Sábado, o dia do aniversário das gêmeas havia chegado.

Christopher, encostado na parede de uma loja, jogava no celular para se distrair enquanto aguardava Louie. Já era por volta das 8 da noite, a festa já tinha começado há algum tempo, mas Louie estava atrasado, o que na verdade não era nada de muito incomum vindo dele.

Qualquer um que olhasse para os dois pensaria que Christopher por ter uma personalidade mais brincalhona, seria meio relaxado, e o quieto  Louie, o mais responsável. Só que na verdade era exatamente o contrário, Louie só agia seriamente por causa de sua família, sendo na realidade uma verdadeira cabeça de vento, enquanto Christopher sempre teve um senso de responsabilidade elevado, pelo menos em questão de pontualidade.

No entanto, o jovem de cabelos castanhos já estava acostumado com esse defeito do namorado, Louie sempre foi assim desde que eles se conheceram, mas ele gostaria que o outro ao menos ligasse ou mandasse uma mensagem dizendo que ia se atrasar.

—Ahh! -Suspirou. -Eu buscaria ele, mas acho que isso já é um pouco demais...

Alguns segundos depois de dizer isso para si mesmo, Christopher avistou Louie atravessado à rua e vindo até ele. O cabelo negro de Louie parecia estar um pouco mais curto, ele provavelmente havia cortado, usava uma camiseta de mangas compridas em degrade branco e vermelho, um jeans preto e tênis também brancos.

—Desculpa Chris, te fiz esperar muito?

A vontade era dizer que sim, mas como ele estava mais bonito que o normal, Christopher decidiu perdoa-lo dessa vez:

—Nem tanto, acabei de chegar. É melhor nós irmos, festas nunca começam no horário marcado, mas se quisermos aproveitar, não é bom chegar muito tarde.

—Parando pra pensar, acho que essa é a primeira festa de verdade que eu vou...

—Isso não pode ser verdade, você já deve ter ido a alguma outra antes. -Disse Christopher incrédulo.

—É verdade, a última que eu fui foi o aniversário  da Hann- quero dizer, de um dos meus primos, quando eu tinha 11 anos, mas não sei se isso conta...

—Festinha de criança não conta mesmo. Isso é uma das coisas mais deprimentes que você já me falou... vamos nos divertir muito pra compensar!  -Fez uma pausa. -Se bem que é o aniversário das netas do diretor da escola, provavelmente vai ser tudo bem tranquilo.

Infelizmente Christopher estava errado, muito errado, ele não fazia ideia do que o aguardava naquela noite.

Quando chegaram na casa, foram te recebidos por Elise, com um copo de ponche de frutas na mão. Apesar de não serem gêmeas idênticas ela e Alice continuam sendo muito parecidas, as únicas diferenças eram a altura e a cor dos olhos, Elise era um pouco mais alta e seus olhos eram de um tom avelã.

—Louie, Christopher! Estava pensando que vocês não viriam!

—Nos atrasamos meio que por minha culpa, sinto muito... -Louie se desculpou, sem graça.

—Tudo bem, o importante é que estão aqui. -Sorriu. -Alice está andando por aí, podem ficar a vontade!

Depois de desejarem os parabéns para a primeira das anfitriãs e deixarem os presentes com ela, dois garotos começaram a caminhar pela festa e logo esbarraram com alguns colegas de classe de Louie.

—Eles estão te chamado, por que não vai falar com eles? -Christopher.

—Mas e você? -Louie.

—Vou pegar alguma coisa pra comer primeiro.

—Ok, não demore muito.

—Não quero ouvi isso vindo logo de você Louie! -Bufou.

Christopher caminhou até a mesa de salgados, pegou um sanduíche e se voltou para as bebidas, como esperado não havia nada alcoólico ali, o que não fazia a mínima diferença para ele já que não bebia. Assim acabou optando por apenas um copo de refrigerante.

—Christopher, quem bom que você veio! -O garoto foi surpreendido por Alice que havia vindo colocar mais batatas chips na mesa.

—Feliz aniversário Alice!

—Obrigada! -Ela tombou a cabeça para o lado e sorriu, forçadamente.

Christopher apenas ignorou, acreditando que talvez ela só estivesse cansada  depois de ter que cumprimentar tanta gente. -E o Louie, ele não veio com você?

—Ele está bem ali. -Apontou para o garoto que conversava animadamente com alguns amigos. -Por que, quer falar com ele?

—Não, não é nada. -Ela parecia estar incomodada com algo. -Ah, Christopher você se importaria de me ajudar com algumas bandejas? São um pouco pesadas pra mim.

Por mais que achasse aquilo estranho, afinal de contas, bandejas de alumínio com alguns lanches não deveriam pesar muito, Christopher apenas consentiu e seguiu Alice até a cozinha. Parecia até uma desculpa para que os dois pudessem ficar sozinhos, e de fato era: 

—Ok, ninguém vai nos incomodar aqui. -Alice fechou a porta da cozinha.

—É... hmm... está tudo bem? -Christopher começou a ficar nervoso, como se tivesse caído em uma armadilha.

—Olha, eu sei que isso não é da minha conta, mas... -A loira estava com o rosto levemente vermelho. -Eu tentei, mas não consegui deixar pra lá... claro que você também não tem que me dizer nada se não quiser...

—Alice... você esta começando a me assustar...

—Christopher... você e o Louie... estão juntos?

"O QUÊ!? O QUÊ!? Como ela descobriu? Será que nós ficamos descuidados a esse ponto?" Christopher começou a entrar em pânico, mas logo tratou de tentar se acalmar. "Respire Christopher, se ela está perguntando é porque não tem certeza, então talvez eu consiga inverter essa situação. Primeiro preciso descobrir qual é o nível do estrago."

—Hãm? De onde você tirou isso? -Christopher forçou uma risada, por sorte ele conseguiu a fazer parecer natural.

—Eu meio que tenho sentido um clima entre vocês ultimamente, e ontem... vocês dois estavam na escadaria da caldeira não é? Apesar de ninguém mais ir lá agora, há um tempo atrás, aquele lugar era famoso na escola por ser onde alguns casais iam pra... você sabe...

"Ah, droga! Porcaria de caldeira! Foi por isso que ela ficou me encarando daquele jeito ontem? Se bem que, se nem eu sabia disso, então o  Louie deve fazer menos ideia ainda... e ela também notou outras coisas, o que eu faço agora? Ela não vai ser tão fácil de enrolar quanto o Samuel...”.

Após alguns momentos de silêncio, sem conseguir pensar em nenhuma outra desculpa plausível além de "De jeito nenhum, você está imaginando coisas!", Christopher decidiu que o melhor seria apelar pra humanidade de Alice, afinal ela não era uma pessoa ruim já que se preocupou em ter aquela conversa em um lugar onde ninguém mais conseguiria ouvir. Talvez, se ele pedisse da maneira certa, ela concordaria em guarda segredo.

—Sim, nós estamos juntos. -Christopher suspirou. - É tão óbvio assim?

—Na verdade não, eu é que sou boa pra pegar essas coisas, não acho que mais ninguém tenha notado, todos veem vocês como amigos bem próximos e nada mais. Só tomem mais cuidado com coisas tipos as de ontem. Mas tem outra coisa que eu queria saber... -Alice mantinha uma expressão confusa no rosto. -Quando você chamava algumas garotas da escola pra sair, era pra disfarçar?

—Não, aquilo era sério, eu sou bi, pelos menos eu acho... não tenho certeza. -Corou. -E nós ainda não namorávamos quando eu fazia isso, na verdade eu nem sabia que o Louie gostava de mim.

—Então foi o Louie quem se declarou primeiro? Interessante...

Percebendo que talvez tivesse dado detalhes demais, Christopher tentou desconversar:

—Enfim, por favor, espero que você possa manter essa conversa apenas entre nós.

—Ah, você nem tem de me pedir isso, como eu disse antes, sei bem que nada disso é da minha conta e longe de mim sair por aí falando da vida pessoal dos outros. -Alice sorriu novamente, com sinceridade dessa vez. -Mas se precisar de alguém pra conversar, eu estou aqui, sempre quis um- esquece.

"Ela ia dizer que sempre quis um amigo gay, não ia? Não é o caso aqui, mas acho que vou aceitar a oferta, não parece que ela tem a intenção de prejudicar a mim ou o Louie, se não, já o teria feito."

—Obrigado, Alice.

—De nada.

Eles continuaram a conversa por mais alguns minutos, até Alice decidir que era hora de voltar, pegando uma bandeja com doces e entregando uma garrafa de refrigerante para Christopher:

—Vamos? Estamos aqui já faz um tempo, podem acabar achando estranho, não é? Principalmente o Louie.

—Eu explico tudo pra ele depois, não se preocupe. 

 "E pra falar a verdade, se espalhassem boatos sobre você e eu, seria até que bem benéfico pra mim. Mas sem chance de eu dizer isso pra ela."

—Certo, então tudo bem. -Respondeu enquanto abria a porta.

—Ah, e só pra deixar claro... -Christopher continuou.

—Sim?

—Não fomos pra escadaria fazer nada demais, só conversamos.

—Uhum, com certeza. -O tom saiu mais irônico do que ela queria pretendia.

"Algo me diz que ela não acreditou...".

De volta a sala, agora o clima estava completamente diferente de antes, com a música mais alta e as pessoas mais descontraídas, como se estivessem em uma verdadeira pista de dança.

—Mas o que aconteceu aqui? -Alice perguntou analisava a situação.

—Irmãzinha! -Elise veio andando de braços abertos até eles. -Acho que alguém batizou o ponche, e com vodka da boa! Vocês deviam experimentar um pouco também!

—ELISE! -Alice segurou a irmã que parecia meio tonta. -Eu saio por menos de meia hora e é isso que acontece?

—Sinceramente, isso é mais comum de acontecer em festas do que você imagina, mas quando não se é acostumado com álcool você fica assim. –

Christopher apontou para Elise. -E só fazer ela deitar um pouco é não deixar ela beber mais nada que deve ficar bem.

—Uau, você parece ter experiência com isso. -Alice disse surpresa.

—Infelizmente... -Christopher já havia acompanhando Lynn e as amigas para várias festas antes, apenas para ter que rebocar a irmã bêbada para casa depois. Se tivesse carteira de motorista ele seria basicamente o amigo que não bebe porque tem que voltar dirigindo. -Estou com mal pressentimento, acho que eu devia ir dar uma olhada naquela pessoa.

—Tudo bem, eu dou conta dessa aqui, pode ir. -Alice respondeu.

A preocupação de Christopher se mostrou correta quando ele procurou em volta e não conseguiu encontrar Louie em lugar nenhum. Assim acabou tendo que perguntar para um dos garotos que os havia chamado no começo da festa, agora largado no sofá, se sabia onde Louie estava, e a respostas foi que:  "Depois de beber o ponche, ele ficou com calor e foi pra fora."

Christopher então se dirigiu para o jardim e encontrou Louie encostado na grade da varanda, olhando para o céu. Seu rosto e as pontas das orelhas estavam bem vermelhos.

—Quanto você bebeu Louie? -Perguntou enquanto se aproximava do namorado, tentando não o assustar.

—Hmm, acho que... uns três copos... quatro com esse... -Respondeu  enquanto levava o copo que estava em sua mão até os lábios.

—É melhor parar por aqui, você já está bêbado o suficiente. -Tirou delicadamente o copo de Louie.

—Eu não estou não... *hic  -Soluçou. -Só estou um pouco tonto...

—Ah... -Suspirou.

Mesmo que ele ainda quisesse ficar mais um pouco, Christopher acabou convencendo Louie a ir embora, afinal essa era a primeira vez que ele havia bebido, não dava pra saber o que ele poderia fazer, ou mais importante, dizer.

Na metade do caminho Louie teve de ser carregado por Christopher, que mesmo sendo menor em estatura, ainda sim, tinha força suficiente pra isso.

—Eu consigo...  andar sozinho...  *hic! -Protesto sonolento, enquanto era levado nas costas do namorado, porém foi ignorado.

"Ele está agindo como uma criança... isso é... bem fofo..." -Christopher riu enquanto pensava isso, mas logo parou quando sentiu Louie colocar os braços em volta de seu pescoço e logo depois  adormecer.

Mesmo que isso estivesse acontecendo apenas por causa do álcool e Louie nunca iria se comportar assim por conta própria, Christopher queria ter mais momentos assim, ele realmente queria que os dois ficassem juntos.