Ventos do destino escrita por Olívia Ryvers


Capítulo 5
Capítulo 5




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—À esquerda, Summerlee._indicou David._ Dividirá cabine comigo. _anunciou ao notar que o jovem médico seguia Isabelle rumo ao quarto que a moça ocupava quando estava a bordo do Rattler.

—David, você não costuma dividir sua cabine… quer dizer, apenas com companhias femininas._provocou Isabelle.

—Sempre há uma primeira vez. Além do mais, a cabine do capitão é maior, e suficiente para dois adultos. Dr. Summerlee é um humanitário, merece algum conforto, não concorda, Isabelle?_ respondeu a provocação com sarcasmo que não passou despercebido por ela.

—Acredito que na minha cabine, Benjamin encontre todo o conforto do qual necessita._ seus olhos cintilavam de ousadia e desafio. Tinha sido assim a relação dos dois desde que retornaram a Matavai. Sempre um duelo de forças onde ambos se negavam a ceder.

—Eu ficarei bem na cabine de David._interviu Benjamin temendo que a situação saísse ao controle._ Imagino que o capitão Grief preze por sua honra e privacidade, por isso se dispôs a dividir leito comigo._explicou a Isabelle.

—Ah sim… nisso você tem toda a razão. Capitão Grief me considera uma mulher muito honrada e cheia de moralidade, isso desde que nos conhecemos, não é mesmo David?_deflagrou uma risada irônica, mas Grief notou que havia mágoa em seu olhar. Por isso recusou-se a devolver o insulto. Ao contrário do que ela imaginava, o capitão a considerava no mais alto grau, tinha respeito, admiração, simpatia, desejo e tantos outros sentimentos valiosos, dentre eles o amor. Seu ciúme cálido jamais permitiria que Benjamin e Isabelle dividissem quarto dentro de seu próprio barco_Como eu imaginava… não foi pela minha honra que o capitão lhe ofereceu abrigo, Dr. Summerlee._deu de ombros_não importa. A verdade é que a cabine de David é mais confortável e é justo que vocês a dividam._virou as costas e continuou caminho no estreito corredor até encontrar a porta de sua própria cabine, assim que entrou jogou suas coisas sobre a cama e permitiu-se derramar lágrimas silenciosas. Por quanto tempo aguentaria tanta indiferença?, perguntou-se.

 

****

 

—Você deveria dizer a ela como se sente._Mauriri interrompeu os pensamentos de David enquanto o capitão observava do alto de seu leme Isabelle e Benjamin conversando na proa do barco. Ela parecia entusiasmada mostrando ao médico detalhes da paisagem exuberante do Tahiti. Sem dúvida tinha se tornado uma marinheira, a mais linda marinheira, incluiu ao pensamento.

—Do que está falando?_David fingiu desentendimento.

—Eu o conheço há mais de seis anos, embora nossas brigas e discussões, é comum acordo que nos entendemos até pelo olhar. Nunca o vi tão incomodado com um cliente que freta o Rattler como com Benjamin Summerlee. O que há de errado com ele?

—Nada de errado…. Ele é perfeito, não é mesmo?_mencionou com desdém.

—Ele é um bom homem, você sabe disso.

Estavam viajando há quase duas semanas, algumas das ilhas já haviam sido visitadas e já podiam notar que Dr. Summerlee tinha a amistosidade como uma de suas principais características. “Talvez se não fosse médico seria diplomata”, foi o que Isabelle sugeriu em Maiao, quando o chefe Maiao se mostrou desconfiado em aplicar em suas crianças uma “doença enfraquecida”. Benjamin com paciência explicou de maneira que o nativo entendesse que tal procedimento ajudaria a sua população a criar resistência a uma epidemia que dizimaria toda a aldeia. Mauriri, servia de intérprete entre o médico e o chefe. A vacina de fato era uma convenção universal, um ato conjunto para o bem de todos. Até mesmo nações inimigas se convergiam diante da imunização em prol do bem da humanidade, foi por esta razão que o governo francês investia em tal campanha. Não eram os polinésios a quem queriam proteger e sim um acordo mundial de se autoproteger através da proteção do outro.

—Sim, ele é um bom homem._concordou com relutância diante do óbvio.

—Então por que tenho a sensação de que vai jogá-lo aos tubarões a qualquer momento?

—É só impressão sua._disse impaciente.

—É pela relação dele com Isabelle, não é? Você está sentido ciúmes.

—Isso é a coisa mais absurda que diz em meses._recusava-se a admitir, mas, refletiu um pouco e concluiu que não podia negar ao amigo algo que era tão evidente._Estou me corroendo de ciúmes._finalmente extravasou o que o consumia.

—Eu sabia!_Mauriri bateu as mãos como se tivesse apostado em tal declaração._E o que está esperando para dizer isto a ela?

—Acha que não tentei? Isabelle prefere ver o diabo a me ouvir._lamentou.

—Ela tem os seus motivos._Mauriri lembou do que Lavínia lhe contou sobre a noite em que David se embebedara em seu bar que motivou o afastamento de Isabelle.

—Eu estava bêbado… _procurou se justificar_e orgulhoso._completou.

—Talvez este seja o momento de engolir o seu orgulho e dizer a Isabelle o que sente. Ela sempre demonstrou interesse por você, isto não é segredo para ninguém em toda a Polinésia.

—Ao que parece Isabelle tem outros interesses agora. Não sei se sou capaz de dar a ela o que ambiciona no momento._olhou mais uma vez para a morena reluzente sob a luz do poente.

—E o que ela quer?_perguntou o polinésio com desconfiança.

A lembrança de Isabelle acalentando uma criança nativa em seu colo logo após ter sido molestada pela injeção da vacina o atingiu. A doçura com que ela embalava a pequena menina lhe cantando canções em francês tentando dissipar seus medos e por fim o seu êxito quando a garotinha finalmente lhe deu um sorriso, o fez perceber que sua encantadora marinheira se converteria em uma excelente mãe. Era a cena digna de uma pintura e doeu-lhe a alma encarar a realidade de que Benjamin Summerlee era o homem ideal para lhe oferecer tudo isso.

—Um futuro…

 

****

 

—Chegou um telegrama para você, Dr. Summerlee._Lavínia estendeu a mão entregando ao médico o pedaço de papel.

Faziam poucas horas que o Rattler atracara na Baía de Matavai depois de quase um mês em missão humanitária de imunização. Apesar dos humores pouco agradáveis em alguns momentos, a viagem em si tinha sido um sucesso e Benjamin sentia uma boa sensação de missão cumprida ao perceber que boa parte da população infantil do arquipélago tinha sido vacinada.

—Boas notícias, eu espero._Isabelle comentou curiosa enquanto o observava lendo o papel com expressão serena.

—Elas não são boas._disse preocupado.

—O que aconteceu? Algo de errado com sua família?_a preocupação se estendeu a ela.

—Não… minha família está bem._fez uma pausa e finalmente tirou os olhos do papel para mirá-la._A Inglaterra se prepara para uma guerra. Convocam-me para me apresentar a Marinha Real, meus serviços serão requisitados em hospitais de campanha. Preciso voltar a Londres._lamentava profundamente isto e percebeu que Isabelle também se afetou com essa notícia.

—Eu sinto muito._disse com toda a sinceridade que encontrou no seu coração. Tinha se acostumado a companhia e amizade dele e realmente lamentava que precisasse ir embora.

Benjamin a olhou com ternura e sabia exatamente o que tinha que fazer. O que experimentou no tempo que estava no Tahiti foi muito mais que apenas experiências profissionais. Descobriu pela primeira vez a força inabalável do amor. Estava absurdamente apaixonado por Isabelle Reed, embora tenha mantido silêncio a respeito disso. Era claro que ela e David tinham assuntos a resolver, e sua dignidade era grande o suficiente para não permitir se tornar mero pivô de ciúmes entre eles. Faria com que a morena se apaixonasse por ele graças aos seus méritos, e estava quase certo de que tinha avanços quanto a isto. A convocação inesperada porém adiantava as coisas, não estava nem um pouco disposto a sair da Polinésia sem que ela soubesse dos seus sentimentos. Encorajado pela tristeza que viu em seu olhar, o médico começou:

—Venha comigo, Isabelle._falou de uma só vez._Volte pra Londres em minha companhia, nos casaremos assim que chegarmos na Inglaterra, ou se preferir, nos casamos no Tahiti antes da nossa partida._ pegou suas mãos e olhou fundo nos olhos arregalados dela._Eu a amo, Isabelle Reed. Quero formar uma família ao seu lado se você me der essa oportunidade.

Ela ficou imóvel, estática pela surpresa da declaração. Não sabia o certo o que responder. Adorava a companhia de Benjamin, mas, estava certa de que isso não era amor… ou ao menos ainda não. Por outro lado, não sabia o que esperar deste sentimento. Era importante dar um novo passo na sua vida e Dr. Summerlee parecia ser a pessoa ideal para acompanhá-la nessa sua nova ambição. A Isabelle que há pouco mais de um ano chegava aquele pequeno paraíso perdido nos mares do sul não imaginava um dia ser digna de se tornar uma esposa e mãe de família, entretanto provou do doce sabor da honestidade e lealdade com eles novos sonhos lhe surgiram, numa família era um deles. Além disso, há muito resignou-se que as sensações sentia por David jamais sentiria por nenhum outro homem. Contudo, ele estava impossível para ela, então, porque não se arriscar em uma relação tranquila e estável, sem grandes emoções mas com um futuro seguro? Mas ela não o amava, seria justo aceitar o que ele lhe propunha sem ter certeza que um dia possa corresponder ao sentimento dele?

—Benjamin… eu… eu me sinto honrada com o seu pedido, mas, preciso ser honesta… apesar de ter por você um enorme carinho, eu não o amo… pelo menos não da maneira que você gostaria.

—Conheço casamentos que deram certo com muito menos que isso._pegou sua mão com candura._Eu prometo que se aceitar meu pedido, dedicarei toda a minha vida a fazê-la se apaixonar por mim.

Ela duvidava de que ele teria êxito. Seu coração pertencia a outro, porém, a distância poderia ser aliada do esquecimento.

—Benjamin… eu não prometo aceitar seu pedido de casamento, só o aceitarei quando tiver certeza de que também posso fazê-lo feliz, mas, talvez possa voltar para Inglaterra com você. Um dia achei que o Tahiti seria meu lar, mas, já não estou mais certa disso.

O médico abriu um belo sorriso. Não era um aceite, mas, uma grande oportunidade. Seu peito se encheu de esperança. Longe de David o caminho para o coração de Isabelle seria muito menos tortuoso.

 

****

 

—David?_chamou Isabelle enquanto descia as escadas que davam acesso as cabines do Rattler.

—Isabelle?! Que surpresa!_não pode esconder o entusiasmo por vê-la sozinha o procurando em seu barco como nos velhos tempos.

—Precisamos conversar._anunciou ela.

—Eu concordo. Preciso lhe dizer algumas coisas das quais não tive oportunidade antes…

—Benjamin regressará a Inglaterra em pouco tempo._ela o interrompeu.

—Isso é lamentável._disse com insinceridade, mal podendo esconder o sorriso de satisfação._Quando ele vai embora?_pretendia dar uma festa em comemoração.

—Em pouco tempo… e… eu irei com ele._ evitou olhá-lo nos olhos. Não tinha coragem para isto, não poderia conviver com a indiferença dele em relação a sua partida._Eu venderei minha parte no Rattler, aceito o que você tiver a oferecer por ela.

David sentiu a respiração ficar trancada em sua garganta. Nem em seus piores pesadelos imaginava ver Isabelle deixando o Tahiti. Movido por um impulso irracional diminuiu a distância entre eles e puxando-a para junto do seu corpo de maneira possessiva.

—Você não vai a lugar algum._seus lábios se apossaram dos delas em um tórrido beijo ao qual ele se privou por meses. Pro espaço seu orgulho, ele a amava e lhe provaria isso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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