Corte de Estrelas e Tormento escrita por Black Sweet Heart


Capítulo 8
Capítulo Sete


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Amarantha ficou distraída demais pra atormentar Rhaella depois do terrível juramento de lealdade.

Isso não quer dizer que as torturas e mortes cessaram. Diariamente um corpo era pendurado no alto da parede de entrada. O sangue que escorria dos corpos sempre estava fresco, trazendo aquele cheiro nauseante no ambiente. Rhaella mal conseguia suportar ficar ali. Para evitar chamar atenção da rainha cruel daquele reino de podridão, Rhaella limitava seus dias em seus aposentos. Trancada de novo, porém por escolha própria, contava com os livros que

Rhysand conseguia entregar a ela. E apesar de amar a leitura sentia que aos poucos estava ficando mais louca.

Ficar trancada naquele lugar era também um modo de tortura.

O único momento que trazia um pouco de tranquilidade era suas conversas com Rhysand.

E enquanto Rhaella terminava sua longa lista de feéricos em uma tarde, Rhysand falava sobre os acontecimentos recentes.

—É o que acontece com feéricos jovenzinhos que não entendem seu lugar –Rhys comentou.

Rhysand se referia a nova tortura daquela semana. Lucien, o emissário da Corte Primaveril, teve seu olho arrancado por Amarantha na frente de todos.

—Eu achei que ele foi corajoso –Rhaella respondeu.

O corajoso que perdeu o olho. Daria uma bela balada.

Rhys não aprovava quem desafiava Amarantha abertamente. Era inútil, ele dizia, e só garantia uma boa surra pelas garras de Attor ou duas semanas nas selas profundas de Sob a Montanha.

Rhys e Rhaella formaram uma aliança solida depois da promessa que marcou a pele da menina. Rhaella no começo não conseguia confiar que o primo gostasse de passar tempo com ela. Jantavam juntos na maioria das noites, e depois jogavam xadrez ou damas no quarto de Rhaella.

Por alguma razão Rhys nunca levou Rhaella até seu quarto. A menina questionou o que o Grão-Senhor guardava as gêmeas, Nuala e Cerridwen, mas ambas confirmaram que não tinha nada de especial, apenas um quarto um pouco mais espaçoso que o dela.

Isso fez Rhaella notar que Rhys mal falava com ela quando Amarantha estava perto, até mesmo a ignorava. Trouxe então a tona que Rhys não queria alimentar qualquer boato sobre os dois. Não queria dar a Amarantha motivos para achar que tinham uma relação diferente da de primos. Também trouxe conhecimento de Rhaella que Amarantha queria apenas uma brecha para machucar Rhaella de novo.

Rhaella não costumava participar dos bailes, nem do que acontecia depois. Apesar de ser convidada, não era forçada a sair do quarto e acomodou-se dentro do cômodo assim como fez em grande parte da sua vida na Cidade Escada.

A licença já não era concedida a Rhys, e o Grão-Senhor tinha participação garantida nos eventos de Amarantha, nas reuniões após estes eventos e a noite inteira também...

Rhys nunca explicou qual era sua relação com Amarantha. Rhaella também não queria perguntar.

Diziam que eram amantes, aliados, que Rhys foi quem deu a ideia para Amarantha tomar o controle de Prythian, que os dois se casariam logo e o Grão-Feérico mais poderoso sairia daquela união. Rhaella ignorava todas as fofocas, mesmo quando cuspiam aquelas maldades na cara dela. Por isso passou a evitar totalmente o convívio com outros feéricos naquele lugar maldito.

Rhys não era nada do que diziam. Ou pelo menos era isso que Rhaella queria se fazer acreditar.

O primo era o amigo mais próximo que tinha ali. Tinha as gêmeas espectros, mas Nuala e Cerridwen viviam ocupada com seus afazeres, tanto que demoravam dias para poder passar algum tempo com Rhaella.

Rhys cuidava pra que nunca se sentisse sozinha. Nunca se perdesse na desesperança.

E Rhaella lamentava que naquela noite ele tivesse que partir pra Corte Noturna.

Ele partiria já na hora do Crepúsculo, pois não adiantaria partir cedo para a Corte Noturna, já que a maioria dos membros dormiam durante o dia para aproveitarem a noite sublime.

Era só Rhaella tinha aulas durante o dia, e a noite dormia, já que o pai raramente a deixava participar de bailes.

Em Sob a montanha tentou aplicar a mesma rotina que tinha em casa, pra não enlouquecer nos momentos de tedio que vivia ali. Decidiu então relatar sobre as famílias dos Grão-Senhores e seus decentes. A mãe sempre lhe disse a importância de conhecer os membros da Corte, e assim entender a dinâmica, as peças-chaves e quem teria que tornar seu amigo, assim como quem podia encarar como inimigo.

Se na Corte Noturna isso já era incrível, ali era o centro do conhecimento. Uma Corte para todas as Cortes.

Agora tinha a chance de observar de perto, enquanto Nuala e Cerridwen ajudava com quem Rhaella não conhecia o nome. Terminou todos os membros da Corte Noturna naquele tempo que ficou ali, pois eram os mais fáceis dela lembrar, e agora escrevia sobre os membros da Estival.

Era um bom passatempo, no entanto não o suficiente para sentir-se feliz. Queria ir embora. Queria tanto ir embora.

—Rhysand –chamou Rhaella sem desviar a atenção do livro. –Por que Amarantha deixou Tamlin partir tão rapidamente?

Após o controle sobre todos os líderes de Prythian, e designar uma longa listas de leis durante seu reinado, Amarantha afrouxou as rédeas pouco a pouco. O primeiro a ser liberado pra voltar para casa foi Beron. Des do início ele pareceu satisfeito em seguir cada palavra que Amarantha proferia. Na verdade, ele quase parecia orgulhoso. Rhaella suspeitou que se Amarantha não tivesse arrancado seus poderes Beron teria se declarado aliado da fêmea, já que compartilhavam dos ideais sobre escravidão e supremacia da raça Grã-Feérica. Seu orgulho por estar mais fraco era o que impedia o Grão-Senhor da Outonal ser tão leal a Amarantha quanto Attor.

Mas Amarantha valorizou a empatia de Beron por sua causa e permitiu que Beron retornasse a sua casa, junto de sua esposa e filhos mais novos. Eris, o mais velho e mais forte -também nomeado herdeiro da Outonal -foi forçado a ficar pra representar sua corte em Sob a Montanha.

Logo após foi a vez da Primaveril. Tão silenciosa que Rhaella percebeu três dias depois que todos os membros da Primaveril partiram. Ninguém ficou pra representar sua corte, nada tinha sido dito sobre a Primaveril até o momento que Lucien participou de uma audiência com Amarantha e a ofendeu. Depois ela arrancou o olho dele pessoalmente. Ainda sim Tamlin não era tão a favor de Amarantha como Beron e ele recebeu liberação pra partir.

Rhaella não entendia dos conflitos internos que aconteciam entre os Grão-Senhores e Amarantha. Pra ser sincera nem queria saber. Mas por um momento desejou fazer parte da Primaveril, só pra ter ido com eles e se ver livre daquele inferno.

—Tamlin e Amarantha são conhecidos de longa data –Rhys explicou. –Ela considera os sentimentos do Grão-Senhor Primaveril importantes demais para menosprezá-los.

—Então ela claramente tem um favorito –Rhaella virou-se para encarar o primo. Viu ali uma oportunidade de provocar Rhys, já que nunca viu Amarantha se importar com os sentimentos de ninguém ali, nem mesmo com o dele. –Uma pena pra você, Rhys.

—Percebe-se que ela tem mal gosto, já que escolheu esta montanha medonha pra fincar seu reino –Rhys olhou ao redor, julgando a decoração.

Rhaella não pensava em reclamar. Sabia bem que podia ser pior, pois Amarantha se empolgava em realizar situações inimagináveis a quem lhe criticava.

—Que Attor não te escute –Rhaella brincou, mesmo sabendo que a ameaça era seria.

Attor punia qualquer um que ofendesse Amarantha, sob as ordens dela ou não. O capacho tinha liberdade total pra punir qualquer membro da corte de sua Rainha. Nos corredores Rhaella ficava em constante alerta sobre quais palavras usar, principalmente tratando da maldita que prendeu todos ali.

Porém no quarto dela parecia ser um campo neutro. Ninguém se atreveria a entrar sem ser convidado, Rhys impôs esta regra, e se alguém fosse tolo suficiente pra isso... Rhaella não queria imaginar.

—Attor nem pensa em me enfrentar – Rhys gabou-se – Sua rainha gosta de tudo em mim. O suficiente pra castigar até seu lacaio favorito se ele cogitar em me estragar.

Algo no tom de voz do primo alertou Rhaella. Ele não estava se gabando, não se sentia especial por ter a atenção de Amarantha.

Mas ela não tinha coragem de aprofundar do assunto. Não queria saber o que ele sentia de Amarantha pois tinha medo...

Pois temia que se descobrisse a verdade mudaria o afeto que sentia por Rhysand.

Por Rhys, seu primo e único que se importava com ela naquele lugar. Descobriu naquele tempo que apesar da imagem imponente e distante que Rhys apresentava pro mundo, Rhys era uma ótima companhia. O primo era engraçado, atencioso, talvez o macho mais gentil que ela já conheceu na vida.

Talvez fosse a carência de uma vida inteira sem amigos, ou o desespero de estar presa e a necessidade de proteção, mas não podia perder Rhys. Simplesmente não podia.

Por isso decidiu voltar ao seu caderno e continuar com sua tarefa. Se Rhys sentia ciúmes de Amarantha por ela preferir Tamlin, que guardasse a informação com ele.

—Em qual Corte está agora? –Rhys colocou sua mão no ombro dela e espiou o livro da prima.

—Estival.

—Que letra perfeita, claramente dedicou muito tempo pra chegar a este nível.

—Esse é seu modo sutil de dizer que eu não fazia nada – Rhaella apertou os olhos na direção dele.

—Realmente não queria ser sutil –Rhys deu um sorriso torto.

Rhaella revirou os olhos. E então lembrou-se da pergunta que devia fazer a Rhys.

—Descobriu por que meu pai ficou tão ansioso pra vir pra cá?

—Eu daria grande parte das minhas joias para quem me contasse todos os planos malignos do seu pai –Rhys se afastou dela pra ir até o espelho de dois metros que Rhaella tinha no quarto. –Mas infelizmente você era a única pessoa decente que ele tinha a sua volta.

—Talvez seja por isso que ele me descartou –Ela suspirou melancolicamente. Se voltou ao Rhys esperando encontrar seu olhar de compreensão, mas o encontrou focado demais em alinhar seu cabelo que já estava à beira da perfeição. –Pare de se admirar, já sabe que está bonito!

—É sempre bom escutar uma confirmação –Rhys piscou pra ela.

—Nunca conheci alguém tão vaidoso quanto você –Rhaella voltou ao seu livro.

—Fui agraciado com uma beleza acima da média, gosto de ter um momento de admiração já que infelizmente não posso me olhar

—Aposto que espia as mentes das pessoas só pra ver a si próprio.

—A inteligência é de família –Disse Rhysand –E a beleza também.

—Só que eu não perco quase uma hora do meu dia me olhando no espelho.

—Não seria uma perda de tempo, não sabe o quanto é bela? –Rhys questionou com obviedade.

—Isso eu sei a vida inteira. Por que acha que Keir não me jogou de algum penhasco depois que nasci?

Dessa vez Rhys desviou o olhar do espelho e esperou a explicação.

—Depois do que aconteceu com Mor eles não queriam de jeito nenhum uma menina. Minha mãe fez feitiços, até pagou pra alguém da Diurna ver seu futuro e saber se o herdeiro da nossa família por fim viria. –Rhaella contou.

—A charlatã mentiu pra eles? –Rhys ficou intrigado com a história.

Naquele tempo que conseguiam conversar, Rhaella sempre estava interessada em saber das novidades que aconteciam em Sob a Montanha, dos boatos que escutava nos corredores. Logo o Grão-Senhor percebeu que a menina sofria exclusão, dos membros da Corte Noturna que reprovavam o comportamento dela na coroação de Amarantha, e daqueles que odiavam Rhysand e a viam só como a prima da vadia de Amarantha.

Por isso Rhys passou a dividir seu tempo livre com a prima, da forma que ele conseguia. Amarantha requisitava sua presença no decorrer do dia. E nos momentos que podia se arrumar ou ignorar a confusão atrás da sua porta ele fazia questão de ir até os aposentos de Rhaella pra que pudessem trocar provocações.

Em comparação das fêmeas de sua família, Rhaella era de longe a mais inocente.

Rhys não queria ser invasivo, esperaria Rhaella confiar nele para compartilhar informações do seu passado.

—Não, ela contou que eu era menina. E minha mãe só não interrompeu a gravidez porque essa mesma vidente contou que eu seria a Estrela da família. Quando nasci, ela e meu pai entenderam porque e decidiram que eu tinha um proposito e que minha vida tinha valor. Eu não me sinto privilegiada por ter um rosto como esse -Os dedos de Rhaella tocaram levemente sua bochecha –Me sinto amaldiçoada.

—Você é muito mais do que eles disseram –Rhys garantiu com voz firme. A voz que ninguém questionaria.

Era bom ouvir isso dele. Rhaella sentiu o coração confortar-se um pouco.

—Você precisa mesmo ir? –Rhaella fez beicinho.

Duraria uma semana para preparar a vinda da Corte Noturna. Uma semana que Rhaella não teria ninguém para conversar.

—Amarantha está animada para conhecer seu pai –Rhys revirou os olhos –Ele é líder de uma família nobre, tão nobre que já foram Grão-Senhores no passado. Ela vive jogando isso na minha cara.

—E por que isso importa? Você é o Grão-Senhor.

—Mas minha família conseguiu a coroa porque nossos poderes sobrepujaram a da sua –Rhys explicou. –Em tese, seu sangue é mais nobre o que o meu.

—Do que importa isso agora? Se ambos estamos presos aqui. Você com seus poderes extraordinários e eu com... –Rhaella encarou a própria mão, onde uma vez a luz de uma estrela brilhou. E que agora estava apago. -Nenhum poder.

—E mesmo sem poderes você foi aquela que enfrentou a Grã-Rainha –Era possível identificar uma pontada de orgulho na fala de Rhys.

Enfrentou? Eu só apanhei. "A Estrela Caída", esse é outro título digno de balada.

—Encomendarei com os músicos.

Rhaella foi obrigada a rir, Rhys nunca deixava o clima ruim.

Ela deixou o livro pra lá e foi até ele, arrumando a lapela de seu terno. Ele era a imagem da perfeição, mas só olhos bem treinados identificariam que sua lapela estava um pouco torto.

E Rhaella foi treinada a perfeição.

—Quando estiver lá, poderia procurar Syrax pra mim? –Um pouco de esperança ressurgiu em sua voz.

Mesmo que não pudesse vê-lo, saber que Syrax estava bem acalmaria uma das perturbações de sua mente.

—Quer deixar alguma mensagem? Sinto muito se não conseguir traduzir a resposta dele, mas não falo a língua dos gatos –Rhys disse com ironia.

—Seu poder funciona em animais também? –Rhaella questionou curiosa.

—Teria que possuir coragem o suficiente para me aproximar daquele bicho -A careta de Rhys mostrou que não estava disposto a arriscar.

Rhaella lembrou-se do temor de Cassian quando viu Syrax tão a vontade. O medo de que um animal daquele porte ficasse seus dentes nas preciosas assas.

—Medroso –Rhaella gostou de imaginar Rhys com medo. O macho parecia tão inabalado... –Mas é melhor que não.

—Prometo procurá-lo, se me prometer se comportar –Rhys pediu encarando-a seriamente com os olhos violetas. –Nada de ceder a provocações, nem de se opor a Amarantha. Não seja uma "Lucien".

—Acho que eu não combinaria tanto caolha –Rhaella brincou.

Isso fez Rhys abrir um sorriso fraco e alisar sua bochecha com o polegar.

—Lembre-se: nós iremos sobreviver a isso juntos.

Rhaella concordou. Ele precisava se convencer disso todos os dias, assim como ela.

Um alimentava a esperança do outro.

Um era a salvação do outro.

(...)

Mesmo negando duas vezes, Rhaella foi forçada a participar do baile daquela noite.

Attor a buscou e praticamente a puxou pra fora do quarto. Para sorte dela, Nuala e Cerridwen já tinha a arrumado, provavelmente escutaram que ela não escaparia daquele evento.

Tudo correria bem, foi o que tentou se convencer. Ela ficaria atrás da pilastra esquerda e ninguém notaria sua presença. Poderia aproveitar a oportunidade para roubar guloseimas e dividir com as gêmeas depois. Também observaria a interação de grandes figuras, dos Grão-Senhores e seus herdeiros. Seus primos e amigos... Tudo para colocar em seu registro.

Estava focada nos membros da Estival. Tinha Nostrus e sua esposa, Elaria. Não tão jovens, mas pelo que Nuala contou a fêmea tinha esperança de engravidar em um futuro próximo. Enquanto não geravam filhos, o herdeiro da estival era o primo de Nostrus: Tarquin. Porém o mesmo não estava em Sob a Montanha.

Rhaella anotava mentalmente a forma como conversavam, as frutas favoritas. A Corte Estival era muito interessante. Suas vestes tão leves e simples. Era melhor que os babados excessivos da corte primaveril e os pelos de animais que os da invernal carregavam.

Se ao menos soubesse mais... como são suas cidades, seus palácios...

—Rhaella! –A voz de Amarantha ecoou pelo salão.

Todos ao redor se afastaram para dar destaque a Rhaella. Em sua curiosidade, a menina saiu de trás da pilastra e se deslocou um pouco para o centro. Amarantha a viu de seu treino e sorriu

Rhaella andou com o queixo erguido, sabendo que era foco de todos os olhares.

—Minha rainha –Rhaella caprichou na reverencia. Rhys ficaria orgulhoso.

—Rhaella, a estrela da corte noturna –Amarantha adorava proclamar aquele "título" –Quase não a vemos em nossas festas. Por acaso não estamos a sua altura?

—Não tenho costume de participar de bailes, majestade –Explicou Rhaella com um sorriso amarelo. –Até mesmo em minha corte costumava ficar no quarto.

—É muito bonita pra ficar escondida –O elogio foi claramente sua vontade. –Ficará aqui para ser admirada, semelhante as cortinas do meu palácio.

Palacio?, Rhaella quis rir, mas conseguiu disfarçar a tempo e sacudiu o cabelo pra tampar seu rosto. Rhys vivia dizendo que ela deixava todos os sentimentos expostos em seu rosto, e com certeza ganharia uma surra por debochar do "palácio" de Amarantha.

—Agradeço pela honra –Rhaella ficou ao lado do trono de Amarantha, tão ereta quanto o espartilho permitia.

—Lembra do que conversamos no baile? –Amarantha questionou.

Rhaella não se lembrava de nada além de ter sido trancafiada naquele inferno.

—Não –respondeu simplesmente.

—Tolina –Amarantha riu. –Sobre como colocar machos de joelhos.

A garota lembrou, e tentou reprimir a careta.

Rhaella não queria dica nenhuma daquela fêmea vil.

—A primeira lição será agora -O sorriso de Amarantha foi o de um predador. –Conduza o macho a sempre fazer o que você quer.

Ela olhou atentamente ao salão, até que focou o olhar na direita. Um longo casaco branco, de pele ainda mais pálida e cabelo cor de gelo. Foi ali Rhaella percebeu que ela tinha escolhido seu alvo.

—Kallias –Amarantha chamou antes que ele tivesse a chance de escapar. O macho se aproximou, com a expressão fechada –Você nunca dançou no meu salão. Será que o segredo do herdeiro da Invernal é que na verdade é um mau dançarino?

—Ainda não encontrei uma fêmea interessante o suficiente para me fazer dançar, Amarantha –Kallias rapidamente percebeu seu erro ao chamar Amarantha pelo primeiro nome e tratou de corrigir com um sorriso forçado. –Perdão, minha rainha.

—Conseguiu ofender todas as fêmeas presentes com sua frieza, Kallias –Amarantha o encarou com dureza. Não gostou do comentário do macho, principalmente por ter esquecido de chamá-la de Rainha da primeira vez. –Nem mesmo Lady Rhaella é interessante a você?

Rhaella piscou atordoada por ter sido inserida na conversa.

O silêncio de Kallias foi sua resposta. Ele não a achava interessante.

—Há machos de todos os lugares pedindo para cortejá-la, mas Rhysand afastou todos. Ela não é digna de se casar com um mero Lorde. Este rosto foi destinado a um Grão-Senhor –Amarantha usava o tom de uma mãe orgulhosa –Devia aproveitar que seu primo está longe e conhecê-la melhor.

Nem seu pai teve a audácia de oferecê-la tão descaradamente. Rhaella encarou a rainha com indignação e fúria.

Não que seu olhar impressionasse Amarantha. Para a Grã-Rainha, todos ali eram dela para machucar.

—Sempre um antro de inteligência, majestade –Kallias fez uma reverencia charmosa. Depois ofereceu sua mão a Rhaella – Lady Rhaella, me daria a honra?

Ela queria muito negar, mas seria uma barbárie negar o convite de um herdeiro. Ela não queria ofender a Corte Invernal com tal desfeita. E tinha Amarantha, que sorria com imenso prazer de assistir Rhaella tão consternada.

—Cla-claro –Aceitou segurando a mão do macho e permitindo que ele a guiasse para o centro do baile.

Rhaella não sabia do que conversariam, pois não conhecia quase nada da Corte Invernal.

A Corte Invernal era a mais fechada de todas. Pouca informação escapava da muralha de gelo que rodeava as divisas da corte. Era a única que possua uma barreira física e um visitante era tão raro que quem foi abençoado com essa honra nunca espalhou qualquer coisa que existisse na terra de gelo.

Kallias de certa forma lembrava sua corte. O macho era lindo, porém com um olhar distante, tornando-o uma fortaleza impenetrável.

Dançaram os primeiros passos de uma valsa. Rhaella os executava corretamente, já Kallias... Era evidente que o macho queria estar em qualquer lugar, menos ali.

—Sinto muito por ter sido forçado a isso -Rhaella já não suportava a atmosfera frívola que estava entre eles.

—Sente mesmo? –Kallias a encarou com suspeita.

—Não pedi que ela fizesse isso –Explicou sendo o mais enfática possível. Sabia que Amarantha poderia escutar a conversa deles, mas não iria deixar que o macho pensasse que ela...bem...

Que ela estava fazendo o que foi treinada a vida toda pra fazer. Naquela noite ela não estava a procura de um marido.

—Não consigo acreditar que não era de seu desejo ter contato com um Grão-Senhor –Kallias fez questão de lembra-la –É filha de Lorde Keir, correto?

—Conhece meu pai? –Rhaella demonstrou surpresa.

—Ele é famoso por suas negociações –Kallias explicou. –Recebemos uma grande safra de pêssegos vendida por ele.

—Eu nunca soube. –Rhaella ficou admirada. Os pêssegos que vivia roubando da colheita chegavam em terras tão distantes! Ela tinha que saber mais sobre o assunto.

—Imagino que não é um assunto que Lorde Keir trate com sua filha –Kallias respondeu com sarcasmo –Acredito que conversavam sobre uma negociação mais alta. Amarantha deixou claro seus planos.

—Amarantha também deixou claro que é um mau dançarino. Ela está certa sobre isso também? –Rhaella soltou, esquecendo por um momento de sua etiqueta.

Rhaella já tinha obedecido Amarantha e conheceu o bastante de Kallias para decidir não passar mais um segundo em sua presença.

Ela iria voltar pra coluna, mas antes que ela se afastasse, Kallias segurou seu punho.

—Perdoe-me pela minha rispidez, milady –O tom dele foi mais brando, e os olhos azuis –Esta situação toda não me deixa com o melhor dos humores.

—É difícil pra todos –Rhaella resmungou, porém não o abandonou e continuou a dança.

—Imaginei que a prima de Rhysand teria algumas regalias –O tom de desconfiança ainda era usado pelo Grão-Senhor.

—Outro engano a meu respeito, Kallias –Rhaella revirou os olhos –Bem agora que cumpriu seu dever com a Rainha, eu preciso ir.

—Podemos conversar um pouco? –Ofereceu Kallias

—Pretende me ofender mais? – Rhaella desconfiou de sua oferta.

Talvez fosse só mais um com raiva de Rhysand que queria ser rude com ela.

—Irei me comportar, prometo.

Antes de partirem Rhaella olhou para o trono, observando Amarantha. A rainha ergueu levemente sua taça de vinho na direção deles.

Aprovada.

Era isso que Amarantha transmitiu naquele olhar.

Rhaella saiu antes de permitir que o corpo fosse tomado por calafrio.

(...)

—Soube que Rhysand foi buscar a Corte Noturna para se ajoelhar –Kallias começou a conversa.

—Sim, ele ficará fora por alguns dias –Rhaella confirmou vagamente. Tinha que tomar cuidado para dar qualquer informação que Rhys compartilhou com ela.

Não sabia se poderia dizer sobre as ordens das idas a Sob a Montanha. Era tão acostumada a guardar os segredos do pai que também acreditou ser necessário proteger os de Rhys.

—Eu me lembro de sua audiência –O macho observava atentamente o rosto de Rhaella –Outro momento de horror que este lugar só pode assistir.

—Não foi o único –Rhaella acrescentou, lembrando de Lucien e do olho arrancado.

Rhaella sabia que devia sua sobrevivência naquele dia ao fato de ser prima de Rhysand. Ela seria grata ao primo até o fim de sua vida.

—Além de horrorizado, claro, fiquei surpreso. Amarantha parece sempre inclinada a ter preferência aos membros da Corte Noturna.

Sua fala implicava que Rhaella fez algo além para não ser mantida sob a benevolência de Amarantha para com sua corte.

—Se acha que fiz alguma coisa para ofendê-la, está errado. –Rhaella sentiu a suspeita na fala dele.

—O motivo de sua ofensa está óbvio. É de fato a fêmea mais bela de Prythian –Kallias disse.

Ao contrário de qualquer outro macho o tom de Kallias foi de total constatação. Era o tom usado pra dizer que o sol era amarelo. Um fato que a Rhaella era bela... porém não tinha sua admiração.

—Não há nenhuma história tenebrosa entre vocês? –Questionou o macho com curiosidade.

—Não –Rhaella negou com a cabeça –Nos vimos apenas uma vez, e foi na noite do baile.

—Aquela maldita noite –Kallias respirou fundo. Com puro ressentimento por ter aceitado participar daquela festa. –Muitos aprovam o que ela fez, até se divertem aqui. E a maioria deles veste preto.

Vestir preto, a cor predominante da Corte Noturna. Rhaella olhou pro próprio vestido. Aquela cor carregava uma representação que ela nunca quis fazer parte.

—Eu não –Mais uma vez, Rhaella sentiu a necessidade de defender-se das acusações veladas que o macho lançava sobre ela. –Sei o que pareço, Kallias, uma lady que está bem confortável em um dos aposentos mais espaçosos deste lugar, e que se senta ao lado de Amarantha nos jantares, sorrindo e festejando. Também sei que meu primo e ela tem algum tipo de relação e isso garante que nós sejamos tratados melhores que os outros. Mas eu nunca concordarei com o horror que ela infligiu a todos. E mesmo que ninguém acredite em mim e me isolem sei a verdade do meu coração!

—Como eu disse, me lembro de sua audiência. –Kallias colocou a mão dele em cima da dela e os olhos de gelo encaram profundamente os de Rhaella. –Acredito em você, Lady Rhaella, em tudo que disse. Obrigado por me mostrar sua verdade, isso é uma raridade aqui.

—Meu primo diz que é uma fraqueza.

—Seu primo não é um exemplo a ser seguido.

Rhaella não gostou daquele tom ao falar de Rhysand. Porém não queria repreender a única pessoa que se interessou em falar com ela além do primo e de Amarantha. Por isso preferiu apenas sussurrar:

—Não é permitido falar mal do Grão-Senhor.

—Farei isso por você –Kallias respondeu, e recebeu um olhar censurador de Rhaella. – Mudarei de assunto, então. É uma noite bonita.

—Já vi melhores. Já vi a melhor das melhores noites. –Rhaella sorriu com nostalgia, olhando para o céu. Kallias não tinha ideia de como a noite na Corte Noturna era melhor do que aquela –Qual é a maior saudade que tem de sua corte?

—Sorriso -Kallias soltou a palavra no ar. Sem acrescentar mais nada.

—Aqui quase não há razões pra isso -Rhaella completou, entendo que o macho sentia falta de sorrir. –Minha saudade

—Podia estar pior –Kallias disse –Des que nossos poderes foram roubados, descobri que cada dia pode ser pior que o anterior.

Com aquele comentário o clima pesou entre eles. Ali estavam dois jovens que não tinham ideia de seus futuros, antes tão previsíveis. Agora dependiam dos caprichos de uma rainha tirana e ambos sentiam mais medo do que queriam admitir.

—Mas há dias, que uma jovenzinha feérica pode te surpreender –Falou o macho.

Kallias ofereceu um sorriso afável a Rhaella, uma promessa de uma relação amistosa entre os dois. O coração de Rhaella acendeu com a possibilidade de ter um amigo além de Rhysand.

—Então será gentil em nossa próxima dança? –Rhaella ergueu a sobrancelha.

—Já que estamos sendo sinceros, a desculpa que eu dei a Amarantha era mentira –Kallias se inclinou perto de sua orelha, e o ar frio que saiu de sua boca fez Rhaella arrepiar. –A verdade é que eu odeio dançar, não importa a ocasião.

Rhaella não segurou a imensa vontade de gargalhar do macho, e soltou uma risada melódica. Um Grão-Senhor que odeia dançar era o pesadelo de qualquer fêmea desesperada para chamar sua atenção. Se aperfeiçoar tanto, repetir de novo e de novo, pra chegar no dia que parte da sua vida foi preparada pra aquele momento e... o Grão-Senhor não gostar de dançar!

Ela queria muito ser amiga das outras feéricas só pra compartilhar aquela informação.

Secou uma lagrima que escapou depois de rir tanto. Era uma lagrima fria. E outra caiu em seu rosto. Rhaella franziu o cenho, estranhando a temperatura, até perceber que não era de seus olhos que estava surgindo aquela água.

Erguendo a cabeça encontrou uma pequena nuvem acima de seus cabelos, e alguma coisa quando dela.

—O que é isso? –Rhaella estendeu a mão e deixou que um caísse ali delicadamente.

Flocos de neve.

Examinou sua forma com cuidado, antes que derretesse. Era tão delicado, tão puro. Era desenhado, em um pequeno círculo. Rhaella examinou sua forma com um imenso sorriso nos lábios.

Não sabia que algo assim existia.

—Um pequeno presente – Kallias sorriu com timidez. –Assim como sua risada foi um presente pra mim. 

 


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