o processo a tempo?

E se o pedido for negado? 

E se ele for aceito, mas não der tempo de impedir a execução? 

Eu queria vê-la, falar com ela, mas ao mesmo tempo fiquei com tanto medo. 

Medo de vê-la outra vez, de vê-la pela última vez. 

Eu não quero que ela morra, não quero que ela tenha esse final terrível, mas ela não quer colaborar. 

Bella quer morrer. 

E isso é tão triste. 

Uma mulher tão jovem, com a vida toda pela frente desistindo de tudo assim. 

E ela é tão linda. 

É a mulher mais linda que já vi na vida, mesmo estando maltratada pelo tempo.

Tempo esse que está chegando ao fim. 

Aos poucos. 

Hora a hora. 

Minuto a minuto. 

[...]

7 horas. 

Durante o dia, resolvi conhecer a filha de Bella, a Renesmee, que agora tem um outro nome. 

Na escola de balé da pequena, acompanhei os ensaios de longe e vi uma doce menina de cabelos castanhos ondulados e sorriso alegre, dançar leve como uma pluma naquele palco, feliz com as coleguinhas, sorrindo, sem sequer imaginar que daqui poucas horas, sua mãe será morta com uma injeção letal. 

Para justificar minha presença ali no cantinho do curso, menti que estava em uma investigação simples e mostrei meu distintivo para os professores. Renesmee chegou a me ver de longe enquanto dançava e em certo momento, até sorriu para mim. 

Tive vontade de chegar até ela, de tentar conhecê-la melhor, mas fiquei com medo da Bella ficar chateada comigo se souber que me aproximei de sua filha sem sua autorização. 

Então resolvi ficar na minha. 

Após sair da aula, recebi uma ligação de Jasper dizendo que a promotoria não se interessou muito pela ideia de rever o caso, e que diseram que apenas um depoimento não provava nada. 

Me senti tão impotente, mas avisei a Doutora Elizabeth sobre isso e ela disse também que ia entrar com o pedido do exame de DNA para provar que Renesmee está viva, mesmo contra a vontade de Bella e eu concordei. 

É o certo a se fazer. 

[...]

As horas foram passando e quando me dei conta, faltava apenas uma hora para a execução de Bella. 

Liguei mais uma vez para a Doutora, que disse que os pedidos não tinham sido sequer julgados e que achava que não daria mais tempo de impedir a morte de Isabella. 

Aquilo me desestruturou de tal forma que comecei a chorar copiosamente. 

É muita injustiça o que vai acontecer esta noite e eu aqui, impotente. 

Juro que se eu pudesse tirar a Bella daquele lugar, eu tiraria. 

Mas eu não posso. 

Não está nas minhas mãos. 

Eu não posso fazer absolutamente nada para salva-la e isso é o que mais me dói. 

[...]

Fiquei confuso se deveria ou não ir atrás dela e acompanhar a execução.

Mas... Sinto que devo isso a ela. 

Bella vai estar rodeada de pessoas que pensam que ela é um monstro.

O monstro de Virgínia. 

E por isso, sinto que ela precisa saber que alguém nesse mundo gosta dela, que se importa e principalmente, acredita nela. 

Bella precisa saber que não está sozinha. 

Passei em uma cafeteria para recarregar as energias com café e pão e, em seguida, fui direto para o presídio. 

Chegando lá passei por todos os procedimentos necessários e fiquei sabendo que Bella seria executada dez minutos antes que o babaca do Aro. 

Ele sim merece essa condenação e espero sinceramente que pague por tudo que fez a Bella e a todas as vítimas, no quinto dos infernos. 

Primeiro, irei assistir a triste execução de Isabella e depois, a do maldito Aro. 

Quando cheguei na platéia era um silêncio total. 

A família das vítimas estava lá, se sentindo vingada, mal sabendo que na verdade estavam diante de uma pobre inocente. Algumas mães das vítimas choravam, outras apenas pareciam amarguradas, mas a maioria dos familiares certamente estão na outra sala, assistindo os preparativos da execução de Aro mesmo, já que sabem que ele sim era o cabeça de tudo. 

Bella já estava sendo amarrada a maca e aquilo me deu uma tristeza, uma infelicidade que não cabia dentro de mim. Tanto que não aguentei e comecei a chorar, quebrando o protocolo, afinal, sou um agente federal e não posso me envolver a esse ponto em um caso. 

Quando Bella me viu, me olhou com um olhar de gratidão. 

Era como se ela tivesse entendido o meu recado, minha presença ali. 

Quando perguntaram quais eram suas últimas palavras, ela disse algo que me tocou profundamente. 

— Obrigada por se importar comigo. - Falou olhando dentro dos meus olhos. 

Eu sabia que era para mim e não consegui controlar as lágrimas. 

Alice, que também estava ali, veio ao meu encontro e me abraçou forte, chorando e demonstrando toda a dor que sentia por estar prestes a perder a única irmã. 

De repente, através do vidro, vi Jasper entrar na sala de execução e dizer alguma coisa no ouvido de um dos policiais. 

Já Rosalie, entrou na sala da platéia, vindo direto ao meu encontro. 

— O que está acontecendo senhorita? - Alice perguntou confusa. 

— Elizabeth conseguiu uma ordem do juiz para interromper a execução da detenta para novas investigações. - A loira respondeu sorrindo e foi como se um peso saísse dos meus ombros - Em cima da hora, eu sei, mas assim que a ordem saiu corremos para cá, ligamos e felizmente, deu tempo. - Explicou ofegante por ter vindo literalmente correndo. 

— Que maravilha! - Alice comemorou emocionada, abraçando Rosalie com força - Eu sabia que minha irmã era inocente, sabia! 

Olhei para o vidro e Bella estava sendo retirada da cama, confusa e não entendendo bem o que estava acontecendo, mas quando me viu sorrindo, acho que finalmente entendeu.   

Ela foi levada dali ainda meio tonta com tudo aquilo e eu rapidamente, sai da sala. 

— Para onde você vai, Ed? - Jasper perguntou tentando me alcançar no corredor. 

— Preciso fazer uma coisa imediatamente. - Respondi me afastando apressado. 

Nos corredores, pedi a um funcionário do presídio que me arrumasse um cartaz e uma caneta, o que para minha sorte foi atendido prontamente. 

Em seguida, estiquei o papel na parede mesmo e escrevi uma coisa muito importante. Logo depois, mostrei meu distintivo e entrei na sala da execução de Aro, que estava lotada de familiares das vítimas que ele mesmo matou, inclusive as pessoas que estavam na execução de Bella, já haviam migrado para lá também. 

Enquanto Aro era amarrado a cama fiquei parado bem em frente ao vidro, aguardando meu momento de agir.

Quando o guarda colocou o microfone em frente a boca do verdadeiro monstro de Virgínia, ele abriu um sorriso. 

— Quais são suas últimas palavras?

— Minhas últimas palavras? Pois bem - Suspirou profundamente - Não me arrependo de nada, faria tudo de novo, do mesmo jeito porque minha vida foi tão divertida! Agora vou encontrar com minha querida Isabella e minha filhinha no inferno. Então, vamos lá! - Ironizou parecendo estar feliz com a situação - Se eu não estivesse amarrado, juro que bateria palmas agora.  

Foi quando dei duas batidinhas no vidro para chamar a atenção dele. 

Aro então olhou para ondeveu estava e imediatamente, leu o cartaz. 

"Renesmee, sua filha, está viva. A execução de Isabella foi suspensa. Você perdeu, Aro Volturi. Você sabe que você perdeu." 

— O quê? - O moreno arregalou os olhos - NÃO!! Não pode ser verdade! É verdade mesmo? - Aro exclamou e eu assenti com a cabeça confirmando - TENHO QUE SAIR DAQUI, ME TIREM DAQUI! - O canalha pediu, sendo ignorado por todos que terminaram de o amarrar na cama para aplicar a injeção letal. 

Enquanto a injeção era aplicada em sua veia, Aro se debatia a todo momento tendo que ser segurado pelos policiais, até que a solução começou a fazer efeito e as poucos, a vida foi se esvaindo dos olhos daquele ser horrível.

— Acabou. - Falei baixinho, respirando fundo.

[...]

Depois de acompanhar a execução do canalha até o último segundo, fui direto para a cela de Isabella. 

— Sabia que você estava por trás disso tudo. - A morena disse assim que me viu, sentando-se na beira da cama - Por quê você fez isso?

— Já disse. Porque me importo com você. - Dei um pequeno sorriso. 

— Eu já estava conformada com meu destino, Edward. Agora mudou tudo. - Bagunçou os cabelos com as mãos, parecendo muito confusa - Ainda tem o Aro e...

— Não tem mais. - Ela me olhou com a sobrancelha franzida - Aro está morto agora, posso garantir a você. - Bella arregalou os olhos com minha revelação, engolindo em seco em seguida - O pedido foi válido apenas para você, já que no caso do Aro, há todo tipo de prova que o incrimina, inclusive a própria confissão de parte dos crimes com riqueza de detalhes. Por isso, o juiz prosseguiu com a execução dele e interrompeu apenas a sua. - Expliquei me aproximando dela. 

— Aro está morto. - A detenta não conseguiu disfarçar o alívio, suspirando profundamente. - Morto mesmo? 

— Sim. 

— Mas e agora? Eu vou ser solta? - Se levantou ficando de frente para mim.

— Sim, daqui poucos dias provavelmente. - Avisei. 

— E o que vai ser de mim Edward? O que vai ser da minha vida agora?

— Sinceramente? Ainda não sei. Mas quero que saiba que você não está mais sozinha. Eu estou e sempre estarei aqui por você, Bella. - Garanti segurando as mãos dela. 

Emocionada com minha atitude, Bella me abraçou com força, chorando profundamente no meu peito.  

Assim como disse para ela, não sei o que vai acontecer daqui em diante. 

Apenas que independente de qualquer coisa, vou estar ao lado dela sempre.