犬の花嫁 Inu no Hanayome escrita por Yuushirou


Capítulo 2
二 かごめ Kagome




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かごめ KAGOME

 

Kagome se arrependeu de ter decidido concluir o ensino médio na escola. Assim que viu as expressões de seus ainda desconfiados – chocados, diga-se de passagem – colegas de ginásio, quando ela voltou alegando estar finalmente pronta para terminar o koukou*, teve a certeza de que deveria ter terminado seus estudos em casa. Ninguém estava convencido de que a garota realmente estava bem e em condições de voltar à escola, até verem-na pôr os pés novamente diante dos portões, com uma expressão entusiasmada de quem estava com forças suficientes para escalar uma montanha. Era como ver um fantasma, ou algo que acabou de cair do céu, qualquer coisa que fosse bem impressionante. Ela podia sentir os comentários acerca de si mesma, sem nem mesmo ouvi-los. Coisas do tipo “Mas é a Higurashi?!”, “Ela está mesmo viva?!” e “Será que consegue frequentar a escola por mais que uma semana dessa vez?”. Tudo o que qualquer ser humano comum e completamente alheio à existência de mundos paralelos, atividades paranormais, monstros e fantasmas – e garotos com orelhas de cachorro – poderia pensar. Afinal, fazia sentido ela ainda estar fisicamente saudável e disposta a ir à escola, depois de um repentino histórico de sucessivas doenças estranhas que deveriam tê-la deixado incapacitada de continuar a ser uma garota funcional?

“Ah, vovô...”

Ela devia tudo aquilo ao vovô, que era o melhor contador de histórias que conhecia. Não fosse ele, a infinita compreensão de sua mãe e a cooperação incondicional de Souta, já teria pelo menos repetido de ano. Podia até mesmo ter sido expulsa da escola, por faltas e notas insuficientes para aprovação. Era muito difícil, afinal, conciliar as suas estranhas e perigosas aventuras no mundo feudal com a puxada rotina japonesa de estudos, mas tudo isso chegou ao fim quando a Shikon no Tama fora destruída. Aquele deveria ter sido o seu pontapé inicial para uma nova e mais tranquila vida ao lado de sua família e amigos no mundo moderno, mas acabou não sendo assim na prática. Kagome finalmente tinha tempo para estudar e ser uma garota normal agora, mas a troco de que?

 

— Parabéns a todos os formados! - anunciava a voz do Diretor a todos os recém-formados alunos do último ano do koukou.

Kagome estava presente na cerimônia de formatura, naturalmente, junto de sua família: mamãe, vovô, Souta. Era só uma cerimônia colegial muito importante de encerramento de um ciclo, onde todos aproveitavam para apresentar – a quem ainda não tivessem apresentado – as suas respectivas famílias e bater um papo sobre o futuro que almejavam, mas, para a turma de Kagome, aquela era a última das cerimônias, aquela em que todos finalmente deixariam os “incríveis anos escolares” e a maioria normalmente correria atrás de sua própria carreira profissional. Kagome, no entanto, não tinha uma em mente.

— Kagome - voz a fez se voltar imediatamente às suas amigas recém-formadas.

— Aah, oi!

— Boa tarde, senhora! – disseram primeiro à Sra. Higurashi, que respondeu.

— Parabéns pela sua formatura!

— Todas foram aceitas na universidade – disse Kagome.

— Ora, isso é maravilhoso...! – a mãe dela sorriu, e logo as meninas começavam a tagarelar sobre os cursos escolhidos.

— Eu quero ser uma telejornalista!

— Eu quero ser apresentadora!

— ...mas então precisará primeiro ser uma Miss Campus!

À tudo aquilo Kagome sorriu, com um humor estranho. Ela estava feliz, sim, por suas amigas de tanto tempo da escola terem conseguido uma vaga nos cursos acadêmicos que tanto queriam fazer, mas no fundo não se sentia plena. Ela não conseguiu uma vaga na universidade como elas, mas não era por não ter estudado o suficiente, ela só não queria mesmo um curso universitário. Não conseguia pensar no que queria fazer em sua vida adulta e dali a não sei quantos anos. Deveria tornar-se professora? Médica? Uma escritora, talvez, para falar do que havia vivido de verdade ao lado de Inuyasha sem que ninguém a rotulasse de louca.

 

Três anos haviam se passado desde que Kagome retornara por definitivo ao mundo moderno. O seu mundo de fato. O Poço Come-Ossos, que originalmente estava situado no templo da residência da família Higurashi, um belo dia desapareceu, e, então, três dias após esse fenômeno, ressurgiu, fazendo subir um estranho pilar de luz que trouxe tanto Kagome quanto Inuyasha ao mundo atual.

— MANA! – exclamou Souta, já em prantos.

— Kagome?! – vovô também estava ali, chocado com o reaparecimento repentino da neta.

— KAGOME! – e a mamãe estava muito emocionada, quase chorosa.

Com todas aquelas reações, não havia como Kagome reagir de outra forma: sentindo o coração apertado, começou a chorar, logo correndo para abraçar, primeiro, a sua mãe.

— MAMÃE! Eu fiquei tão preocupada! O Inuyasha me salvou...!

Oh, é mesmo. Inuyasha também estava ali, assistindo a toda aquela cena. Ela deveria agradecer a ele por tudo e convidá-lo para, talvez, um almoço em família? Mas ele começou a desaparecer, bem no momento em que Kagome começava a dizer:

— Inuyasha, obriga... – e ele logo desapareceu, bem diante de seus olhos castanhos – INUYASHA?

 

Desde então, o poço nunca mais reaparecera, pelo menos por um bom tempo. Na verdade, ele ainda estava lá, mas era um buraco comum, com paredes de pedras e com um fundo bem definido, que podia ser visto a olho nu. Não era mais aquele poço misterioso sem fundo, que qualquer um que olhasse podia afirmar facilmente que era mágico ou que tinha algo de muito sinistro. Kagome entendeu, a partir dali, que não poderia mais ver Inuyasha, e pelos três anos seguintes àquilo, se perguntava quase diariamente se, afinal, a sua missão não havia sido cumprida e por isso ela não precisava mais – ou não tinha mais direito – de nenhuma conexão com a era feudal. Ela tinha ido para aquele mundo somente por causa do reaparecimento meio que sem explicação da Shikon no Tama, e foi “devolvida” à era atual assim que a jóia tornou a desaparecer... A sua missão fora clara: ela tinha que destruir a Shikon, e somente isso. Chegou a cogitar se tudo não havia passado de um sonho lúcido bem maluco relacionado ao fato de pertencer a uma família de sacerdotes, mas não era possível que toda a sua família tivesse tido esse mesmo sonho ao mesmo tempo...

Feliz, ela não estava. Nem mesmo depois de formada da escola, podendo agora tocar a sua própria vida normal, ao lado de pessoas que amava muito, sua família, e livre de qualquer obrigação sobrenatural, que a levasse a correr perigos sobrenaturais, ao lado de pessoas sobrenaturais. Com certeza, foi esse sentimento de infelicidade que a levou de volta ao poço dentro do templo, para verificar, só mais uma vez, se ele realmente estava fechado para sempre.

“Será que o poço se fechou por causa dos meus sentimentos?”, ela se perguntava. Pois, nunca mais havia se permitido pensar em Inuyasha, o garoto das orelhas de cachorro que havia chamado a sua atenção em vários sentidos, desde a primeira vez em que se viram e tiveram que sobreviver juntos, até o momento final, em que precisaram se despedir por definitivo. Também deixara de pensar nos amigos que fizera lá no outro lado: Sango-chan, Miroku-san, Shippou-chan, Kaede-obaa-san, Kouga-kun… Foram tantos os nomes que Kagome conhecera naquele mundo, que agora pareciam apenas nomes de personagens inventados para preencher os seus dias comuns de uma fase adolescente entediante. Havia amadurecido e agora era uma jovem adulta, não precisando mais de nada disso, certo?

Talvez não.

Quando ela pensava que havia voltado para casa, depois de deixar a todos de sua família muito tristes e preocupados com o seu desaparecimento de três dias dentro do poço desaparecido, começava a pensar que talvez tivesse sido a euforia de rever a família e estar com ela, somada ao pavor de nunca mais vê-los novamente caso algum dia decidisse partir, o que a manteve bem presa ao “mundo real”.

 

“Inuyasha, eu estive pensando... Por qual razão eu fui enviada à era feudal? Por qual razão o poço foi fechado assim que a Shikon no Tama foi destruída? Será que o meu trabalho está terminado, e, assim, devo passar o resto da minha vida em meu próprio mundo, o mundo no qual você não existe?”

Ela refletia, sozinha, dentro do pequeno templo construído para abrigar o poço, tocando-o como se tentasse sentir alguma vida nele. Então, lhe veio um forte pensamento:

“Inuyasha, eu quero te ver!”

E Kagome sentiu que algo mudou. Algo, definitivamente, mudou. Sentiu o ar começar a se movimentar, fazendo seus cabelos tremeluzirem, e então ouviu a voz de sua mãe, bem atrás de si:

— Kagome...? O que está havendo?

— Mamãe... – disse Kagome, a voz rouca – Veja... É o céu.

De fato, de cima do poço, as duas conseguiam visualizar o céu como se estivessem dentro do poço olhando para cima, embora soubessem que na verdade era o justo contrário.

— Mamãe, eu... – tornou a dizer, então perdeu a coragem de concluir o que queria dizer.

Para sua surpresa, sua mãe captou imediatamente o “...quero ficar com o Inuyasha” que a filha não conseguiu proferir, e logo respondeu:

— Kagome... Está tudo bem – com o sorriso mais caloroso que a garota já a vira fazer.

Estava tudo bem mesmo? Kagome podia mesmo ir embora, sair de casa, abandonar o mundo moderno e quaisquer chances de seguir uma carreira profissional, para voltar no tempo e ir viver ao lado do garoto não-humano pelo qual já havia se assumido apaixonada? Eles não ficariam tristes? Não se sentiriam trocados pelas fantasias de uma garota solitária?

 

E a resposta o tempo todo era “não”. Sua família não se sentiu abandonada, triste ou zangada quando Kagome tomou a iniciativa de seguir seu coração e reabrir o Poço Come-Ossos para reencontrar Inuyasha. Eles sabiam o tempo todo o que realmente a fazia feliz e respeitaram completamente a sua decisão e o tempo que ela levou para finalmente toma-la. Foram três longos anos de tentativas de se enquadrar em um mundo absolutamente normal, ao lado de pessoas absolutamente normais, onde absolutamente nada de estranho acontecia porque Kagome absolutamente não pertencia a nenhum mundo mágico sobrenatural... Tudo em vão. Ela não pertencia ao seu próprio mundo, afinal. Pelo menos, não totalmente. E teve certeza disso quando sentiu ser gentilmente puxada de dentro do poço, lá do outro lado, por uma mão masculina dotada de garras, pertencente a um rapaz de aparentes 15 anos de idade, vestido em um quimono escarlate. Ele tinha longos cabelos platinados e um par de orelhas de Akita – ou seria um Shiba? – que tendiam a girar para trás quando ele se via em uma situação muito difícil ou inacreditável. E foi nessa posição, voltadas para trás, em que elas estavam quando Kagome finalmente deixou o poço e estava novamente no Japão feudal de Inuyasha. Em casa. Inuyasha ainda era o mesmo de quando ela o conheceu, não havia envelhecido ou mudado nadinha. E parecia não ter percebido, ou apenas não se importava de saber, que ela agora estava três anos mais velha do que quando se conheceram. Seus olhos âmbares brilhavam em um misto de alívio e incredulidade.

— Inuyasha, me desculpe... – disse Kagome com a voz embargada, ciente de que seus olhos se enchiam de lágrimas – Eu te fiz esperar demais, não é?

— Kagom... – ele começou a dizer, mas no fim a puxou para um reconfortante abraço, aquele abraço que ela nunca até então havia admitido que adorava – Sua tola! O que estava fazendo esse tempo todo?

A voz dele era sussurrada, e ela teve quase certeza de que seria beijada, não fosse a aproximação de mais gente.

— KAGOME! – berrou a voz infantil que ela sabia ser de Shippou, seguida de uma feminina que imediatamente reconheceu como sendo a voz de Sango.

— Kagome-chan...!

— Já faz algum tempo, Kagome-sama! – cumprimentou-a Miroku, que vinha carregando um par de meninas idênticas de aparentes dois ou três anos de idade, muito bonitinhas.

Seriam suas filhas com Sango? A própria Sango-chan também carregava algo... Alguém, na verdade. Um bebê. Parecia ter, no máximo, alguns poucos meses de vida. Seu terceiro filho com Miroku-san, ela presumia. As coisas haviam mudado tanto assim nos três anos em que ela esteve fora?

“Estou de volta!”


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Notas finais do capítulo

*高等学校 ("koutougakkou") ou simplesmente 高校 ("koukou") = o equivalente ao Ensino Médio do Brasil.



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