Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 20
Capítulo 20




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Enquanto Gil entrava no banho, Jay segurou Harry pelo braço antes que o pirata pudesse segui-lo.

— O jeito que ele tava falando hoje... Tipo, todo inseguro e assustado pra se expressar... Ele tá assim tem muito tempo? Eu achei que tinha superado isso já.

Harry deu de ombros. — Ele tá melhor com isso, mas você não pode esperar uma mudança completa, Jay.

— Eu sei, eu só... – pensou um instante. — Quero ver vocês dois bem.

— A gente sabe, Jay. – sorriu. — Agora me deixe guardar isso, sim? – indicou a bandeira que carregava na mão.

— Claro, certo.

Harry sorriu, guardando o presente em seu próprio baú de tesouros, escondido dentro do guarda-roupa.

— Vocês não querem vir tomar banho comigo? – Gil gritou do banheiro.

— Pra você cair e bater com a cabeça de novo? – Jay respondeu, revirando os olhos. — Se você quer companhia, saía do banho antes!

Gil resmungou algo, mas nem Jay e nem Harry conseguiram entender o que.

— Vem cá. – Harry sorriu, se jogando na cama.

Jay tirou o casaco e se deitou ao lado do namorado, o nariz encostando no dele, a mão passando pelo gancho de prata.

— Esse negócio de dia da família...

— Hum...

— É obrigatório? Ou Gil e eu podemos ignorar?

— Bom... Não é meu feriado favorito. – Jay admitiu. — E acho que não temos exatamente o tipo de família que Auradon gosta de comemorar...

— Ah, não me diga!

— Bom... O clube de duelos do Gaston ainda tá aberto, não é?

— Aham, o LeFou cuida de lá.

— Podemos passar o feriado lá, acho. – deu de ombros. — Passar o dia trocando duelos parece mais interessante do que...

— Do que promover um encontro no meio da festa entre os pais do Gil e os pais do Ben?

Jay estremeceu. — Eu não tinha pensado nisso. Sim, sim, bem mais interessante. A rainha Leah ver a Mal já foi ruim o bastante. E os pais do Aziz vão tá lá e... Ai, não, não. Tem razão. Clube de duelos com certeza.

— Aziz?

— O filho do Aladdin e da Jasmine. – Jay suspirou. — Ele é legal, mas... Não, não quero ver a reação do meu pai descobrindo que tenho amizade com o filho do Aladdin. – ou que já tive mais do que amizade, pensou.

— Poderíamos ir no restaurante do Shan Yu também. – Harry comentou.

O restaurante do líder dos hunos era o mais próximo de um restaurante de luxo na Ilha dos Perdidos, preços altos e o mais próximo de uma comida decente. Uma havia levado a tripulação lá uma vez, tinha sido divertido.

— Seria legal.

— E como tá as coisas com seu pai?

Jay ficou em silêncio um instante. — O que? Agora vai começar a me perguntar sobre isso? Foi só descobrir que eu sou adotado para de repente achar minha relação com meu pai interessante?

— Não, amor, eu só... – Harry cerrou os lábios. — Talvez um pouco.

— Hum... - Jay respirou fundo. — Tá a mesma merda de quando eu morava na Ilha. Quer dizer, ele amaciou um pouco, mas no fim do dia só quer contar o dinheiro da loja e se concentrar nisso e se eu não puder ajudá-lo no dia e hora que ele quer então não valho nada.

— Sempre foi assim?

— Ele era um pouco mais carinhoso quando eu era criança. Bem pouco, mas era. Cuidadoso até, não me deixava roubar certos lugares pra que não corresse perigo, me ensinava a cuidar da loja, cuidava dos machucados de quando eu era pego e até ameaçava os vilões que tentavam mexer comigo. Mas, sei lá... Eu cresci e ele foi mudando. Acho que quando eu era pequeno, ele tinha alguma esperança de que sairíamos da Ilha e com o tempo lá ficou... Amargo. E o que era carinho, virou desprezo... E mesmo agora que estamos todos livres, isso não mudou.

— Entendi. Desculpe ter feito aquelas perguntas, apenas fiquei curioso.

— Filhos de vilões... Sempre ansiosos para saber que não são os únicos que tem pais que não os amam. – revirou os olhos enquanto a porta do banheiro abria. — Você esqueceu de levar a roupa, amor?

— Não... Só não peguei. – Gil deu de ombros, se deitando entre os namorados. — Vocês iam tirar mesmo.

— Eu não ia tirar. – Harry sorriu de lado.

— Ah, não! Você ia rasgar com seu gancho!

— Alguma utilidade tem que ter. – riu, deixando um beijo nos lábios rosados de Gil.

Jay apoiou o rosto numa das mãos, observando por um momento os toques carinhosos dos namorados. Harry fazendo carinho nos músculos de Gil e Gil deslizando as mãos pelas pernas dele, puxando suas calças para baixo.

Sorriu de lado, deslizando os lábios pelos ombros de Gil, as mãos subindo de suas coxas para suas costas, mãos leves de ladrão com toques carinhosos como canções de amor.

Franziu a testa. — Gil?

— Hum? – virou a cabeça, buscando os lábios de Jay enquanto Harry descia os beijos para seu pescoço.

— Suas costas estão doendo? – questionou, conseguindo sentir quão tensos os músculos dele estavam.

—... Um pouco.

— Quer uma massagem?

— Pode ser depois? Isso tá divertido. – murmurou contra os lábios dele.

— Tá bem.

— Ninguém me oferece uma massagem. – Harry reclamou.

Jay deu risada, rolando os olhos. — Você quer uma massagem também, Harry?

— Nah, mas é educado oferecer. Talvez você esteja precisando de mais umas aulas corretivas com a Fada Madrinha. – ele riu, o gancho passando pelo braço de Jay, fazendo arrepios subirem por sua pele.

— Acho que não. – sorriu, segurando firmemente o gancho prateado. — Mas, não tenho nada contra receber algumas correções suas.

Harry sorriu ladino, voltando a deixar beijos sobre o pescoço de Gil, sem tirar os olhos de Jay.

***

— O clube de duelos é pra lá... – Gil murmurou, apontando na direção oposta a que Harry o puxava.

— Eu sei, eu sei. Só quero ver uma coisa na Loja de Quinquilharias. – Harry suspirou.

— Por quê?

— Preciso de anéis novos. Jay já roubou todos os meus.

— E por que eu preciso ir? Jay já tá no clube! Não devíamos fazer ele esperar!

—... Ora, e por que não ir comigo? Vamos, você aproveita e dá uma olhada se tem algo lá que precise pra acabar as roupas que a Evie te passou.

— Evie me entrega o material! Não preciso comprar nada.

— Claro, eu sei... – pensou um instante, tentando encontrar uma boa resposta.— Mas, pode te inspirar. Passamos anos catando coisas da loja e do mercado para enfeitar nossas roupas. Pode te inspirar voltar às origens.

— Tá, eu acho.

Harry suspirou, aliviado. Andar sozinho na Ilha dos Perdidos, sem ninguém para cobrir a retaguarda, nunca foi uma boa ideia. E a Ilha estava melhorando a passos de bebê, não seria sábio andar só por ali.

Caminharam de mãos dadas até a loja.

— Boa tarde, precioso cliente, em que posso... Ah, vocês dois. – Jafar sorriu com certo descaso atrás do balcão. Iago no seu ombro. — Veio me pagar os nove mil que me deve?

—... Jay disse que já tinha te pagado. – Gil murmurou, timidamente.

— Amor, por que não procura uns anéis pra mim? – Harry sorriu, apertando o braço do namorado, sem querer ele sob o olhar rígido do grão-vizir. — Você sabe do que eu gosto.

Gil concordou indo para os fundos da loja, os olhos passando pelas prateleiras.

— Qual a coisa de vilões com aves? – Harry franziu os lábios, observando Iago comer biscoitos que Jafar lhe oferecia na boca.

— Você quer alguma coisa?

Harry cerrou os olhos, observando bem a loja.

As moedas de ouro empilhadas num canto do balcão. Uma estátua de ouro do Iago. Sabia que eram as coisas mais preciosas da loja. Impossíveis de roubar sem chamar atenção do Jafar. Depois que Jay saiu da Ilha, Harry adquiriu o hábito de roubar mais discretamente a loja. Pegava coisas pequenas que cabiam em seus bolsos, escondia, pegava algo barato pra comprar e levava vários pequenos tesouros roubados.

Jafar realmente achava que ele era um cliente que pagava.

— Como tão as coisas com Jay? – questionou. — Vi que você tá cuidando dos troféus dele.

— Ah, sim. – ele rolou os olhos. — Jay comentou que você andava curioso sobre coisas que não eram da sua conta depois que ele te contou aquilo.

— Legal saber que ele fala de mim com você. – sorriu, metido. — Você não faz mesmo ideia de quem realmente são os pais dele?

Jafar rangeu os dentes. — Eu sou o pai dele. E não tenho problema algum em acabar com qualquer um que diga o contrário.

Harry cerrou os olhos, reconhecia esse tom. Teve uma memória de quando Harriet o viu brincando com a espada dela quando eram crianças.

— Quantos anos o Jay tem mesmo? Ele é um dos VKs mais velho, né? Antes dele tem quem? A Harriet, o Anthony... O filho da Madame Min... O filho da Morgana... A Claude, os Gastons e a filha do Shan Yu? Acho que só esses, né?

Jafar o observava com olhos frios. — Por que a pergunta?

— Devia ser estranho... Ver outros vilões tendo algo que você não tinha, né? Sentia inveja?

Harry apertou o gancho, engolindo em seco enquanto Jafar saía de trás do balcão. O velho podia não ser mais tão poderoso quanto antigamente, nem tão grandioso quanto antigamente, nem tão pomposo ou elegante ou... Mas, seus olhos ainda carregavam um poder e uma raiva antiga. Por trás daqueles olhos, ainda havia uma serpente prestar a dar o bote, ainda havia algo a se temer.

Mas, era mais que isso.

Se ignorasse o medo por um momento, veria a verdade.

— Amor, o que você acha desses? – Harry nunca quis tanto beijar Gil quanto no momento que ele voltou todo sorridente do fundo da loja, trazendo nas mãos vários anéis, prateados e dourados, com pedras vermelhas, ou caveiras, com espadas, rosas dos ventos e vários outros símbolos bonitos.

— São lindos, querido. Obrigado. – sorriu, respirando aliviado enquanto Jafar recuava, os olhos o acompanhando de forma raivosa. — Vou colocar estes aqui. – sorriu, escolhendo três dos anéis que Gil havia trazido.

— É bom que planejem pagar.

Harry nem mesmo o olhou. — Coloca na conta do Jay. Vem, Gil, vamos dar o fora.

Gil concordou, sorrindo enquanto guardava os demais anéis nos bolsos internos do casaco que estava usando e saía ao lado de Harry.

***

Harry lembrava de quando Harriet havia ganho sua primeira espada.

Lembrava do quanto ela tratava a arma de maneira possessiva e de como, quando ele também ganhou uma, CJ ficou morrendo de inveja, sempre tentando roubar as armas dos dois.

Quando Calista finalmente ganhou uma espada, não tinha nem coragem de usá-la para duelar, de tanto medo que tinha que algo acontecesse a arma e ela não pudesse mais usá-la. Mas, isso foi por pouco tempo, claro. Só enquanto era novidade. Depois que cansou da espada, começou a procurar outras coisas para se entreter: facas, cordas, outras espadas... Deixava a primeira largada, esquecida pelo canto o tempo todo. Mas, se alguém ousasse falar algo sobre, novamente montava a pose possessiva.

Era isso, percebeu. Era isso que viu nos olhos do Jafar. O homem que viu vários outros vilões tendo seus filhos, criando-os e que adotou um porque queria ter uma criança para exibir também. Lembrou do que Jay havia dito, sobre como o velho era mais carinhoso quando ele era criança e entendeu que não era carinho propriamente dito. Era um sentimento de posse, de não querer que ninguém tomasse o novo brinquedo que havia arranjado, o brinquedo do qual eventualmente acabou enjoando quando todos os outros vilões tiveram seus filhos e isso já não era um diferencial ou algo para exibir. Jay perdeu a novidade para Jafar. Mas, se alguém tentasse dizer o contrário, o vilão ainda se iraria porque o filho pra ele não era diferente de um tesouro qualquer:

Uma simples posse como um brinquedo, uma espada ou mesmo como uma lâmpada mágica quando lhe fosse útil, lixo quando não fosse, mas nunca uma pessoa digna de amor, nunca um filho de fato. Um item de coleção.

— Jay tem que parar de vir ver ele. – resmungou quão logo chegou a essa conclusão.

— Por quê? – Gil olhou confuso.

— Vai ser melhor, pode crer. – afirmou.

Mais cedo ou mais tarde aquilo machucaria. Não importava que Jay dissesse que só ia ver o pai para "mantê-lo fora de problemas porque Auradon não precisava de outro vilão destruindo tudo", sabia que no fundo ele ansiava algo mais. E ou ele perceberia em algum momento como o pai realmente o via, ou seria manipulado por ele. De qualquer forma, mais cedo ou mais tarde, isso o machucaria.

Parentes tóxicos tinham de arder no inferno mais profundo de Hades.

O clube de duelos era um nome chique para um lugar em que, em teoria, não aconteciam duelos. Era apenas um ponto para ir caso estivesse precisando comprar armas novas. Mas, o nome não era atoa. Numa sala nos fundos do clube, realmente havia duelos. Normalmente, apenas os vilões adultos ficavam lá, eles gostavam de resolver as coisas do jeito clássico. Com duelos e tal.

Jay os estava esperando na sala, encostado contra uma parede, girando preguiçosamente uma espada na mão.

— Que demora! – falou em tom reclamão embora estivesse sorrindo de lado para os dois.

— A gente passou no seu pai. – Gil deu de ombros falando antes que Harry pudesse impedi-lo.

— Por quê?

— Precisava de anéis novos. – Harry deu de ombros, exibindo os que Gil havia escolhido pra ele. — Lindos, não é?

— Harry também disse que você devia parar de ver ele.

Jay arqueou a sobrancelha, esperando uma explicação.

— Ok, Gil, meu primeiro duelo vai ser com você! – decidiu apertando o gancho na mão.

— Harry?

— Eu só acho que pode ser melhor, amor, antes que... Sabe?

— Antes que?

Harry permaneceu em silêncio, sem coragem de explicar.

— Eu conheço meu pai, Harry. E essa sua vontade de ficar se metendo na minha relação com ele tá começando a me cansar. – Jay revirou os olhos enquanto falava.

— Eu só... Não quero que acabe se machucando.

— Como eu disse... Eu conheço meu pai. Não precisa se preocupar.

Silêncio.

— Gil, você cronometra o tempo. Cinco minutos. – Jay bufou. — Harry, vem. En garde.

— Bom, eu achei que a gente não resolveria nada com duelos, mas tá, vamos nessa!

 


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Notas finais do capítulo

Por hoje é isso, espero que tenham gostado! Não deixem de dizer o que acharam. Ah, estamos nos aproximando do final da história!



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