Hermione sente seu estômago e cabeça doerem. Levanta e vai até o banheiro, no corredor. Fita seu reflexo do espelho e vê olheiras ao redor dos olhos castanhos. Se sente exausta. Lava o rosto e usa a escova de dente que Gina havia emprestado. Ela vai até o quarto e verifica seu celular. Há várias ligações perdidas de Draco. Ele havia enviado dez mensagens. Perguntava onde ela estava, se estava bem e se podiam conversar. Ela sentiu vergonha, pois não deveria estar falando com ele. Ignorou as mensagens e tentou ligar para seu marido, mas novamente caiu na caixa postal. Ontem ela já havia tentando duas vezes e apenas recebeu uma mensagem de Rony, informando que iria trabalhar. Ela deu de ombros, pois fazia alguns anos que a relação deles era daquela forma. Ele vivia trabalhando e não tinham tempo para ficarem juntos. No começo ela não gostava daquilo, mas depois não se importou mais.

Hermione desceu as escadas e foi até a cozinha. Monstro estava passando e a olhou com mal humorado. O elfo parecia irritado pela presença dela, mas ela deu de ombros. Viu Gina e Harry sentados a mesa e uma cabeça loira, de costas para ela. Mione sentiu as pernas bambas.

— Bom dia, Mione, sente aqui com a gente – Gina convida, com um sorriso luminoso.

— Bom dia, Mione – diz Harry, gentil – Olha quem veio nos fazer uma visita.

Ela se aproximou, devagar, adentrando o recinto. Draco parecia tenso, mas ao vê-la, abriu um sorriso caloroso. Ela sentiu suas pernas falharem e sentou ao lado de Gina, ficando ao lado de Draco. A mesa era redonda e seria difícil fugir dele, de qualquer maneira.  

— Como está se sentindo, Mione? – perguntou Gina, cautelosa.

— Não muito bem. Aquela cerveja é realmente enganadora – Hermione responde com bom humor.

— Eu disse para você não beber tanto – Harry diz, rindo.

Eles tomam café e jogam conversa fora. Draco a fitava de soslaio e parecia querer falar algo, mas se manteve calado. Após terminarem de comer, Draco pede para falar a sós com Hermione. Eles vão para os fundos da casa. Saem pela porta e tem a visão de um vasto campo, cheio de árvores. Aquele lugar é encantado, e não pode ser acessado por trouxas. Eles sentam em duas cadeiras confortáveis de madeira e tem a visão do céu azul, sem nuvens. Apesar disso, o frio é intenso. Hermione se abraça, sentindo o vento gelado tocar sua face. Draco sente a vontade incontrolável de abraça-la, mas se segura na cadeira.

— Hermione, eu fiquei muito preocupado com você – ele quebra o silêncio – Sua mensagem me deixou balançado. Eu havia prometido não falar mais contigo, mas é difícil para manter as coisas dessa forma.

Ela respira fundo, sentindo-se uma idiota. Por que foi enviar aquela mensagem? Já não bastava ter se envolvido com ele antes, tinha que atormenta-lo desse jeito? Como se sentia egoísta.

— Perdão Draco, eu me deixei levar, eu...

— Hermione, não é sua culpa – ele interrompe ela, olhando-a com carinho – Tudo começou com aquela carta que enviei para você. Queria demonstrar que nada que vivemos no passado foi mentira, que foi real para mim. E você foi importante e nunca saiu do meu coração.

Ela sentiu a boca seca.

— E tudo ficou no passado, é isso que você quer me dizer?

Ele nega com a cabeça. Sente-se atordoado.

— Não, por mais que eu tente negar, esse sentimento não está no passado – ele a olha, segurando suas mãos. Estão frias pelo frio, ele envolve as mãos delicadas dela, com carinho. Vê a aliança de casamento no anelar esquerdo e sente uma raiva surda, mas se controla – Tudo que sinto por você está aqui, muito vivo e quero ter uma vida ao seu lado, Hermione. Eu sei que você quer um tempo para pensar ou talvez não queira ter nada comigo...

— Não, Draco...eu estive pensando – ela o interrompe – Eu pensei que não posso mais viver dessa maneira, infeliz. Meu casamento não está melhor, está cada dia pior, na verdade. Rony tem se ausentado tanto...

Os dois se olham e ele fica preocupado. Não sabe se ela irá terminar o casamento por ele ou por não ter o afeto de Rony.

— Hermione, você quer terminar o casamento apenas porque as coisas não estão dando certo? – ele pergunta, cauteloso.

Ela se retesa e reflete sobre o assunto.

— Eu não sei... Draco, sendo bem sincera, eu acho que nunca deveria ter me casado...mas, me senti solitária quando você sumiu da minha vida. Queria recomeçar de novo – ela diz com magoa.

Ele suspira. Sabe que fez as escolhas erradas. Todas suas decisões foram baseadas em suas crenças limitantes. E também quis afastar a pessoa que mais o amava, por medo de magoa-la ainda mais. O Draco de anos atrás não era esse homem maduro, que havia aprendido com a vida. Astoria havia o ensinado a ter uma visão diferente das pessoas, retirando seus preconceitos. Infelizmente, ele nunca soube ama-la como ela merecia e a magoou profundamente. Nos últimos anos de casado, ela manteve distância e ele pediu o divórcio, pois não poderia mais permanecer naquele casamento. Seu coração já pertencia a Hermione e não poderia esquece-la.

— Eu entendo, Hermione. Eu também quis recomeçar de novo e com isso perdi você.

Os dois permanecem em silêncio, contemplando a natureza. Ele ainda segura sua mão, acariciando de leve seu dorso com polegar.

— Eu não vim só para ver como você estava, se quer saber – ele diz, depois de um tempo – Queria dizer que estou investigando quem tirou nossas fotos em Torquay. Até o momento nenhum dos detetives que contratei descobriu. E peço que pense a respeito de pedir a separação, Hermione. Não por mim, mas por você. Desde que a vi, você perdeu seu brilho...não parece a mesma garota que conheci anos atrás.

Hermione assente.

— Preciso pensar, é uma decisão difícil. Meus filhos nunca vão me perdoar – ela diz, em agonia.

— Eu sei o que é isso, Mione – ele diz, com pesar - Scorpius está ressentido comigo, mas não poderia mais magoar Astoria. Seria injusto para todos – ele a fita, com seriedade - Pense a respeito da sua felicidade – ao dizer isso, ele tenta não transparecer seu egoísmo.

É claro que quer Hermione para si, de qualquer forma. Mas, não quer influenciar essa decisão por causa dele. Seria fazer com o relacionamento deles estivesse fadado ao fim, antes de se quer começar.

— Eu juro, vou pensar nisso – ela murmura – Só por favor, não deixe de falar comigo. Quando estamos juntos eu me sinto melhor.

Ele assente e beija a mão dela.