Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 11
Capítulo 11




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Gil decidiu não se dar por rendido.

Sabia estar certo.

Nunca foi muito bom na aula de Planos Malignos, mas, enquanto Jay e Harry seguiam folheando o livro, traçou o seu próprio plano mentalmente. Falaria com Uma. Depois com CJ. Se isso não fosse o bastante, encontraria com Mal e Ben e falaria com eles. Depois, passaria novamente na loja de Jafar.

De jeito nenhum que estava errado.

Quando deu a hora de Jay ir para o Reformatório, pediu para ir junto. Inventou alguma desculpa sobre precisar falar com os irmãos e estar com saudade de Uma. Era uma meia-verdade, pensou. Estava com saudade de Uma.

O reformatório era um grande prédio, um antigo castelo pequeno a julgar pelas torres. Pedra branca e bandeiras azuis. Um jardim até que bem bonito. Não era permitida a entrada de armas ou metais, tudo bem, pensou entregando sua espada.

Salas brancas decoradas com o típico amarelo e azul de Auradon. Nada surpreendente. Esteja num castelo e vai ter estado em todos, Evie disse certa vez. Começava a perceber que era verdade. Comentou isso com Jay, pois não queria que ele estranhasse seu silêncio.

— Exagero da Evie. O castelo do Aladdin é completamente diferente, muito mais aberto e brilhante. O palácio de gelo da Rainha Elsa também. E o castelo da Ariel tem um andar inteiro submerso.

— Ah... Você já foi em todos?

— Todos não. – franziu os lábios. — Mas, já fui convidado para alguns. Reuniões de segurança em castelos. Não dá pra ver muita coisa, mas eu gosto de dar uma escapada para bisbilhotar.

— Rouba alguma coisa?

— Não. Só tiro fotos para Evie. Para ela se inspirar e criar novas coleções.

— Entendi. – murmurou, se encostando no namorado como costumava fazer, para dar mais credibilidade ainda a si mesmo. — Onde tá a Uma?

— Deve tá nessa sala. – Jay riu, embora um pouco desconfiado, abrindo uma porta onde se lia "sala de reunião."

Uma e Audrey estavam sentadas lado a lado, os cabelos coloridos soltos. Comiam bolo e riam, revirando os olhos e trocando caretas que as faziam rir ainda mais.

— Atrapalho? – Jay arqueou a sobrancelha, sorrindo como se soubesse um segredo.

As duas deram um pulo de susto e se afastaram um pouco.

— De jeito nenhum! – Audrey garantiu, sorridente. A pele tinha recuperado o antigo tom brilhante, os cabelos em tons pastéis de rosa e azul. Usava uma blusa rosa de gola alta sob um casaco de couro longo azul-claro, com calças pretas de cintura alta, cheias de correntes e cintos. Gil pensou que ela parecia uma versão pastel de Uma. Só faltava o chapéu pirata.

— Oi, Gil. – Uma cumprimentou, ajeitando o casaco azul brilhante com detalhes dourados e roxos.

— Oi. – cumprimentou de volta enquanto sentava ao lado da capitã.

— Bom, então...

— Uma, posso falar com você? – Gil se arrependeu assim que falou, notando os olhares sob si, sabia estar cometendo um erro digno de vilões principiantes.

— Hã... – Uma franziu a testa, parecendo confusa, mas deu de ombros. — Claro. Audrey você passa os relatórios para Jay?

— Sem problemas. – a princesa sorriu.

— Vem, vamos falar lá fora.

Enquanto Uma saia da sala, Gil notou a forma que os olhos de Audrey a seguiam.

***

— O que foi? – Uma questionou curiosa enquanto andavam a esmo pelos corredores do reformatório. Quadros de heróis e fadas enfeitavam as paredes, com cores vibrantes e desenhos estonteantes.

— O que você sabe sobre a pérola de Anfritite? – perguntou, cansado demais para fazer rodeios.

Uma o olhou desconfiada e cruzou os braços. — O que há pra saber? Era uma pérola que sumiu no mar.

— Sua mãe nunca falou dela com você?

Soube ter feito a pergunta errada pela forma que Uma o olhou, como se fosse mandá-lo andar na prancha.

— Por que a pergunta, Gil?

Gil deu de ombros, se encostando contra uma parede. — Acho que sua mãe pode estar atrás dela.

— Porque acha isso?

— Instinto.

Uma riu mais relaxada. Não que subestimasse os instintos de Gil, mas também não os superestimava.

— Sério?

— Se encaixa. - Gil murmurou, tentando explicar a teoria que havia formado. — A pérola era usada pela rainha Athena. A rainha foi atacada por piratas e a pérola sumiu. A gente sabe que o Gancho atacava sereias e que sempre serviu a Úrsula, talvez tenha sido ele a atacá-la, talvez a pérola estivesse com ele esse tempo todo...

— Gil, isso... Se fosse isso, minha mãe já a teria, não?

— Calma, eu não acabei!

— Okay. – ela piscou surpresa, erguendo as mãos e dando espaço para que Gil falasse.

— Lembra que uma vez sua mãe reclamou na Ilha que Jay havia roubado o colar dela? Mas, o colar de concha estava quebrado, né? Não foi o colar mágico, foi outro. E se a pérola estava escondida dentro de uma concha, que também enfeitava um colar e o Jay roubou?

— E aí teria sido colocado pra vender na loja do Jafar...

— E se estivesse lá até hoje e a Malévola descobrisse... Sabendo que não pode controlar um poder marinho...

— Ela tentaria destruir e isso explicaria o ataque à loja. – Uma concordou, assentindo sem nem se dar conta, fez um beicinho surpreso. — Olha, tô impressionada! – sorriu.

Gil sentiu que suas bochechas rasgariam com o tamanho do sorriso que deu. Grande demais, mostrando os dentes, completamente animado e eufórico por receber um elogio desse nível de sua capitã.

— A pérola de Anfitrite controla as forças mais profundas do oceano, de acordo a pessoa que a usa. – contou após deixar Gil aproveitar o elogio por um momento.

— Como assim?

— Pense no oceano como tendo dois lados. Um lado mais alegre, mar calmo, boa pesca, peixes coloridos, sereias, tranquilidade, serenidade, dia feliz na praia e vento bom pra velejar.

— Um lado legal.

— E o outro lado, são ondas gigantes, mistério, feras marinhas, tempestades, mar bravo, embarcações virando e gente morrendo afogada.

— Lado mau.

— Quando o colar era de Anfritite e de Athena, o oceano respondia ao jeito delas. Calmas, alegres... Era um mar de ondas calmas.

— E com a Úrsula seria um mar de feras?

— É. – Uma fez careta. — O oceano é como um reflexo gigante da realeza do mar. Quando está calmo, o reino está bem. Quando está tempestuoso, os reis estão irritados. As jóias reais carregam a magia do mar e da família real, por isso tem tanto poder e influenciam tanto a maneira que o oceano age.

— Entendi. – Gil cerrou os lábios. — Vou falar com a CJ. Ela gosta de contar histórias sobre o pai. Vou ver se ela sabe alguma história sobre o Gancho atacar sereias.

— Precisa de ajuda?

Sim? — Não. – sorriu. — Chamaria atenção se você saísse depois de conversar comigo. Não quero que Jay e Harry saibam o que eu tô fazendo até eu ter todas as provas que estava certo.

— Por que isso?

Gil cerrou os olhos, seriamente. — Para eu esfregar na cara deles!

Uma deu risada, mas concordou com a cabeça. — Está bem. Faça como preferir. Mas, me mantenha informada.

— Pode deixar, cama... Digo, Uma.

Ela o olhou torto, antes de dar as costas, o cabelo balançando enquanto retornava a sala. — Vou dizer que você foi ao jardim. Isso te dá aproximadamente quarenta minutos de reunião antes de o Jay se preocupar em te procurar. É tempo o bastante para ir a Ilha, chegar no porto e começar a conversar com a CJ. Você vai ter mais quarenta minutos até ele chegar lá, então garanta que seja tempo o bastante pra descobrir tudo que quer e esfregar na cara deles.

— Tá bom. – Gil sorriu, animado. Não pisaria na bola, pensou. Iria conseguir mostrar que era tão inteligente e tão vilão quanto todo mundo. Ia provar que tinha sim herdado o talento de maldade e a capacidade de ser sorrateiro.

Tão sorrateiro quanto a Úrsula.

Tão cruelmente maluco e destemido quanto o Gancho.

E tão forte e bonito quanto o pai, obviamente.

Claro, mesmo sendo um vilão da nova geração, não estava planejando fazer nada realmente vilanesco. Só queria provar aos outros que estavam errados e ele certo. Nada demais, né? Tudo bem fazer algumas maldades pequenas de vez em quando. Só de vez em quando. Pra manter a vida emocionante.

***

Jay encontrou Gil saindo da Loja de Quinquilharias do Jafar. Ele não pareceu surpreso, como se soubesse que o namorado o encontraria eventualmente e estivesse apenas esperando, andando pela Ilha para matar o tempo enquanto ele não chegava.

— Me dá uma carona de volta para escola? – perguntou, arqueando a sobrancelha, as mãos no bolso.

— Onde você foi? Por que tá aqui e por que não me avisou que tava saindo? – Jay questionou, sem descer de sua moto, olhando confuso para o namorado. Gil estava com uma postura diferente.

Como um vilão em posse de uma lâmpada mágica ou uma bruxa do mar que finalmente colocou as mãos no desejado tridente do rei dos mares. Sorriso malicioso, olhos confiantes, com uma postura firme e segura de quem vê seu plano maligno seguir o caminho que desejava. Era estranho ver Gil assim, meio excitante, mas estranho.

— Ah... Eu te conto quando chegarmos à escola. Harry também vai querer saber, acredite. – sorriu. — Tudo certo no reformatório?

— Aham... – Jay ainda parecia desconfiado, mas tirou o capacete extra do baú da moto e jogou-o para Gil que colocou logo, subindo atrás de Jay e abraçando sua cintura. — Teve um dia legal pelo menos?

— Seu pai gosta de mim.

— Legal.

***

Harry estava limpando seu gancho, para que a prata ficasse brilhante novamente, quando seus namorados entraram no quarto.

— Como foi no reformatório? – perguntou, embora tivesse pouco menos que zero interesse nisso. Considerava meio irritante a insistência de Auradon em querer regenerar todos os jovens vilões da Ilha dos Perdidos. Depois de mais de uma década comendo o lixo deles, vivendo sob uma barreira mágica, aguentando pais abusivos, vendo pela TV a maravilha de vida da qual estavam sendo privados e estudando todos os tipos de maldade possível, era desejar demais que todos fossem simplesmente mudar de lado.

Seria bem mais fácil se só nos deixassem incendiar um ou dois castelos, pensava consigo mesmo. E se nos devolvessem nossas jóias de família e objetos de poder de nossos pais... Também ajudaria.

— Tudo foi de boa. – Jay deu de ombros, sentando-se ao lado de Harry. — Gil tem algo para contar.

Gil respirou fundo, tentando manter a pose de "vilão que sabe mais" que Mamãe Gothel, professora de Introdução ao Egoísmo de Dragon Hall, sempre ensinava.

— Eu... Estava certo. – sorriu um pouco demais, orgulhoso de si mesmo.

— Como assim? – Jay uniu as sobrancelhas, confuso, tirando as botas.

— Harry, lembra quando fomos à loja do Jafar e tinham várias conchas e pérolas numa prateleira?

— Você quer dizer se eu lembro de ontem? – arqueou a sobrancelha.

— Bom, olha aqui! – tirou a concha roxa do bolso, ignorando a provocação de Gancho e mostrando a pérola presa na parte interna do que outrora foi um pingente no colar da Rainha Athena. — Apresento... A Pérola de Anfitrite! Eu estava certo!

Jay e Harry piscaram lentamente, chocados.

— Como é? – Jay murmurou.

— Bom... – Gil cerrou os lábios. — Como a Rainha Athena foi morta por piratas, eu suspeitei que pudesse ser o capitão Gancho, então fui falar com a CJ na Ilha, depois que ela me confirmou que ele foi para a Terra do Nunca para se esconder dos tentáculos da Úrsula que queria matá-lo por não entregar "um tesouro roubado da família real dos mares" ficou meio óbvio. Ele entregou o colar para Úrsula quando foram parar na Ilha dos Perdidos. Aí eu lembrei que uma vez ela reclamou que o Jay tinha roubado o colar dela...

Jay levantou a mão. — Na verdade, quem roubou foi a Mal. Eu só... Roubei da Mal.

O sorriso de Gil vacilou momentaneamente ao descobrir essa falha em seu raciocínio perfeito. Mas, se obrigou a não deixar isso abalar sua pose de confiança, afinal, foi algo tão mínimo que não afetou em nada mesmo. Ainda estava certo.

— Detalhes, detalhes... – murmurou, tentando imitar o descaso do pai. — Enfim, eu imaginei que como você roubou a pérola, ela ainda estaria na loja do seu pai. E estava. Ele me entregou de bom grado depois de eu entregar dois mil roses para ele. E o meu celular. E eu também tô devendo mais nove mil roses pra ele.

— Não é atoa que ele gostou de você. Eu não devia te deixar negociar com meu pai sozinho. – Jay murmurou, embora ainda impressionado com toda a lógica de Gil.

— Agora me peçam desculpas por não me ouvirem antes! – Gil exigiu, cruzando os braços.

— Ok, desculpa.

— Pra ser justo... – Harry começou. — Você não é conhecido por suas capacidades lógicas, mas tem razão.

Gil não parecia satisfeito. — Jay também não é conhecido por saber sobre a pirataria, mas se a ideia fosse dele, você teria cogitado!

— Eu não sei se teria...

— Teria sim. E ele teria cogitado ser a Pérola de Anfitrite se fosse você que dissesse que poderia ser ela, Harry!

— É, mas, eu confiaria nele porque ele é um pirata então entende dessas coisas.

— Eu também sou um pirata! – Gil bufou exasperado, agitando as mãos.

— Ah... – Jay franziu os lábios. — É, tem razão. Erro meu. Desculpa. Acho que... Às vezes, a gente deixava demais quem nossos pais são determinarem que a gente é e como seu pai é meio... Você sabe. E você também é meio inocente demais às vezes, eu não levei a sério. Desculpa, deveria te dar mais créditos.

— Okay.

— Harry? – Jay arqueou a sobrancelha para o garoto ao seu lado, completamente ciente que pedidos de desculpas ainda eram algo meio complicado para Gancho, ainda mais quando se tratava de pedir desculpas para alguém que era inferior a ele na hierarquia dos piratas.

— Olha...

— Não. – Gil cruzou os braços, apertando a concha e a pérola contra a mão fechada. — Depois que a Uma saiu da Ilha, você virou capitão do Lost Revenge, e eu fiquei como seu imediato e por um tempão eu te ajudei a cuidar de tudo e ficamos trabalhando lado a lado para impedir um monte de piratas adolescentes de se matarem... Então você devia pelo menos dar atenção ao que eu digo. E eu sou seu namorado, então você devia cogitar a possibilidade de que às vezes eu posso estar certo.

Jay ficou em silêncio, achando melhor não se meter na briga dos namorados. Mesmo que tivesse esse direito, era uma discussão que parecia ter muito mais haver com os dois do que com os três e bom... Eles não pareciam estar precisando de ajuda para se resolverem. Gil pelo menos estava conseguindo expressar muito bem o que o incomodou.

Sentiu certo orgulho disso. Meses de namoro incentivando Gil a manifestar se estava bem, se tinha algo o incomodando, se concordava com tal coisa ou preferia de outra maneira... E agora ele estava se expressando tão bem. Auradon fez aquele garoto desabrochar completamente, pensou, sorrindo.

Harry por outro lado, observou, não parecia saber como lidar com a nova confiança de Gil ainda. Mexia as mãos e mordia os lábios, com olhos vagando pelo quarto como se procurasse por uma rota de fuga, claramente sem jeito.

— Harry? – murmurou, colocando a mão sobre a perna dele, pensando que talvez fosse bom se intrometer.

Harry suspirou se levantando como se tivesse tomado uma decisão.

— Okay, você venceu. Vem cá.

— Eu não quero vencer, só quero um pedido de desculpas decente!

— Vai sonhando! Vilões não pedem desculpas! – bufou.

— Você pediu desculpas pro Jay ontem!

— Porque ele é um bobão sensível e molenga! Você não! Agora... – puxou a mão de Gil e colocou sobre a parte de trás da gola de jaqueta.

Jay arqueou a sobrancelha, observando Harry manterá mão sobre de Gil e andar até a porta do quarto, a qual abriu dramaticamente.

— Agora você me põe pra fora.

Gil franziu a testa, parecendo surpreso, antes de empurrar o filho do Capitão Gancho para fora do quarto e bater a porta.

Jay cerrou os lábios enquanto o loiro vinha ajeitar-se ao seu lado.

— É assim que piratas resolvem as coisas? - questionou.

— Às vezes. – deu de ombros, voltando a olhar para a concha. — O que a gente faz com isso?

— Vamos levar para o Ben, ele vai ter alguma ideia.


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