Cuidado com o que você usa como chaveiro escrita por Vanessa Sakata, Marimachan


Capítulo 2
As posses de quem tem o mesmo código genético que o seu também são suas




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— OEEE! VOCÊ GANHOU NO PACHINKO DEPOIS DE TANTOS ANOS PERDENDO AS CALÇAS?!

O albino fardado encarou sua contraparte, que usava seu antigo visual e suspirou. Pensava no quão problemática essa situação estava começando a ficar e no quanto poderia ser trabalhoso lidar principalmente com o Yorozuya e sua personalidade ainda bem explosiva, somada ao potencial absurdo de falar ou fazer qualquer besteira a qualquer momento.

Passou as mãos pela permanente natural prateada irremediavelmente bagunçada e suspirou mais uma vez antes de responder:

— Desde que vim a Aokigahara não jogo mais pachinko.

— Então você é bem diferente do nosso Gin-san. — Shinpachi observou.

O comandante da Shinikayou nada respondeu, enquanto os conduzia por um dos grandes e bem cuidados jardins da propriedade, que faziam com que a brisa fosse ainda mais fresca naquele início de noite de primavera. Obviamente, aquele ambiente enchia os olhos de qualquer um que entrasse, principalmente do trio. Após seguirem a calçada feita de pedras bem assentadas, chegaram ao hall e, antes de entrar, os recém-chegados contemplaram mais uma vez a imponente fachada daquela mansão, como se quisessem guardar na retina o máximo possível daquele universo onde estavam.

Tão logo tiraram os calçados, os quatro entraram em um cômodo bem amplo, o qual reconheceram pelo elegante mobiliário como sendo a sala de estar. O Yorozuya calculou que aquela sala teria, pelo menos, o tamanho da casa onde vivia. Hasegawa poderia ter comprado uma mansão daquelas, mas ele lhe contara que preferira comprar uma menor e guardar o restante do valor no banco.

Dos três, quem tinha uma situação financeira um pouco melhor era Shinpachi, por conta de seu cargo como Comandante da Shinsengumi. Será que o cargo de comandante do outro Gintoki pagava tão bem assim para se adquirir um lugar tão imenso e — a julgar pelo o que vira até então — tão luxuoso como aquele? Era bem estranho, em se tratando de cargos parelhos que ocupavam.

— Bem — o dono daquela mansão interrompeu o fluxo de pensamentos do antigo otaku. — Creio que aqui podemos conversar melhor. Tenho muitas perguntas pra fazer a vocês.

— Não é o único — o faz-tudo disse enquanto se sentava em um dos sofás elegantes e macios. — Também tenho uma pá de perguntas pra te fazer.

— Se eu bem entendi, — Ainda de pé, o comandante iniciou o que seria uma longa troca de perguntas e respostas. — o velhote Gengai criou mais uma das suas tranqueiras malucas e vocês vieram parar aqui. É isso?

— É — o Yorozuya respondeu enquanto fazia sua higiene nasal com o dedo mindinho. — O meu filho foi levar o gerador de portal para o velhote trocar a bateria e ele resolveu incrementar.

— Se foi pra trocar a bateria é porque foi usado antes — constatou unindo as peças. — Pra que diabos esse tal portal foi criado? — questionou com certa indignação contida. — Pra que ele serve?

— Foi a pedido do meu filho, que viajou ao passado pedindo ajuda para me encontrar. Desapareci durante uma guerra dez anos atrás. Ele conseguiu levar à nossa época a Yorozuya Gin-chan original. Não só ajudaram a me encontrar, como a acabar com um ditador que há dez anos estava no poder após derrubar o Shogun. Resumindo, é isso.

O outro Sakata riu com amargo escárnio.

— Nós realmente nunca temos paz, hm? — ironizou a falta de sorte que sempre tiveram na vida, sentando-se em uma das poltronas.

— Quem dera... — Gintoki concordou, a voz com uma ponta de amargor. — Meus últimos vinte anos foram ladeira abaixo... Tirando a parte do Ginmaru.

— Tão ruim assim? — Encarou o outro com curiosidade, considerando que ele até tinha que agradecer bastante por suas últimas décadas.

Os anos antes delas e dos 11 anos que vivera em Aokigahara antes de voltar à Edo sem dúvidas foram tão complicados quanto jamais desejariam que fossem, mas dos últimos 20 anos não tinha o que reclamar realmente.

— Uma completa merda. — Sorriu sem seu peculiar humor, era um sorriso amargo, que tentava disfarçar uma ferida ainda não completamente fechada. — Tenho quase certeza de que tivemos um passado semelhante, você me encarou como se lembrasse de usar este uniforme zunborano. Pois bem, pra começar, a Yorozuya Gin-chan, se você a conheceu e viveu com dois pirralhos irritantes, não existe mais no meu universo. Perdemos a Kagura, morta pelo próprio irmão idiota dela, e eu o matei na minha fúria. Nove meses depois, descubro que fiz um filho sem saber, o Ginmaru. Oito anos depois, fui preso injustamente e eclodiu uma guerra contra um governo golpista. Tive que lutar para que o garoto não fosse atingido como nós fomos. Passei dez anos sob o controle dos amantos que estavam no poder, sem a menor consciência de que estava vestido como Shiroyasha e matando inocentes... Até quase matar meu próprio filho!

O primogênito dos Sakata escutava com atenção as palavras de sua dupla, ao ouvir sobre Kagura, no entanto, sentiu como se seu estômago tivesse desabado por suas entranhas.

— Kagura foi assassinada por Kamui?! — Seus olhos arregalaram-se numa mistura de sentimentos, onde mesclavam-se a imensa surpresa e o crescente desespero ao imaginar algo assim acontecendo com a ruiva de seu universo.

O outro confirmou com um aceno de cabeça e completou a história.

— Kiheitai e Harusame se juntaram para nos intimidar, cercando o prédio e ameaçando colocar tudo abaixo com a desculpa de que atrapalhávamos os planos deles. Disseram que iriam acabar com a gente, incluindo até mesmo a velha. Takasugi não estava junto com eles. Tivemos uma luta feroz, e Zura apareceu na hora certa para nos ajudar... — deu um breve suspiro. — Mas não foi suficiente para evitar a morte dela.

Por alguns segundos o outro albino apenas ficou em silêncio, processando o que havia acabado de ouvir. Só de pensar em algo parecido em seu universo um nó sem precedentes se formava em sua garganta. Olhou sua contraparte mais nova, colocando-se em seu lugar e imaginando exatamente os sentimentos que ele provavelmente sentiu.

— Eu realmente sinto muito — por último finalmente demonstrou seu pesar. — Mas se isso ajuda de alguma forma, nesse universo ela se tornou uma grande mulher. — Sorriu de forma singela. — Inclusive, ela deve estar por aí. — Olhou pra cima, na tentativa de identificar algum sinal de que houvesse outras pessoas em casa. — Ela e Shinpachi continuam com o Yorozuya. Em Edo, mas estão aqui como visitas, junto do resto do pessoal, para o aniversário de uma das minhas filhas — explicou brevemente.

— Bem... Eu e o Ginmaru estamos recomeçando a Yorozuya, porque o cargo de Comandante da Shinsengumi caiu no colo do Quatro-Olhos após o Gorila se aposentar, e... — Interrompeu-se bruscamente ao se lembrar de um detalhe. — Você disse "filhas"?!

O outro segurou uma risada ao enxergar a expressão do chefe do Yorozuya.

— Sim. A mais velha das três estará fazendo aniversário amanhã.

— Três?!! Você tem três filhos?! — A face distorcida dos três era impagável.

— Não. Tenho cinco — completou divertido.

Os olhos do faz-tudo se arregalaram ao mesmo tempo em que sua boca se escancarou numa expressão de choque extremo, semelhante à reação de Shinpachi e de Ginmaru. Aliás, encarou o único filho, como se compartilhassem do mesmo choque que acabavam de tomar.

— QUÊÊÊÊ?! CINCO? QUANTAS MULHERES VOCÊ ENGRAVIDOU SEM SABER?!

Gintoki ergueu uma sobrancelha, ainda com diversão.

— Apenas uma, que eu saiba. — Sorriu com ironia. — Aliás, estou surpreso que tenhamos isso em comum. A diferença pelo visto é que eu só soube sobre Dango 10 anos depois... — refletiu, retomando as lembranças daquela época.

— Bem... — O outro riu com escárnio. — Levei menos tempo pra saber que tinha um filho... Só nove meses. Mas... Você tá casado?

Levantando a mão esquerda, o comandante indicou o dedo anelar, onde a aliança grossa e dourada reluzia.

— Vinte e quatro anos e contando...

— Achou uma mulher que não tenta te matar? Porque eu não consegui e no meu namoro ainda recebo umas kunais na testa de vez em quando.

— Te garanto que kunai é menos pior do que um arsenal completo de armas brancas ou o que estiver ao alcance na hora — comentou com sarcasmo.

O Yorozuya acabava de jurar a si mesmo que nunca mais reclamaria das kunais que receberia de Tsukuyo dali em diante. Estava se divertindo ao descobrir como tudo poderia ser diferente do inferno que vivenciou nos últimos anos, em saber que em algum universo diferente ele poderia ser feliz. Mas isso ainda não era suficiente para responder a outra pergunta que lhe ocorria, e que naquele momento era realmente sua maior dúvida.

— Eu ainda quero entender por que você está neste lugar depois de tudo... Por acaso você bateu com a cabeça?!

Por um minuto, o mais velho parou pra pensar em como responder àquela pergunta. Não era uma resposta tão simples como gostaria que fosse; demandaria tempo e paciência, duas coisas que eram bem escassas em sua vida. Ainda assim, tentaria explicar o seu universo para sua contraparte.

— Muitas coisas aconteceram naquela época... Vocês chegaram a vivenciar a Guerra contra Utsuro?

— Utsuro? — O outro o encarou interrogativo. — Não. Nem faço ideia de quem seja.

O dono da casa suspirou, buscando um modo de começar a explicar toda a imensa história. Mas assim o fez.

Tentando deixar todas as informações o mais claras possível, Gintoki contou aos três sobre a imortalidade e as personalidades de Utsuro e Shouyou, a guerra que o primeiro causou ao tentar destruir o planeta, os dois anos em que esteve fora e toda a confusão que aconteceu para que aquele ciclo se findasse, quando por fim conseguiram derrotar Utsuro de uma vez por todas; mas em contrapartida também perderam muito na batalha, como ao próprio Shouyou, pela segunda vez, e a Takasugi.

Enquanto essas informações eram narradas, o trio ouvia atentamente com sentimentos bastante conflitantes. Ginmaru prestava atenção nas expressões dos mais velhos, em cujos rostos perpassavam vários sentimentos. Mas era seu pai que lhe chamava a atenção, pois sabia da história dele e de seu antigo mestre chamado Yoshida Shouyou. As feições que ele esboçava e o olhar que trazia enquanto escutava tal história eram muito semelhantes àquele que ele carregava sempre que mencionavam seu passado, mas agora mais denso e pesado. Era um misto de surpresa com os eventos, misturada à tristeza de imaginar como eles ocorreram.

E Takasugi... A questão entre eles estava em um ponto em que precisavam resolver o quanto antes, por mais que não quisessem, mas imaginava que saber sobre a morte de um antigo companheiro sem dúvidas não era algo fácil de se lidar.

As informações que vieram em seguida, porém, trouxeram uma imensa surpresa não somente ao seu pai, mas como a ele próprio e a Shinpachi.

— Bem, — Iniciou a conclusão da história. — no fim de tudo eu voltei pro Yorozuya, acreditando que tanto Shouyou quanto Takasugi estivessem mortos. Pouco tempo depois Kasai apareceu em Edo, exigindo que eu voltasse pra Aokigahara para assumir o posto de Comandante Geral da Shinikayou. Eu vim, fui obrigado a me casar, e 11 anos depois voltei a Edo para um casamento de amigos, acabei reencontrando todo o pessoal e descobrindo que não só Shouyou, como Takasugi estavam vivos. E também descobri sobre Dango, minha filha mais velha. — Suspirou. — E cá estamos nós.

— Shouyou está vivo?! — Sua contraparte sentou-se de forma menos relaxada, trazendo imensa surpresa em seus olhos avermelhados. — E Takasugi também voltou?!

— Sim — confirmou também em um aceno com a cabeça. — Os dois voltaram quase que imediatamente depois de terem morrido naquele dia. Mas Shouyou se tornou adulto novamente em poucos meses e procurou o pessoal de Kabukichou. Eu já não estava mais lá, mas ele passou a morar com Otae e Shinpachi, assim como Kagura e Katsura. Pouco tempo depois os dois idiotas que seguiam Takasugi apareceram lá com ele nos braços. Ele voltou à vida, mas estava crescendo como um ser humano normal. Shouyou obviamente o pegou e o criou. Hoje, claro, ele já voltou a ser o emo idiota adulto que era antes. — Recostou-se um pouco melhor no estofado.

— Mesmo assim... ainda não entendi como você voltou pra esse lugar. — Encarou ao seu dual. — Se alguém me procurasse, eu não voltaria a Aokigahara nem que me amarrassem — o faz-tudo comentou. — Sou mais feliz sendo um pobretão em Edo.

O outro, no entanto, sorriu de lado.

― Você voltaria. Porque eu voltei. — Encarou-o uma última vez com um sorriso um tanto pesaroso, mas que ainda assim os outros dois presentes não conseguiram compreender bem.

Antes de terem a chance de os questionarem sobre isso, porém, ouviram o telefone tocar. O anfitrião levantou-se, atendendo ao aparelho; pediu um segundo e encaminhou-se para uma porta próxima ao hall, que eles perceberam ser o escritório do homem.

O trio se entreolhou em silêncio, absorvendo todas as informações que ouviram até então. Perguntavam-se se, por algum acaso, tudo isso ocorresse no universo de onde vieram, como iriam enfrentar tais desafios. Talvez após tomar conhecimento desses eventos — que poderiam ou não acontecer — as coisas ficassem menos difíceis de encarar, mas tudo ainda era bem incerto.

Enquanto quedavam-se pensativos, a porta do escritório se abriu novamente e por ela saiu o Comandante da Shinikayou com certa pressa. Ele se dirigiu aos três homens para se justificar.

— Vou precisar ir ao Castelo, mas já avisei aos funcionários sobre vocês. Podem ficar à vontade até eu voltar.

Os três assentiram e o dono da mansão saiu ainda meio apressado. Shinpachi sabia como eram essas coisas, muitas vezes precisava interromper algumas tarefas para atender demandas mais urgentes. Permaneceram sentados por mais alguns instantes, até que Ginmaru se levantou.

— O que acham da gente conhecer o lugar? — sugeriu. — Provavelmente ele vai demorar e ficar sem fazer nada é entediante... Além disso, ele também disse que poderíamos ficar à vontade.

— Não deve ser nada de mais conhecer os cômodos. — Shinpachi concordou. — E eu estou bem curioso para saber o tamanho deste lugar. O que você acha, Gin-san?

— Eu já tô bem à vontade aqui — Gintoki respondeu enquanto se deitava no sofá maior de forma folgada, após apoiar nele sua bokutou.

O homem de óculos encarou o Yorozuya com um olhar incrédulo:

— Gin-san...

— Que é? — Ele se levantou e sentou, enquanto ajeitava o yukata branco. — Não ouviu o que meu outro eu disse? Ele disse pra gente ficar à vontade, e eu estou à vontade.

— Não acho que visitas possam se comportar assim, pai. — Ginmaru também lhe lançava um olhar cético.

— Bobagem, Ginmaru... Eu e ele somos a mesma pessoa, então a casa também pode ser minha.

O faz-tudo decidiu acompanhá-los e os três então começaram o tour pela mansão. Ainda na sala de estar, viram a decoração mais de perto, além de alguns quadros e gravuras tradicionais japonesas, bem como outros adereços que misturavam a modernidade ocidental e a tradição nipônica.

Olhavam tudo com curiosidade e atenção. O cômodo era dividido em dois ambientes, onde o mais próximo do hall e das grandes janelas possuía apenas os sofás e poltronas, com alguns móveis de decoração, e o segundo, mais próximo da porta que levava à sala de jantar, possuía à direita sofás confortáveis, de frente para a imensa TV. Na parede em que a porta se encontrava, havia também uma lareira, sobre a qual o quadro de uma bela mulher de cabelos claros sorria. Shinpachi e Ginmaru se aproximaram para observar melhor a gravura, admirados não só com a beleza, mas também com o sorriso encantador que a moça carregava.

— Quem será que é? — Ginmaru questionou curioso.

— Não a vi em nenhuma das fotos q encontramos até agora. — Shinpachi também indagava-se.

Ambos então viraram-se para perguntar ao líder da Yorozuya se conhecia, já que não fizera nenhum comentário sobre. Perceberam, porém, que esse não viria de qualquer maneira, pois Gintoki parecia ter entrado em outro mundo que não era aquele.

Em silêncio, o albino encarava o quadro com uma expressão que eles não conseguiram definir o que significava. Ele parecia surpreso, mas também carregava algo além, que não conseguiram identificar o que era. A única coisa que podiam dizer, com certeza, é que ele conhecia aquela mulher.

— Pai...? — Ginmaru tentou trazê-lo de volta à realidade. — Pai — chamou com mais energia, fazendo-o finalmente responder ao chamado.

— Vamos continuar a conhecer minha casa! — No mesmo instante em que percebera que deixara transparecer algo que não queria, porém, o mais velho mudou o foco do momento, já caminhando em direção ao próximo cômodo.

Shinpachi e Ginmaru entreolharam-se, mas preferiram deixar aquela conversa pra outro momento. Até porque, conhecendo Sakata Gintoki como conheciam, ele não falaria sobre o assunto de qualquer maneira. Dessa forma, voltaram a acompanhar o samurai.

Ao saírem da sala de estar, passaram pela sala de jantar, a qual também era ampla e tinha uma longa mesa de carvalho com tampo de vidro e pelo menos 12 cadeiras estofadas, que comportariam uma família grande como a do anfitrião em um banquete. Em seguida, tiveram acesso à cozinha moderna, com uma ilha na qual ficava o fogão e o forno e, sobre ambos, uma coifa com depurador. Os balcões e armários eram bem organizados, assim como outros utensílios. Aquela cozinha simplesmente seria um lugar onde qualquer um sonharia em fazer até mesmo um simples omelete, desde um cozinheiro amador até um renomado chef.

Entretanto, Gintoki não demorou a mudar seu foco para a enorme geladeira duplex, a qual abriu sem fazer a menor cerimônia, enfiando a cara para ver seu conteúdo. Estava abarrotada de diversos tipos de alimentos, frutas, verduras, legumes, carnes e, em um canto estratégico quase escondido, encontrou três caixas de leite de morango. Tirou uma, revelando que por trás delas estava escondida uma deliciosa torta confeitada. Julgou que para o momento o leite de morango já bastaria e fechou a geladeira sob os olhares de reprovação do comandante da Shinsengumi e de Ginmaru.

— Ei, ei — ele disse enquanto abria a caixinha. — Preciso repor meu teor de açúcar, tá legal? Vamos seguir nosso tour pela mansão, preciso saber mais sobre meu outro eu rico!

Shinpachi e Ginmaru deram de ombros e seguiram o Yorozuya. Agora não restava nenhuma dúvida de que ele era um folgado incorrigível.

Seguindo a exploração da mansão, os três passaram pela despensa abarrotada de boa comida e, à esquerda deles, entraram em um corredor. Viram o banheiro social e mais dois quartos de um lado e, do outro, acessaram mais um corredor. Em uma das entradas, viram um dojo, no qual cada um teve despertadas suas próprias lembranças em ambiente semelhante. Gintoki se recordava de sua infância na Shouka Sonjuku, Shinpachi se lembrava do Dojo Koudoukan e do quanto lutara para que ele honrasse o nome dos Shimura com a ajuda de Kondo, e Ginmaru se recordava do aprendizado que tivera com o homem de óculos e seu cunhado, os quais foram grandes senseis.

Passaram por um local que, ao que tudo indicava, era um ateliê bem organizado e limpo, com um cavalete no meio do ambiente dando suporte a uma tela de pintura. Saindo da outra porta do lugar, encontraram o corredor que continha o escritório do comandante da Shinikayou e levava de volta à sala de estar. Antes de voltarem ao cômodo em que iniciaram, porém, abriram a porta do escritório, no qual viram estantes com livros, a escrivaninha bem organizada com uma pilha de documentos de um lado, e, de outro, tinta nanquim e pincel, além da cadeira bem estofada onde já estava Gintoki, refestelado naquele confortável móvel, apoiando relaxadamente seus pés na escrivaninha como costumava fazer desde sempre na Yorozuya.

— Se eu quiser, dá até pra tirar um bom cochilo aqui — ele disse enquanto tomava o último gole de leite de morango e deixava a caixinha sobre a mesa, já guardando na memória a mesinha mais ao canto onde havia duas garrafas do que parecia ser Whisky envelhecido.

O Sakata mais jovem meneava a cabeça enquanto o Shimura dava um facepalm.

Após fazerem o tour completo pelo primeiro andar da mansão, o trio subiu as escadas, com intenção de conhecerem também a parte de cima. Logo descobriram que naquele andar tinham apenas quartos e um banheiro social. Eram 8 cômodos, espalhados por três longos corredores. Abrindo a porta de um a um — Shinpachi e Ginmaru um tanto hesitantes por estarem invadindo a privacidade dos moradores de tal maneira e Gintoki pouco se importando com aquele detalhe —, viram que todos os quartos eram na verdade suítes. Apenas dois deles, um de frente para o banheiro social e o outro sendo o primeiro quarto do segundo piso à direita, que não se encaixava nessa classificação, no entanto, não deixava de serem cômodos espaçosos e bem arrumados.

Em dois daqueles quartos perceberam terem malas sobre as camas. Supuseram que era ali que os visitantes de Edo estavam hospedados. Os outros cômodos eram todos decorados à sua maneira, provavelmente sendo os quartos dos filhos do Gintoki que ali vivia.

Ao chegarem na porta do fim do corredor, identificaram aquela como a suíte do patriarca e sua esposa. O quarto era imenso, tendo duas cômodas de Madeira antiga, uma em cada lado da porta, repleta de bibelôs e fotos da família. A cama de casal parecia ser king e ficava à esquerda da entrada, com a cabeceira acolchoada encostada à outra parede, na qual tinha uma segunda porta, que Gintoki descobriu ser o closet onde o casal guardava suas roupas, sapatos e acessórios. Ele observou as vestes bem organizadas pelas divisões e cabideiros do cômodo — que aliás era quase do tamanho de seu quarto em Edo —, e enxergou as fardas bem passadas de sua contraparte. Fez também questão de tocar nos kimonos que seu outro eu provavelmente usava quando não estava trabalhando e nas vestes femininas que se encontravam por ali, não se surpreendendo com a qualidade do tecido.

— Oe, Ginmaru — chamou o filho que tentava convencê-lo a sair dali, junto de Shinpachi. — O dia que voltarmos pra casa, me lembra de pegar uns três desses. Já vai nos garantir uns dois meses de comida — comentou com seu tom entediado característico, mas finalmente deixando o lugar e voltando para o quarto.

Observaram um pouco mais o cômodo. À direita da entrada, na outra metade do quarto, tinham duas poltronas confortáveis, com uma mesinha de centro sobre o tapete decorativo. A porta da sacada estava fechada e coberta pelas grossas cortinas em tom de vinho, e ficava ao lado da porta que levava até o banheiro. Caminharam até a última parte do quarto, admirando-se com o lugar. À esquerda havia um box com o chuveiro e também a pia bem decorada. Mas sem dúvidas, aquilo que mais chamava a atenção dos três era a banheira consideravelmente grande e confortável que havia à direita da entrada.

— Imagina ficar numa banheira dessas depois de um dia estressante... — Shinpachi comentou enquanto observava a banheira terminando de encher automaticamente. — Dá pra sair dela novinho em folha!

— Isso deve ser relaxante mesmo! — Ginmaru concordou. — Vendo uma dessas já virou meu sonho de consumo.

— O meu também, e... O QUE É QUE VOCÊ TÁ FAZENDO, GIN-SAN?!

Gintoki já havia tirado a roupa e pendurado em um dos ganchos na parede do banheiro, e estava prestes a tirar sua cueca samba-canção com estampa de morangos. Encarou o ex-otaku com aquele habitual olhar de peixe morto e ar de desentendido.

— O que acha? Vou aproveitar e relaxar nessa banheira! Só se vive uma vez!

— Tá maluco, pai?! — o albino mais jovem também perdeu a calma. — Nós somos apenas visitas, não é pra levar tão a sério essa história de ficar à vontade!

— Eu já disse que ele e eu somos a mesma pessoa, então não tem problema. Vocês deveriam relaxar um pouco também.

Duplo facepalm.

Era inútil contra-argumentar com o Yorozuya, então os outros dois decidiram apenas sair e voltar ao andar de baixo, enquanto o mais velho tirava a cueca e mergulhava na banheira cheia de espuma, já se sentindo relaxado só de entrar.

― Cara, isso é bom demais...!

A água morna e os sais de banho eram, de fato, relaxantes ao ponto de fazê-lo adormecer até babar. E isso inevitavelmente aconteceu por uns bons 30 minutos. Quando acordou, um tanto atordoado e levando alguns instantes para se lembrar de onde estava, ele nada fez além de se espreguiçar e aproveitar por mais uns cinco minutos a temperatura e o odor agradável. Algo, porém, o tirou do transe de relaxamento, quando ouviu o barulho de alguém chegando ao quarto no qual estava. Decidiu que já era hora de sair, e fazia isso como se não tivesse feito nada demais. Afinal de contas, tomara posse da casa como se fosse realmente sua. O que, tecnicamente, não era de todo errado.

Após pegar uma das macias tolhas enroladas no balcão de mármore próximo à banheira, prendeu-a em volta da cintura e pegou uma segunda para enxugar os cabelos, enquanto já saía do banheiro, de volta ao quarto de casal.

— Oe, eu tenho uma pergunta pra te fazer... — iniciou a fala, mas no mesmo momento em que descobriu os olhos que antes estavam tapados pela toalha, travou no mesmo lugar, com a luzinha vermelha piscando em sua cabeça.

Aquilo definitivamente não estava em seus planos!


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