Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 19
Capítulo 19




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Passear num tapete para três foi bem melhor, Harry pensou.

Como pirata, preferia mil vezes se locomover pelo mar e ficou meio assustado no começo, mas o tapete ia num ritmo confortável, descendo ou subindo de acordo achasse mais interessante: mar aberto? Vamos descer um pouco, assim vocês jogam água um nos outros. Um monumento auradoniano? Vamos descer um pouco e voar rapidamente em volta para admirarem a vista. Tráfego? Vamos subir bastante, até estarmos voando ao lado de pássaros, ninguém merece ficar vendo o congestionamento.

Era meio frio na parte alta, Harry percebeu desconfortável, se abraçando. Tinha colocado um colete preto com correntes vermelhas que achava bonito e adequado para encontros, mas não tinha pensado que voar podia ser gelado.

Jay rapidamente notou o problema e jogou o casaco para que ele vestisse. Ficou um pouco apertado nos ombros, mas nada demais, Trocaram piadas no caminho até o Lago, rindo e flertando um com o outro. Deitados no tapete, ou sentados, se abraçando ou trocando breves beijos.

As águas do lago refletiam lindamente o entorno: céu noturno e árvores. Um reflexo perfeito. Harry sabia que o nome do lago não era devido isso, mas achou bem apropriado.

— Só tem dois lugares. – Gil observou, uma vez no coreto do lago, diante da mesa pequena com duas cadeiras.

— Sem problemas. – Jay sorriu, colocando a cesta na mesa. — Por que não arrumam aqui enquanto eu vou na Lonnie e peço por mais uma cadeira? O lago é propriedade da família dela afinal.

— Você não pode fazer outra cadeira aparecer? – Harry questionou, franzindo os lábios, observando o tapete mágico se enrolar e se ajeitar num canto do coreto.

— Como assim?

— Tipo, com magia. – Jay ainda parecia confuso com o raciocínio de Harry. — Tipo, seu pai é um feiticeiro não é? Ele tinha magia, então... Ou é diferente com feiticeiros? Tipo a Malévola era uma fada e um dragão e a Mal tem sangue de fada e vira dragão. E a Úrsula era uma bruxa do mar e uma cecaelia e a Uma é uma bruxa do mar e consegue se transformar numa cecaelia. Então, eu sempre pensei que como o Jafar era um feiticeiro, você também... É diferente para feiticeiros e bruxas? Agora que pensei faz sentido. A Rainha Má é uma bruxa e a Evie não, né?

— Evie é uma bruxa. – Jay confirmou, a voz soando um pouco tensa enquanto finalmente entendia o ponto de Harry. — Por isso o Espelho Mágico funciona pra ela. E é por isso que ela é boa em química.

Agora Gil também parecia confuso.

— Tipo, a Rainha era boa com poções e a Evie passou uns dez anos estudando no castelo, né? Ela estudava as poções da mãe lá, por isso entende química. Química e magia não são a mesma coisa, mas são um pouco parecidas então ela consegue usar os conhecimentos da magia com a química. Como o Carlos diz mesmo? Ah... "Qualquer tecnologia ou ciência suficientemente avançada é indistinguível da mágica."

— Mas, então você é um feiticeiro e poderia fazer uma cadeira aparecer? – Harry questionou, se sentindo sem graça por não entender.

Jay respirou fundo. Não era vergonhoso pensou, seus amigos de Auradon sabiam disso e nunca foi algo "uau" pra eles, era algo normal em Auradon. Mas, com VK's era meio perigoso... Mas, eram seus namorados afinal, né?

— Não sou feiticeiro.

— Por que não?

— Magia é genética. – deu de ombros, esperando o entendimento.

— Mas, se o Jafar é um feiticeiro... – Harry tentou.

— Ah! – Gil arregalou os olhos. — Entendi... Eu acho.

Jay assentiu, cruzando os braços nervosamente. — Vou pegar a cadeira.

— Eu não entendi! Como você entendeu antes de mim?

Jay deu as costas indo buscar a cadeira logo, deixando Harry frustrado atrás dele.

— O que? – questionou, se jogando na cadeira livre.

— Por isso ele não tem mãe. – Gil falou como se fosse óbvio. — Jay é adotado.

Harry uniu as sobrancelhas. — Não. Jafar não adotaria alguém. Vilão nenhum adotaria. Sabe que eles só nos suportam porque temos os sangues deles, não é bem por escolha... E mesmo assim, nem suportam tanto.

Gil balançou a cabeça. — Por isso a relação deles é tão complicada.

Harry comprimiu os lábios. Antes que pudesse argumentar mais, Jay voltou trazendo uma cadeira para si.

— Por que Jafar adotaria alguém? – perguntou rudemente enquanto Jay se sentava.

O garoto engoliu em seco, batendo as pontas dos dedos. — Não colocaram a mesa? – sorriu forçado, abrindo a cesta e começando a tirar as coisas. — Tem pão de mel, uvas, melão, morangos, biscoitos caseiros, suco, refrigerante, hum...

— Jay? – Harry arqueou a sobrancelha, observando a forma lenta com que o namorado falava.

— Ah, ele só queria um capanga novo. Iago não é tão útil assim, sabe? – deu de ombros. — E tinham crianças de sobra largadas pela Ilha, você sabe... As que os vilões abandonavam porque achavam que pareciam muito fracas e que iriam morrer. Eu era uma dessas. Jafar diz que me achou largado no brejo atrás da loja e decidiu pegar pra ver o que acontecia. "Plano para longo prazo" foi como ele chamou. Alguém pra encher as prateleiras da loja.

— Mas, você tem o nome dele nos seus registros da escola! – Harry observou. — Não foi como se ele tivesse pego um bebê qualquer pra fazer de capanga, ele fez o registro e tudo.

— Precisava do registro pra me por na escola e também... – Jay coçou o pescoço sem jeito. — Ele diz que meio que gostou de mim. Gostar. Não amar. Mas se afeiçoou o bastante pra olhar e dizer "é meu."

— E o negócio de "se conectar com sua ascendência árabe"?

— Bom, ele me considera um filho e ele é árabe e pra ele isso é o bastante pra eu ter uma ascendência árabe, mesmo se eu não tiver realmente.

Harry ainda parecia curioso. — Mas, os seus pais de verdade são da Ilha, né?

— Eu suponho... Bem, sim, são sim, mas eu não sei quem são. – encolheu os ombros.

— E nunca quis saber?

— Pra que? Eles me largaram num brejo, Harry! Eu era um bebê de dias, podia ter me afogado ou virado comida de hiena. Além do mais, Jafar era um dos vilões mais poderosos da Ilha, isso me dava respeito fácil. Pra que ir atrás de descobrir e acabar sendo filho de... Sei lá, do LeFou ou do Hans ou da Madame Min? E ter que lutar pra conquistar um respeito que, sendo filho do Jafar eu simplesmente tinha? Não. – fez careta. — Tô bem com o nome do Jafar no registro. Ele pode não ser o melhor pai do mundo, mas é o meu pai.

— Mas...

— Harry. – Gil cortou, fazendo-os lembrarem de que ele também estava ali. O loiro cerrou os olhos, observando a tensão de Jay um instante. — Chega de perguntas, Harry.

— Mas... Certo, chega. – cedeu, percebendo o desconforto de Jay. — Eu não quis... É só que a ideia de vilões adotando parece... Diferente. – ele ia dizer estranha, mas achou melhor evitar a palavra.

— É, bem diferente sim. – concordou, a contragosto. — Enfim... Vocês não vão comer nada?

— Claro que vamos! – Gil sorriu, já enchendo a boca de uvas.

Harry sorriu de lado, pegando um pão de mel, tentando ser um pouco mais educado do que o loiro ao comer.

Jay não se importava muito com modos a mesa, embora tenha aprendido a se comportar ao comer. Bondade Curativa e tal. Pegou um pão de mel também, pensativo. Avaliando. Sua mente vilã estava avaliando as reações dos dois, tentando decidir se havia cometido ou não um erro, como se tivesse colocado em risco certo tesouro ao contar sobre a adoção.

Gil parecia normal. Esperado, claro. Gil sempre tinha aquela gentileza e verdade nos olhos, o mesmo Gil de sempre. Mas, as perguntas de Harry... Não, não. Era difícil ler Harry, pensou, era difícil ter certeza do que o pirata estava pensando, mas apesar das perguntas, não parecia uma perca de respeito ou coisa do tipo. Curiosidade apenas talvez. Sim, curiosidade podia ser... Um leve desprezo com a ideia de um vilão tão poderoso fazendo algo que podia ser considerado gentil, mas, de novo, esperado. Crianças da Ilha, certo?

— Então, vamos falar sobre o tapete roubado também? – Harry questionou, pegando um pouco de refrigerante.

— Ah, isso... – Jay cerrou os lábios, oferecendo um pouco de pão de mel para Gil. — Então... Por que essa ideia toda de romance? Eu sei que dia dos namorados é uma coisa nova pra gente, mas...

Gil afastou a cadeira, se encolhendo e focando os olhos no lago.

— Desculpe.

— Eu achei fofo, Gil. Só... Inesperado.

Gil não disse nada.

— Amor? – os dedos de Jay passaram com suavidade pelo braço do loiro, tentando atrair sua atenção de volta.

—  an duilgheadas, Gil? – "qual o problema, Gil?" Harry arqueou a sobrancelha, impaciente com o silêncio e preocupado com o olhar perdido.

— Eu não sei... Eu só achei que... Sei lá. – fez careta. — Essa coisa toda... A gente não tem isso na Ilha.

— Você também disse que Jay talvez não gostasse dessa coisa que a gente faz de ficar roubando um do outro. – Harry observou.

—Como é que é? Por quê?

— Porque não temos isso tudo na Ilha! – Gil repetiu, irritado. — Até agora já roubamos a loja do Jafar e esse tapete e agora essa coisa de feriado de Auradon... Eu só achei que podia ser melhor a gente tentar se adaptar mais ao jeito de Auradon. Você se adaptou.

Harry franziu a testa, ele e Jay trocaram um olhar pensativo antes que desse de ombros, voltando a atenção para a comida. Não sabia muito o que dizer. Realmente não pareciam estar se adaptando muito bem quando era colocado assim. E sabia que Gil tinha um hábito de tentar agradar demais. Não era difícil entender de onde aquela ideia tinha vindo afinal.

Jay suspirou se aproximando mais.

Gil comprimiu os lábios para não deixar escapar um risinho, o nariz de Jay fazendo cócegas em seu pescoço. Subindo devagar. Uma mordidinha leve na orelha.

— Eu sempre roubo seu lenços de cabelo e os anéis do Harry. – Jay declarou simplesmente.

— Ah, é você! – Harry cerrou os olhos, irritado. — Quase não tenho mais anéis!

Jay o ignorou. — Roubamos um dos outros de brincadeira, certo?

— Linguagem do amor dos vilões. – Gil resmungou. — É o que Harry diz.

— Você acha divertido?

— Sim.

— Eu também acho. – Jay sorriu mexendo no cabelo dele. — E sei que o negócio de roubar o tapete foi sem querer. Dei bronca quando vocês roubaram a loja, porque podia ter acabado em algo sério, mas agora que a Úrsula tá presa, as coisas tão um pouco mais leves pra vocês e eu posso resolver mais fácil... Claro, não é bom saírem roubando de todo mundo. Melhor mantermos esse hábito só entre nós. Mas, isso foi um acidente.

— Foi sim.

— Então, não precisa se sentir mal. E "comemoração de dia dos namorados" é só um nome chique para encontro. Você e eu já tivemos vários deles.

— E eu estive em alguns. – Harry lembrou, embora estivesse focado em comer os morangos.

— Se é só um encontro igual todos os outros, por que tem um dia especial pra ele?

Jay franziu os lábios e então deu de ombros. — Temos que comemorar as coisas boas, acho. E tem os reis e rainhas, sabe? Eles não têm muito tempo para encontros. Então, um feriado dedicado a isso é bom pra eles, eu acho. Significa que tem um dia inteiro para passarem juntos sem pensarem em responsabilidades. Mas, pra gente, é um encontro comum.

— Certo. – Gil suspirou, finalmente voltando o olhar pra ele. — Desculpe.

— Não tem que se desculpar. – sorriu, passando os dedos pelos cabelos loiros. — O jeito que estamos já tá ótimo, não precisa tentar impressionar. Já estou impressionado o bastante.

Gil deu um sorrisinho.

— Ok.

— Agora... – Jay sorriu puxando a cesta. — Harry, você quer o seu presente?

Harry cerrou os olhos, limpando os farelos de comida da boca e do queixo, desconfiado.

Jay tirou um pano preto dobrado de dentro da cesta e entregou para Harry, que arqueou a sobrancelha, desdobrando o pano longo e analisando o desenho no centro.

Era difícil interpretar sua expressão. Os olhos cintilavam, mas a boca formava uma linha fina, irritado talvez? Talvez fosse melhor falar algo...

— É para o navio... Eu pedi pra Mal fazer o desenho. – explicou. — Quando comprarmos um navio... Uma bandeira. Eu sei que te zoo por ter perdido o título de capitão pra Uma, mas... Quando tivermos um navio e formos viajar... Você vai ser o capitão.

Harry passou as mãos pela figura:

Uma caveira, sobre uma espada e um gancho cruzados. Ao redor da espada, uma serpente se enrolava, com olhos ameaçadores e língua para fora. Pendurado na ponta do gancho um colar com pingente de búfalo, semelhante ao que Gil costumava usar.

Os três bem ali.

Respirou fundo se levantando.

— Dá uma olhada, Gil. – suspirou dando a volta na mesa e entregando a bandeira pirata para o namorado.

Jay ainda observava, tentando não parecer ansioso.

Harry respirou fundo outra vez, se agachando ao seu lado, o gancho correndo os cabelos de Jay com carinho.

— Obrigado. – murmurou, tão sincero que sua voz chegava a parecer frágil. Hesitou. — Tha gaol agam ort gu mòr. – declarou por fim, dando um beijo no namorado em seguida.

— O que significa? – Jay questionou baixinho, lambendo os lábios ao se afastar, o gancho de Harry agora passando suavemente por sua bochecha.

— Te amo... Muito. – respondeu, após um momento de silêncio.

— Também te amo.

— Eu vou ser o imediato, não vou? – Gil perguntou, ainda olhando para a bandeira.

Harry deu risada se virando para ele. — Claro! Você acha que eu vou deixar esse idiota como segundo em comando? Ele não deve nem saber a diferença entre proa a estibordo!

— Ei!

— Legal. – Gil sorriu. — É uma bandeira muito bonita.

— É sim. – Harry riu se esticando para conseguir dar um beijo nele também. — Te amo.

— Je t'aime. – Gil sorriu. — Também te amo. – a expressão dele ficou assustada por um momento. — Ah, eu não comprei nada pro Harry! Isso é mal, né?

— Eu não comprei nada pra você também. – Harry deu de ombros. — Ficamos tão preocupados procurando onde conseguir um tapete mágico que acabamos esquecendo disso, acho. Mas, não tem problema. Não precisamos de presentes.


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Notas finais do capítulo

Só pra lembrar: embora dos quatro principais, Jay aparente ser o que menos sofreu com o pai, isso não muda o fato de que Jafar o manipulava, exigia e em muitos aspectos o desprezava. O fato de na fic o Jay ser adotado não muda isso. Inclusive, a decisão do Jafar de adotar vai ser mais explicada no futuro, mas foi por motivos egoístas.

Enfim, desculpem o atraso do capítulo, espero que tenham gostado!



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