Segunda chance escrita por Laura Vieira, WinnieCooper


Capítulo 29
Capítulo 28




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802880/chapter/29

 


O feixe de luz da manhã passava pela janela e seguia em direção aos corpos entrelaçados no chão. Catarina dormia um sono tranquilo e tinha em seus lábios um sorriso estampado. Petruchio sentia-se feliz, como há anos não se sentia. Era como viver aquele momento e já ter saudades de vivê-lo, era como assistir a cena de cima e querer ser um dos protagonistas mesmo vivendo aquilo. Tanto que amava ficar ali, só a admirando dormir. Às vezes se beliscava para ver se era realmente verdade todo o momento em que vivia. Catarina se mexeu e abriu os olhos e viu que ele a encarava. Ela acariciou seu rosto e deixou que ele lhe desse um beijo de bom dia.

Petruchio enfiou o rosto no cabelo dela e não fez questão de levantar daquele chão. Queria pausar o momento, vivê-lo mais um pouco, prolongar a felicidade. E ela parecia não ter pressa também, adorava o carinho que ele emanava por si, queria permanecer enlaçada nele, como se o mundo não acontecesse lá fora.

Os dedos dele conheciam seu corpo e tinham permissão para caminhar por ele. Catarina deixava Petruchio desenhar seu corpo, o reconhecendo como se o tempo não tivesse passado. Ele acariciava o colo de seu seio e ia num vai e vem até sua barriga, passava por seu pescoço e parava em sua bochecha enquanto ela admirava um feixe de luz que se projetava em cima de ambos. As partículas de poeira brigavam entre si, estavam agitadas, se movimentando sem regra, umas iam para um lado, outras por outro e algumas até se chocavam e ela sorriu pensando que era assim: a ordem natural das coisas. Como eles aquelas partículas se completavam na agitação.

Deixou que Petruchio ligasse as pintas de seu braço formando desenhos quando virou seu rosto para ele e o beijou.

— Então é assim. O começo do resto de nossas vidas?

Ela parecia uma adolescente com milhões de sentimentos dentro de si eclodindo, mas no corpo da adulta decidida a ser protagonista de sua história e não mais retardar sua felicidade. Afinal eles mereciam.

— Dormiu bem meu favo de mel? Sentiu frio à noite? Não tinha nenhum lençol e às vezes eu pensava que estava com…

Ela sorriu colocando seu dedo indicador sob a boca dele o calando, seus lábios marcados de vermelho por ele, seus olhos fundos do acordar da manhã e do fato dele ser o culpado dela não ter dormido quase nada naquela noite, seu cabelo todo bagunçado mais uma vez por culpa exclusivamente dele e Petruchio soube que era a imagem mais linda do mundo.

— Tive a melhor manta, não passei frio nenhum. Inclusive o melhor colchão é esse chão, nunca me senti tão confortável em toda minha vida.

— Então devemos agradecer a Clara pela estadia.

— Clara! - Catarina sentou apressada com susto. - Já está de manhã, daqui a pouco nossos filhos estão aí…

— Talvez nois tenhamos a sorte deles esquecerem a gente. - Petruchio resmungou quando viu ela levantar desesperada.

— Levanta-se Petruchio! - ela ordenou vendo que ele não se mexia. - O que nossos filhos vão pensar se nos verem nessa situação?

— Que o plano deles deu certo e que enfim vamos ter nossa família. - Petruchio se levantou e a abraçou beijando-a no pescoço fazendo Catarina fechar os olhos e engolir em seco tentando resistir ao seus desejos incessantes.

— Por favor, precisamos nos arrumar. - ela implorou quase cedendo ao impulso de virar e beijá-lo com ardor.

Petruchio se afastou a contra gosto, Catarina era como um vício que novamente experimentado, impossível se manter longe depois de a provar novamente.

— Vá se arrumar no banheiro enquanto eu faço um cafezinho pra gente. - ele anunciou tentando ser um adulto consciente.

— Você? Fazendo café pra gente? - ela ergueu o dedo no ar apontando para ele e sorrindo.

— Não sei porque o espanto, meu favo de mel, sou um perfeito cavaleiro quando a dama merece.

Ela levantou a sobrancelha sorrindo para ele. Era tão fácil implicar consigo.

— Da última vez que fez café pra nós queimou seu dedo, se esqueceu?

— Jamais esqueci. - ele respondeu mais uma vez chegando perto dela e enlaçando seu braço em sua cintura. Colocou seu rosto no pescoço dela e passou a barba pela pele de Catarina enquanto falava completando seu pensamento. - Jamais esqueci o depois do café e o dedo queimado.

Catarina estava com os olhos fechados esperando que ele a beijasse, já estava completamente rendida a seus impulsos, Petruchio sempre lhe causando os desejos mais profundos.

Ele ergueu seus lábios até ela e a beijou profundamente. Catarina sentiu seu coração saltar na garganta, sua pele se arrepiar e cravou suas unhas no cabelo dele trazendo seu rosto para mais perto de si - se possível, aprofundando o beijo. Petruchio ergueu ela no ar e passou suas pernas em volta de sua cintura enquanto continuava a beijá-la, levou ela para sentar no balcão da loja. Catarina bagunçava seus cabelos com seus dedos ao mesmo tempo em que passava as unhas por seu pescoço apertando a nuca dele, deixando sua pele marcada pedindo por mais. Ele passava suas mãos pela perna dela, subia até suas costas e a apertava contra si.

— Nossos filhos… estão chegando… - ela lembrou entre um suspiro e outro em meio aos beijos e abraços com ele.

Petruchio resmungou, mas sabia que não podia dar ânsia ao seu desejo naquele momento. Deu um último beijo leve em seus lábios e se afastou a contragosto.

— Vá se arrumar. - ela o olhou triste pelo afastamento necessário dele. - Mais tarde eu cobro d'ocê a continuação.

Logo estavam completamente vestidos e apresentáveis com uma mesa de café da manhã improvisada digna de rainha. Ela atacou a broa de fubá com manteiga, ao mesmo tempo que saboreava o queijo da fazenda enquanto bebia seu café com leite fresco. Estava faminta, mesmo não percebendo isso segundos antes. Ele a admirava comer, era tão irreal que às vezes pensava estar sonhando. Catarina bocejou em meio a comilança e o encarou brava. Petruchio não sabia decidir se ela ficava mais linda bocejando pela manhã ou com aquela cara de brava que tanto sentiu falta.

— Sinta-se culpado pela minha insônia. - ele sorriu diante da fala dela. - Vou ter que ir trabalhar hoje com esse sono incontrolável. Você sempre faz tudo errado.

Ela amava implicar com ele por coisas bobas. Petruchio se sentiu privilegiado em ser o causador da insônia dela. Os olhos dela pareciam tão fáceis naquela manhã, tão chamativos. Não mais que a boca dela que sorria em meio às provocações.

— Insônia é? Ocê não fez questão nenhuma de dormir durante a noite.

Ela revirou os olhos diante da fala dele, não conseguiu não sorrir, era mais forte que ela.

— Não me provoque grosseirão, é assim que trata uma dama?

Ele não resistiu ao chamado dela e aproximou sua cadeira voltando a enlaçar ela na cintura enquanto sua boca procurava a dela.

— É assim sim que eu trato uma dama. - ele a beijou.

Catarina não tinha forças nenhuma para o empurrar, retribuiu o beijo ao mesmo tempo em que ouvia a porta se abrir.

Assim que viu os pais se beijando, Clara gritou vitoriosa, o que fez eles se afastarem drasticamente um do outro.

— Meu plano deu certo! - ela gritou chegando perto de ambos. Catarina estava mais vermelha que um tomate enquanto Petruchio coçava a barba sem saber como agir. Clara enlaçou seu braço no pescoço de ambos os abraçando ao mesmo tempo. - Tão feliz em ver vocês enfim juntos.

Apesar do constrangimento, Catarina não podia deixar de dar uma bronca na jovem.

— Que ideia mais absurda foi essa Clara? E se acontecesse algum acidente e a gente não tivesse como sair daqui!? Não devia ter nos trancado aqui.

— Ah mãe! - Clara saiu do abraço e a encarou brava. - Que tipo de acidente aconteceria?

— Eu quebrar um vaso na cabeça de seu pai.

Petruchio riu diante da fala de Catarina.

— Não ia ser problema nenhum porque eu já tô é acostumado. - ele falou sorridente.

— Além disso, depois que passei a conhecer meu pai, sabia muito bem como vocês eram. Ele orgulhoso, você orgulhosa. Qual a melhor solução a não ser obrigar os orgulhosos a conversarem? - Catarina revirou os olhos diante da fala da filha. - E não adianta disfarçar, sei que se acertaram e estão felizes e que meu plano deu certo!

Catarina segurou um sorriso que agora era tão fácil de sair de seus lábios. Tentou manter a pose de mãe dando bronca.

— Pois por mim ficava de castigo.

— Mas Catarina, que ideia fixa. - Petruchio foi em socorro da filha. - A menina só quis nosso bem. Custa agradecer a ela?

— É mãe, custa me agradecer. - Clara levantou a cabeça encarando a mãe triunfalmente.

— Ah, mas não pode ser possível que vai me contradizer na frente dos nossos filhos. - Catarina retrucou encarando Petruchio.

— Não tô te contradizendo de forma alguma, só tô dizendo a verdade. Clara nos ajudou e não custa nada agradecer ela.

— Eu sabia que esse dia chegaria! Parece que estava vendo ele na minha frente! - Catarina ficou em pé e esticou sua mão na frente do rosto de Petruchio. - Eu, a mãe carrasca enquanto você, o pai clemente. Não estou disposta a ter esse papel.

Petruchio riu acompanhado de Clara que estava mais próxima do pai, ela abraçou o pai pela cintura e a risada igual de ambos preencheu o ambiente. Catarina não conseguiu mais brigar com os dois, era uma das visões mais bonitas que ela já tinha visto na vida. Clara, se conectando com o pai que sempre quis conhecer e ele aceitando a filha mesmo com anos de mentira. Eram pai e filha na frente de seus olhos. Quis chorar de emoção.

— Mãe, se quiser te levo para sua casa para se arrumar para ir trabalhar. - Catarina ouviu a voz de seu filho ao longe e o notou num canto observando os três.

— Me chamou de… mãe? - ela engasgou indo de encontro a ele. - Nunca me chamou de mãe.

Júnior coçou seu cabelo um pouco constrangido. Não sabia o que lhe responder. Catarina o abraçou emocionada e Petruchio parou de rir observando os dois. Júnior enfim estava tendo o seu desejo mais profundo de aniversário alcançado e ele não podia estar mais feliz em ver sua família enfim acontecendo.

— Ah meu filho. Não sabe o quanto eu esperei por isso. - Catarina confessou com a voz chorosa a ele. O acariciou no rosto enquanto Júnior limpava seu olho direito que deixou uma lágrima teimosa cair.

— Gêmeo preferido oficial. - Clara comentou baixo só para o pai ouvir.

— Não fale isso. Seu irmão precisava disso. - Petruchio pediu a ela ainda abraçado à filha.

— Minha mãe também. - Clara confessou conformada.

Júnior levou Catarina a seu apartamento. Petruchio ficou com Clara na loja organizando as mercadorias que ambos filhos haviam trazido da fazenda e repondo o estoque. Catarina estava tão radiante quando entrou para tomar banho que Filomena podia sentir a alegria se tornar uma nova integrante da casa. Eram tantos sorrisos que ela não conseguia não sorrir junto. Esperou que Júnior ficasse na sala em companhia de Miguel e foi ao quarto de sua patroa.

— …O corpo tem memória Filó… ele fala, se expressa, se comunica sozinho. Sente tudo como numa avalanche de sensações. É como cair sentindo o frio na barriga, é como flutuar e voar como pássaros. O corpo pulsa… - ela confessou a amiga de anos sem vergonha ou receio. - Ao mesmo tempo em que pensava se eu podia estar vivendo, se me era permitido viver àquele momento, meu corpo respondia que sim e pedia por mais. Entende? Era como voltar no tempo. Viver quinze anos atrás novamente. Viver tudo de novo de uma forma melhor que em qualquer sonho ou realidade.

Filomena estava feliz com a patroa se confessando a ela, nunca tinha encontrado ela tão calma e feliz antes. Era uma pessoa nova para ela. E Filomena gostou muito de conhecer essa nova face de Catarina.

—... Aí Filó… e além disso eu presenciei duas cenas agora que… - Catarina a olhou nos olhos ainda emocionada, lembrou-se da filha perto de Petruchio e de Júnior a chamando de mãe. - Minha família formada e completa.

— Dona Catarina, a senhora merece tanto.

— Será que mereço, Filó? - Perguntou a amiga preocupada. - Às vezes eu fico pensando no meu passado, em tudo de errado que aconteceu e…

— E o importante é o presente, não o passado. A senhora merece ter sua família. Aproveite.

Catarina concordou com a cabeça, queria reafirmar a si mesma que merecia tudo o que estava acontecendo com ela. Que finalmente teria seu pacote completo e não precisaria ter medo de vivê-lo em toda sua plenitude.

xx

Petruchio ficou observando a filha enquanto ela comia o café da manhã improvisado que havia preparado para Catarina. O modo que ela degustava a comida e seus trejeitos todos lembrando a mãe. Petruchio sorriu diante da cena e resolveu entregar a ela o presente que havia comprado no dia anterior.

— …Filha, eu ia te entregar ontem, quando eu fosse pro seu quarto te levar o leite morno e te falar boa noite, mas aí... - Clara ergueu os olhos reparando no pai, ele tinha em mãos um saco grande de estopa. - Quero te dar um presente por todos os aniversários seus que perdi.

Ela estreitou os olhos, estava desconfiada, mas muito curiosa. Pegou o saco em mãos e o abriu sem cerimônia. Encontrou mais de dez cores diferentes de tubos de tinta a óleo, um vidro de solvente para misturar a tinta, uma paleta para as cores com uma espátula, um verniz, três pincéis de tamanhos diferentes, telas em branco de diferentes tamanhos e um cavalete para pintar. Clara abriu a boca chocada com o que encontrou. Tudo estava ali, tantos detalhes naquele presente que ela só conseguiu pensar:

— Pai… isso vale muito dinheiro. - foi o que conseguiu dizer ainda reparando em tudo o que tinha dentro do saco.

— Não foi nada comparado com o tempo que fiquei longe d'ocê.

Clara negou com a cabeça fazendo contas, seu pai não esbanjava dinheiro, aquilo foi uma grande prova de amor a ela.

— O senhor é o melhor pai do mundo. - ela constatou e o abraçou sem cerimônia em seguida. Não iria fingir que não aceitava o presente de jeito nenhum. Petruchio retribuiu o abraço feliz enquanto escutava ela lhe confessar. - Eu te imaginei de uma forma muito diferente, te julguei assim que te conheci e agora percebo que não poderia ter um pai melhor do que você.

— Fácil ser o melhor depois de te dar um presente. - ele tentou se diminuir enquanto Clara saia do abraço e via ele coçar sua barba meio constrangido.

— Antes do presente, antes de tudo eu sabia que o senhor era o melhor, não só para mim, mas para minha mãe também.

— Pra sua mãe?

— Apesar de eu sempre brigar com ela e dela ter me machucado em palavras da última vez que nos falamos eu sei que… Ah pai, a gente merece ser uma família completa, não acha? - ela perguntou esperançosa pela resposta dele.

— Eu acho, eu acho. - ele concordou sorrindo. - Eu sempre fui muito cabeça dura, sei que demorei demais pra conversar com sua mãe quando descobri d'ocê, mas agora… agora a gente vai fazer dar certo.

Clara sorriu para o pai concordando com a cabeça e admirando cada detalhe do presente que havia ganhado. Se sentiu sortuda pela primeira vez desde que havia pisado no Brasil.

xx

— Como C-C-Clara está? - Miguel perguntou a Júnior enquanto ambos esperavam as mães para irem à escola.

— Sua gagueira melhorou muito sem minha irmã ao lado, só falha quando fala o nome dela. - Júnior constatou sem responder a pergunta dele.

— E-ela era minha melhor amiga. Eu fico pre-e-ocupa-a-ado.

— Ainda se recusando a falar com ocê porque tem um rei na barriga e não admite estar errada.

— Errada em q-q-ue? - Miguel estava apreensivo. De fato estava preocupado com a amiga. Via ela muito sozinha pelos cantos, sempre parecendo triste. Nem de longe a Clara que ele conheceu sua vida inteira.

— Olha, eu não sei o porquê ela se afastou d'ocê, mas aposto que a errada é ela nessa história.

Miguel olhou pra baixo triste.

— C-C-Clara é assim mesmo.

— Não devia ser. - Júnior resolveu ser sincero com ele até o fim da conversa. - Devia dar uma chance pra Elisa.

Miguel olhou para ele apreensivo.

— Mas e você?

— Elisa sempre me ajudou, mas nunca fomos mais que…

— Amigos? M-mas disse uma ve-e-ez que homem e mulher…

— Eu sei. Mas o caso é que Elisa gosta d'ocê.

— E-e-ela te-e di-i-isse isso?! - Miguel perguntou com os olhos esbugalhados.

— Não. - ele negou com a cabeça. - A única coisa é que… ocê merece uma chance com ela ao invés de ficar esperando minha irmã com o rei na barriga vir te pedir desculpas e admitir que estava errada esse tempo todo.

Miguel não teve tempo de responder ou pensar em qualquer outra coisa, Catarina saiu do seu quarto pronta para ir trabalhar. Miguel viu mãe e filho saírem de casa para irem à escola de carroça e ficou pensando, enquanto esperava sua mãe, nas palavras do irmão de Clara. Será que ele devia ser tão rude ao ponto de ignorar mesmo Clara pelos cantos chateada? Ela jamais o procuraria. Ela jamais o pediria desculpas pelo o que fosse. Era sempre ele que ia atrás dela.

xx

Catarina estava descendo as escadas sorridente de braços dados com o filho quando esbarrou em um homem alto no caminho.

— Bom dia Catarina, vejo que está com seu filho. - O homem arrancou o chapéu cumprimentando ambos.

Catarina sentiu que os fantasmas do passado estavam a atormentando demais nos últimos dias.

— O que faz nesse prédio tão cedo Heitor? - ela estava feliz, mas a presença daquele fantasma indesejável tirava sua paz. Ignorou a fala dele sobre seu filho, precisava de outras respostas. - Está visitando alguém?

— Conversei com o jornalista Serafim e consegui um apartamento para alugar. Somos vizinhos.

Catarina ficou estática ao ouvir a resposta dele.

— Não parece contente. - Ele disse com um sorriso falso nos lábios.

— Com licença, estou atrasada para o trabalho. - ela pegou o braço do filho e o puxou para perto de si com o medo começando invadir seu coração, limitou-se a puxar Júnior pela mão e a andar para longe.

Júnior ficou observando a mãe de relance enquanto guiava a carroça de volta para a loja para buscarem Clara para ir à escola. Catarina parecia preocupada e o ar risonho tinha sumido do rosto dela. Não perguntou nada a mãe, mas seu pai pareceu ter notado também o ar preocupado dela enquanto levavam os três à escola. Petruchio foi ajudar Catarina e Clara a descerem da carroça e aproveitou a proximidade com a mulher e perguntou baixinho:

— Tá tudo bem, favo de mel?

Catarina que parecia estar com os pensamentos em outro lugar e não no momento presente, fixou seus olhos nos olhos dele e respondeu sorridente.

— Está sim.

Petruchio não acreditou muito naquilo, mas decidiu que não era o momento para insistir no assunto. Apenas falou, vendo que os filhos os observavam um pouco longe perto do portão.

— Hoje a noite ocê vai jantar lá na fazenda.

— Hoje? Não acha que está muito rápido? - Catarina perguntou um pouco receosa.

— Não é um pedido, ocê vai. - ele reiterou o convite. - Venho buscar oceis quando a aula acabar e combinamos tudo.

Ela limitou-se a concordar com a cabeça. Estava com tantas saudades da fazenda que era impossível dizer não ao ex-marido. Petruchio quis beijá-la em despedida, mas Catarina negou com a cabeça assim que viu ele se aproximar.

— Nossos filhos estão vendo.

Petruchio desviou da direção da boca dela e beijou a ponta de seu nariz. Catarina ficou observando ele partir com a carroça antes de virar seu calcanhar para encarar os filhos que ainda a observava.

O dia na escola passou rápido e de forma até que normal aos olhos de Catarina, ela prestava cada vez mais atenção em cada aluno seu e se apegava cada vez mais a eles. É claro que seu filho, olhava com outros olhos e o conhecia mais que os outros, mas Ana a intrigava cada dia mais. Tudo o que ela propunha para a garota fazer, onde supunha que ela teria algum tipo de dificuldade, percebia que a jovem conseguia realizar tudo facilmente. Terminou de corrigir um texto que Ana havia escrito e percebeu que não havia cometido nenhum tipo de erro ortográfico, de concordância nem coerência. Estava muito acima do nível dos demais alunos.

— Ana, acredito que não vá precisar mais das minhas aulas de reforço.

— O que? - ela perguntou quase branca de susto a Catarina.

— …Está muito acima dos demais alunos, acredito que ficando nessa sala comigo vá atrasar seu próprio ensino.

Ela negou com a cabeça quase chorando.

— Não me tire dessa sala ainda, por favor! É a única coisa que peço.

— Por que?

Catarina recebeu como resposta o silêncio da garota. Mas Júnior estava de olho nela. Iria prestar mais atenção naquela jovem tão misteriosa.

Clara não aguentava mais andar sozinha pelos corredores, talvez se não fosse tão orgulhosa já teria feito as pazes bem mais cedo com Miguel. Mas agora estava quase se arrastando no chão, desesperada para uma conversa com o único amigo que teve em toda sua vida, o único que sempre a escutou e que emprestou seu ombro e auxílio. Decidiu engolir seu orgulho e procurar o melhor amigo de anos ao mesmo tempo em que ouvia sem querer uma conversa íntima dele com Elisa.

— …O que está dizendo Miguel? - A garota sorria e tinha um brilho no olhar incomum para Clara.

— …Q-q-ue talvez a gente po-o-o-ssa dar uma volta numa p-p-p-raça algum d-d-d-dia. - ele estava com o pescoço vermelho de tanta vergonha e suas mãos tremiam levemente.

Elisa sorria com todos os dentes à mostra.

— Você só gagueja quando está nervoso agora. - Elisa constatou ao mesmo tempo em que Miguel começava a tirar seus óculos e limpar eles na camisa tamanho seu nervosismo. Não estava enxergando nada. - Eu vou adorar dar uma volta com você na praça.

Bastou esse pequeno diálogo para Clara sair correndo de perto do novo casal e sentir seu coração se rachando.

xx

No fim da tarde, Catarina se encaminhou para a fazenda com os filhos e Petruchio, estava ansiosa pela reação de todos quando a vissem, mas queria muito viver aquele momento apesar de seu nervosismo. Mimosa gritou feliz assim que a viu e correu para abraçá-la.

— Oras Mimosa, parece que não me viu ainda no Brasil. - ela reclamou enquanto Mimosa a apertava no abraço. - Está me sufocando!

Neca pareceu mais tímida, mas ao mesmo tempo muito emocionada ao ver a antiga patroa novamente na fazenda. Foi Catarina que esticou o braço para abraçá-la.

— …Seu Petruchio devia de ter avisado que a senhora ia vir que eu havia de preparar uma comida especial.

— Estou morrendo de saudades do seu tempero. - Catarina respondeu sorrindo.

— Do meu não, Catarina. - Mimosa reclamou com ciúmes. - Eu só te sufoco e levo pedradas.

— Ah, mas eu sou da opinião que destratar minha esposa assim faz até as caveiras do pai e da mãe do seu Petruchio se revirarem na cova de tristeza.

Catarina riu ao mesmo tempo em que amou ouvir Calixto falar das caveiras depois de tanto tempo sem ouvir. Ela conheceu o marido de Neca. Sentou-se na mesa com todos e ouviu cada um contar dos anos da fazenda sem ela por perto, ouviu sobre as histórias da infância do filho que estava num canto com os pensamentos longe dali. E também contou algumas de Clara, mesmo com a filha com a feição emburrada em outro canto, ela havia se recusado a jantar e estava dando ração a Carijó II. O tempo passou rápido e quando viu já era tarde da noite.

— Petruchio já está tarde. Preciso ir embora. - Ela pediu quando todos se recolheram para seus quartos.

— Mas eu achei que ocê ia ficar… - ele chegou perto dela e sussurrou perto do ouvido dela. - Fica, meu favo de mel.

Na verdade ela havia levado uma troca de roupa em sua bolsa porque dentro de si queria que aquilo de fato acontecesse. Ela enfim concordou com a cabeça e Petruchio sorriu falando para ela que ia só levar um leite morno para Clara em seu quarto. Catarina aproveitou para perguntar onde era o quarto do filho. Petruchio deu boa noite a filha que parecia um pouco triste, mas ao mesmo tempo percebendo que ela não queria lhe contar sobre sua tristeza naquele momento e Catarina deu boa noite ao filho que lhe disse que na manhã seguinte ia levar a mãe para conhecer sua vaca de estimação e ia lhe dar leite fresco. Ela esperou que Petruchio aparecesse na porta de seu quarto, não quis entrar sem ele.

Catarina estava nervosa para entrar naquele aposento, como se fosse a primeira vez que estivesse lá. Assim que Petruchio chegou perto dela começou a beijá-la diante da porta mesmo. Catarina retribuiu sentindo ele a conduzir para dentro do quarto. Ela desviou seu rosto e saiu dos braços dele momentaneamente, começou a reparar no quarto dele que foi dela também um dia. Os móveis ainda eram os mesmos. A cômoda ainda estava ao lado, agora sem seus pertences, ainda existia a cadeira no canto, o cabideiro e a cama continuava igual.

— Quanto tempo que não venho aqui. - Catarina comentou ao mesmo tempo em que Petruchio fechava a porta atrás de si.

— Tempo demais. - ele falou indo em direção ao pescoço dela beijando.

— Tudo continua igual. - Ela comentou sentindo os beijos dele de olhos fechados.

— Não, sempre teve a sua ausência. - ele parou de a beijar, abraçou sua cintura falando em seu ouvido. - Tudo ficou tão triste durante tanto tempo, só que agora até os vasos e as moringas estão sorrindo que tá aqui de volta.

Catarina virou seu corpo para frente do dele e acariciou seu rosto com seus dedos.

— …Eu senti tanto a sua falta, Petruchio. - ela confessou mesmo nunca tendo dito nada daquilo nenhuma vez em voz alta ou para si mesma.

— Eu sempre estive aqui, no mesmo lugar. - ele encarava seus olhos que estavam brilhantes. - Te esperando.

Ela iniciou o beijo dessa vez, calmo, ele logo segurou o rosto dela pedindo por mais urgência, o que Catarina atendeu o empurrando lentamente até a cadeira de balanço no canto o fazendo se sentar. Ela agachou para perto de seu pescoço e o beijou lá enquanto seus dedos desabotoavam a camisa dele, Petruchio voltou a beijá-la nos lábios ajudando agora Catarina se desfazer de de seu vestido que também tinha muitos botões. Eram tantos detalhes para se livrar que ela logo estava o ajudando no processo, Então, pode enxergá-la só com sua combinação, ainda sentado na cadeira, se levantou beijando seu colo, trilhando um caminho reto, subindo até a boca dela enquanto a guiava lentamente para se deitar na cama.

Não tinham mais a urgência e o desespero da última vez que ficaram juntos e completos. Estavam deixando o corpo de ambos guiar seus desejos no ritmo que achavam adequado.

Para Catarina, eram como as partículas de poeira que havia presenciado naquela manhã. Agitadas, ora brigando para ver quem estava no comando, ora calmas se completando no silêncio, lado a lado, completamente sincronizadas. Era o retrato de ambos, que nem o tempo e a distância puderam apagar. Para Petruchio, o quadro negro que queria tanto reescrever, tinha agora dois nomes permanentes, sua filha e a única mulher do mundo que um dia amou, a que conseguia partir seu coração ao mesmo tempo em que o construía novamente. E afinal, eles podiam se re-apaixonar um pelo outro, as juras de amor trocadas, os beijos e o corpo que tinha memória estavam ali mostrando que o coração podia se preencher novamente em toda sua plenitude.

Ele se questionava se podia a amar mais.

Ela se perguntava se tinha o direito de ser feliz novamente.

Ambos pedindo que tudo durasse para sempre.

Para sempre.

Para sempre.

Para sempre…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segunda chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.