Sins of Hope escrita por DGX


Capítulo 45
Pesadelo Real




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Opening

Camille abriu seus olhos, deitada em sua cama.

—Onde... estou em casa? – Seus olhos verdes correm por todo o lugar, e era realmente sua cama.

—Camille, você acordou! – Gritou uma voz masculina familiar.

—Ainda bem, estávamos inquiets! – Continuou uma voz feminina igualmente familiar.

Ela se vira para o lado e vê duas figuras sorridentes. Eram obviamente Nier e Skanfy, que estavam sentados ali.

—Que bom que acordou, est– Antes que Nier pudesse continuar, Camille lhe deu um tapa no rosto.

—Camille? – E outro. Dessa vez, em Skanfy.

—Saiam já daqui seus monstros malucos!

—Como assim!? – Eles indagam surpresos com as bochechas vermelhas. Então, ela toma ar e começa a falar, elevando o tom de voz juntamente com sua irritação, palavra após palavra.

—Eu vi tudo... pelo reflexo do cajado de Gwyndolin... vocês destroçaram o homem! E quando me carregavam, eu vi o que fizeram com a cidade! Vocês destruíram ela, eu vi várias pessoas jogadas no chão enquanto outras assaltavam os moradores, tudo isso enquanto um enorme incêndio queimava o lugar! Minha palavra de salvar o reino e não querer que vocês ajam por impulso não vale de nada, seu bando de retardados?! Vocês mataram aquele homem que deveria pagar pelos seus crimes como todos vocês pagaram e estão pagando de uma maneira cruel! Muito cruel...

Ela começa a chorar. Nier se aproxima para abraçá-la, mas Skanfy o impede. Ela o puxa pelo braço para fora do quarto, e fecha a porta. Nier se senta e se encosta na parede ao lado da porta, e Skanfy desce as escadas, e sai ao encontro dos seus companheiros, que é recebida pelo assovio do mais alto de todos.

—Parece que está complicada a situação. – Falou Takashi com um sorriso sardônico no rosto, na entrada do bar encostado na moldura da porta.

—Agora não, Takashi. – Skanfy passou por ele sem dar a mínima.

—E então? – Perguntou Asura, bebendo uma caneca de cerveja, sentado em uma das mesas de fora do Delito.

—Gwyn, ela viu tudo em seu cajado. – Falou Skanfy com uma voz claramente cansada

—O que?! – Gritou desacreditado enquanto estava sentado na grama, e vendo que o orbe mágico dele realmente era reflexivo. – Cacete... tipo, tudo mesmo?

—Oui, tous. – Falou Skanfy se jogando numa cadeira e deitando na mesa.

—Agora ela deve achar que eu sou um monstro... nunca pude falar com ela como uma menina... – Falou Lilian deitada no chão, enrolando uma mecha de cabelo em seu dedo.

A parte externa do Delito estava com um clima pesado. Sabiam que tinham feito algo ruim, mas não sabiam que as consequências seriam essas.

—Sério isso? – Cortou o silêncio a voz grave de Takashi. – Se impressionou tanto com um corpo?

—Takashi, elle est un enfant! – Respondeu Skanfy irritada.

—Com menos da metade da idade dela eu vi merdas piores que aquilo.

—Putain, Takashi, tu ne comprends pas? Elle est un enfant de verdade. Você nasceu no champ de bataille et desde pequeno mutilava, decepava e matava. Ela non.

—Primeiro que essa foi minha adolescência, eu sou drangleiquiano e tive minha infância lá. – Disse gesticulando. – Mas e daí? Ela tem que aprender que esse mundo é uma merda. E que todos fomos condenados à morte por nossos passados.

—Pelo amor de Drácula, Takashi. Nós somos nós. Ponto. Ela é ela. Ponto. Eu nasci na Guerra Santa, e vi um monte de coisas, que você talvez nem tenha visto, embora adoraria ver. – Asura respondeu meio irritado com a atitude de Takashi. Instintivamente ao falar isso, já estava segurando sua Holy Dracula na bainha, pronto para caso irritasse demais o único humano da Saligia.

—Eu também me acostumei com a morte desde cedo, por ter que realizar ritos druidas quando criança, mas nunca gostei. – Falou Gwyndolin. – Depois da necromancia, virou parte de mim, mas mesmo assim, tinha calafrios com cadáveres que morreram de velhice ou envenenamento. Imagine uma criança de dezessete anos agora, que pode contar nos dedos quantas vezes ouviu palavrões, e nos olhos que tem na mão as vezes que falou algum. – Respondeu com ironia a última parte. 

Ele estava certo. Camille era pura demais para conseguir lidar com tal choque de realidade, afinal não é todo mundo que aguenta ver um corpo mutilado pelos seus amigos em sua frente.

—Eu sou uma gigante e sempre vi lutas, sei que humanos comuns não gostam de ver mortos, mesmo os mais arrumadinhos, podemos dizer assim. Imagine uma coisa daquelas. – Falou Lilian coçando a parte de trás da cabeça desajeitadamente.

—Ao menos ela não viu o pós-morte dele. – Ponderou Takashi, aliviando um pouco a pressão do lugar.

—Acho que exageramos... – Falou Asura com um sorriso amarelo no rosto.

—E o capitão... ele comeu a alma daquele homem? – Perguntou Lilian sussurrando para dentro do bar.

—Sim, exatamente. – Respondeu Gwyn, sem mudar sua expressão. – Ele sabe esse encantamento, de remover almas. Eu e Krioni também sabemos.

—Mas ela viu a cidade. Viu la rébellion des esclaves roubando os ricos et le incêndio. – Falou Skanfy com o rosto enterrado em seus braços, na mesa. 

Nesse momento, todos ficaram quietos. Podiam discutir sobre a situação de Johan, porém sobre a cidade era um fato. Miasma, incêndio e uma revolução de escravos.

—Bom, tanto faz. Fodemos tudo. – Asura interrompe o silêncio. – Pra ela, somos monstros agora. Não sei o que acontecerá após tomarmos a Capital. Do jeito que está, é capaz de sermos presos e executados em praça pública. – Falou jogando suas pernas por cima da mesa que estava e se inclinou na cadeira.

—Então, que se foda. – Falou Takashi usando sua magia Dog’s Greed para pegar uma caneca de cerveja. – Se ela for ficar nisso, eu voltarei à Araruna. Me visitem lá.

—Justo agora que eu estava me divertindo... – Falou Gwyn deixando escapar um suspiro chateado.

—Eu mal me reuni com vocês e já vamos nos separar? – Perguntou Lilian com lágrimas nos olhos.

—É o que parece. – Falou Asura, olhando para a gigante. – Prezo pelo meu pescoço mais que pelo reino. Ao menos, nesse caso. Sabem que eu me sacrificaria para ajudar os outros, mas me sacrificar por nada, não é do meu feitio nem agrado. – Falou indiferente, de uma maneira que Skanfy sentiu um pouco de raiva dele.

—Va te faire foutre. – Levantou a cabeça. – Je vais cuisiner quelque chose, voir si ça aide à déstresser. – Falou Skanfy apenas em fadês, completamente zangada. Eles entenderam que tinha algo a ver com cozinhar para desestressar. – Então venham comer quando eu chamar, enculés. – Ela se levantou e foi em direção ao bar.

—Falou a santa que encheu o rabo do cara de flechas. – Falou Takashi com um sorriso irônico, fazendo os outros soltarem uma risadinha.

Skanfy dá o dedo para os seus companheiros e entra no bar. Após algum tempo, ela acaba de fazer alguma coisa e sobe as escadas do Delito, em direção aos quartos superiores.

—Capitaine? – Ela o chama.

Nier abre os olhos. Continuava sentado, escorado na parede ao lado da porta de seu quarto.

—Oi Skanfy. – Respondeu indiferente.

—J'ai fait des biscuits et leite quente com miel. – Falou estufando o peito falando de seus biscoitos, que eram uma de suas melhores receitas.

—Não estou com fome. – Ele escreve com chamas no ar "Almas me deixam alimentado por uma semana".

—D'accord... eh bien, je vais deixar aqui. Leve para Camille. 

—Ela não falou nada desde que nos expulsou, apenas ficou soluçando.

—Leve. Para. Camille. Elle não comeu desde que saímos naquela manhã atrás de Lilian. Certainement está com fome.

—Ela não deve querer falar comigo... – Falou Nier com uma expressão desolada no rosto

Skanfy soca a parede do lado de Nier, causando uma pequena cratera com seu soco, assustando o Pecado da Ira.

—Ne me fais pas répéter. Se ela morrer de inanição, je jure par le clan Lunae que je farei que a morte daquele imbécile seja feliz e alegre comparada a sua. – Ela tinha um sorriso macabro nos lábios.

Então a fada sai batendo os pés com a expressão assustadora. Nier suspira, se levanta, pega a bandeja e abre a porta.

—O-Oi, Camille... Skanfy fez biscoitos com leite. Deve estar com fome.

A garota continuou em silêncio, deitada na cama de costas para a porta. Nier colocou na cabeceira da cama, a bandeja e se sentou atrás das costas da princesa.

—Por favor, fale comigo. Por favor...

Ela se apoia em seu braço, em silêncio, e começa a se levantar. Ela, então, se senta na cama, de costas para Nier.

—Por quê?

—Precisávamos fazer isso.

—Você poderia ao menos ter matado ele de uma vez. E não precisavam destruir a cidade.

—Bem... sim, poderia. – Aparentemente ele notou que se deixou levar pela emoção. – Mas o que ele fez com Lilian, com Skanfy e com você... – Nier encosta nas costas de Camille, e a abraça. Conseguia sentir seus batimentos, desregulados. Estava realmente brava com o que aconteceu.

—Nier... Eu te odeio por isso. Odeio todos vocês. Torturaram um homem. Não são melhores que ele. Destruíram uma cidade porque ficaram irritados. Esse é o nível de vocês? – Ela perguntou irritada, com lágrimas nos olhos.

—Se fossemos maus como ele... estaríamos felizes. Somos piores.

—Eu não acredito nisso... o único malvado de vocês é o Takashi.

—Todos cometemos pecados imperdoáveis.

—Qual foi o seu? Pode me dizer, Nier? – Ela se vira e encara os olhos alaranjados de Nier com seus olhos, duas esmeraldas cobertas de medo e tristeza, além de estarem molhados e avermelhados. Ele pondera, pensa sobre seu passado.

—Conhece Grisgandor?

—A ligação entre a Britânia e o continente? Já li em livros.

—Meu pecado foi destruir este lugar. Além de tirar a vida de milhares de inocentes, destruí inúmeras relações diplomáticas e econômicas de reinos quase que inteiros. O resto do pessoal também cometeu crimes parecidos, porém uma das nossas regras me impede de falar.

O silêncio encheu o lugar. Nier falou o que fez no passado, dezessete anos atrás. Ela se virou novamente de costas para ele, desacreditada no que ouviu.

—Por quê? – Perguntou Camille com a voz fraca e quase desvanecendo. 

Nier era o culpado por destruir uma ligação inteira entre a ilha e o continente? Isso era além de insano. Quantas vidas foram tomadas por sua ira? Tanto diretamente quanto indiretamente? Ela não conseguia mensurar o tamanho da dor que ele causou.

—Não sei. Não lembro. Minha memória mais antiga é acordar na frente de seu pai.

Camille começa a soluçar. A pessoa que ela tinha certeza que começou a se apaixonar destruiu um reino inteiro, e seus companheiros eram todos iguais em termos de crimes. Toda sua jornada serviu de nada? Deveria ter ido atrás de outros para salvar o reino? No fim, todos eram assassinos frios? Não podia ser assim... não deveria ser assim... 

Nier encosta sua cabeça nas costas de Camille e murmura, quase ininteligível, em meio a soluços e lágrimas.

—Por favor, me perdoe... eu não queria te assustar... ninguém queria... depois que a gente viu o que ele fez com Lilian, pensamos em assustá-lo para nunca mais fazer isso novamente, mas... depois que vimos o que ele fez com você, perdemos a razão e...

—Eu não consigo acreditar... não sei em quem ou o que devo acreditar... Se vocês são tão horríveis quanto diz, me responde então... por que vocês mataram minha mãe? Realmente queriam dar aquele golpe? Vão me usar agora para completar o golpe de dez anos atrás?

Antes que Nier pudesse responder, um clarão toma o quarto. Nele, aparecem dois membros da Psychomachia, Kyara e Glenn. Não durou um segundo a visão deles. Entretanto, esse tempo foi suficiente para Nier agarrar forte o corpo de Camille, e a proteger de qualquer coisa enquanto ativava suas marcas negras. E no segundo seguinte, não havia ninguém mais no quarto. Nem Nier e Camille, nem Lyana e Gentiana.


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