O Corredor Da Morte escrita por Chrys Monroe


Capítulo 5
Parte IV - Extra


Notas iniciais do capítulo

Olá!

O motivo da demora é o mesmo, estou trabalhando de domingo a domingo e sem tempo para escrever as fics.

Esse capítulo será narrado pela Bella e será pesado, então quem não quiser ler aguarde o próximo hahaha

Boa leitura, amo vocês e feliz halloween ♡♡♡

P.S: peguem os lençinhos!!



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Narrado por Isabella. 

 

 

 

"Outras coisas podem nos mudar, mas começamos e terminamos com a família." - Anthony Brandt

 

 

Quinze anos. 

Era isso que eu tinha quando minha vida virou de cabeça para baixo. 

Até aquele momento, eu tinha tido uma vida normal. 

Morava com Charlie, Renée e pouco tempo depois, minha irmã mais nova, Alice, chegou nas nossas vidas para trazer mais  alegria. 

Não éramos uma família típica de comercial de margarina, mas éramos uma família comum, que se respeitava e carregava o sonho americano dentro do coração. 

O meu, era o mais audacioso de todos. 

Queria ser bailarina, me apresentar um dia para milhares de pessoas em um teatro grande como aquele que tem lá em Nova York. 

Queria crescer, estudar, casar, ter filhos. 

Será que era pedir demais?

Tudo mudou no dia em que meu pai se foi. 

A partir daí, minha mãe nunca mais foi a mesma. 

Não sei se foi a necessidade, ou o período de doença de Charlie, mas eu nunca mais a vi sorrindo desde então. 

Com duas filhas para criar, Renée, que até então vivia como dona de casa, precisou trabalhar. Mas mesmo assim, passávamos muita necessidade e eu até tive que parar de estudar para procurar emprego também. 

Mas era difícil. 

Em Montana, minha cidade natal, não tinha tantas oportunidades assim. 

[...]

Um dia, enquanto procurava emprego pela cidade, encontrei um homem. Ele tentou puxar assunto comigo, mas era aquela coisa.

Minha mãe sempre dizia para eu não falar com estranhos. 

Não dei bola para ele, mas dias depois ele já estava dentro da minha casa, conversando com minha mãe. 

Um mês depois, Renée estava autorizando minha ida para a casa dele em Virgínia. 

Um maldito mês somente. 

Eu mal sabia o nome daquele homem, mas com o passar do tempo, soube que jamais iria esquecê-lo. 

Aro Volturi. 

Eu tinha dezesseis anos e ele, quarenta. 

E mesmo assim, Renée me vendeu para aquele homem asqueroso.  

Ainda lembro dos meus gritos pedindo para que ela não fizesse aquilo. 

Lembro do rosto de Renée, abatido, e de Alice, ainda muito criança chorando e  pedindo para eu não ir embora. 

Mas não adiantou. 

Nada adiantou. 

Eu tive que ir para Virgínia. 

E ali começou meu inferno. 

[...]

Não me deitei com Aro de livre e espontânea vontade. 

Ele simplesmente abusou de mim. 

E tirou todas as possibilidades de comunicação que eu podia ter com o mundo exterior para pedir socorro, enquanto ainda tinha chances.  

Me levou para uma fazenda e me mantinha trancada dentro de casa o dia inteiro. 

Quando retornava, me espancava, fazia o que queria comigo e pronto. 

Tinha alguns funcionários na fazenda, mas todos eram da mesma laia que Aro e nunca moveram uma palha para me ajudar. 

Por muitos e muitos anos. 

Naquele tempo, meu único divertimento era ouvir música clássica, enquanto  treinava alguns passos de balé na sala, para não enferrujar. 

Eu colocava a música bem baixinho - Aro não gostava de música alta - fechava os olhos e me imaginava dentro de um grande teatro, para uma platéia enorme. Me apresentando, ouvindo todos os aplausos.

Era meu único momento feliz.  

Quando abria os olhos e voltava a minha realidade, só sabia chorar. 

Um dos poucos momentos de alívio que eu tinha era quando ligava para Alice. Ela sim teria um futuro diferente do meu, pois com o dinheiro que Aro dava para Renée, ela iria poder estudar, fazer uma universidade, enfim, viver uma vida normal. 

[...]

O tempo foi passando e Aro começou a me dar mais liberdade, principalmente depois que casamos no papel.

Não precisava mais ficar trancada em casa o dia todo, podia passear pelo jardim, cuidar dos animais da fazenda e de vez em quando, ele até me levava para o mercado da cidade. 

[...]

Certa vez, tentei fugir. 

Ainda me lembro como se fosse ontem da reação de Aro, quando me pegou no flagra. 

Ele tirou o cinto assim que chegamos em casa, me bateu, me torturou das piores formas possíveis e mais uma vez, abusou de mim. 

— Se você tentar fugir de novo, vai sobrar para Renée e Alice da próxima vez. - Foi a ameaça dele. 

Impotente, simplesmente desisti. 

Percebi que estava em um beco sem saída e a única forma de me livrar daquilo era morrendo. 

Quando ele saiu de casa e disse que ia demorar, aproveitei para começar a planejar minha própria morte. 

Cortar os pulsos, rolar escada abaixo? Estava na dúvida sobre qual seria a forma menos dolorosa de partir. 

Mas antes que eu pudesse decidir, comecei a sentir enjôos. 

E rapidamente, me lembrei de quando Renée engravidou de Alice. 

Sim, eu estava grávida. 

E com muito medo do que seria de mim dali em diante. 

[...]

Minha gravidez foi solitária. 

Uma vez por mês, Renée e Alice me visitavam. 

E só. 

Essa foi a única regalia que Aro me deu. 

Porém, ele começou a sumir por uns tempos. 

Passava mais tempo fora e quanto mais longe ele ficasse de mim, melhor.

Depois de nove meses, Renesmee nasceu e a alegria voltou a reinar na minha vida. 

Claro que era muito difícil cuidar dela praticamente sozinha, mas mesmo assim não me sentia mais infeliz como antes. 

Eu tinha por quem viver. 

Eu tinha por quem lutar.

Era eu e ela.

Contra tudo e contra todos. 

[...]

Assim que Renesmee nasceu, Aro voltou a proibir as visitas da minha família e passou a nos isolar ainda mais do mundo.  

Era tão estranho.

Ele também começou a ficar mais tempo sumido, as vezes por dias. 

Mas sempre tinha um ou outro funcionário bem de olho em mim. 

E Renesmee foi crescendo quase sem a presença do pai, se é que dava para chamar aquele monstro de pai. 

Conforme ela foi crescendo, fui percebendo que Nessie não podia mais viver ali, naquele ambiente ruim. 

Queria um futuro melhor para minha filha. 

Mas para isso, precisaria de dinheiro. 

Só não sabia como faria para conseguir, já que nunca trabalhei e sequer sabia como me virar sozinha.  

[...]

Com o passar do tempo, as coisas foram ficando estranhas. 

Aro demitiu todos os funcionários, foi ficando mais agressivo comigo, com Renesmee também. 

Também não saía mais daquele maldito celeiro. 

Dia e noite. 

Pra mim era ótimo, mas passei a sentir que tinha algo de errado nisso.

E comecei a ficar curiosa também. 

— Onde você vai, mamãe? - Renesmee me perguntou enquanto eu ia até a porta de casa.

— Só vou até lá fora, filhinha. Continue desenhando aí no seu cantinho, que a mamãe já volta. - Avisei dando um meio sorriso para Renesmee. 

[...]

Era noite. 

E estava frio.

Muito frio. 

Caminhei pelo quintal em direção ao celeiro e bati na porta uma vez, mas ninguém respondeu. 

Resolvi então abrir a porta do celeiro quando me deparei com uma das cenas mais horríveis da minha vida. 

Havia uma mesa grande no celeiro e em cima dela, uma mulher só de sutiã e calcinha. 

Ela estava toda machucada, com marcas de queimadura de cigarro - semelhante as que Aro fazia em mim - e outros cortes pelo corpo. 

Chorava copiosamente e gemia, com um pano amarrado na boca.  

Aro estava ao lado dela com uma faca enorme nas mãos. 

— O QUE ESTÁ FAZENDO AQUI SUA IMBECIL? - Me olhou furioso. 

— O que está acontecendo aqui, Aro? O que você está fazendo? Solte essa mulher agora! - Falei indo até a moça e tirando o pano de sua boca. 

— Obrigada... Me ajude, por favor! - A mulher não parava de chorar - Ligue para a polícia! Esse homem é um doente! 

— Calma, moça... - Falei tentando soltar o pulso dela, que estava amarrado - Aro, por que você fez isso com... - De repente, Aro me deu um cadeado, apertando meu pescoço com força por trás.

— Você não devia ter se metido nos meus assuntos, vadia. - Ele continuou me enforcando, mas dei uma cotovelada nele, que me soltou. 

— Você fazer o que faz comigo, eu até posso aceitar, mas com outras pessoas, com inocentes... Isso não! Já chega! - Me rebelei - Vou telefonar para a polícia e acabar com tudo isso. 

Realmente, não aguento mais. 

— Ela não é a primeira, nem será a única. E se você der mais um passo, vai ser a próxima. - Me ameaçou. 

— Se quisesse me matar, já teria matado. São tantos anos nesse inferno mesmo! - Gritei. 

— Ah é? Acha que eu não tenho coragem? Veja como eu tenho! - E na minha frente, Aro cortou a garganta daquela moça.

Eu nunca tinha visto algo tão horrível na minha vida. 

Não sei por quanto tempo fiquei parada ali, como se o tempo tivesse parado, olhando o pescoço daquela pobre garota jorrando sangue.  

Parecia um pesadelo. 

Eu não conseguia sequer me mexer, minhas pernas não obedeciam, meu coração parecia que ia sair pela boca e meu corpo todo tremia sem parar. 

— Limpe toda essa sujeira agora, Isabella. - Aro mandou segurando meu braço. - Até porque tudo é culpa sua, que me interrompeu na hora errada! Se tivesse ficado na sua, a vadia teria sobrevivido por mais algumas horas. 

Só então percebi que o sangue daquela moça estava escorrendo pelo chão. Inclusive tinha espirrado em mim, no momento em que ele a matou. 

— Não... - Murmurei chorando. 

— Se você não limpar, vou chamar nossa filhinha aqui, pra ver essa cena tão animada. 

— Você não faria isso.   

— Escute bem, Isabella. - Aro avisou apontando o dedo na minha cara - Não há nada que eu não seja capaz de fazer. Nada! Por isso, por favor, querida. Faça o seu papel de esposa e limpe essa bagunça toda agota.  

— Não...

— LIMPE ESSA BAGUNÇA AGORA OU QUEM VAI SE ENCONTRAR COM ESSA VAGABUNDA NO INFERNO, SERÁ VOCÊ!

— Ta... - Concordei pegando um rodo, um balde e um pano que tinha ali para começar a limpar tudo.  

A garota continuava ali, morta com os olhos esbugalhados. 

Jamais vou esquecer aquele olhar. 

Jamais. 

Eu me senti a pessoa mais podre do mundo depois daquilo. 

O pior dos seres humanos. 

E nunca, jamais vou esquecer tudo o que vi naquele dia. 

[...]

Renesmee não podia viver mesmo naquele ambiente. 

E Aro tinha que ser preso e pagar por todos os crimes que cometeu. 

Crimes no plural sim, pois enquanto limpava o sangue daquela pobre vítima, ele me contou tudo o que fez com todas as outras. 

Nos mínimos detalhes. 

Eu queria matar aquele homem. 

Mas não sabia como. 

Não tinha coragem. 

Eu só queria ir embora dali com a minha filha para bem longe. 

Só isso. 

[...]

Depois de muito pensar, tive uma ideia. 

Antes de mais nada, eu precisava tirar a Renesmee daquela fazenda. 

E enquanto Aro foi se livrar do corpo de uma das vítimas, fiz uma pequena mala para Renesmee e fui até a cidade, a pé mesmo. 

Fui até o orfanato, onde dois anos antes tinha reencontrado uma professora da minha infância em Montana. Uma freira muito bondosa chamada Carlota. 

Pedi a ela que permitisse que Renesmee ficasse ali por um tempo, pois tinha que fazer uma coisa. 

Carlota aceitou me ajudar e quando voltei para casa, inventei para Aro que Renesmee estava na casa de uma coleguinha, com quem brincava de vez em quando quando íamos no mercado da cidade.

Aro nem ligou e continuou caçando suas vítimas, enquanto escondida dele preparei  minhas malas. 

Naquela altura, Aro já tinha capturado uma outra vítima. 

No momento da minha fuga, a fazenda parecia estar vazia. 

Aproveitei para entrar no celeiro e soltar a última vítima, que estava muito debilitada devido a violência de Aro. Depois de muito pensar, decidi que levaria a garota comigo até um hospital e depois, ligaria para a polícia denunciando Aro. Por fim, fugiria para bem longe até a poeira abaixar. Quando tudo se acalmasse e eu arrumasse um emprego, buscaria Renesmee e quem sabe, até Alice. 

Era o plano perfeito. 

Mas só na minha cabeça mesmo. 

Após desamarrar a garota, voltei para dentro de casa para pegar minha mochila. A coloquei nas costas e saí sem olhar para trás, afinal, não sentirei saudades de nada daqui. 

Mas quando retornei ao celeiro, a garota, que me disse que se chamava Jessy, estava... Morta. 

A facadas. 

— O que você pensou que iria fazer, Isabella? - Aro me perguntou vindo na minha direção. 

Não disse mais nada, apenas saí correndo para fora do celeiro. 

Aro me alcançou, me dando um tapa na cara. 

— Me solta, seu desgraçado! - Falei dando um soco de volta nele, sei lá com que força, mas arranquei sangue do nariz dele. 

— Desgraçada é você! - Me deu mais um soco, me jogando no chão e colocando o pé no meu pescoço - Cadê a Renesmee? Quero minha filha agora. 

— Ela não é sua filha, seu monstro. 

— Ela é... E eu sei direitinho o dia em que engravidei você dela. Foi aquela vez que eu te torturei com aquela faca, foi tão gostoso. Lembra dos pequenos cortes que fiz pelo seu corpo? Você chorava e eu sorria de prazer. 

Ouvir aquilo embrulhou meu estômago. 

— Renesmee não está mais aqui e você, nunca, nunca mais vai vê-la. - Afirmei sorrindo.

— Posso saber por quê sua desgraçada?! - Ele ficou de joelhos e começou a apertar meu pescoço. 

Eu não sabia se ia morrer. 

Não sabia o que ia acontecer comigo naquele exato momento, mas precisava proteger Renesmee. 

Foi ali que me surgiu uma ideia. 

— Ela está morta. 

— O QUÊ?

— EU MATEI A RENESMEE, EU A MATEI PARA QUE ELA NÃO TIVESSE QUE ATURAR VOCÊ PARA O RESTO DA VIDA! FOI ISSO, EU MATEI A MINHA FILHA, ARO! - Gritei. 

— LEVANTEM-SE E COLOQUEM AS MÃOS PARA O ALTO AGORA. - Foi só ali, ouvindo aquela voz grossa que olhei ao meu redor. 

Estava com a adrenalina tão lá em cima, que sequer percebi que a polícia tinha aparecido e que estava ali do nosso lado, com as armas apontadas para nós dois. 

— Prendam essa desgraçada agora, ela matou a minha filha! - Aro exclamou sorrindo como um louco - Vocês ouviram, não é? Ela acabou de confessar! 

— E você matou todas aquelas mulheres! - O lembrei sendo algemada por um policial. 

— Com a sua ajuda, meu amor. Com a sua ajuda. - Aro repetiu mandando um beijo para mim, que queria mais era avançar no pescoço dele, mas não podia pois também já estava algemada.

[...]

Ser presa para mim de certa forma foi como se eu tivesse finalmente conquistado a liberdade. 

Qualquer lugar que eu pudesse ficar longe do Aro, já era bom demais. 

Até mesmo se fosse atrás das grades. 

Os primeiros dias na delegacia foram muito confusos. 

Aquelas mulheres mortas não saíam da minha mente, eu tinha crises e pesadelos horríveis todas as noites. 

Todas. 

Ficava pensando que se eu tivesse sido mais corajosa, mais esperta... Que se tivesse denunciado Aro tudo seria diferente. 

Aliás, se eu tivesse procurado saber o que ele tanto fazia naquele celeiro, quantas vítimas não estariam vivas agora? 

Aquilo me corroía por dentro minuto a minuto. 

[...]

Com o passar dos dias, a proporção que os crimes de Aro tomaram foi surreal. 

Depoimentos atrás de depoimentos, os pesadelos constantes com as vítimas, a mídia em cima da gente nos chamando de monstros de Virgínia na TV todos os dias. 

Eu era um monstro?

De certa era sim porque eu... Eu permiti que tudo aquilo acontecesse. Quando descobri o que Aro fazia, fui egoísta. Só pensei em mim e na Renesmee. Apenas por último, eu iria chamar a polícia, mas eu deveria ter chamado antes. 

Eu também era cumplíce, pois limpei o sangue da vítima. As duas últimas morreram por minha culpa, porque eu tentei intervir da forma errada.  

Céus, eu era mesmo um monstro. 

E isso certamente iria me enlouquecer algum dia. 

[...]

O tempo passou e durante meus depoimentos, passei a concordar com a afirmação de que matei minha filha. 

Na minha cabeça, seria o melhor para ela. 

Eu sonhava com um futuro tão bonito para Renesmee. 

 

Ser filha dos monstros de Virgínia não seria nada bom para ela. 

Seria um fardo que nenhuma criança merecia carregar.

A imprensa me culpava, a polícia, todos. 

E eu era culpada sim, aquelas mulheres morreram por minha culpa, pela minha covardia. 

Então, assim como Aro, eu também merecia pagar. 

Recebia pouquissímas visitas, apenas de Renée, Alice e Carlota, que me passava informações da minha princesinha, que estava muito bem naquele orfanato, fazendo até novos amiguinhos.  

Sustentando minha versão de que matei Renesmee e compactuei com todas as mortes, fui condenada ao corredor da morte.

Assim como Aro, o que não vou negar, me deu uma alegria tremenda saber que ele vai para o inferno. 

Mesmo que eu tivesse que ir junto também.   

Quase ao mesmo tempo, Carlota me avisou que uma boa família tinha gostado de Renesmee, que queria adota-la e tudo mais. 

Minha pequena poderia ter um futuro lindo pela frente, mas para isso eu teria que quebrar meu coração ao meio. 

Nunca mais poderia vê-la. 

Ao menos não enquanto eu estivesse viva. 

Mas acho que quando a gente parte, quando a gente sai desse mundo... Talvez possa voltar a terra para rever quem amamos. 

Talvez, essa seja a única forma de poder voltar a ficar perto da minha filha pois em vida, isso jamais irá acontecer. 

[...]

Tanto nas visitas de Carlota, quanto em cartas, acompanhei o crescimento de Renesmee. 

Ela sempre mandava informações sobre minha pequena e, aqueles eram os únicos momentos que eu conseguia sorrir. 

Mas tudo era feito com muito cuidado, afinal, ninguém podia desconfiar que minha filha estava viva.

[...]

Com o tempo, vem as perdas. 

Renée se foi.

Por mais que ela tenha sido omissa comigo boa parte da vida, foi estranho viver sem ela.

Alice foi estudar longe, Carlota também morreu. 

E eu fiquei sem receber visita alguma por um longo tempo. 

Então, os livros se tornaram meus melhores amigos. 

Ler era minha atividade favorita, me tirava desse mundo. Era como se eu me teletransportasse para outro planeta quando estava lendo. 

Onde não tinha dor, nem nada de ruim. 

[...]

Quando Alice se tornou adulta e se formou, voltou a morar em Virgínia e passou a ficar obcecada em provar minha inocência. Ela não acreditava em mim, sabia que estava mentindo e queria me ajudar. 

Achei lindo da parte dela, mas eu não tinha mais vontade de continuar nesse mundo. 

E cada vez que a data da execução se aproximava, mais eu me sentia aliviada de poder partir desse mundo. 

[...]

De repente, o inesperado aconteceu. 

Edward Cullen, agente do FBI, começou a me perseguir, tentar arrancar de mim a verdade sobre os crimes de Virgínia, além da localização dos corpos de algumas vítimas, mas eu não tenho ideia de onde ele as desovava, apenas sei o que fazia com elas. 

Pelo que entendi, Alice o procurou e pediu que me ajudasse. 

Mas eu não queria ajuda. 

Mesmo assim, o rapaz de olhos verdes e cabelos ruivos não saía mais do meu pé. 

Depoimento atrás de depoimento. 

E o que mais me perturbava é que ele fazia uma coisa que nenhum outro homem na vida, exceto meu pai, fez por mim. 

Edward se importava comigo. 

Dava pra ver no fundo dos seus olhos que ele não queria simplesmente, sei lá, desvendar um mistério ou apenas conseguir um alento para os pais das vítimas. 

Ele queria me ajudar.

O problema é que eu não merecia ser ajudada. 

[...]

Depois de muitos interrogatórios, acabei contando a verdade para ele. 

E poder desabafar, ao menos uma vez na vida me fez um bem danado. 

Me tirou um peso dos ombros. 

Receber um pouco de carinho de Edward, mesmo que tenha sido um tocar de mãos foi muito importante para mim, que não recebi quase nada de ninguém nessa vida.

Esperançoso, Edward queria atrasar minha execução para provar minha inocência. 

Mas não daria mais tempo. 

E nem eu queria. 

Por isso falei para ele ir embora.

— Vou fazer o que tiver ao meu alcance para impedir sua execução hoje, Bella. Eu juro. - Ele prometeu. 

— Por favor, Edward. Não faça nada, deixe as coisas como estão. Me deixe em paz. - Pedi logo em seguida para o guarda me levar de volta para a cela e fui dormir. 

A melhor coisa que posso fazer por Renesmee é deixar esse mundo. 

Assim, minha filha nunca descobrirá quem são seus pais. 

E terá um futuro brilhante como bailarina, o futuro que quis ter um dia, mas que Aro me roubou anos atrás.  

[...]

— Bom dia, Bella. O que vai querer para hoje? Você sabe que hoje tem direito a um prato especial. - Kissy, a guarda do corredor da morte comentou - Afinal, é seu último dia de vida. - Recordou. 

— É, é meu último dia. Sabe, sempre achei legal o criminoso ter direito a comer algo diferente, no último dia de vida. - Falei esfregando os olhos e me ajeitando na cama - Sabe o que vou querer? Hum... Brigadeiro de colher! - Lambi os beiços. 

— Sério? - Kissy me olhou curiosa. 

— Uhum - Levantei - Eu sempre quis comer brigadeiro de colher quando era adolescente, mas Aro quase nunca comprava. Então, acho que é uma boa ideia. 

— Está bem. - Kissy sorriu para mim. 

Ela estava de folga nos últimos dias, mas sempre foi uma boa amiga. 

Ela acha que fui coagida por Aro a cometer todos aqueles crimes, diz que minha personalidade não tem nada a ver com o monstro de Virgínia que a mídia criou. 

É... Vou sentir saudades de Kissy quando eu me for. 

[...]

Durante o resto do dia, me alimentei bem, li alguns poemas da Edgar Alan Poe, meu escritor favorito, revi fotos da minha filha... Também pensei em Edward e em como seria minha vida se tivesse o conhecido lá atrás, no lugar de Aro. 

Edward é um homem bom. 

Se pudesse escolher, teria me apaixonado por ele. 

Certamente, teria sido muito feliz ao seu lado. 

[...]

— E aí, gostou do brigadeiro?

— Muito, Kissy. - Falei toda lambuzada de chocolate - Uma vez li que os melhores prazeres da vida estão nas coisas mais simples. - Comentei sorrindo para ela - E acho que é verdade, não é mesmo? 

[...]

— Mana, você não pode me deixar. - Alice disse me dando o último abraço na sala de visitas - Você não pode morrer. 

— Não chore, maninha. - A abraçei com mais força ainda - Estou indo feliz, porque você vai ficar bem. Está formada, logo vai se casar, ter filhos e ser muito feliz. Deixa eu te olhar - Envolvi minhas mãos no rosto dela, tentando guardar dentro de mim cada feição de seu rosto - Você vai ser muito feliz e lá do outro lado, vou te dar uma força. Se é que tem um outro lado, não é mesmo? - Ri. 

— Você é inocente! Não é justo! 

— Pensa pelo lado bom. Aro também vai morrer. 

— Ele merece! Você não! 

— Alice, posso te pedir uma coisa?

— Pode... 

— Quando você tiver uma filha... Você poderia colocar o nome dela de Renesmee?

— Coloco sim, minha mana. Eu te amo tanto. - Me abraçou novamente - Vou sentir demais a sua falta.  

— Eu também te amo, Alice. Muito. 

[...]

— Quer alguma coisa, Bella? - Kissy perguntou enquanto eu andava de um lado para o outro da cela, olhando foto por foto da minha pequena. 

— Será que eu teria direito a mais um pedido?

— Se tiver ao meu alcance. 

— Posso ir lá fora um pouco? Queria ver a lua, as estrelas. Antes de ser uma delas. Tem algum tempo que não vejo, estou com saudades. 

— Vou ver o que posso fazer. 

Alguns minutos depois, Kissy disse que tinha conversado com o vigia noturno, Peter, e que ele tinha permitido que eu realizasse meu desejo. 

Já era noite e ainda que algemada, pude voltar a ver o céu depois de muito tempo. 

Estava estrelado e a lua, cheia, brilhante. 

— É tudo tão lindo... - Murmurei - Esse ar puro - Suspirei profundamente - Essa pequena liberdade foi muito importante para mim. Obrigada por me proporcionarem isso. - Agradeci à eles emocionada. 

[...]

Faltando pouco tempo para partir desse mundo, foi a vez de rasparem meus cabelos, procedimento comum no dia da execução no corredor da morte. A sensação de estar careca é bem estranha, ainda mais para mim que sempre usei os cabelos longos. 

Mesmo assim, isso não me abalou em quase nada pois nunca fui muito cuidadosa com os cabelos mesmo. E nem se quisesse poderia ser, pois Aro nunca me deu acesso a tantas coisas. 

Enfim, mas esse é o menor dos meus problemas neste momento, não é?

[...]

Algum tempo depois, fui levada finalmente para a sala da execução. 

Era escura e tinha um vidro na parede da frente, onde já tinha algumas pessoas prontas para assistir minha execução. 

Tinha também uma cama no meio, alguns aparelhos, um médico, outros profissionais e policiais. 

Estava ficando tensa com a proximidade do fim. 

Sim, eu estava resignada com a condenação, mas a sensação de não saber o que irei encontrar do outro lado é assustadora. 

A maioria das pessoas que estão aqui são os familiares das vítimas. 

Todos me olham com ódio, rancor, lágrimas e estão cheios de vontade de me ver no quinto dos infernos. 

Sonho este que realizarão em instantes. 

[...]

Injeção letal. 

É isso que irei receber daqui poucos minutos. 

Enquanto isso, o médico começou a colocar alguns catéteres pelo meu corpo.

Quando olhei para o vidro novamente, vi Alice.

Minha querida irmã. 

Estava de pé, chorando sem parar enquanto me olhava. 

Não queria que sofresse, não mesmo. 

Enquanto eu era amarrada na cama, o médico explicava como seria o procedimento. 

Ele disse que eu não sentiria quase nenhuma dor. 

Ainda bem. 

Quando olhei para o vidro novamente, Edward estava lá do outro lado. 

Seus olhos estavam vermelhos e ele estava chorando, ao lado de Alice que até o abraçou. 

Chorando por mim. 

Será que sou assim, tão importante para ele?

Vendo-o chorar, acabou me dando um aperto. 

Uma vontade de sair daqui e ir até os dois.

Mas não posso. 

Não há mais tempo para mim. 

— Quais são suas últimas palavras? - Um policial perguntou colocando um microfone próximo a minha boca. 

Últimas palavras...

Então é o fim mesmo. 

Espero que há essa hora, Aro já tenha morrido. 

Assim, o mundo estará bem mais seguro.

— Obrigada por se importar comigo. - Agradeci olhando diretamente para os olhos do agente Cullen.

O médico então pegou a seringa e se preparou para aplicar na minha veia. 

Respirei fundo. 

A partir de agora, será apenas uma questão de segundos para eu ser executada.  

Estou com medo. 

Mas vou me sacrificar pela minha filha. 

E sei que esse sacrifício vai valer a pena.

Tem que valer.  

 

 

"O que fazemos por nós, morre conosco. O que fazemos pelos outros, torna-se imortal." - Albert Pine. 

 

 


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Notas finais do capítulo

Não me matem hahaha

E sim, a história está quase acabando, mas não acabou ainda haha

Fiquem de olho no grupo do face, vou postar spoilers do próximo capítulo lá nos próximos dias.

Comentem, favoritem, recomendem ♡