Sins of Hope escrita por DGX


Capítulo 5
Primeira Parada




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Opening

Ainda descrente do que havia visto com seus próprios olhos alguns dias atrás, Camille põe suas mãos no rosto de Nier e pondera:

—Como é possível que você não envelheceu nada nesses dez anos? A sua aparência no cartaz mostra um homem adulto, não um garo–

Antes que pudesse continuar, a porca gigante finalmente chega ao seu destino e começa a cavar, adentrando novamente para o chão, fazendo com que o bar inteiro estremecesse e com que a jovem perdesse seu equilíbrio, caindo bem em cima de Nier, que por sua vez, a segura firmemente em seus braços e fala:

—Você está bem? – Ele se levanta do chão, puxando a princesa junto. – Acho que chegamos ao nosso destino, então poderia abrir as janelas enquanto organizo as bebidas na prateleira? Afinal, abriremos as portas em breve.

Camille ainda um pouco envergonhada pelo acontecido e levemente desconfiada da mudança súbita de assunto, retruca a Nier e afirma estar bem, e logo em seguida, aceita o seu pedido, então começa a abrir as janelas do estabelecimento.

Enquanto Camille estava prestes a abrir as janelas, algo se esgueirava por detrás da jovem princesa ruiva.

—Bu!

Camille deu um pequeno e abafado grito, e viu Nier atrás dela. Ela olha um pouco emburrada para ele, que logo se justifica.

—Isso é só pra ficar esperta. – O garoto ri de Camille, que continua fazendo bico para ele. – Era apenas uma brincadeira. – Ele coloca suavemente sua mão na cabeça da garota e bagunça seus cabelos. – Nós vamos fazer uma pausa na viagem, a Mama precisa descansar um pouco. Sair rapidamente de Oakfield cansou ela.

—Entendi... – Ela continuou mal humorada por ter sido assustada. – Vamos ter clientes?

—É bem improvável. Estamos no meio da estrada, mas talvez algum viajante ou caçador pare aqui e queira comer alguma coisa. – Respondeu despretensiosamente, enquanto mexia no anel em seu dedo.

—Que anel é esse, Sir Nier? – Perguntou Camille se aproximando, fazendo o Pecado da Ira esconder a mão no mesmo momento.

—Um anel. – Desconversou, fazendo com que a garota semicerrasse os olhos em desaprovação. – Não mexa nele, é muito importante pra mim. – Sua expressão era anormalmente séria e sombria.

—Certo... – Ela respondeu um pouco assustada.

—Você bebe? – Questionou puxando uma garrafa de hidromel.

—N-Não! – Respondeu rapidamente. – Eu sou muito nova pra isso...

—Jurava que as pessoas não se importavam com isso. – Disse servindo um caneco de bebida. – Bom, você também não parece ser alguém que iria lidar bem com álcool...

—Ei! – Ela reclamou enquanto o garoto tomava um gole. – Isso pode até ser verdade, mas mesmo assim...

—Continue desse jeito, princesa. É melhor do que ter que beber pra esquecer... Ou pra lembrar...

—Como assim?

—Esquece. – E deu uma golada.

Camille sentiu seu sangue ferver. Lembrou de quando era pequena demais para ouvir as conversas dos adultos. Talvez ele ficasse mais disposto a falar depois que bebesse mais, então apenas ficou admirando-o beber várias canecas de bebida.

—Então Sir Nier, o que você fez para virar o Pecado da Ira? Meu pai me falou que todos os membros da Saligia cometeram grandes crimes...

—Uma vez, roubaram meu almoço no quartel general, e eu bati em todos os outros cavaleiros por isso. – Falou erguendo um punho.

—Sério? – Perguntou incrédula.

—Não. – Respondeu na cara de pau. – Na verdade, eu estava disputando com um paladino de outro reino para ver quem bebe mais, e como ele estava ganhando, destruí a vila natal dele.

—Não pode ser... – Falou chocada.

—E não é mesmo. – E engoliu quase que de uma vez uma caneca inteira de cerveja, e logo a reencheu.

—Pare de me fazer de idiota, Sir Nier! O que realmente fez? – Camille grita irritada com lágrimas nos olhos, e Nier muda a expressão de risonho para sério e consternado.

—Para falar a verdade, nem eu lembro do que fiz. – Disse encarando a caneca que acabara de encher. – Não lembro de nada de dezessete anos pra trás. Mas lembro da cara do rei quando ele estava em minha frente, me julgando. Sua expressão era tensa, e me lembro de Krioni, o antigo mago da corte de Lioness, que olhava com certo receio para mim... Quem sabe eu ainda consiga me lembrar daquele dia... Mesmo que tenha um certo medo de saber o que aconteceu.

 Camille desfaz sua expressão irritada com Nier, e fica com uma triste e melancólica. Pelo visto, ela fez com que ele se lembrasse de algo que não gostava de tocar. Ela abaixa a cabeça e junta as mãos sobre as pernas. Ela começa a soluçar baixinho, e notando isso, ele estende sua mão até os cabelos da princesa, e mexe neles chamando a atenção dela.

—Não se preocupe tanto, eu nem ligo tanto assim. Deve ser melhor nem lembrar daquilo mesmo! – Ele sorriu para ela, que enxugou as lágrimas. – Tem certeza que não quer beber?

—É melhor não mesmo... – Ela respondeu sem graça. Talvez ele quisesse bastante um parceiro de bebida.

E assim seguiu-se o resto do dia, acabando com Nier dormindo no balcão, após beber possivelmente um barril e meio. Camille notou que restou um pouco de hidromel – que ele intercalava com cerveja – no seu copo. Como viu que nem ele nem o gato estavam prestando atenção, decidiu tomar um gole. O sabor era docinho e ela gostou disso, mas quando notou que na garrafa o teor alcoólico era acima de 90% por ser um hiper concentrado, sua visão ficou embaçada, e caiu no chão.

Caída, viu que três homens entraram no bar, e como eles estavam no chão, achou que apenas se virariam e iriam embora. Mas não. Eles continuaram adentrando o bar e mexeram no caixa, pegando algumas moedas de ouro que haviam ali e pior: viu que eles tiraram o anel do dedo de Nier. Aquele mesmo que antes ele havia quase ameaçado ela por pensar em mexer nele. Não importa como, esse anel era muito importante para ele.

Quando saíram, ela levantou quase que no mesmo instante, e balançou o rapaz para o acordar. Sem resposta, ele estava dormindo de verdade. Ela o chacoalhou com vontade, mas ele continuava apagado.

O-O-O que eu faço?! Ele vai brigar comigo se ele acordar e ver que eu deixei roubarem esse anel! Ele vai me deixar e não vai mais ajudar a salvar o reino! Isso definitivamente não pode acontecer, de jeito nenhum! Então, o que me resta fazer é pegar de volta esse anel, custe o que custar!

Com esse pensamento em mente, ela saiu do Delito, e seguindo os rastros deles por alguns bons minutos, encontrou o acampamento dos três. Eles discutiam sobre a sorte grande de terem achado um bar no meio do nada, principalmente com dinheiro e um anel tão único e valioso. Eles pretendiam vender o anel e–

—Vocês não vão vender esse anel! – Camille gritou irritada.

Os três lentamente viraram a cabeça para ela, que estava em choque.

Por que eu gritei?! Por quê?! Por quê?! Por quê?! Por quê?! Por quê?!

—Ora, ora, a garotinha do bar veio atrás da gente. – Disse um dos bandidos. – Quer brincar um pouco, gracinha?

—Algo me diz que é exatamente isso, cara. – Outro foi se aproximando. – Me pergunto que tipo de sons ela vai fazer.

—Nós estamos em três, eu acho que é exatamente pra isso que mulheres tem três buracos! – O terceiro exclamou fazendo os outros dois rirem e a garota ficar com nojo.

Quando o que estava em sua frente avançou para cima, a princesa se jogou e esquivou em direção ao meio do acampamento e correu com todas suas forças, e sempre de olho no anel, o agarrou junto da bolsa de moedas. Mas como faria para voltar? Antes eles estavam dispersos, agora estavam os três juntos.

—Você é bonitinha demais pra tentar fazer qualquer coisa, por que só não deixa isso onde achou e vem aproveitar com a gente? – Falou com um tom ameaçador o que parecia ser o líder dos três. – Talvez a gente te deixe escapar enquanto dormimos. – Ele disse enquanto sorria sarcasticamente.

A garota estava encurralada, com os três prontos para ir para cima dela. Sentia vontade de chorar e sair correndo até despistá-los, mas não seria tão fácil. Ela guardou as moedas de ouro no bolso da saia rapidamente. O anel de Nier parecia menor agora em sua mão, e para garantir que não fosse o perder, o colocou no dedo.

—Eu cheguei até aqui e não vou voltar atrás. Esse anel é importante demais pra ele, então não posso só deixar que um bando de ladrões como vocês fiquem com isso. – Sua voz estava com uma estranha confiança. – Se ele vai arriscar a vida por mim e pelo que é importante pra mim, eu preciso fazer o mesmo!

—Ô discursinho besta, viu moça? – O “piadista” deles falou. – Passa isso pra cá logo, não quero pegar do seu cadáver.

A princesa respondeu que não com a cabeça, e viu os três avançarem para cima dela. Ela se jogou para o lado esquivando de uma facada, mas foi pega por um soco no rosto e em seguida, um chute na barriga.

Não é como se eu não pensasse que isso eventualmente fosse acontecer, não é? Eu sou uma garotinha fraca, não uma lutadora...

Caindo no chão, apenas tentou se jogar o mais longe possível deles, mas não sabia se daria muito certo. Ela apenas fechou os olhos e tapou o anel com a outra mão, esperando que eles desistissem.

—A gente primeiro surra ela ou pega ela? – Um perguntou para os outros dois.

—Primeiro vocês três apanham de mim, que tal? – Uma voz familiar para a princesa falou um pouco de longe, seguida por um som de estouro.

Ela achou que primeiro ele acabaria com os bandidos, porém sentiu que ele estava ajoelhado ao seu lado.

—Sir Nier? – Ela olhou corada.

—Você está muito machucada? – Perguntou passando a mão na bochecha que fora atingida.

—Não, apenas isso e um chute na barriga. Mas isso dói bastante... – Ela comentou com lágrimas nos olhos.

—Eu sei. Você quer ver algo legal?

—O que? – Perguntou confusa.

—Eu consigo derrotar eles sem usar as mãos.

—Sério?

—Sério.

—Então eu quero sim.

—Certo, então se segura.

Rapidamente, Nier segurou Camille no colo, o que a fez ficar com o rosto da cor de seus cabelos. Ela notando que ele iria lutar assim, tratou de segurar nele. Os bandidos enfurecidos partiram para cima deles, que em um disparo que rachou o chão atrás de seus pés, parou atrás deles, com um caído no chão, nocauteado. O outro capanga correu para cima da dupla, que esquivou e acertou um chute em seu queixo, o deslocando.

—Vo-Vocês venceram! – Gritou o líder dos bandidos, enquanto se virava para fugir. Nier apenas sorriu e pisou com toda sua força no chão, rachando o solo e o fazendo cair, com um galho de árvore caindo em suas costas.

—Bom, vamos voltar. – Ele falou enquanto ela ainda estava em seus braços. – Você consegue ir andando?

—Eu con– Ela pensou novamente na resposta, e com um pouco de dor, preguicinha e querendo aproveitar o momento, refez a resposta. – Eu não consigo, Sir Nier. Por sinal, eu consegui seu anel de volta.

—Sério?! Isso é ótimo! – Ele comentou feliz. Olhando para a garota no seu colo, viu que o anel combinava muito com ela, mais do que com ele. – Bem, esse anel nunca foi meu, na realidade... Eu acordei com ele na mão, e não usando ele. Acho que era de alguém especial.

—Isso parece um pouco triste... – Ela comentou olhando para ele.

—Eu nem sei o que sentir. Mas ele combinou bastante com você. Se prometer cuidar, eu deixo você continuar com ele.

—Sim! Eu prometo! – Ela exclamou sorridente.

E assim ambos voltaram até o Delito, onde Ryon continuava dormindo seu sono felino.

Dois dias depois, ambos chegaram na cidade de Antares, arrumaram o bar e saíram para explorar a cidade, deixando-o sob os cuidados do pequeno Ryon.

—Tem certeza que ele pode cuidar do bar? Afinal, ele é só um gatinho...

—Bem... Dez anos atrás, quando fomos banidos do reino, eu acabei me perdendo, fui parar numa floresta e desmaiei, ele me arrastou para uma caverna, e conheci a Mama. E ele disse que derrubou uns dois cavaleiros, mas eu sei que foi a Mama quem fez isso, mas não fale pra ele que eu sei a verdade. – Nier ri ao falar isso. – Então, se a coisa apertar, ele chama a Mama e ela cuida de tudo.

—Sim, certo! – Camille sorri e continua andando ao lado de Nier. – Essa cidade é cheia de restaurantes grandes, né?

—Isso aí. Eu acho que por isso vai ter uma pessoa interessante aqui. Quem você acha que é? – Questionou enquanto passeavam pela cidade.

—Se é comida seria o Sir Asura, o Pecado da Gula? – Questionou.

—Exatamente. Aqui é um excelente lugar pra isso. Olha esse tanto de restaurantes que tem nessa cidade. Se alguém gosta de comer, tem que estar aqui. E ele ama comer...

Eles passavam pelas entradas de vários restaurantes e bares, que incrivelmente estavam todos cheios de clientes. Camille notou que não eram apenas pessoas de Lioness, viu que haviam estandartes de outros reinos em cavalos e carruagens. Mas o que mais chamou a atenção dela foi o fato de haverem vários casais no lugar. Todos em encontros. Então estaria ela em um encontro com Nier? Esse pensamento martelava sua cabeça, principalmente quando lembrava de que ele havia a pego no colo duas vezes. Não que ir num encontro com ele fosse algo ruim, mas isso significava que eles estavam namorando e iriam se casar?

Seus pensamentos são interrompidos por uma animosidade que estava acontecendo alguns metros a frente, e como poderia ser o que procuravam, era melhor parar de fantasiar e ir checar o que estava rolando.


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