Cuidado com o que você usa como chaveiro escrita por Vanessa Sakata, Marimachan


Capítulo 3
Esposas não podem ser divididas, mesmo que seja com você mesmo




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Abandonando uma bolsa sobre a cômoda à esquerda da entrada, estava uma bela mulher trajada com um Kimono de seda escuro. Os longos cabelos negros caíam em cascata sobre o tecido, com um pequeno coque prendendo a menor parte dele no alto da cabeça; os pequenos brincos em suas orelhas combinavam com os olhos verdes esmeraldas. Ela virou-se sorrindo-lhe, e para seu desespero aproximou-se cumprimentando-o.

— Boa noite pra você também, Comandante — cumprimentou brincando, abandonando um rápido selinho nos lábios masculinos sem qualquer hesitação.

Gintoki nada respondeu. Na verdade nem reagiu.

Ao ouvir o barulho de alguém chegando, pensara que fosse sua contraparte, mas não contava com o fato de que era a mulher dele. Sabia disso pelas fotos que vira durante aquele tour pela mansão, uma delas era justamente a foto do casório, na qual estavam ambos com os trajes tradicionais. E, óbvio, também pela aliança no dedo anelar da mão esquerda da matriarca.

Ele recebera um selinho de outra mulher, mas não parava de pensar que, se Tsukuyo soubesse, ele poderia ser um homem morto. A relação entre eles começara recentemente, então não sabia muito bem o grau de ciúme que a kunoichi poderia ter, mas não duvidava que corria o sério risco de, no mínimo, apanhar.

Isso era ruim... Muito ruim!

— Algum problema, Gintoki? — a mulher indagou, percebendo que ele estava sem qualquer reação. — Se sente mal?

— Não, eu tô ótimo... — respondeu mentalmente. — Só ‘tô pensando em como te explicar que eu não sou seu marido, sem correr o risco de morrer!

— Você está pálido — a mulher observou com preocupação, já levando a mão direita até a testa do homem. — Tem certeza de que está bem?

— Estou ótimo! — respondeu sorrindo nervoso, afastando a mão feminina. — Mas é melhor mantermos, hmm... Uma distância maior. ­— Afastou-a segurando-a pelos ombros.

Do que diabos está falando, Gintoki? — questionou-o confusa e agora começando a se irritar. — Aliás... — Ignorando a tentativa do homem de se manter afastado, a morena aproximou-se novamente, mas agora olhando de maneira mais atenta o rosto de quem ela acreditava ser seu marido. Apertou os olhos. — Gintoki! Não me diga que está inventando de encher sua cara de botox?

— Eeh?? — Se antes o homem estava sem reação, agora ela era exagerada além da conta. — Por que diabos eu encheria minha cara com merda de bactéria?!

— Eu deveria imaginar.

A mulher iria responder à altura, mas antes disso a voz à porta interrompeu a “discussão”. No instante em que ouviu a voz conhecida, virou-se para encarar seu marido, que acabava de chegar do Castelo e observava a cena com conformação. Seus olhos se arregalaram e passaram a revezar-se entre os dois Gintokis que enxergava.

— O que diabos está acontecendo aqui?! — Ela continuava a revezar seu olhar entre um e outro. — Gintoki, por acaso é algum irmão perdido seu e não estou sabendo?!

— Olha, Sakata-san... — o faz-tudo atalhou meio sem jeito. ­— Na verdade, eu e ele somos a mesma pessoa...

Várias interrogações surgiram na cabeça da mulher, tentando encontrar alguma lógica na afirmação daquele sujeito tão semelhante ao marido. Seu cérebro trabalhou a mil por alguns segundos até chegar a uma conclusão.

— Gintoki... Você está se clonando?!

— É claro que não! — o mais velho negou, berrando pelo absurdo. — De onde você tirou essa conclusão, mulher?! Não estamos num filme futurístico de ficção científica!!

— O que você quer que eu pense com uma afirmação dessas?! — berrou de volta, no mesmo tom do marido. Logo, porém, sua expressão mudou, passando a carregar um olhar mortífero que arrepiou a alma do comandante. — Gintoki, é melhor me explicar o que está acontecendo aqui! Antes que eu decida fazer você e qualquer cópia sua deixar de existir nesse mundo!

O albino mais jovem também sentiu um arrepio percorrer seu corpo e sua espinha, e não era de frio por estar apenas embrulhado com uma toalha de banho. Aquele olhar assassino que também lhe fora dirigido parecia uma mistura do olhar mortal de Tae com a encarada furiosa de Tsukuyo.

Das duas, uma: ou ele levaria uns sopapos, ou iria ter algo cravado na testa.

Ah, merda! — pensou enquanto tentava imaginar uma maneira de se safar daquela situação. — Eu não deveria ter cochilado tanto naquela banheira...!

(...)

Enquanto Mayah subira à suíte, os demais que voltavam do passeio ficaram na sala de estar mesmo, descansando e conversando entre si. Ali presentes estavam Rose, já idosa, os dois yorozuya, Shouyou, Katsura, Tsukuyo, Kondou e Okita. Hijikata estava nos jardins, provavelmente fumando, e os jovens da grande família — de sangue e de consideração — ainda estavam na rua. Shinpachi e Kagura estavam conversando com o professor e seu discípulo, quando dois indivíduos passaram correndo assim que uma confusão começou a ser ouvida no segundo pavimento.

— Shinpachi — Kagura indagou ao companheiro de Yorozuya. — Impressão minha ou vi outro par de óculos passando por aqui?

— Bem... — o antigo otaku piscou tentando entender o que também havia visto. — Também vi alguém de cabelo prateado.

— Será que Gintoki está se clonando? — Katsura coçou o queixo pensativo. — Aquele sujeito parece ele na época da Guerra Joui.

— Seja o que for — Kondou olhou para a direção da escada que dava acesso ao andar de cima. — Acho que é bom averiguar.

Liderado pelo comandante do Shinsengumi, o grupo vindo de Edo, subiu para o pavimento superior, ouvindo a discussão entre Gintoki e Mayah. Chegaram até a porta da suíte, onde estavam os dois indivíduos que haviam visto de relance passando pela sala de estar. Um deles tinha altura mediana, envergava a farda preta da força policial de Edo, tinha cabelos negros lisos, olhos castanhos e usava óculos de grau... Tal como Shinpachi, que tentava entender o que estava fazendo ali uma réplica mais jovem de si, vestido naquele uniforme. Entretanto, o outro era quem mais chamava a atenção: levemente mais baixo que Katsura, usava camiseta regata preta, calças tipo cargo brancas, tênis pretos e permanente natural prateada, além de olhos na coloração vermelha, num tom próximo ao vinho...

... Tal como Gintoki que, aliás, estava claramente tentando dar um fim àquela confusão e salvar a própria pele, incluindo também a de sua contraparte de outra dimensão.

— Gin-san — os dois Shinpachis perguntaram ao mesmo tempo e se encararam ainda mais confusos. — O que está acontecendo aqui?!

Se antes Gintoki já acreditava estar ferrado, agora ele não tinha mais dúvidas.

Assim que Ginmaru e Shinpachi apareceram, uma expressão chocada surgiu na face de sua esposa e logo em seguida foi deformando-se até chegar a expressão que agora ele encarava com o suor escorrendo pela face abundantemente.

— Mayah... — chamou cuidadoso, dando alguns passos para trás.

— Sakata Gintoki... — O sorriso sinistro e retorcido que ela trazia nos lábios combinava perfeitamente com as veias que pulsavam em sua testa. — Por que tem um garoto idêntico a você na porta do nosso quarto?

— Oe, Oe... espera aí — tornou a pedir nervoso, dando mais alguns passos para trás enquanto ela caminhava perigosamente em direção a ele. — Não é o que você está pensando...

— Como não é o que eu estou pensando, seu vagabundo de permanente?! — gritou mais uma vez, avançando contra ele, quase o derrubando no chão. — Eu vou te castrar de uma maneira que você nunca mais conseguirá sequer olhar pra suas bolas!! — ameaçou ao mesmo tempo em que já pegava a espada do próprio comandante, que antes estava embainhada na cintura masculina.

— OEE! AONDE ESTÁ O AMOR?! — berrou enquanto tentava se defender da lâmina afiada com a outra espada que carregava consigo. — ELE NÃO É MEU FILHO, SUA LOUCA DESVAIRADA!

— ESSE GAROTO É A SUA CARA, GINTOKI!!

— PORQUE ELE É MEU FILHO, MAS NÃO É!

— ISSO NÃO FAZ O MENOR SENTIDO!!

— EU SEI QUE NÃO!! ALGUÉM ME SALVE!! COLOQUEM UMA CAMISA DE FORÇA NESSA MULHER!

— Hai, hai. Acho que podemos todos acalmar nossos ânimos. — A voz suave finalmente apareceu em meio ao caos, vinda de Shouyou, que se aproximava do casal sorrindo. — Tenho certeza de que Gintoki tem uma ótima explicação pra isso, Mayah-san. Senão eu mesmo irei terminar o serviço. — Fechou os olhos, ainda sorrindo.

— OE, EU PEDI AJUDA E NÃO UM ASSASSINO PROFISSIONAL.

Enquanto a DR acontecia entre o Comandante da Shinikayou e sua esposa, os olhos rubros de Gintoki observavam, arregalados, o homem que aparecera para pacificar as coisas. Imediatamente sua memória regrediu cerca de quarenta anos no tempo, para a primeira vez em que vira aquele homem com longos cabelos castanho-claros e sorriso gentil. Depois, sua mente o transportou para alguns anos adiante, mais precisamente para o momento em que ele era preso pelo Tendoshuu. E, por fim, suas lembranças o levaram até aquele dia em que, aos dezessete anos, o reencontrava, mas naquele momento sendo obrigado a ser seu carrasco.

E agora... Mesmo que em outra dimensão, estava diante dele... Não sabia o que sentir ao certo, se estava feliz em ver seu mestre com vida, ou se queria chorar com a culpa que carregava em suas costas há trinta anos.

Seus pensamentos, contudo, foram interrompidos pela voz de Ginmaru, que tentava explicar a situação com cautela.

— Senhora... Está acontecendo aqui um mal-entendido. Eu sou filho não do seu marido, mas do cara de toalha. — Apontou para o chefe Yorozuya. — Meu pai, Shinpachi-sensei e eu viemos de outra dimensão, graças a um gerador de portais, que nos transportou por acidente para cá. A propósito, sou Sakata Ginmaru — o garoto finalizou, fazendo uma mesura.

Por alguns segundos, tudo o que se podia ver nos rostos do grupo presente era um perplexidade tão absurda, que podia-se jurar que havia um ícone de loading sobre suas cabeças. O silêncio momentâneo só fui interrompido pela voz de Shouyou mais uma vez.

— Essa é uma história a qual com certeza quero ouvir — comentou sorrindo divertido, observando Mayah finalmente afastar a lâmina do esposo e esse respirar aliviado.

(...)

— Então... Foi assim que tudo aconteceu. — Shinpachi terminava de contar, de forma resumida, tudo o que ocorrera em sua dimensão de origem.

Após os ânimos se acalmarem, todos estavam reunidos na sala de estar e após ouvirem o relato de Shinpachi, com algumas partes pontuadas por Ginmaru, houve um breve período de silêncio. Mayah e os demais estavam assimilando o quanto aquela outra dimensão era diferente daquela em que viviam. Seus olhos pousaram brevemente na contraparte de seu marido, percebendo que, embora fosse mais jovem, realmente parecia carregar um fardo bastante pesado em suas costas... Tal como seu Gintoki já carregara.

Por falar em Gintoki, o mais velho o observava mais detidamente. Ele realmente não era muito diferente de si, apesar de ainda ser o sujeito largado que já fora até anos atrás. Bastava olhar para aqueles olhos rubros para perceber que, de fato, ele ainda possuía muitas feridas não cicatrizadas por viver em uma dimensão onde sua vida se tornou um inferno nas duas últimas décadas. Percebeu também como o olhar dele recaía ora em Kagura, ora em Shouyou, cujas perdas ainda não superara mesmo com o passar dos anos.

O faz-tudo percebeu que estava sendo observado e seu olhar se encontrou com o do Comandante da Shinikayou. Era um olhar que aparentava compreensão. Óbvio que o compreendia. Eles eram a mesma pessoa, afinal.

Seus olhos pousaram sobre Kagura. A ruiva realmente se tornara uma bela mulher, mantendo ainda várias características das quais se recordava. Ela ainda lembrava muito a pirralha de sua dimensão, a qual não fora capaz de proteger. Em seguida, seus olhos se focaram em Shouyou. Por mais que dissesse a si mesmo que estava cumprindo o que lhe prometera, a dor da perda permanecia. Não queria ter precisado escolher entre Katsura e Takasugi ou seu sensei.

Por trinta anos, a dor da perda o consumia de tal forma que se sentia culpado por ter sido incapaz de evitar que acontecesse o que aconteceu. Dezoito anos atrás, essa dor duplicava pela mesma razão.

Respirou fundo enquanto o Shinpachi de sua dimensão explicava aos demais como exatamente se tornara Comandante do Shinsengumi e tentava esquecer aquela dor que insistia em dominá-lo. Aquele era um fardo somente seu e cabia somente a ele, Sakata Gintoki, carregá-lo em suas costas. Os outros não precisavam saber e não precisavam se preocupar com ele.

Enquanto tentava prestar atenção no que o par de óculos fardado dizia, seus olhos se encontraram com outro par de olhos bem conhecido. Encontrara os olhos violetas de Tsukuyo, a qual pouco diferia da Cortesã da Morte com quem começara a manter um relacionamento. Seus cabelos loiros eram mais curtos, num elegante corte meio Chanel, mas o restante pouco ou nada mudara, mesmo sendo ligeiramente mais velha.

Pelo jeito, em qualquer dimensão ela continuaria bonita.

Mayah, de seu canto, percebeu a rápida troca de olhares entre os dois e principalmente o momento em que Tsukuyo virava o rosto rapidamente, tentando disfarçar o rubor de seu rosto. Um fato interessante que fora mencionado era que aquele Gintoki estava namorando justamente a loira no universo de onde viera. Pensar nisso fez com que seus lábios se curvassem num sorriso maroto, de alguém que queria brincar de ser Cupido.

Isso seria interessante. Realmente muito interessante.


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