犬の花嫁 Inu no Hanayome escrita por Yuushirou


Capítulo 3
三 りん Rin




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りん RIN

 

Rin movia as mãos o mais discretamente possível por debaixo da água, com agilidade e firmeza suficientes para lavar suas roupas de baixo, mas sem parecer que estava fazendo o que quer que fosse às escondidas e com algum temor. Ela tentava não chamar a atenção, como quem cometia algum delito. Ninguém poderia ver aquilo, ou a garota precisaria se explicar – ou ouvir explicações –, o que não seria nada agradável. Olhou ao redor uma última vez para ter certeza de que ninguém estava por perto e decidiu andar até a margem do riacho para primeiro verificar o seu trabalho. A água cobria-a somente até a altura das coxas, mas ela havia ficado alguns minutos agachada para poder limpar o pequeno estrago, então estava molhada até a altura da cintura. Diria à Kaede-obaa-sama, caso fosse preciso, que havia se molhado quando tentava pegar peixes com as próprias mãos, embora soubesse que a sacerdotisa não cairia na conversa por muito tempo.

Uma vez fora d’água, Rin apressou o passo rumo à sua casa antes que a alguém a visse. “Sua casa”. Na verdade, a casa da sacerdotisa da vila, Kaede, que era a responsável pelos trabalhos espirituais da vila e também pela educação e segurança de Rin. Uma espécie de mãe ou avó adotiva. Sua tutora. Já haviam se passado três anos desde que Sesshoumaru deixara Rin na vila de Inuyasha-sama e ela ainda não entendia bem o motivo de ele não ter ficado, e quase nunca aparecer. Havia entendido, após uma breve conversa com ele, que aquele era o seu lugar, o ambiente ideal para que a garota crescesse em segurança e na companhia de outros humanos, mas não entendia, mesmo assim, o que os impedia de continuar a conviver. Tudo bem que costumava ser perigoso – frequentemente, eles encontravam com outros youkai muitas vezes pouco confiáveis e que gostavam de humanos apenas para matar –, mas, agora que não havia mais inimigos para perseguir e Naraku finalmente se foi, por que Sesshoumaru-sama não ficou morando na vila, junto com todos? Nenhum dos moradores acharia estranho, uma vez que já haviam se acostumado com as companhias de Inuyasha-sama, Kirara e Shippou, e Rin poderia continuar a vê-lo todos os dias, como costumava ser desde que foi salva. Será que ele não gostava de lá? Talvez preferisse viver nas florestas? Será que foi morar com sua mãe, nas terras altas mais à Oeste?

Parando para pensar, essa última possibilidade parecia ser bem real para Rin. A mãe de Sesshoumaru vivia em um castelo, que parecia ser muito grande para alguém que morava sozinha. Ela era linda, muito parecida com o filho, mas não tinha a mesma natureza gentil dele. Rin havia percebido que os dois pareciam ter a mesma personalidade, só que na verdade não tinham. Sesshoumaru-sama podia ser muito quieto e sério a maior parte do tempo, dizendo palavras por vezes duras ou indiferentes, mas ele ao menos tinha algo no olhar, alguma emoção, que Gobodou-sama* não tinha. Eles não eram tão parecidos assim, afinal. Tinham os mesmos cabelos longos e platinados, a mesma pele clara marcada com a meia-lua, olhos âmbares, garras, e se vestiam sempre com roupas nobres, mas não tinham o mesmo jeito de olhar. Os olhos de Gobodou-sama eram frios e ferozes, como muitos costumavam definir os de seu filho. Embora não tivesse medo dela, Rin se lembrava de olhar para ela e se sentir pouco convidada a uma conversa ou aproximação. Não era a mesma sensação que tinha com Sesshoumaru. Para ela, ele sempre a olhava com uma pergunta no olhar. Às vezes, parecia lhe perguntar se estava bem, outras, se tinha algo para dizer, tudo geralmente sem dizer uma única palavra. E ele sempre estava disposto a ouvir o que Rin tinha a dizer.

— Rin?

A garota ergueu os olhos castanhos para Kohaku, vestido em seus trajes de taijiya, que a olhava de cima do dorso de Kirara, em pleno vôo.

— Kohaku.

De repente, seu rosto enrubesceu. Esperava que ele não tivesse percebido nada de errado nela, embora na verdade não devesse haver nada de aparentemente estranho mesmo, já que Rin se lavou bem no rio.

— Está tudo bem? – ele perguntou, e então ela desconfiou de que havia se entregado.

— Sim! – respondeu – Aconteceu alguma coisa?

— Oh... – depois de parecer ter se lembrado do que estava para dizer a ela, Kohaku continuou: – É que eu vi... Eu acho que vi o Sesshoumaru-sama agora mesmo!

— Sério?

Sempre que o youkai aparecia, a menina se sentia feliz e esperançosa, e não era pelos presentes. Eles não tinham a menor importância para Rin, que já era habituada a não ganhar nada de ninguém e nem ter nada de valor. O importante era a presença de quem os dava, que sempre conseguia deixa-la mais alegre e a fazia se sentir mais segura. Havia um quê também de curiosidade a respeito da vida dele, pois ela o conhecia tão pouco, por mais que conseguisse decifrar as suas emoções. Era Jaken-sama que sempre respondia a todas as perguntas curiosas de Rin, uma vez que passavam a maior parte do tempo juntos, mas o pequeno youkai verde muitas vezes não dizia tudo o que sabia, ela podia notar.

— Ele estava logo ali – Kohaku apontou a direção – Mas foi embora. Pensei em ir dar uma olhada. Quer ir?

Rin quase aceitou o convite, mas então se lembrou de que tinha um “probleminha” para resolver. Um problema que ela só podia tratar sozinha, sem a ajuda de terceiros, principalmente de meninos. Assuntos de menina.

— Eu não... Eu não posso agora – conseguiu responder.

— Por que?

— Porque eu... – pensou, pensou, então resolveu que jogaria: - Eu tenho que preparar o almoço de hoje para mim e Kaede-obaa-sama!

— Ah...

Aparentemente, ele havia aceitado de bom grado a justificativa, e isso a deixou aliviada. Que bom que Kohaku era um amigo pouco questionador. Eles estavam juntos quase o tempo todo agora e ele continuava a ser um garoto que respeitava muito o espaço individual dela. Ele era muito gentil e protetor, e longe de ser falador e curioso. Rin se perguntava se ele havia puxado aquela personalidade tão doce do pai ou da mãe dele e de Sango-sama, ou se tinha mais a ver com o seu passado mais recente. Ela sabia que tinha sido horrível, mas não realmente conhecia os detalhes e tinha muito cuidado ao tocar no assunto. Aliás, procurava não falar a respeito, embora em alguns momentos fosse inevitável e Kohaku atualmente parecesse menos evasivo do que antes de ser libertado de Naraku.

Agora que finalmente tinha um momento de privacidade, Rin tratou de providenciar alguns tecidos velhos que pouco seriam de utilidade prática para fazer uma camada mais espessa para suas roupas de baixo, a fim de evitar novos “acidentes”, aproveitando que Kaede ainda não havia voltado, felizmente. Ela sabia que a partir dali o seu corpo começaria a mudar e ela começaria a se tornar uma mulher; já havia conversado a respeito com Kaede, que a instruiu a respeito de como seria a sua primeira menstruação, quais os cuidados que precisaria tomar para não sujar suas roupas e o que viria depois. Mesmo já sabendo de tudo isso, a menina achou que levaria mais tempo para que seu sangue descesse. Parecia tão cedo, tão repentino, que ela não se sentia encorajada a falar sobre o assunto com a velha sacerdotisa. Sentia-se de alguma forma envergonhada, ou sem paciência, ou as duas coisas, não sabia ao certo. Estava já terminando de preparar o seu mais novo acessório para roupas de baixo quando escutou uma movimentada aproximação de vozes na vila. Todos pareciam animados com alguma coisa; o que seria?

— Miko-samaa! – um morador berrava à porta da casa de Kaede, mas ela não estava, tendo sido Rin quem o recebeu – Rin? Onde está Kaede-miko-sama?

— Foi buscar algumas plantas! – informou a menina – Aconteceu alguma coisa?

— Kagome-sama! Ela está de volta!

Hein? Kagome-sama havia voltado?! Aquela era a melhor notícia que Rin recebera nos últimos dias, com exceção da misteriosa aparição de Sesshoumaru nos arredores da vila naquele mesmo dia. Kagome-sama estar de volta poderia significar muito mais que apenas o retorno de mais uma amiga à vila, pois agora Inuyasha-sama não ficaria mais só e eles com certeza se casariam e formariam uma família. Será que, depois, Sesshoumaru-sama seria o próximo a se mudar para a vila? E quanto tempo será que iria levar para isso acontecer? Ele seria o próximo também a se casar, já que todos ali estavam formando os seus próprios pares? Rin não conseguia imaginar com quem ele poderia se unir, mas, se não for o caso, acabaria sendo o único ali a viver só. Esse podia ser um motivo, aliás, para que ele tivesse decidido não ficar por definitivo na vila.

Correu para localizar Kaede-obaa-sama e assim repassar a notícia da volta de Kagome-sama. Um jantar de comemoração certamente seria dado e Rin gostava muito de comemorações. Quanto as duas finalmente estavam voltando para casa, Kagome-sama já podia ser vista na vila vestindo os trajes de uma miko. Segundo Kaede, ela era a reencarnação de sua irmã mais velha, a famosa sacerdotisa Kikyou. Rin se lembrava de tê-la visto em ocasiões anteriores à derrota de Naraku. Kagome-sama era realmente muito parecida com ela... Da porta de sua casa, a garota olhou para o céu assim que percebeu a sombra de Kirara a sobrevoa-lo novamente, logo se lembrando de que Kohaku havia ficado de ir verificar a localização de Sesshoumaru-sama. Quase gritou para chama-lo quando percebeu que ele estava se encontrando, em pleno ar, com o velho youkai ferreiro, Toutousai-sama, que lhe entregou uma arma nova encomendada.

— Rin – ouviu a voz de Kaede a chama-la de dentro da casa.

— Kaede-obaa-sama?

— Veja. Tem algo para você aqui.

Tinha? Rin piscou os olhos castanhos algumas vezes antes de perceber, enfim, o pacote embrulhado que havia sido cuidadosamente deixado em um canto. Ele não estava ali antes quando ela e a sacerdotisa saíram de casa, tinha certeza. Aproximou-se do embrulho e sentiu seu coração se aquecer por reconhecer aquele tipo de trabalho como sendo algo que Sesshoumaru fizera. Com certeza era mais um presente, que dessa vez ele deixou sem nem sequer falar com a menina. Por que será?

— Aah...! – deixou-se exclamar.

— O que é? Sesshoumaru a trouxe mais alguma coisa?

— Sim – respondeu Rin, ao que abria o pacote com cuidado e encontrava dentro dele um tecido para quimono nas cor rosa com detalhes em dourado, muito bem dobrado – É mais um quimono novo.

Ela gostava de ganhar presentes de Sesshoumaru-sama. Ainda que sempre fosse as mesmas coisas, eram coisas que tinham utilidade, como os quimonos, por exemplo, e ela aceitava com todo o carinho do mundo. Normalmente, não se tinha uma grande variedade de quimonos em casa quando não se era uma mulher rica. O mais comum nas vilas era que as mulheres usassem o mesmo quimono por dias antes de finalmente trocar por outro, pois a variedade era pouca. Sesshoumaru parecia achar adequado ou merecido que Rin se vestisse melhor, então ele lhe trazia diferentes tecidos para que ela pudesse confeccionar novos quimonos, hábito que indicava as suas raízes nobres, segundo palavras de Kohaku certa vez. Fazia sentido. Ele era um príncipe youkai, certo? Pelo que não só Rin sabia, como também todos os seus novos amigos, era o filho mais velho do grande Inu no Taishou, um daiyoukai que governou por muito tempo as terras do Oeste até vir acabar morrendo depois de uma batalha muito difícil e o nascimento de Inuyasha-sama. Com o pai já falecido e as suas duas maiores heranças já tendo sido repassadas a Sesshoumaru, era ele quem ostentava agora o título de senhor das terras do Oeste.

— É bonito, não? – perguntou Rin.

— Sim, ele sempre traz peças bonitas para você. Indica o quanto se importa com você!

— Mas, ele tem vindo tão pouco, não é...?

A velha sacerdotisa pensou por alguns instantes, aparentemente percebendo a hesitação da garota.

— Sesshoumaru é um príncipe youkai. Ele herdou as terras do Oeste de seu pai, você sabe disso. Talvez esteja sem tempo para vir para estes lados. Talvez esteja precisando proteger as suas terras de antigos inimigos de seu pai. É o que grandes senhores fazem.

Bem, fazia sentido o que Kaede-obaa-sama dizia. Mas isso não diminuía a pitada de tristeza que Rin sentia. Ela sentia falta de interagir com Sesshoumaru-sama. Sentia saudades, apesar de ter se dado muito bem com sua nova vida e amigos.

— Talvez... – respondeu, então se lembrou da sua mais nova questão e decidiu que iria se abrir com a sacerdotisa sobre o assunto – Kaede-obaa-sama.

— Sim?

— Eu preciso contar uma coisa. Sobre mim.

Ela merecia, afinal, a sua confiança. Merecia saber que Rin estava crescendo.


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Notas finais do capítulo

*御母堂様 ("gobodou-sama") = "Senhora Mãe", como Jaken se refere à mãe do Sesshoumaru.

Até então, não foi dado um nome oficial à personagem.



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