Tales of a Uchiha escrita por Saberus


Capítulo 17
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Akami levantou da cama no momento em que escutou a explosão responsável por abalar o prédio. Ele estava no meio do caminho, mas parou e movimentou o rosto o suficiente para vislumbrar sua mulher, sentada na cama o olhando com preocupação e nervosismo, mas tentando não deixar óbvio enquanto apertava e soltava o cobertor como uma bolinha de estresse. Ele virou o corpo inteiro, mas continuou seguindo para a porta e sorriu para a amada e levou as mãos para suas costas para que a esposa não visse que tremiam.

— Relaxa, não deve ser nada demais. Vou dar uma olhada. — O Katsuryoku comentou e sentiu sua mão esquerda tocar a porta e piscou o olho direito para sua mulher. — Está tudo bem, eu estou aqui. —

Qualquer um, literalmente qualquer um, sabia que ele não possuía talento. Ser um herói não era típico de Akami que possuía sempre um olhar sério e sempre distante dos colegas, um médico que não sabia mentir para um paciente independente da idade e, por isso, assustava a grande maioria e, em geral, fazia com que chorassem no ombro da primeira pessoa que vissem quando saíssem da sua sala. Era assim diariamente, mas ali estava ele contradizendo sua natureza para acalmar a mulher que o conhecia melhor do que ninguém. Até mesmo Shiawase percebeu sua intenção e balançou a cabeça em concordância, mas não voltou a se deitar. Sua atenção era exclusiva para o marido, mas também para o que acontecia além daquela porta que deslizava devagar para que o ruivo pudesse sair.

— O Rin… — Shiawase murmurou como se quisesse que seu parceiro se lembrasse da criança que talvez precisasse de amparo. A rosada inspirou bem lentamente e soltou ainda mais devagar o ar que acumulou. Ela imaginava que Akami também se preocupava com o recém nascido. No fim, o ruivo era seus olhos, ouvidos e corpo secundário. — …anda logo. — Murmurou novamente.

Akami não sabia o que responder para sua mulher, mas esperava que o silêncio fosse mais do que suficiente. Achava idiotice dizer um "eu te amo" antes de sair para seja lá o que esperasse além daquela porta. E se ele nunca mais voltasse e suas últimas palavras fossem um maldito "eu te amo"? "Não mesmo" pensou e voltou seu olhar para a porta e a deslizou o suficiente para que pudesse sair e a fechou depois disso. Akami podia ser um zero à esquerda que sequer participou da última guerra, mas entendia o que significava uma calmaria, ou melhor, águas calmas demais: Uma tempestade tinha passado ou ainda passaria e, por isso, estava calmo para que a calmaria fosse substituída por uma selvageria, descontrole, sem precedentes. Haviam coisas que deveria agradecer ao pai por certas informações e aquela era, sem dúvida, uma delas. Assim que olhou pelo corredor, da direita para a esquerda, as pessoas pareciam confusas, ou seja, ainda não sabiam o que teria acontecido. "Não vai adiantar sair perguntando o que caralhos aconteceu" pensou convencido e certo daquela informação. Ele sabia que no primeiro momento que alguém se desesperasse com qualquer coisa, seria um efeito dominó para contagiar a todos com o desespero. 

— Akami. — 

O ruivo saiu de seu mundo particular por um segundo ao escutar seu nome. Vinha do quarto mais próximo ao de Shiawase, ou seja, Sakura quem o chamava. Ele pôs as mãos nos bolsos de sua calça para que a kunoichi não visse as trêmulas mãos e seguiu para a porta já aberta pela metade e olhou para dentro do quarto. Olhou para a cama em que a rosada parecia pronta para sair e enfrentar o mundo, mas sua aparência ainda mostrava o cansaço do parto. Ele percebeu que a velha, ou seja, Tsunade Senju, não encontrava-se mais ali. "Foi ver o que aconteceu?" pensou e mirou seus olhos na recente mãe e fez um gesto casual com sua cabeça, um cumprimento silencioso.

— O que aconteceu? — Sakura perguntou. Seu olhar mostrava uma clara preocupação com o ambiente fora daquele quarto, mas provavelmente também para com a criança Uchiha. 

— É isso que vou descobrir. Não sou um certo renegado para ter informações na hora certa, sabia? — Ele a respondeu de sua própria maneira e adentrou no quarto e retirou as mãos dos bolsos para segurar as pernas da rosada e movê-las para cima da cama. — Você não saia daqui. Não estou afim de me preocupar com você também. —

— O Rakun… — Sakura começou a dizer e seus olhos esverdeados se voltam para a porta de seu quarto, mas a kunoichi é prontamente interrompida.

— Ele está bem, ok? Ele e Rin estão conversando na linguagem dos bebês, tentando entender o que aconteceu também. Eu aposto minhas economias nisso. — Ele a respondeu e levou a mão direita ao cabelo e o coçou com um pouco de vontade antes de se virar e seguir para a porta. — De qualquer forma, não tenho tanto dinheiro guardado com o gosto particular de roupas de Shia-chan. Não vou perder muita coisa. —

— Você é um idiota as vezes, sabia? — A Haruno disse e cruzou os braços abaixo de seus seios enquanto olhava para o ruivo que parou em frente a porta.

— Os idiotas são sempre os heróis. Estou certo? — Akami respondeu junto de uma pergunta. Ele sabia que a kunoichi estava preocupada com a criança, mas não tinha ideia de como tranquilizá-la. Se não soube como fazer com a própria esposa, quem dirá com aquela mulher. — Vai dar tudo certo. —

Então saiu do quarto não se dando ao luxo de ouvir uma resposta. Ele retornou a olhar da direita para a esquerda, pensando exatamente o lugar que deveria seguir primeiro, mas no fim considerou óbvio que seria a maternidade. "Os mais frágeis primeiro, né?" pensou e virou seu corpo e a passos apressados, mas nem tanto para não causar reações nas pessoas, seguiu pelo lado esquerdo e tentou ignorar as vozes nos quartos, pessoas perguntando sobre o que teria acontecido ou se alguém se machucou, mas ele não tinha o que responder se nem sabia o que aconteceu. Ele só parou de andar quando ouviu o barulho de algo se quebrando, uma péssima sensação passou por seu corpo, ou melhor, por sua nuca e cada maldito pelo de seu corpo se arrepiou. Ele engoliu em seco e tentou dar um passo adiante, mas vacilou quando algo caiu de cima dele. 

— Ah, merda. — Murmurou ao perceber que era um pedaço muito pequeno do teto. Ele ergueu seu rosto o suficiente para ver a rachadura formada e, que muito provavelmente, ainda cresceria. — Porra. —

Então, aconteceu. A rachadura acima de sua cabeça cresceu depressa para todos os lados, mas não parou nisso. Não, o desastre estava apenas no início. Como Akami mesmo imaginou era o mar antes de uma tempestade. Numa área com mais espaço e o que parecia ser um lugar de espera com cadeiras e revistas e uma boa visão da aldeia, o teto desabou depois que a rachadura chegou ali. Mas, como dito, não parou por ali. Poeira subiu para todos os lados junto de fogo e fumaça e, por causa das almofadas nas cadeiras e do papel na revista, o fogo se alastrou. "Essa é a primeira parte do desastre?" Akami pensou enquanto ouvia o desespero das pessoas ao entenderem finalmente o que estava acontecendo. 

— ABRAM AS JANELAS. — Ele finalmente gritou com todo o fôlego que tinha nos seus pulmões e não se importou que virasse o centro da atenção. — QUEM PUDER ANDAR SIGA PELAS ESCADAS E AJUDE QUEM NÃO PUDER. VAMOS FAZER ISSO DE MANEIRA ORGANIZADA. — Ele coçou seus olhos após comandar aquilo e fez um selo com suas mãos. 

O selo permitiu que criasse dois Kage Bunshin. Um deles seguiu para a escada que dava acesso ao andar superior e inferior e o outro andou até os quartos e abriu suas portas para que as pessoas ali pudessem sair. O original, por outro lado, se aproximava das janelas com outras pessoas — alguns corajosos, acreditou ele — e abriram para que as pessoas não fossem prejudicadas pela fumaça. Ele não precisava olhar para saber que as pacientes saiam dos quartos com as roupas hospitalares, mas em vez de perguntar o que estava acontecendo só decidiam seguir calmamente para a escadaria. "Tudo está calmo ainda" o ruivo pensou, sentindo-se satisfeito por ajudar. Ele olhou para um Kage Bunshin que terminava sua obrigação, ou seja, de abrir as portas dos quartos e apontou para o mesmo.

— Tire Shia-chan daqui. E depois faça a mesma coisa com a Sakura. — Ele ordenou enquanto sentia o suor escorrer por seu rosto, mas fazia sentido já que o lugar estava quente por causa das chamas que conseguiam lentamente se espalhar.

Sua cópia balançou a cabeça em concordância e seguiu novamente pelo corredor, se dirigindo para o quarto da esposa. Akami mordeu seus lábios e fechou as mãos em punho e sentiu vontade de socar a parede ao seu lado, mas se controlou e olhou para trás quando sentiu um toque firme no seu ombro direito. Ele olhou para a quinta hokage que era acompanhada por algumas enfermeiras segurando alguns bebês e que também eram acompanhadas por pacientes que mal haviam se recuperado de o que quer que os tenha levado para lá. 

— Mantenha a calma, Akami. — A Senju sussurrou, mas semicerrou seus olhos o suficiente para que o ruivo notasse. — Você é aquele que estão usando como espelho. Se você se desesperar, outros irão se desesperar. Estamos indo bem. Isso não deve ser nada. —

— Certo, quinta. — Ele murmurou uma resposta e voltou seu olhar para os bebês que as enfermeiras carregavam. — Da maternidade A ou B? —

— A. — Tsunade respondeu e olhou para trás. Não para as enfermeiras e pacientes, mas para o caminho que fizeram como se visse os bebês da ala B. — Já ordenei que outras enfermeiras buscassem. Cadê a Sakura? —

— Não sei. Quarto, escada, lá fora. Nem idéia, mas já pedi para um Kage Bunshin buscar a Shia-chan e a Sakura. — O ruivo a respondeu e coçou seus olhos antes de olhar novamente para as pessoas que de forma organizada e calma seguiam para a escadaria. — Por favor, quinta. Desçam logo. —

A Senju concordou, mas ao mesmo tempo em que a rachadura acima de suas cabeças, a mesma responsável por derrubar um pedaço do andar superior, cresceu e mais partes começaram a cair, mais poeira e fogo começou a se espalhar. "Merda" pensou e pôs as mãos nos rostos ao ouvir as pessoas gritarem com medo logo atrás dele e se apressarem de forma desorganizada, empurrando um ou outro quem ficasse na frente. Era um instinto básico de sobrevivência e, por isso, não dava para culpar ninguém. Nem ele mesmo por sentir aquilo. O que mais queria naquele momento era preservar sua vida e escapar dali o mais rápido possível, mas tinha o dever como médico de ajudar os outros. A Senju seguiu para a escadaria, mas barrou o acesso das próximas pessoas e olhou para aquelas que estavam a seguindo e fez um gesto para que fossem na frente e assim foi feito. Quando a mesma tentou voltar sua atenção para Akami, ele não estava mais lá. 

O ruivo estava correndo pelo quinto andar e desviando de destroços em chamas e de pessoas desesperadas. Mais rachaduras haviam se formado e ele sabia, ou melhor, imaginava que não iria demorar para um desastre maior acontecer. Porque estava correndo como um desgraçado? Porque ele também tinha um instinto de preservação, mas não relacionado a ele e sim para o progenitor na ala B que aguardava por ser cuidado por alguma enfermeira, mas Akami não esperaria para rever por seu filho nos braços de alguma mulher. Ele pulou por cima de um destroço e olhou para o lado esquerdo por tempo o suficiente para ver algumas enfermeiras debaixo de destroços. "Merda, as enfermeiras da velhota" pensou e semicerrou os olhos antes de retornar sua atenção para o caminho e apressar seus passos. "Tenho Chakra o suficiente para usar aquele Jutsu duas vezes" pensou, se odiando por ter usado o Kage Bunshin para criar duas versões dele. Um sorriso tomou seus lábios quando pode finalmente ver a maternidade B adiante junto ao numeroso choro de bebês desesperados, mas seu sorriso se desfez quando viu que a maior rachadura estava ali e pronta para desabar. Ele apressou seus passos, mas no segundo em que fez isso viu que não seria o suficiente já que o teto começou a desabar. Ele só olhou para onde seu menino estava e mudou sua expressão para uma mistura de coragem com um sutil desespero. Ele sequer havia se dado conta de que suas mãos se moviam e formavam um selo. Não, ele havia percebido, mas não de forma consciente. Era aquele instinto agindo em seu lugar. Ele abriu sua boca enquanto olhava para o teto desabando e permitiu que lágrimas escorressem de seu rosto. Não poderia salvar todos, mas o seu era suficiente. 

— Raiton: Hageshī Senkō. — Foram suas únicas palavras.

Aquele Jutsu ainda estava em desenvolvimento por ele, mas mesmo assim era suficiente. Não era nada mais do que uma explosão violenta de eletricidade pelo seu corpo para um aumento de velocidade. Era, mais ou menos, uma homenagem ao terceiro e quarto Raikage, mas obviamente incompleta. O jutsu em desenvolvimento de Akami possuía uma imensa semelhança com a "Raiton no Yoroi" dos líderes de Kumogakure, mas a maior diferença, por enquanto e que ele tentava remover, era o período de tempo que conseguia manter, ou seja, oito segundos. O cabelo do ruivo se arrepiou quando seu corpo foi encoberto por eletricidade. E então sua velocidade cresceu de forma sobrenatural e ele cortou a distância que faltava. No momento em que pegou Rin e virou seu corpo para protegê-lo do impacto contra a parede, o teto desabou sobre a maternidade e o silêncio só não prevaleceu porque sua criança ainda chorava. A outra fraqueza daquele jutsu em desenvolvimento era que ele só podia ir em linha reta.

A camada de eletricidade deixou seu corpo enquanto ofegava e mantinha o filho nos braços, sentindo uma intensa dor nas costas por causa do impacto, mas sabia que não poderia continuar ali para sempre. Ele fechou os olhos por um segundo antes de abaixar a cabeça e olhar para o bebê choroso e aproximou o rosto do dele para sussurrar com um tom calmo.

— Calma, Rin. — Ele sussurrou enquanto sentia o suor escorrer pelo seu rosto um pouco mais aliviado por ter conseguido salvar ao menos seu filho. — Papai tá aqui. —

"Nem fodendo vou parar" pensou e olhou para cima. O suficiente para que pudesse apreciar o andar superior, mas depois abaixou a cabeça e suspirou antes de se levantar e olhou em volta. Um belo pedaço do teto havia desabado, ou seja, sem chances de sobrevivência. Ele mordeu os lábios para evitar pensar que se tornou um assassino, ou pior, que não salvou mais ninguém além do próprio filho. "Outra hora" pensou e seguiu para fora da maternidade e olhou para o fogo que tomava cada vez mais conta do lugar junto de fumaça. Então, voltou a correr em direção à escadaria.

Não demorou para que ele chegasse na escadaria já vazia e agradeceu por isso. Nem mesmo seus Kage Bunshin estavam ali para aguardá-lo. Ele inspirou fundo antes de olhar em volta.

— TEM ALGUÉM AINDA? — Gritou com o ar que havia acumulado e esperou alguns segundos antes de suspirar com alívio. — Ótimo. Só nós dois, Rin. —

Murmurou para o bebê nos seus braços que possuía um pedaço da manga da camisa do ruivo amarrada em seu rosto para que não respirasse aquela fumaça que poderia fazer mal aos seus pequenos pulmões. O rosto de Akami demonstrava cansaço por correr, mas soava por causa das chamas incessantes. Ele não pensou duas vezes antes de descer os inúmeros lances de escadas, sem parar uma única vez nos vãos. Não, seu corpo seguia sem pensar em mais nada além da sobrevivência mútua. 

Shiawase estava fora do hospital junto a outras pessoas. Aquele acidente tinha acontecido a meros quinze minutos e ela nunca se sentia tão preocupada quanto agora com seu marido, mas também orgulhosa por saber que o mesmo era o responsável pelo salvamento. Apesar de estar numa cadeira de rodas, assim como Sakura que ficou ao seu lado a todo momento, sua maior vontade era retornar para dentro do hospital e gritar por aí pelo nome de seu marido. Ela estava preocupada demais com ele.

— Shiawase. — Sakura sussurrou pelo seu nome.

Shiawase não deve ter percebido algo por estar preocupada, mas Sakura sim. A primeira seguiu o olhar da segunda e lentamente pôs as mãos em frente a boca enquanto seu olhar se tornava de puro alívio e seus olhos se enchiam de água. Ali estava Akami saindo pela porta do hospital com a expressão mais cansada que ela já viu em todos os anos que estiveram juntos. O ruivo carregava um bebê nos braços e não parava de andar como se ainda fosse guiado por algo sobrenatural. Sequer se deu conta de que já estava são e salvo, mas continuou andando e se aproximando do portão cheio de pessoas. Sakura olhou para a porta como se esperassem ver um Kage Bunshin carregando outro bebê. Ela esperou por alguns segundos quando Akami passou por ela e perdeu as forças de seu corpo e se ajoelhou exausto no chão, mas não soltou o bebê.

— O Rakun. Cadê o Rakun, Akami Katsuryoku? — Sakura perguntou e olhou para o bebê nos braços do ruivo e fechou as mãos em punho. — Você salvou só o seu? —

Akami piscou e movimentou o rosto, o levantando suficiente para encarar a kunoichi das lesmas com aquele olhar cansado.

— Sim. — Ele a respondeu e abaixou o olhar para ver o menino e remover a manga amarrada de seu rosto.

Akami não se surpreendeu quando a palma direita de Sakura tocou seu rosto de forma violenta. Um tapa na sua bochecha que fez com que ele viesse para o outro lado o rosto, mas o mesmo não demonstrou nada. Sabia que era merecedor daquele tapa, ou melhor, aquilo ainda era pouco pelas vidas que deixou de salvar.


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