Rin saiu cedo de seu quarto, coçava seus olhos com o antebraço esquerdo e cambaleava um pouco. Seus cabelos rosados estavam bagunçados, tendo uma fina linha de saliva escorrendo dos lábios, aparentemente acordou a pouquíssimo tempo. Ele caminhou descontraído pelo corredor em que era localizado seu quarto, olhando para tantas outras portas fechadas, mas não quis saber quem é que dormia. Ele só acordou cedo — antes das cinco da manhã — porque sentiu-se na necessidade de beber ou comer alguma coisa antes do café da manhã. O rosado parou de andar no momento que virou o lado direito do corredor. Não muito longe encontrava-se um homem com quem pouco conversava desde que chegou aquele lugar, Shiro. O albino observava casualmente Amegakure por uma das janelas com um cigarro em sua boca, possuindo um papel entre o dedo médio e indicador de sua mão esquerda, enquanto cuidadosamente colocava outro num falcão negro com um apetrecho na pata esquerda. A ave desviou sua cabeça sutilmente, desta maneira observando o garoto escondido nas sombras, mas retornou sua atenção para o albino. O rosado olhou para outra direção, depois retornou sua atenção para a cena em questão, suspirou e rendeu-se a curiosidade.

— Eu não sabia que tínhamos aves mensageiras. — Rin comentou, assim chamando a atenção do albino. Ele continuou a aproximando e sorrindo para o mais velho.

— A Mangetsu não tem. — Shiro disse, um pouco surpreso pelo aparecimento do rosado, mas retornando sua atenção para a ave.

— Hm? Então essa ave é sua? — Rin perguntou, aproximando-se mais e mantendo os braços cruzados enquanto olhava para o falcão negro.

— Mais ou menos. — Shiro disse, usando seu cigarro para queimar o papel que tinha entre seus dedos. 

— Tá se correspondendo? — Rin perguntou, mas deu continuidade assim que ficou ao lado do albino e escorado na parede. — Será que esse falcão chega em… —

— ...ele não sai de Amegakure. — Shiro interrompeu o rosado, movendo seu rosto o suficiente e olhando-o com uma ligeira seriedade. 

Rin ficou em silêncio com a interrupção, até mesmo com aquela olhar sério que recebeu do albino, então concentrou-se na ave qur mantinha aqueles olhos negros muito perceptíveis nele, depois no albino.

— Como assim "mais ou menos" essa ave te pertence? — Rin perguntou, seu tom soando um pouco áspero, rude. Seu olhar fica mais sério apesar do cansaço suave em forma de olheiras. 

— Não tenho de responder às suas perguntas. Mas te dou um conselho… — Shiro disse, então continuou assim que jogou o cigarro no chão e pisou nele, mantendo seus olhos calmos no garoto que o olhava com seriedade. Ele sussurrou. — ...quanto menos se meter comigo, melhor para nós dois. Eu não gosto de você, mas não quero que nada de ruim aconteça com você. —

Rin ficou em silêncio. Ele até sentiu a mão direita do albino em seu ombro, apertando-o um pouco. O olhar sério do rosado se perdeu, assim sendo substituído por calma, mas o tom esverdeado mudou também. E ele subiu sua cabeça um pouco e a moveu para o lado, assim mantendo contato visual com o albino. Shiro não pareceu impressionado, nem mesmo intimidado, pelo garoto estar lhe mostrando o Sharingan. 

— Fique tranquilo. Nada de ruim acontece comigo… — Rin disse, lentamente fechando suas mãos em punhos e mantendo a atenção no albino. — ...pessoas ruins já tentaram me matar. E ainda estou aqui, mais forte do que antes. Então, com quem estava se correspondendo? — Rin perguntou, sua voz carregando um suave ânimo apesar de ter sido ameaçado a pouquíssimo tempo. 

— Com uma pessoa que conheço há um certo tempo. — Shiro respondeu a pergunta do rosado, então baixou sua mão e a levou ao bolso da calça, puxando de dentro um maço de cigarro. — Essa pessoa pediu para que eu levasse uma coisa da próxima vez que fosse encontrá-la. —

Shiro olhou para o lado direito, ou seja, observou o falcão negro na janela. A ave de alguma forma entendeu que já estava na hora de partir e entregar a mensagem, por isso que virou-se e abriu suas asas, então partiu da beirada com um único movimento. Rin olhou para o falcão que voava na pouca escuridão que sobrava, mas depois retornou sua atenção para Shiro que também o olhava. O albino assumirá uma expressão calma, mas qualquer um perceberia que havia algo a mais. Rin não mudou seu olhar por nenhum momento. O rosado sentiu que o clima daquele corredor mudou consideravelmente com o silêncio que era mantido entre eles. O clima pesou sobre eles. Era como se fizesse um nó em uma corda, e tentar puxar de ambos os lados para desfazer aquilo. Graças ao Sharingan, Rin igualou sua respiração com a de Shiro, mas no fim suspirou e levou a mão direita ao cabelo.

— Eu levaria algo bonito para essa pessoa. Sabe? — Rin disse depois que desativou seu Sharingan, dando continuidade quando percebeu a dúvida no olhar de Shiro. — Essa pessoa é sua namorada? —

— Não mesmo. — Shiro disse e levou a mão direita ao cabelo, coçando-o e sorrindo maliciosamente pelo canto direito dos lábios. — Mas obrigado pela sugestão. Já tenho algo em mente para presentear essa pessoa. —

Antes que o rosado pudesse perguntar mais alguma coisa, Shiro caminhou. O albino começou a se distanciar dele, lentamente sumindo no extenso corredor pouco iluminado e sequer olhando para trás. Rin olhou uma última vez para a janela, ou melhor, para o que tinha além dela, mas não ele não conseguiu mais enxergar o falcão negro. Ele estava para dizer alguma coisa, no entanto qualquer pensamento fugiu de sua mente quando dois braços relativamente brancos passam pelo canto de seu rosto com as mãos bem espalmadas. Ele engoliu em seco ao ouvir um assobio rítmico, então dois olhos azuis suaves se abrem nas palmas das mãos. Sangue começou a escorrer daqueles olhos como se estivessem chorando. Era nítida a tristeza daqueles olhos azulados e paranormais. E então… um rasgo profundo surgiu nos pulsos. Em vez de sangue escorrer por aquele rasgo, lábios se formaram e um belo sorriso em cada um dos pulsos, sorrisos esses que mostravam também os dentes de um ser humano. E então…

— ...você continua ruim com Genjutsu. — Era a voz de Fushin saindo das duas bocas formadas nos pulsos.

Os braços afastam-se do rosto dele. E o rosado olhou para trás no momento em que o assobio parou, desta forma encarando a especialista em Genjutsu que agora tinha seus braços cruzados. Naquela hora de manhã, Fushin usava um quimono branco, luvas escuras e meias brancas, mantinha os braços cruzados abaixo dos seios, e sorria animada. O rosado suspirou, sentindo-se aliviado por não ser alguma coisa paranormal.

— Eu preciso de uns minutos. Acho que perdi uns cinquenta anos com essa brincadeira. — Rin sussurrou. Ele colocou a palma da mão direita em seu peito, sentiu o coração disparado por causa do susto. — Eu não estou ruim em Genjutsu. Você me pegou desprevenido. —

— Então? Você quer estar preparado para cair num Genjutsu? Quer que o inimigo aponte para você e diga… — Fushin levou sua mão direita na cintura, a esquerda usou para apontar ao rosado antes de dar continuidade. — "Você vai cair no meu Genjutsu." —

— Ah, que saco… — Rin murmurou. 

— Aliás… o que estava fazendo aqui? Tava me esperando? Ou queria entrar em meu quarto para tentar dormir comigo? — Fushin perguntou enquanto suas bochechas ganham um certo rubor com as duas suposições, mas deu continuidade. — Eu sinto decepcioná-lo, mas eu… —

Fushin não concluiu seu comentário. Isso porque o rosado levou a mão direita para a bochecha dela, então puxou sem fazer muita força. Rin estava um pouco mais sério, contudo envergonhado por causa da especialista em Genjutsu ter aquelas ideias idiotas. "Escapo de uma tarada, mas outra pior me aparece. E ainda é capaz de fazer Genjutsu…' o rosado pensou, levantando a cabeça um pouco e depois baixando-a enquanto suspirava.

— Que saco… — Rin sussurrou novamente, mas deu continuidade assim que retirou sua mão da bochecha da garota. — ...ainda não decorei o caminho até a cozinha. Levantei para beber ou comer alguma coisa antes do café, mas acho que me perdi. Eu nem quero saber onde é seu quarto. —

"Vou manter a informação de Shiro pra mim" o rosado pensou, então afastou-se um pouco mais de Fushin que não parecia duvidar dele, por isso que a mesma levou os braços para as costas e entrelaçou suas próprias mãos.

— Vamos ao treinamento. — Fushin disse, dando continuidade assim que olhou para a janela não muito longe dela. — Ou quer treinar primeiramente com Musashi? —

Rin ficou em silêncio, em dúvida com a oferta. Criou para si um sistema de treinamento que foi bem organizado nas primeiras duas semanas. Primeiro ele treinava com Fushin para aperfeiçoar-se em Genjutsu, depois seguia ao Coliseu para que continuasse as lições de Iryō Ninjutsu por sabe-se lá quanto tempo, mas duas semanas depois… Musashi se recuperou das costelas quebradas e estava pronto para ensiná-lo sobre o Hiraishin no Jutsu, mas desde o começo desse treinamento até aquele dia em questão… tinha-se passado um mês. E sua rotina estava uma bagunça, já que o especialista em Kenjutsu não tinha horário para ensiná-lo. Ele só aparecia onde o rosado estava e o puxava por seu cabelo. 

— Agora. Enquanto ele não acordou — Ele a respondeu, mas deu continuidade assim que levantou os braços e se espreguiçou. — Eu não estou ruim em Genjutsu. —

— Veremos… — Fushin disse com um leve ânimo.

[ ۝ ]

Não eram nem cinco e quinze da manhã, mas alguns membros do esquadrão de Genjutsu já estavam prontos. Em torno de seis pessoas encontravam-se no terraço da base da Mangetsu, todos ignoravam completamente o nascer lento do sol no horizonte. Dessas sete pessoas, seis formaram um círculo em volta da última pessoa, ou seja, o rosado que mantinha-se imóvel de início. A cabeça de Rin estava baixa e seus braços cruzados, mas isso mudou assim que suspirou, levantando devagar a cabeça e abrindo os olhos, desta forma revelando o Sharingan para os seis envolvidos que não se intimidaram. Na verdade… duas pessoas foram em sua direção e tentaram atacá-lo em conjunto. A única regra era não usar Ninjutsu ou matar, de resto estava liberado. O rosado usou os antebraços para se defender do soco da pessoa mais próxima a ele, então segurou o braço da mesma com sua mão direita e girou em 360°, soltando-a e vendo o corpo da mesma seguir para a segunda pessoa que queria acertá-lo, desta forma derrubando-a com o primeiro em cima dela. 

O rosado sorriu pelo canto dos lábios, mas soube que aquilo estava longe de ser terminado quando as mesmas duas pessoas se levantam e vão em sua direção, além disso uma terceira optou por ajudá-los. Rin se aproximou do último que quis se envolver, graças ao Sharingan desviou do soco dele e o acertou com uma cabeçada, jogando-o para trás e deixando-o caído no chão. Então, girou seu corpo em 180° e pulou em cima da primeira pessoa, jogando-a ao chão também, contudo em foi junto, mas aproveitou para dar uma cambalhota, assim se levantando e olhando para a segunda pessoa. Os dois se olham por um tempo muito curto. E antes que aquela pessoa pensasse em acertá-lo com um soco, Rin se adiantou e já estava a sua frente e levando seu punho de encontro ao abdômen do estranho. Um soco bem executado que fez a pessoa gemer dolorosamente. Ele tentou outro soco na mesma região, acertando e fazendo uma sequência de socos. Bastaram seis socos para que a pessoa se ajoelhasse, e mais um para derrubá-la no chão frio.

Rin olhou para trás no momento que ouviu passos, mas tarde demais. A quarta pessoa o acertou com um soco bem dado em seu rosto, desta forma jogando-o para trás, mas o rosado não deixou aquilo barato. A quarta pessoa se surpreendeu quando as mãos do rosado lhe seguram os ombros, então o mesmo foi junto com Rin para trás. O rosado ficou por baixo daquela pessoa que o acertou com um soco, mas por pouquíssimo tempo. Ele imediatamente jogou o desconhecido para trás, então se agachou e levantou-se antes que aquela pessoa tivesse a oportunidade de se recuperar. E correu em sua direção, mas antes de chegar nela o mesmo pulou, desta forma acertando-a com uma voadora. O rosado olhou na direção de Fushin, e a mulher sorriu ao seguir em sua direção brandindo uma kunai em cada uma das mãos. 

Rin previa a trajetória dos ataques, por isso era capaz de evitá-los. Fushin conseguiu encurtar bastante sua distância com o rosado, por isso não via necessidade de lançar as kunais. A especialista em Genjutsu tentou acertar um golpe por cima, mas seu punho direito foi segurado pelo rosado que sorriu enquanto ofegava pelo ligeiro esforço. Fushin também sorriu antes de abrir sua mão, desta forma soltando a kunai e pegando-a com sua mão esquerda, então levando-a para a barriga do rosado que voltou a bloquear aquele ataque ao segurar o pulso esquerdo da mulher, ou seja, as mãos de cada um deles estava ocupada. Rin pensou que havia se garantido, mas se enganou por alguns minutos. Isso porque não havia percebido, mas a outra kunai que deveria estar numa das mãos de Fushin, estava na verdade em sua boca e ela aproximava seu rosto ao dele num ataque horizontal, ele não conseguiu se proteger a tempo daquele ataque, assim a kunai acertou seu olho direito num corte profundo. Aquele não era o momento para reclamação, por isso rangeu seus dentes e levantou sua perna direita, levando o joelho para a barriga da garota, depois soltando-a e girando seu corpo e acertando-a com um soco no canto direito do rosto. Sangue escorria de seu olho direito, mas ele não deu a mínima. Ele continuou prevendo os ataques de Fushin, desviando de cada um deles. 

Ele usou suas mãos para segurar as duas kunais que as atravessam, prendendo-as em suas palmas. Aquele não era o momento de reclamar por causa da dor. Ele abriu bem seus braços, assim fazendo com que Fushin também abrisse, desta forma deixando-a completamente vulnerável. Ele a acertou com uma cabeçada bem dada, tanto que a mesma soltou as kunais e ele as puxou de suas mãos. O rosado olhou para cada um dos envolvidos… todos estavam no chão.

— Ótimo… — Fushin disse.

Então… o Genjutsu se desfez e aqueles falsos corpos começaram a desaparecer. O Rin que perdeu um olho era puramente uma ilusão, como tudo o que aconteceu por ali não passava de um Genjutsu. Todos continuavam num círculo, sequer haviam se mexido desde que aquele Genjutsu teve seu início. O rosado continuou com o Sharingan ativado, mantendo sua atenção em Fushin.

 — Agora… — Fushin disse novamente. E puxou sua kunais, mantendo-as em suas mãos. — ...avancem! —

Todos avançaram em Rin que permaneceu imóvel, mas movendo seus olhos para cada um dos envolvidos. E sorrindo no momento em que todos ficaram paralisados a uma boa distância dele. O que tinha feito era um Genjutsu de paralisia. Ele suspirou, então moveu sua cabeça na direção da porta que dava acesso ao terraço. O especialista em Kenjutsu estava escorado na entrada, mantendo os braços cruzados e um sorriso divertido. 

— Musashi… — Rin disse.

E um segundo depois o mesmo desapareceu. Rin suspirou, então deu dois passos ao lado direito. E nesse momento um machado acertou a posição em que estava a pouquíssimo tempo, um segundo depois o rapaz veio a aparecer, agachado e olhando para o círculo de pessoas paralisadas por um Genjutsu do rosado, depois olhou para o responsável.

— Consegue com tudo isso de gente agora? Cara, você tá ficando divertido. — Musashi disse enquanto segurava o cabo do machado com sua mão direita, semicerrando seus olhos em seguida. — Eu vou querer uma revanche em breve. —

— Já sabemos. — Fushin e Rin disseram em uníssono.

Rin sentiu-se um pouco aliviado. Afinal, conseguiu terminar seu treinamento com Fushin antes de Musashi interrompê-los, mas sabia que agora era a vez dele de treiná-lo. 

[ ۝ ]

— Já colocou sua marca? — Musashi perguntou.

— Acabei de fazer isso. — Rin respondeu a pergunta.

Era verdade. Se o especialista em Kenjutsu olhasse para mais, por onde passaram a alguns segundos, veria uma marcação — 飛んでいる神桜の木 — que o rosado propriamente desenvolveu. A marcação era feita formando um círculo escuro com três tomoes bem localizados, ou seja, o rosado havia se inspirado no Sharingan para desenvolver a marca daquele Jutsu. A atenção do rosado desviou por um momento do que conversava com Musashi, olhando para Shiro que caminhava pacificamente com Tsuko, os dois conversavam alguma coisa que o mesmo não fazia questão de entender, mas aparentemente sairiam para algum lugar. Ele retornou sua atenção para Musashi e bem a tempo, já que que o mesmo aproximava depressa um de seus machados do pescoço dele. O especialista em Kenjutsu alargava um sorriso que seria capaz de rasgar seus lábios.

E o sorriso se desfez no momento que o rosado desapareceu de seu alcance, aparecendo poucos instantes depois onde passaram a pouco tempo. Rin levou a mão direita ao pescoço, olhando com seriedade para o especialista em Kenjutsu que gargalhava com muito ânimo.

— Hahaha! Você está ficando mais rápido com isso! — Musashi comentou.

— Cê podia ter me matado, desgraçado! — Rin disse. Sua voz é alterada, tornando-se séria, áspera.

— Mas você usou o Hiraishin no Jutsu. Então, não matei. — Musashi disse.