A base da Shi no Hana era popularmente conhecida por toda Amegakure. Afinal, possuía outro nome antes de ser tomada por Chinoike Ashram, contudo a aparência da mesma foi mantida. A base é a torre mais alta da Vila da Chuva, possuindo quatro faces humanóides em cada um dos lados e ligada a duas torres menores. Aquela era a popularmente conhecida Torre de Pain, membro de um grupo criminoso a muito tempo acabado que tinha planos de capturar as Bestas de Cauda para um plano. Ashram não se importava com o plano do antigo dono daquela torre, considerando-o pequeno demais. O líder da gangue encontrava-se de pé, sob a língua de uma das faces, suas mãos guardadas nos bolsos da calça e mantendo seus olhos azuis na paisagem, suspirando um momento depois ao escutar uma tosse seca. Alguém queria um pouco de sua atenção. Ele moveu seu rosto para o lado direito, desta forma observando a entrada — a boca da face — e vendo Taiyo. O outro loiro encostava-se e mantinha os braços cruzados, seus olhos avermelhados e ligeiramente cruéis estavam atentos ao seu líder que agora olhava para ele.

— O que foi? — Ashram perguntou.

— Em cinco minutos vamos começar. Não gostaria de descer? — Taiyo perguntou.

— Já? Nossa, que horas são? — Ashram perguntou.

— Dezenove horas e dez minutos. — Taiyo respondeu aquela pergunta, mas deu continuidade assim que descruzou os braços. — Em que estava pensando? —

— Em como estamos ajudando Amegakure. E como poderíamos fazer mais por tantos outros países. As pessoas nos respeitam, o dinheiro está circulando bem. Não acho que há pelo que reclamar. — Ashram respondeu a pergunta, mas deu continuidade ao sair daquela língua da faceta. — Os negócios não estão nada mal, né? Os leilões nos oferecem um bom dinheiro semanalmente, além disso não somos responsáveis pelo que acontece depois, os clientes sempre voltam querendo por mais. Aliás, quantos produtos temos a serem leiloados hoje? —

— Seis. Se as pessoas não explodissem, quem sabe teríamos um pouco mais. — Taiyo respondeu a pergunta de seu líder enquanto o via passar ao seu lado. 

— Como Amegakure aprenderá as regras se não houverem explosões? — Ashram perguntou com um pouco de divertimento, dando continuidade assim que levou a mão direita a boca para bocejar. — Shiro enviou algum relatório? —

— Faz alguns minutos que chegou. Ele contou que surgiu um novo grupo na Mangetsu. Contando com o líder e vice-líder, são nove pessoas. Esse grupo se denomina Rokujūshi, concentrado em Iryō Ninjutsu. Lembra daquele moleque de cabelos róseos que quase matei? — Taiyo perguntou, dando continuidade assim que seu líder acenou com a cabeça. — Ele lidera a equipe. Além disso… —

— "Além disso"? — Ashram perguntou, levantando sua sobrancelha esquerda, era mais do que óbvio que estava curioso com a falta de continuidade de seu seguidor. 

— Além disso… sua vice-líder é uma garota que tentei capturar, mas que Katsuryoku Tsuko atrapalhou. — Taiyo comentou, seguindo seu líder.

— Não tem problema. — Ashram começou a falar, parando de andar e olhando para seu seguidor. — Terei essa mercadoria em minhas mãos o quanto antes. —

Taiyo ficou em silêncio, porém observou como o sorriso de seu líder mudou, tornando-se confiante com um olhar de deboche, até mesmo poderia ser confundido com sua paciência limitada, mas o loiro conhecia os olhares e sorrisos de seu líder, por isso sabia exatamente o que o mesmo expressava naquele momento. "As coisas ficarão divertidas a partir de agora?" Taiyo pensou e seus lábios se moveram também, assim o mesmo sorriu com um pouco de malícia e seu olhar tornou-se mais sério, mais confiante. Ele até diria alguma coisa, mas percebeu quando a atenção de seu líder foi para trás dele, não para ele, então seguiu aquele olhar até para a língua da faceta. 

Lá na ponta encontrava-se uma pessoa com uma máscara de canídeo escondendo parcialmente seu rosto já que sua boca era visível, vestindo uma camisa de couro e usando o capuz em sua cabeça, calça escura com botas que se aproximavam de seus joelhos, as luvas de suas mãos tinham garras feitas do mesmo material, além disso o visitante inesperado carregava um bastão largo preso em suas costas. O recém chegado possuía uma bandana do País das Águas em seu abdômen.

— Isso vai ser divertido. — Taiyo sussurrou ao mesmo tempo em que papéis começaram a deixar seu braço direito.

"Será interessante assistir? Quanto tempo tínhamos mesmo? Bom, quem se importa?" Ashram pensou e afastou-se um pouco mais de seu seguidor que continuava soltando papéis dos braços, até mesmo do recém chegado que sorria pelo canto esquerdo dos lábios e soltou um riso curto e debochado. As costas do líder da Shi no Hana se escoram na parede à esquerda, ele mantém seus braços cruzados e seus olhos concentrados no que poderia acontecer por ali. O recém chegado entrou no cômodo, puxou o bastão de suas costas e o manteve em sua mão direita. A guarda do invasor estava aberta, Taiyo enxergava isso. 

— Antes de explodir cada pedaço do seu corpo… — Taiyo começou a dizer enquanto os papéis que saiam do seu corpo se grudam nas paredes. — ...estaria interessado em dizer as últimas palavras? Se ajoelhar para meu líder, beijar seus pés e esperar perdão por invadir essa área privada? —

— Tudo isso? Não, mas tenho algo a dizer… — O recém invasor começou a dizer, dando continuidade assim que moveu o bastão para a outra mão. — ...você não tem a mínima chance. —

Ashram ficou em silêncio. Taiyo fechou suas mãos em punhos, aceitando a provocação do invasor mascarado e mandando os papéis em sua direção. Aqueles não eram papéis comuns, mas sim explosivos. Até mesmo aqueles nas paredes seguiram de encontro ao mascarado. Então, Taiyo fez um selo bem comum, desta forma os papéis se ativam e explodem. Uma fumaça escura saiu pela única faceta daquele andar, chamando a atenção, a curiosidade, dos transeuntes na rua, do porque fumaça saia do alto da Torre de Pain e qual foi o motivo da explosão. Aqueles pensamentos duvidosos passaram por suas cabeças, por isso mantiveram suas cabeças erguidas e aguardam por uma eventual resposta, se é que iriam receber alguma.

— Já acabamos por aqui. Podemos seguir, Ashram-sama? — Taiyo perguntou e levou suas mãos aos bolsos da calça, virando-se de encontro ao líder da gangue.

— Olhe com atenção. — Ashram comentou.

E Taiyo olhou, imaginando que encontraria um corpo carbonizado por conta da explosão concentrada, mas não foi isso que seus belos e sérios olhos rubros viram. O que enxergou foi uma cúpula de gelo — Hyōton: Hyōgan Dōmu — com rachaduras parciais. "Um usuário de Kekkei Genkai de natureza" o líder da Shi no Hana pensou enquanto olhava para mais rachaduras se formarem naquela cúpula. Então, quando um pedaço da mesma caiu, foi-se revelado o mascarado sem um único arranhão no corpo. Taiyo estava para dizer alguma coisa, mas o mascarado segurou seu bastão com um pouco mais de força e o jogou de encontro ao loiro, acertando-o no abdômen e jogando-o para a parede logo atrás dele. 

— Sua técnica é fraca. Esse meu jutsu nem estava com sua defesa original. — O mascarado comentou e bateu uma mão na outra enquanto deixava a cúpula, continuando. — Fazer alguma coisa com essa saída de emergência… —

Nenhum dos dois entendeu a intenção do mascarado. Bom, nos primeiros segundos eles não entenderam, mas viram quase imediatamente. Grandes estalagmites de gelo — Hissatsu Hyōsō — se formaram, cresceram ao ponto de destruir o teto, espalharam-se para aquela saída que era a faceta, desta forma bloqueando o caminho para lá. E os transeuntes ficaram novamente curiosos, queriam entender de onde surgia aquele gelo. 

— Como você… — Taiyo começou a dizer uma coisa, mas se corrigiu enquanto mais papéis deixavam seu corpo e ele sorria de maneira maliciosa. — ...que se dane. Você está preso comigo. —

— Errado… — O mascarado começou a falar e esticou seu braço direito a frente do corpo. — ...você quem está preso comigo. —

Antes que Taiyo fizesse alguma coisa, ele sentiu sua orelha direita esfriar, a mesma coisa acontecendo com a lateral esquerda de sua barriga. Só então percebeu o que estava acontecendo, eram duas espadas de gelo — Hyōken no Jutsu — que foram disparadas e suas lâminas se cravaram a milímetros da orelha direita e da lateral esquerda da barriga do loiro. O invasor da Shi no Hana agia com calma. Ele deu um passo adiante, não dando a mínima para o olhar agressivo do loiro que, mesmo com aquela pequena demonstração, não havia se intimidado. O invasor parou no meio do caminho quando ouviu os aplausos, assim olhando para onde Ashram estava desde o começo.

— Você é habilidoso. — Ashram comentou e parou de aplaudir para cruzar seus braços. — Gostaria de se unir a mim? —

— Não. — O invasor respondeu de forma seca, dando continuidade assim que chegou perto de Taiyo e pegou seu bastão. — Já estou num grupo com planos melhores. —

— Oh, sério? E que grupo seria esse? — Ashram voltou a perguntar, levantando uma das sobrancelhas e deixando-se levar pela dúvida. — E que planos? —

— Não estou com planos de divulgação. — O invasor contou e guardou o bastão em suas costas como devia ter ficado. — Só gostaria de oferecer meus serviços temporários. —

— Não fale tão abertamente com ele. — Taiyo comentou assim que a colocou de pé, tirando a poeira de suas vestimentas e olhando com seriedade para o sujeito antes de dar continuidade. — Você… —

— ...não sabe perder. Né, labrador? — O invasor comentou usando um tom de deboche, provocativo, mas voltando sua atenção ao líder da gangue.

Ashram olhou para Taiyo. Seu seguidor mordeu os lábios e fechou as mãos em punhos, provavelmente o recém chegado foi capaz de machucá-lo, mas obviamente que aquela reação não foi por ser ferido fisicamente, mas por outra coisa que o Chinoike não se interessou.  

— Porque você quer oferecer… — Ashram começou a dizer, mas foi interrompido.

— ...temos algo em comum. Adversários em comum. A Shi no Hana está lidando com a Mangetsu, e lá tem uma pessoa que está incomodando o meu grupo, por isso estou oferecendo um pouco dos meus serviços. — O invasor comentou, movendo sua cabeça e mirando sua atenção no loiro consideravelmente mais velho do que ele. — O inimigo do meu inimigo é meu amigo. —

— Eu não trabalho com pessoas que não conheço o rosto. E nem o nome. — Ashram comentou.

"Apesar de saber que é clã Yuki só por ter usado o Hyouton" o líder da Shi no Hana pensou, semicerrando os olhos por um momentos ao ver que o invasor baixou a cabeça e soltou um riso. O invasor levou a mão direita para dentro do capuz e puxou um velcro que mantinha sua máscara presa, desta forma fazendo-a cair no chão.

O mesmo possuía cabelo azul escuro comprido com uma mecha branca, seu cabelo era um pouco desgrenhado, e comprido não era a palavra certa, já que seu rabo de cavalo era curtíssimo, seus olhos eram azuis e facilmente confundiram um desavisado por expressarem uma falsa gentileza, camaradagem, paciência. 

— Meu nome é Yuki Kori. — Ele se apresentou, balançou a cabeça de um lado a outro e fez com que parte de seu cabelo fosse para seu rosto. — É o bastante para trabalharmos juntos? Ou tenho que matar o seu cachorro em vez de humilhá-lo um pouco? —

— Você não me… — Taiyo começou a dizer, mas foi interrompido.

— É o suficiente. — Ashram disse, dando continuidade assim que olhou para Taiyo. — Podemos discutir sobre esse trabalho em conjunto bebendo um chá e assistindo um leilão? —

— Para mim tanto faz. — Kori disse.

Ashram contentou-se com a resposta, por isso caminhou até uma parede e apertou um botão ali, desta forma abrindo duas portas e revelando um elevador. Eles fizeram modificações superficiais na Torre de Pain, achando apropriado que ali houvesse um elevador para não terem de subir e descer os incontáveis lances de escada, além disso fizeram algo a mais no subterrâneo. O primeiro a entrar foi o líder da gangue, o segundo foi Taiyo e o Kori foi o último.

O elevador desceu rápido. Os três apreciaram o silêncio da caixa de metal que descia andar por andar da Torre de Pain. Kori observou com curiosidade chegarem ao primeiro andar, mas o elevador não parou e a viagem continuou por mais alguns andares subterrâneos. As portas enfim se abriram e o líder da Shi no Hana saiu, seguindo por Kori e com Taiyo logo atrás.

O que havia ali era no mínimo curioso. Haviam escadas que levavam aos andares superiores, mas nenhuma para baixo, ou seja, aquele era o último andar do subterrâneo, mas a estrutura também era montada para parecer um espetáculo, ou seja, quatro arquibancadas para que as pessoas sentassem e com mesas as frentes e com um palco no centro. Nesse palco encontrava-se uma pessoa com os braços e pernas algemados, uma fita branca cobrindo-lhe a boca, essa pessoa usava apenas roupas íntimas, desta forma revelando muito do corpo e dos incontáveis ferimentos e manchas de sangue. O olhar de pessoa era de medo, desesperança por saber que não tinha mais o que fazer, era como um animal selvagem que optou por ser domesticado depois de tanto apanhar. 

Kori ouvia os números jogados por pessoas bem vestidas, voltando sua atenção por um momento para o Chinoike que assistia ao leilão com um pouco de concentração.

— Não é lindo? Estamos fazendo com que os negócios funcionem. Amegakure está crescendo por causa dos lucros que temos aqui, está se tornando mais conhecida em certos nichos. — Ashram disse com um tom suave.

"Ele está fazendo tráfico humano" Kori pensou, entretanto não sentiu-se interessado. Ele só olhou para o Chinoike caminhando pela arquibancada, acenando para algumas pessoas que o reconheceram, mas mantendo-se em silêncio até que escolheu um bom lugar para se sentar. Kori se sentou ao lado direito do líder da Shi no Hana e Taiyo do lado esquerdo do loiro mais velho. Em poucos instantes uma pessoa serviu cada um deles com um chá verde.

— Como eu sei que você não me matará quando lhe der as costas? — Ashram perguntou.

— Não sou covarde em atacar os outros pelas costas, Ashram. — Kori respondeu aquela pergunta, dando continuidade enquanto mantinha sua atenção no leilão. — Se eu quisesse matá-lo, teria feito isso quando olhou para o seu labrador, mas essa não é a minha intenção. —

— Qual sua intenção? — Ashram perguntou.

— Matar alguém que está dando trabalho para o meu grupo. Dois já foram mortos e a responsabilidade é dele. — Kori respondeu a pergunta, mas continuou após beber um pouco do chá verde. — O primeiro a ser eliminado mandou uma carta dizendo que encontrou-se com pessoas de Konoha, depois disso não recebemos mais nada. O segundo contou que passaria alguns dias num vilarejo próximo da divisória com o País do Fogo e do Vento com três pessoas, mas apenas duas eram de Konoha. Uchiha Sasuke e Katsuryoku Rin. —

— Katsuryoku? — Taiyo perguntou com um ligeiro interesse.

— E depois não tivemos mais notícias dele. Um outro aliado me contou que passou por Konohagakure e que conheceu uma garota que se dizia ser namorada desse garoto. Ele tentou matá-la, mas não deu muito certo… então ele se afastou temporariamente. — Kori suspirou.

Ele não se importava com a ausência de Death, importava-se na realidade com a imprudência do assassino mentalmente instável.

— Então, cheguei até aqui ao ouvir histórias sobre um Ninja Médico que ajuda as pessoas sem pedir nada em troca. Com a descrição da mesma pessoa que eliminou meus companheiros… e fui naquele último dia daquele evento que vocês chamam de Coliseu, mas você atrapalhou. — Kori comentou, dando continuidade assim que bebeu outro gole do chá e olhando para as pessoas que ofertaram pela pessoa no palco. — Eu quero que ele sofra antes de matá-lo. Então, vou oferecer meus serviços ajudando-o a destruir a Mangetsu. E depois… faça o que bem entender com Amegakure. —

Ashram ficou em silêncio. Aquele pessoa ao seu lado tinha uma motivação curiosa, seguir alguém até Amegakure para deixá-la no fundo do poço antes de matá-la, por isso que o líder da Shi no Hana via as coisas com interesse. Ele retornou sua atenção para o palco, ou melhor, para a pessoa que baixou a cabeça no momento em que foi vendido para alguém do País das Neves, quase podendo enxergar lágrimas escorrendo do rosto machucado daquela pessoa estranha. Um sorriso divertido se fez em seus lábios, semicerrou seus olhos antes de piscar demoradamente.

— Eu tenho algo em mente. — Ashram disse.