Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 18
Capítulo 18




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Jay organizou toda sua semana com cuidado.

Ok, ele pediu para que Carlos organizasse toda sua semana.

Assim, quando o dia dos namorados finalmente chegou, estava livre. Pôde acordar tarde e postar uma foto dos namorados no InstaRoyal com uma legenda desnecessariamente melosa. Passou na loja do pai para ajudar a venda das cestas de promoção durante a tarde e analisou as prateleiras para saber o que pegar para Gil.

— Um gancho novo? – Iago sugeriu, voando próximo de Jay.

— Não, o gancho do Harry foi presente do Capitão, ele não trocaria.

O papagaio vermelho pousou no ombro do rapaz, ainda olhando e dando sugestões.

— Um olho de vidro?

— Eles têm os dois olhos, não precisam disso. – suspirou. — E eu preciso de algo pro Gil, não pro Harry. O do Harry já tá pronto, Iago.

— Dá uma cesta de ovos pra ele. – Iago grasnou saindo de seu ombro e voando de volta para sua gaiola.

Jay franziu os lábios para uma prateleira cheia de pedrinhas, brilhantes e anzóis. Era pra ser mais fácil, pensou. Namorava com o Gil há mais tempo e ele era bem menos difícil de impressionar do que Harry! Era pra ser mais fácil, pra ter conseguido pensar no presente dele antes!

Suspirou voltando para o balcão da loja.

— Pai, já tô indo!

— Divirta-se, filho!

Suspirou, um sorriso brincando em seus lábios antes de sair da loja.

Observou as lojas da Ilha. Já não pareciam barracões construídos precariamente um sobre o outro, pareciam estruturas sólidas que não corriam o risco de cair, com placas novas e bem retocadas. Paredes de cores vivas e brilhantes em tons de roxo, verde, preto, vermelho e dourado, como os vilões gostavam.

Lar, doce lar.

***

— Eu queria dar um presente. Não isso. – Jay bufou, arrumando a cesta de piquenique. — Um piquenique no Lago da Reflexão não é um presente, é um encontro.

— Jay... – Evie arqueou as sobrancelhas, tirando os pães de mel da geladeira. — Gil é um cara simples. Ele vai considerar isso como um presente.

— Mas, não é um presente tipo presente! É um... Presente. – resmungou, pegando potes de frutas e colocando no cesto. — Queria dar algo que ele pudesse guardar.

— Não é porque você gosta de guardar coisas que ele também goste, Jay. – ela suspirou, apoiando as mãos no balcão da cozinha. — Gil ama tudo que você faz. Relaxa. Não é você quem tem que gostar do presente, é ele. Você só tem que ser bem agradável e torcer pro Harry ser também.

— Isso só com um cetro mágico que hipnotiza pessoas. – resmungou.

— Quem vê assim até pensa que ele não é um fofo com vocês dois. – Evie rolou os olhos, dando a volta na mesa e pondo as mãos nos ombros do amigo. — Tô errada?

— Ele é carinhoso... Mas, ainda é um chato.

— Mas, você ama.

— É. – concordou fazendo careta.

— Ótimo, então termina de arrumar a cesta. Eu vou almoçar com o Doug no Tiana's Place hoje. – ela piscou, ajeitando uma mecha de cabelo que havia escapado da trança perfeita. — Como estou?

— A mais bela de todas. – sorriu. — Quem é a Branca de Neve perto de você?

Evie riu e piscou os olhos castanhos antes de ajeitar a capa azul do vestido brilhante, pegar a bolsa e as chaves do Castelo e soprar um beijo para o amigo enquanto saía.

Jay suspirou pegando o celular e abrindo o grupo de conversa com os namorados.

[Jay]
Logo chego por aí ok?
Vou só chamar um táxi pra gnt

[Gil]
NÃO

[Harry]
Nem pense nisso

[Jay]
Por que?

[Gil]
O transporte é parte do nosso presente
É surpresa
A gnt vai pra aí ♥

[Harry]
Aí vc leva a gnt pra qualquer lugar idiota de Auradon q tenha planejado

Jay suspirou esfregando os olhos.

[Jay]
Ok
Até daq a pouco ent
To esperando

Bloqueou o celular e começou a tamborilar os dedos, tentando lutar contra a vontade de atacar a cesta de piquenique sozinho.

Prendeu parte do cabelo num coque, deixando outra parte solta e abriu o colete marrom e amarelo, deixando exposta a estampa de serpente de sua camisa azul. Ajeitou as luvas vermelhas sem dedos, tentando encontrar algo para fazer enquanto esperava.

Em que momento tinha ficado tão ansioso? Fez careta para si mesmo.

Mas, bom... Os namoros que teve em Auradon não resistiram até o dia dos namorados, então era a primeira vez que tinha essa experiência e isso o deixava desconfortável.

Além do mais, apesar do que Evie tinha dito, não achava que nenhum dos seus namorados era exatamente fácil de agradar. Quer dizer, Gil costumava se impressionar fácil claro, mas, depois de alguns meses em Auradon, ele estava bem menos impressionável e um pouco mais exigente e por mais que apreciasse a mudança, também ficava nervoso com isso.

Houve uma época em que tudo que queria era ser capaz de agradar o pai: encontrar algum tesouro que os tirasse da Ilha. Costumava ter sonhos com Jafar usando um pijama feito de ouro, cercado de riquezas e dizendo que se orgulhava dele. Mesmo agora que Jafar estava solto, nada parecido jamais aconteceu. A frase "você só me decepciona" podia não ser mais tão habitual, mas o fantasma dela ainda estava ali, presente em cada frase do pai, como se fosse dizê-la a qualquer instante.

Agora parecia que tudo que fazia era tentando agradar os namorados.

Será que algum dia parariam de ficar tentando desesperadamente fazer de tudo para agradar os outros? Ou isso era a grande consequência de uma vida de rejeição?

Não uma vida inteira, claro. Quer dizer, Jafar o quis apesar de todas as vezes que disse que o decepcionava, o quis. E ok, costumava dormir num tapete embaixo de uma prateleira de televisores, mas, lembrava das várias vezes quando criança que acordou chamando pelo pai por ter ouvido a prateleira ranger e lembrava da paciência de Jafar em colocar mais e mais suportes para impedir a prateleira de cair.

O velho podia nunca ter lhe arranjado uma cama ou um canto mais seguro na loja, mas... Fazia o que podia, né? Ou tentava.

Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos.

Estava ficando sentimental.

Não adiantava esperar carinhos de vilões. Seu pai não era um monstro e fizera o melhor que pôde... Não era um monstro, mas era feito de maldade. E o melhor que pôde pode não ter sido o bastante, mas foi algo, pensou. Claro, o Facilier conseguiu dar amor as filhas, mas isso foi uma exceção, certo?

— Pelo menos, ele não era como a Cruela. – resmungou, pensando em todas as vezes que os amigos zombavam da velha mal-tratadora de cães tentando aliviar a ansiedade e a tensão 

Deve ter ficado pensando e remoendo lembranças da Ilha por mais tempo do que percebeu, pois só saiu de seus pensamentos quando ouviu Gil gritando por ele no jardim.

Sorriu, pegando a cesta e fechando o Castelo.

Uniu as sobrancelhas, confuso.

— Cadê o táxi? – questionou, já colocando a mão no bolso para pegar o celular e chamar um.

— Sem táxi. – Gil sorriu, puxando-o para cima de um... Tapete? — Surpresa.

Harry riu vendo Jay se desequilibrar quando o tapete mágico ergueu-se poucos centímetros do chão.

— Não vá cair, querido. – provocou, segurando-o e sentando-se no tapete vermelho e dourado.

— Pensamos que um passeio por Auradon em um tapete mágico seria legal para o dia dos namorados. – Gil explicou, sorrindo enquanto sentava ao lado de Harry.

— Vocês... – Jay não conseguiu concluir a frase, dando risada enquanto sentava no tapete mágico, a cesta no colo. — Pela Caverna dos Tesouros, isso é incrível!

— De nada. – Harry sorriu, dando de ombros e se curvando para dar um beijinho no rapaz. — O que tem aí?

— Vamos fazer um piquenique.

— Mais Auradon impossível.

— No Lago da Reflexão.

— Ficou mais Auradon.

— Bom, então... Vamos? - Gil perguntou, antes que as farpadas usuais dos dois começassem. — Para o Lago da Reflexão!

O tapete mágico se ergueu poucos metros no ar, mas, não muito depois de saírem da propriedade da Evie, o tapete mágico voltou ao chão, tremendo. Tapetes tremiam?

— O que tem ele? – Harry uniu as sobrancelhas, confuso, descendo. — Ele tava normal trazendo a gente pra cá.

— Será que tá doente? – tapetes ficam doentes?

— Jay, você sabe o que ele tem?

— Por que eu tenho que saber?

— Você é filho de um feiticeiro árabe. – Gil observou.

— Ah, isso...

Desceu do tapete franzindo os lábios, observando o tecido encantado brilhante.

— Eu não sei. Vocês pegaram um tapete para três pessoas, né? Não tem porquê estar tão cansado.

— Tapete...

— Pra três?

Jay olhou desconfiado para eles.

— É? Vocês pediram um tapete para três quando alugaram, né?

— Alugar... – Gil murmurou.

Ah, não.

— A gente meio que só pegou... – Harry admitiu. — Não sabíamos onde conseguir um tapete desses, então...

— Saímos andando pelas ruas comerciais até que ouvimos alguém gritar "pegue seu tapete mágico, tapete mágico" aí a gente pegou da mão da pessoa e saímos correndo pra voltar pra escola e nos arrumarmos pra vir aqui. – Gil resmungou.

Jay massageou a ponte do nariz, respirando fundo. — Deixa eu ver se eu entendi... Vocês roubaram um tapete mágico para passearmos no dia dos namorados?

— Não sabíamos que tinha que pagar! Achei que o cara tava dando de presente!

— Estávamos tentando ser mais românticos... Foi ideia do Gil. – Harry bufou, sem olhar para nenhum dos dois.

Jay piscou, surpreso, olhando para os namorados e riu, revirando os olhos.

— Vocês dois são inacreditáveis! Nossa... – deu risada. — Eu amo vocês!

Harry e Gil olharam surpresos, pois estavam esperando por uma bronca enorme e não por um olhar amável e aquele sorriso brilhante que com certeza dava inveja em muitos príncipes de Auradon.

— Desculpa. – Gil murmurou com as bochechas vermelhas. — A gente estragou tudo, né?

— Sem problemas. De onde você tirou isso de romantismo auradoniano? – Jay questionou, subindo no tapete novamente, curioso.

Gil ficou em silêncio.

— Ele teve medo de que você não estivesse mais curtindo tanto essa coisa que a gente faz de ficar roubando um do outro. – Harry deu de ombros.

— De onde tirou isso?

Novamente, Gil ficou em silêncio.

Harry deu de ombros, sem saber como responder.

— Eu vou levar esse tapete de volta pro aluguel de transportes mágicos, ok? – Jay sorriu, paciente. — E se eles tiverem, eu pego um pra três pessoas, aí eu volto aqui e a gente vai pro Lago. E a gente conversa disso.

— Ok... – Gil murmurou, ainda constrangido.

— Não demoro.


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