Tales of a Uchiha escrita por Saberus


Capítulo 128
S06Ch05;




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Como de hábito, Take acordou com os primeiros raios de sol que invadiram seu quarto pelas frestas da janela e levou o antebraço esquerdo para cobrir seus olhos e suspirou com lentidão, tendo ainda recordação da proximidade, o tipo de olhar de Chishiki e até o toque suave em sua cintura. "Tenho que fingir que nada daquilo aconteceu? Será que ele perguntará alguma coisa?" pensou o moreno que sentou-se na cama e depois saiu dela e caminhou pelo assoalho até chegar a porta do quarto e tirar da maçaneta a camisa e jogá-la em sua cama. Ele abriu a porta e olhou para o corredor — ambos os lados — e pelo silêncio imaginou que o escritor estava dormindo e aproveitando a interrupção da construção na casa ao lado para que seu sono fosse mais duradouro. "Só vou deixar as coisas prontas para ele e vou no hospital, com certeza vai acordar bem mais tarde…" pensou novamente e suspirou enquanto seguia ao lado direito do corredor e não demorou em chegar ao espaço principal da casa — metade sendo a sala de estar com um pequeno corredor que dá acesso a porta de saída e entrada e metade a cozinha. 

— Bom dia… — Uma voz masculina que fez o moreno se mexer para o lado esquerdo e escorar-se na parede. Era Shiki que lia os rascunhos de seu próximo livro; Konosuba Alternativo. Ele continuou com um tom provocativo assim que viu o moreno escorar-se assustado. — ...está se assustando fácil nos últimos dias. Seu gatinho medroso. —

— Você sabe que horas são? — Take perguntou e levou a mão direita ao peito ao sentir o coração disparando. Ele olhou com mais atenção para o escritor que parecia um pouco cansado.

— Acho que umas seis e vinte da manhã. — Shiki respondeu por mais que soubesse que a pergunta era retórica. Ele tinha noção de que não era comum para ele acordar tão cedo, então retornou sua atenção à escrita.

— Eu sei que são seis e vinte da manhã. É esse horário que eu acordo. Eu quero saber o que está fazendo acordado a esse horário. — Ontake disse.

O moreno se apressou e logo pôs a água para esquentar no fogão de poucas bocas e seguiu para a geladeira onde pegou algumas frutas cortadas — melancia, mamão e melão — e pôs na mesa junto a pedaços inteiros de laranjas e mexericas, depois fazendo a mesma coisa com fatias de queijo e presunto e até mesmo preparando alguns ovos mexidos para colocar em outro prato enquanto a água continuava esquentando. Desde que começou a preparar a mesa do café da manhã que o escritor ficou em silêncio, assim não oferecendo uma resposta para sua pergunta. Bom, não recebeu uma resposta até o momento que o loiro mudou de página e suspirou e levantou seus olhos para encarar o moreno de costas para ele.

— Dormi até às três da manhã, depois não consegui mais e olha que tentei, então vim para cá e aproveitei para ler meu livro que está nos acabamentos finais. Sinto que devo adicionar mais alguns capítulos para encerrar de vez com a história e não deixar brechas para uma sequência… — O escritor respondeu e coçou seus olhos ao mesmo tempo que suspirou com aparente desgosto.

— Hm, deixe-me ver. Como fã, quem sabe posso ajudá-lo em alguma coisa… — Ontake comentou.

— Certo… — Shiki disse e agitou os ombros sem dar tanta importância. Ele já tinha se habituado com as opiniões do moreno quanto a livros que ainda nem tinham sido publicados.

O moreno afastou-se da cozinha e seguiu para onde o escritor encontrava-se no sofá de poucos lugares e sentou-se ao lado dele — ombro a ombro — e olhou para o capítulo que o mesmo estava lendo — Rapieira Carmesim; Aqueles que amam — e passou vagamente seus olhos pelo conteúdo e seu indicador esquerdo passeou pela escrita. Aquele era um hábito de ler em silêncio, mas passar o dedo por onde estava lendo, desta forma não se perdendo na leitura. E ele nem mesmo precisava pedir para o escritor mudar de página, afinal quando o dedo já estava chegando ao final da página o mesmo já passava para a próxima. As bochechas do moreno se esquentam um pouco com as melosas palavras finais da personagem para o protagonista da história.

— Ahn… não estou vendo problema algum com esse capítulo. É novo para mim, mas comecei mesmo a imaginar que os dois acabariam se relacionando, contudo esperava que ele acabasse junto àquela deusa da sorte… a Eris. — Ontake disse, mas ele não parecia descontente com a ideia proposta pelo escritor, por isso deu continuidade assim que ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — O que acontecerá com ela? —

— Lá para os últimos capítulos. Não vou ser o responsável por estragar a sua leitura, mas só peço uma coisa… — Shiki disse e olhou para o número da página e depois para o moreno que lhe encarou com curiosidade. — ...o café. Termine de fazer o café e poderá ler até às dez da manhã. —

E o moreno alargou um sorriso inocente e alegre, além de um brilho de contentamento não passar despercebido por seus olhos rubros. Aquela reação fez com que Chishiki ficasse em silêncio e levemente surpreso. "Ele adora meus livros. E não esconde a felicidade por saber que tem algum tipo de vantagem ao morar aqui. É muito esperto mesmo…" pensou o escritor com um pouco de divertimento e retornou sua atenção para as páginas enquanto o moreno tornava a se afastar e colocava o pó de café num coador. Shiki olhou para Take de costas para ele e retornou algumas páginas em sua leitura e mordeu seus lábios inferiores antes de parecer sério por um breve segundo.

— Eu te amo... — Shiki disse. 

Ontake sentiu as bochechas corarem com violência, assim como ficou muito agradecido por estar de costas para o escritor, desta forma o mesmo não teria como ver sua reação. Seus olhos ficaram marejados em contentamento por aquelas palavras e ele estava para abrir sua boca numa resposta.

— ...Yunyun! — Shiki disse.

O sentimento do moreno mudou e quase ficou tentado em procurar por uma frigideira, mas teve o autocontrole. E lentamente suspirou e sorriu pelo canto dos lábios. "É óbvio que isso não aconteceria, né? Mas ainda sim o amo, assim mesmo não vou obrigá-lo a me amar. Vou cercá-lo com meu amor, enquanto rezo por sua felicidade… eu posso ter isso…" pensou o moreno que abria um pequeno sorriso e virou seu rosto um pouco para olhar o escritor que estava de cabeça baixa e lendo algum capítulo do livro.

— Posso saber uma coisa? Não tem nada haver com o livro. — Take disse e voltou sua atenção para o café que estava sendo coado, então continuou. — Estava me seguindo ontem? Você chegou em bom momento para me ajudar, então pensei que estava me seguindo… —

— Eu não estava seguindo. Sei o quão forte é, por isso não precisa da minha ajuda. — Shiki respondeu e levou a mão direita para a bochecha depois de apoiar o cotovelo no braço do sofá. — A uns dois dias… naquele em que fiz massagem em seus pés… a Teikō me encontrou na rua e me convidou para um encontro depois de conversarmos um pouco. E aconteceu no dia seguinte, ou seja ontem. E acabou que ela só queria me convidar para esse entediante festival e, como já lhe expliquei, contei a ela que não estava interessado na dança, mas ela insistiu dizendo que só iria para beber e conversar, então não tive como recusar… além disso, ninguém me convidou antes, por isso não poderia recusar contando uma mentira e depois aparecendo sozinho. Quando nos encontramos ontem… era porque tinha saído do encontro e estava procurando algo para fazer. —

O moreno já tinha conhecido Teikō dias após sua chegada. Ela nada mais era que a dona do único bar de Yattsuhoshi — tendo apenas 20 anos e herdando-o do falecido pai — e usava suas habilidades de combate para derrubar os eventuais encrenqueiros. Teikō era uma mulher bem sociável de pele escura — uma característica de seu pai que sairá do arquipélago do País das Águas — e olhos azuis com cabelo castanho escuro e curto, possuindo curvas como qualquer mulher, mas exaltando-se com os músculos que preenchiam seus braços e pernas — até mesmo tendo quatro gominhos em seu abdômen. Ele a conheceu por ter ido ao bar com Rin e Chishiki, porém não conversaram na ocasião… ela mais que conversou com o escritor e o ninja médico, assim deixando-os ébrios demais. Ele ainda se lembrava de acompanhar Shiki ao banheiro e vê-lo vomitar enquanto passava as mãos em suas costas. E imaginá-la com o escritor naquela festividade não lhe causava uma boa sensação… e piorava gradualmente conforme a conversa se prolongava.

— Você já arrumou alguém? — Shiki perguntou depois de alguns segundos em silêncio. 

— Ah, não. Vou para dançar e me divertir, então não irei recusar se alguém aparecer me convidando para uma dança. — Take respondeu e levou a garrafa de café para a mesa e olhou para os pães que estavam ali e depois para as geleias de vários sabores, então continuou. — Café está pronto. —

— E se ninguém convidá-lo? — Shiki perguntou assim que saiu do sofá e pôs o livro fechado na almofada antes de seguir para o assento na mesa. 

— Porque essa curiosidade? — Take perguntou assim que tomou o outro assento e serviu-se com uma xícara de café e um pedaço de melancia. — Acha que ninguém me convida para dançar? Que serei desprezado pelos outros? —

— Eu não disse isso, Take. — Shiki disse e olhou para ele com calma e tomando cuidado com as palavras que usaria a partir daquele momento. — Só estou curi-… — E ele foi interrompido.

— Se ninguém me convidar, então eu convido alguém. Tem bastante opção em Yattsuhoshi, então alguém certamente vai querer dançar comigo. — Take respondeu e bebeu o pouco café que havia em sua xícara, então se levantou com o pedaço de melancia na mão. — Eu vou procurar alguém para ir comigo agora se isso vai satisfazê-lo, Shiki. Assim não precisa se preocupar comigo enquanto dança com sua amiga de bar. —

— Ela não é minha amiga. — Shiki disse, mas então percebeu um detalhe curioso na reação do moreno, por isso deu continuidade. — Você está com… — E novamente foi interrompido.

— É, você não é amigo dela, mas aceita convites para encontros e festas dela, seu… arrogante, desgraçado! — Take disse com as bochechas coradas por estar se rendendo a um sentimento tão vergonhoso e seguindo em direção a porta com passos bem pesados. — Não me espere hoje para a janta. Coma os restos de ontem ou vá ao bar… aposto que ela te dará alguma coisa para provar. Seu... porco imundo. — 

O moreno abriu a porta e saiu por ela e voltou a fechá-la com uma tremenda agressividade, tanto ao ponto dos vidros tremerem. Chishiki ficou em silêncio, ainda sentado em sua cadeira e mal tendo encostado em seu café, mas acabou soltando um riso baixo antes de apoiar o cotovelo direito na mesa e levar a palma da mão para o queixo, assim sustentando-o e sorrindo de maneira suave e suspirando satisfeito como se um peso indesejado tivesse deixado seus ombros, mas obviamente que não era isso que ele estava sentindo, afinal seu olhar não escondia a suavidade e o contentamento.

[ ۝ ]

O moreno andou sem um rumo muito certo por Yattsuhoshi. Era cedo demais para comparecer ao hospital ou ir ao bar e cair em cima de Teikō e puxar agressivamente seu cabelo, ou agir de maneira falsa e cumprimentá-la e desejar boa sorte na festividade. Ele só soube que as pessoas o estavam evitando por causa do seu olhar agressivo. E assim caminhou sem rumo por aquele vilarejo, ou melhor, quase sem rumo, afinal passou no hospital para preparar algumas coisas para a sua primeira aula básica ao lembrar-se de como tudo começou. E logo depois de deixar tudo pronto — e estar um pouco mais calmo — tentou se dirigir para a saída e ir procurar alguma coisa para comer. Ele já tinha descido ao primeiro andar.

— Boo! — Uma voz feminina logo atrás dele. Era Kohi que aproveitou da distração do moreno para assustá-lo.

— Kyaaah! — Ontake gritou de medo e se arrepiou por inteiro e levou a mão direita ao coração disparado. Suor frio lhe escorreu pelo rosto e pingou ao chegar em seu queixo, além disso respirava bem rápido. Ele continuou assim que olhou para o sorriso divertido da garota. — Eu não achei graça! —

— Claro, foi você que se assustou. — Kohi disse e levou os braços para as costas e entrelaçou as mãos. E manteve seus olhos cor de olivas na direção do moreno antes de continuar. — Você grita "Kyah" quando se assusta? É tão fofinho. —

— Me disseram uma coisa semelhante… — Ontake sussurrou e sentiu as bochechas corarem ao se lembrar da provocação de outro dia do escritor, então aumentou sua voz. — ...vamos lá para cima. Estou com algumas coisas prontas. —

— Coisas prontas? — Kohi perguntou e levantou uma das sobrancelhas.

Ontake não respondeu. Ele simplesmente retornou a subir os degraus e nem mesmo olhou para trás com intenção de saber se a garota o seguia. Ele chegou ao segundo andar depois de passar por quarenta degraus e continuou caminhando e seguindo o caminho que tinha feito a pouquíssimo tempo. E não demorou para chegar frente a uma porta a empurrar, desta forma dando acesso ao interior que era uma sala com um quadro negro, uma cadeira e duas mesas, mas uma delas contendo alguns materiais que chamaram a atenção de Kohi que tentou se aproximar deles e ver o que havia dentro de um pano muito bem embrulhado e úmido.

— Não mexa. — Ontake disse ríspido e apontou com o indicador esquerdo o assento. — Seu lugar. —

— Ah, certo… — Kohi disse e formou um bico em decepção por não ter a chance de mexer com os objetos. Ela tomou seu assento e cruzou os braços.

— Muito bem, preste atenção ou faça anotações, qualquer um dos dois… — Ontake disse e cruzou os braços antes de se lembrar cuidadosamente das palavras de Rin na primeira aula. — O aspecto mais fundamental é o controle de chakra. Iryō Ninjutsu requer um controle muito delicado. Além disso, conseguir manter o controle de chakra depois de um período de tempo é crucial. Mesmo não sendo chamativo, o Iryō Ninjutsu requer muito trabalho para dominar. Nós vamos estudar cinco partes hoje. —

— O que? — Kohi ficou um pouco decepcionada.

— O conhecimento é importante para o Iryō Ninjutsu. — Take disse ríspido depois de perceber a decepção da garota, mas ao mesmo tempo se alegrou, pois poderia considerar aquilo uma punição por tê-lo roubado. — Primeiro, teremos uma aula curta, depois um exame escrito —

— Hã? — Kohi ficou mais decepcionada. 

Ela nem ao menos sabia que estavam no básico do básico do Iryō Ninjutsu. E assim aconteceu. O moreno instruiu a garota da mesma forma que um certo rosado fez, contudo explicou mais duas vezes para que a ideia alcançasse a provável cabeça oca, depois lhe passou um exame escrito e após duas horas quarenta minutos a garota o entregou completamente preenchido e com resultados agradáveis — nota 70 de 100. E no fim desse exame o moreno mostrou dois copos — café e leite — para a garota que olhou com dúvida.

— Essa é a parte prática. — O moreno disse e pôs os dois copos separados na mesa e deu continuidade enquanto era observado pela atenta garota. — Aplicar o conhecimento é crucial para fazer o Iryō Ninjutsu funcionar. Primeiro, Jutsu de antídoto. Usará chakra para isolar os líquidos. Veja bem... —

Ontake fez uma demonstração. Ele juntou o leite ao café e a cor — escura — mudou para marrom. E pôs as palmas das mãos perto do copo e se concentrou um pouco, nesse processo de concentração o líquido começou a se mexer como se houvesse uma colher lá dentro. E lentamente os líquidos foram se separando até que claramente houvesse uma linha imaginária os dividindo no copo. Ele entregou tudo misturado para a garota e viu quando a mesma começou a fazer sua tentativa, por isso cruzou os braços e ficou observando-a falhando e criando um pequeno e inofensivo redemoinho.

— Café e leite são líquidos, mas a composição é diferente. Por isso, conseguimos isolar os diferentes componentes e extraí-los de um líquido misturado. Essa aula pode ser aplicada a extração de veneno de um corpo. É uma habilidade básica e fundamental. — Ontake disse.

Kohi se concentrava, mas agora tinha uma noção de como proceder graças à informação do moreno. E realmente não demorou mais do que uma hora — após a dica — para que realmente conseguisse separar os líquidos. Ontake sorriu com satisfação e mostrou para a garota o segundo objeto que nada mais era um bicho de pelúcia, mas o mesmo parecia estragado já que seu braço direito estava decepado. Era um bicho de pelúcia feio.

— Essa parte é o Shōsen Jutsu. Você deve concentrar chakra na palmas e aplicar a ferida para agilizar o processo de cura. Isso é uma marionete de treinamento especial que veio de Amegakure comigo… e bom… esse ferimento vai se fechar quando o chakra do Shōsen Jutsu for aplicado. Se a área cortada for fechada, será um sucesso. Aqui você precisa de foco, entendeu? — Ontake disse.

— Hã… sim! — Kohi disse.

Ele não demonstrou, desta vez só tinha um boneco e não queria ajustá-lo para depois arrebenta-lo, por isso deixou a garota por conta própria. Ele a observou com aquela mesma energia nas palmas, mas o ferimento no boneco não era fechado. Ele cruzou os braços e suspirou, sentindo-se um pouco idiota por não ter saído mais cedo para comer, afinal apenas um café e um pedaço de melancia não seriam o bastante até sabe-se lá que horas, mas ao menos ficou agradecido por seu estômago não alertá-lo que a fome avançava. Ele fechou seus olhos por um momento e lembrou-se da quantidade de coisas que preparou para o café da manhã. 

— ...você tá babando. — Kohi disse.

O moreno abriu seus olhos e passou a mão direita no canto esquerdo dos lábios e depois no direito. Era verdade que estava babando, mas retornou sua atenção para a garota para alertá-la que deveria se concentrar em seu serviço — curar a ferida — e não prestar atenção nele, mas preferiu o silêncio quando a viu deixando o boneco de pé e usando o braço decepado — agora reintegrado ao corpo — para acenar em sua direção. O garoto gargalhou com aquela cena, até mesmo Kohi gargalhava e fazia um movimento com o boneco para parecer que ele estava rindo. 

— Certo, parou… — Take disse, então continuou quando a garota fez silêncio e mostrou para ela um graveto cuja flor não tinha florescido ainda — Se conseguir fazer com que essa flor floresça, conseguiu. Aplicar Chakra em um parceiro ferido pode salvar a vida em uma emergência. —

— Ah, certo… — Kohi disse.

Aquela parte foi bem complicada. E mais demorada para Kohi que se esforçou ao máximo. Ela ignorava completamente o tic-tac do relógio ou as aproximações do moreno para ver como as coisas estavam fluindo. O rosto da garota estava suando depois de três horas, mas felizmente conseguiu concluir o objetivo e belas flores brancas surgiram no graveto. Ontake olhou para aquilo e balançou a cabeça em aprovação. E até por isso que o moreno se aproximou do pano embrulhado e retirou de dentro um peixe e mostrou para Kohi que aguardava por alguma coisa.

— Venha aqui. — Take disse. E o mesmo continuou quando a garota saiu do lugar para ficar a sua frente. — Aplique chakra nele… se conseguir fazê-lo se mover, sucesso. Eu te conto sobre as regras do Iryō Ninjutsu e me responsabilizo por levá-la para Amegakure para que tenha mais profundidade e mais áreas a serem estudadas. —

Kohi ficou em silêncio. Ela olhou com desgosto para o peixe — odiava peixe — e sentiu um pouco de nojo ao pôr as palmas em suas escamas, mas sabia que deveria se concentrar para que funcionasse. E não demorou para que a energia surgisse nas palmas. Ontake cruzou os braços e observou atentamente a garota e seu esforço. Ele não queria nem mesmo olhar para o relógio, mas imaginava que já teria passado do meio dia. E realmente aquilo demorou. Ele já estava com as costas escoradas numa das paredes e cochilando quando foi acordado por um grito da garota.

— QUE NOJO! CONSEGUI! MAS É TÃO… NOJENTO. — Kohi disse com ânimo.

E era verdade. O peixe estava saltando depois de sete horas e a garota correndo de um lado a outro em nítido desgosto daquela coisa. O moreno bocejou e coçou seus olhos, mas aproveitou para se levantar e olhou para a garota que finalmente parava de se mexer. Ele estendeu seu braço direito para a garota e mostrou seu punho fechado, exceto por três dedos à mostra.

— Primeira regra: Ninjas Médicos não devem desistir de dar tratamento aos seus companheiros enquanto respirarem. E não importa se é companheiro, qualquer pessoa que precisar de tratamento. — Ontake disse e abaixou um dedo, então deu continuidade. — Segunda regra: Ninjas Médicos não podem se envolver em batalhas, mas… cabe a você ignorar ou não essa regra. — Ontake disse e se lembrou de que a especialista em Taikutsu da Mangetsu tinha morrido em combate. Ele deu continuidade assim que baixou outro dedo. — Terceira regra: Ninjas Médicos devem ser os últimos do esquadrão a morrer. Se você aprender o In'yu Shōmetsu… — Ele mostrou o indicador da outra mão e fez um corte em seu pulso e nada aconteceu. — ...pode ignorar essa regra, até mesmo a segunda regra. — Ontake fez um sinal de positivo para a garota antes de acrescentar. — Bem vinda a Rokujūshi. —

[ ۝ ]

O moreno retornou para casa um pouco depois das dez da noite. Ele abriu silenciosamente a porta e começou a se sentir um idiota pelo escarcéu que fez mais cedo. Ele até seguiria direto para o seu quarto, mas acabou olhando para a mesa e sorriu com suavidade ao reparar em dois lanches num prato e no livro fechado. O moreno pegou tudo e seguiu para o corredor e parou no meio da viagem no momento que reparou em Shiki saindo do quarto vestindo apenas uma calça e ajeitando os óculos.

— Não quis acordá-lo. Desculpe… e obrigado por esses lanches. — Take disse.

— Eu não estava dormindo. — Shiki disse e coçou o cabelo e desviou sua atenção como se achasse a parede mais interessante. — Imaginei que sentiria fome depois de sair daquele jeito idiota de casa, então os deixei prontos. E como se interessou no resto do livro, pensei que gostaria de passar a noite lendo até pegar no sono. —

— Você imagina e pensa demais… — Take disse e soltou um riso um pouco divertido, mas continuou enquanto seguia para o seu quarto. — ...obrigado. —

— Hm… quer companhia na leitura? — Shiki perguntou e suas bochechas se esquentaram um pouco. Ele estava começando a se sentir um pouco idiota por fazer aquele tipo de questionamento. 

— Eu não tenho lugares para sentar em meu quarto. — Take disse e abriu a porta com o pé enquanto olhava para o escritor e suas bochechas se esquentaram. 

— Você tem uma cama. — Shiki disse áspero. 

— Certo, mas se fizer cócegas… eu te mato e ainda dissolvo a sua casa, entendeu? — Take perguntou com um olhar mais agressivo enquanto seu estômago roncava. 

— Vou acreditar que é a fome falando. — Shiki comentou.

O moreno suspirou e entrou em seu quarto. E logo se sentou na cama e usou os travesseiros para apoiar suas costas. Ele pôs o prato com os lanches no lado direito e abriu o livro no último capítulo que se lembrava de ter lido. E não demorou para que Shiki se sentasse ao seu lado — ombro a ombro — e a leitura iniciasse. 

— Você estava com ciúmes? — Shiki perguntou depois de algumas páginas viradas.

— Eu não tenho ciúme. E não tem porque sentir ciúme. Você é homem e livre de um relacionamento, ela é uma mulher e livre de um relacionamento. — Take respondeu e suas orelhas começaram a se esquentar e seus dedos deslizando pela página enquanto lia. — Só que se ela começar a namorar você e mandar me expulsar… eu vou chutar a cara dela. —

— Hahaha, beleza, isso não vai acontecer tão cedo. E aquele ataque de mais cedo foi o que? — Shiki perguntou enquanto passava seu braço pelo ombro do moreno que continuava lendo.

— Paranóia sua. Deveria ver um médico, quem sabe ajeitar seu cérebro torna você mais sensível com as pessoas… ou você comece a latir, mas isso já faz… só que não é com tanta frequência. — Take respondeu e suas bochechas se movem um pouco e ele sentiu-se agradecido por seu cabelo esconder o rosto um pouco, desta forma o escritor não o veria sorriso por responder aquilo.

— Paranóia? Quer mesmo me fazer acreditar que tive um delírio de você tendo um ataque? — Shiki perguntou e levantou uma das sobrancelhas.

— Você veio aqui para ler ou pra me fazer um questionário? — Take perguntou e moveu seu rosto para que assim tivesse a chance de encarar o escritor.

E novamente aconteceu. Ele não percebeu antes o quão próximos estavam um do outro, só percebendo isso quando o moreno moveu seu rosto. Os dois respiravam de maneira tranquila e seus olhos estavam concentrados um no outro, mas se desviavam para baixo — alguns centímetros abaixo dos olhos — antes de retornarem aos olhos de cada um. Eles se lembraram de algo semelhante na noite anterior… aquela proximidade. Estavam a meros centímetros. Chishiki lentamente fechou seus olhos enquanto separava seus lábios por meros centímetros e movia a cabeça para o lado… um movimento que Ontake fez questão de repetir enquanto sentia o coração galopando e as bochechas se esquentando com brutalidade ao imaginar que… ao ter certeza que… naquela cama se beijariam. Os olhos de cada um estavam entreabertos e seus lábios já estavam muito próximos. E tudo se perdeu no momento em que o estômago do moreno roncou como se exigisse saborear os sanduíches. Os dois perceberam o que estava para acontecer e não tardou mais do que um segundo para retornarem aos seus lugares, mas o escritor também não se demorou naquela cama e logo saiu dela e seguiu para a porta enquanto era vigiado por um Ontake super corado, afinal o moreno sabia o que aconteceria se o estômago não tivesse interrompido.

— Noite… — Shiki disse rapidamente e já saindo pela porta e fechando-a.

— Noite... — Take sussurrou. Não havia razão de respondê-lo por causa da pressa do mesmo, mas acabou fazendo questão disso.

Take olhou para os lanches e depois de pensar em incontáveis ofensas ao estômago, comeu os dois lanches que estavam no prato enquanto só pensava no que teria acontecido. E depois de alimentado retornou para a leitura de KonoSuba Alternativa passando a cada dez ou quinze minutos para o arco seguinte… ele queria saber no que acrescentar para que aquele livro de Chishiki ficasse melhor, afinal tinha dito a ele mais cedo que faria isso. E o moreno pegou no sono por volta das quatro da madrugada depois de ler até o último capítulo escrito.


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