Corte de Estrelas e Tormento escrita por Black Sweet Heart


Capítulo 7
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Rhaella despertou com um grito tenebroso.

Debateu-se contra a estrutura macia que estava, uma cama, com lençóis pratas. Em sua mente uma bagunça de eventos a deixava atordoada, como se recebesse vários golpes em sua cabeça. Ela se vestindo para o baile, conversando com Rhys, o menino roubando a mesa... Depois o brinde, o líquido descendo por sua garganta e em seguida aquela dor.

Tocou seu pescoço, sentindo -o ferido, porém a dor tinha sumido.

E algo dentre dela também...

—Milady, por favor, fique quieta –Pediu em tom baixo uma voz feminina.

Rhaella arregalou os olhos para as duas fêmeas posicionadas ao lado da cama. Gêmeas, de longos cabelos escuros e rostos tão escuros quanto seus cabelos. Vestiam preto, então eram da Corte Noturna, apesar de Rhaella nunca ter as visto na Cidade Escavada.

Espectros, Rhaella reconheceu. Seus corpos esguios e a pele pareciam tangíveis, mas não a forte e reluzente como os Grão-Feéricos.

No entanto pra Rhaella pouco importava se eram de sua corte ou não. Ela se encolheu e abraçou as pernas.

—Quem são vocês? –Rhaella encarou os dois espectros com medo.

Seus rostos escuros fitaram Rhaella com preocupação. Mesmo que elas fossem as servas, Rhaella estava em clara desvantagem por acordar naquela situação.

—Nuala e Cerridwen, servas do Grão-Senhor Rhysand –eExplicou Nuala tocando a si mesma, depois a irmã. –Ele nos pediu para a prepararmos pra a cerimônia.

Rhaella examinou seu próprio corpo. Não havia nenhuma lesão evidente, porém sentia-se esmagada, com pouca energia.

Uma vez acordou com Syrax deitado em seu peito. O peso do animal era tanto que se fosse mortal suas costelas quebrariam. O deixou pra fora de seu quarto uma semana e demorou um pouco mais pra se recuperar.

A dor que sentia naquele momento era dez vezes pior do que a que Syrax causou. E a do animal não foi intencional.

Essa era.

—Nós estamos em casa? –Rhaella olhou ao redor, não reconhecendo o quarto que estava.

As paredes cavernosas rodeavam todo o ambiente, deixando o ambiente úmido, pesado. Ainda assim sua cama parecia luxuosa e tinha uma penteadeira em um canto.

—Não, minha senhora –Uma delas negou com a cabeça. –Estamos todos Sob a Montanha.

—O que aconteceu? Depois da dor... –A garganta dela apertou.

—É melhor que o Grão-Senhor explique, milady –Cerridwen ajeitou a barra do vestido de Rhaella. –Não estávamos aqui quando aconteceu. Fomos convocadas por Rhysand logo após o ocorrido.

—Rhys está bem?

—O Grão-Senhor a aguarda na sala do trono –Nuala ergueu Rhaella pelo braço. –Está atrasada.

—Atrasada para o que?

—Todos precisam declará-la rainha –A outra veio do lado direito e arrumava o cabelo de Rhaella rapidamente.

—Nós, feéricos, já nos ajoelhamos, mas hoje ela quer que terminar com os que estão Sob a Montanha, pra depois receber os das outras cortes.

—Não posso sair do quarto neste estado – choramingou a menina. A cabeça ainda estava zonza e o corpo fraco.

Apesar que de aparência não tinha o que reclamar. Seu vestido tinha sido substituído por um vestido negro, que ostentava um decote simples na frente, apertado em sua cintura e uma saia rodada até o pé, o tecido veludo esquentou bem seu corpo. Se tivesse mais tempo teria se admirado no espelho e gostado da sua imagem.

Mas a situação era aterrorizante demais pra se preocupar com sua aparência.

—Não tem escolha, milady, não temos mais tempo. O Grão-Senhor julgou que fosse acordar mais cedo – Cerridwen terminava a maquiagem, enquanto outra amarrava os sapatos.

Tudo com muita habilidade e pressa. Rhaella jamais teve servas tão eficiente quanto as gêmeas.

—Quanto tempo eu dormi?

—Uma semana – Respondeu Nuala, de novo o olhar de pena sobre Rhaella.

Cerridwen espalhou ruge nas bochechas de Rhaella, enquanto Nuala terminava de ajeitar as mangas que perderam

—Venham comigo –Rhaella segurou a mão de Nuala a sua direita e Cerridwen a sua esquerda. –Preciso de ajuda.

—Nós não podemos... –Nuala começou, porém a porta do quarto foi escancarada

—Finalmente acordou! –O terrível monstro abriu sua boca, exibindo duas fileiras de dentes pretos. –A Grã-Senhora te aguarda.

Antes que pudesse protestar o monstro a puxou para fora do quarto, apertando seu braço.

—Pra onde está me levando? Eu exijo saber! – vociferava para o monstro. Tentava com afinco não deixar ser levada, mas seus pés mal tocavam o chão enquanto aquela besta a carregava. Teria marcas de dedos em seu braço.

Apesar da exigência os guardas de Amarantha não se sentiram na vontade de respondê-la, e Rhaella não seria tola em insistir. Precisava guardar sua voz caso precisasse gritar por socorro.

Logo outros surgiam ao lado deles, andando em pares ou sozinhos. Não tinham espontaneidade ou sorrisos, só seguiam o mesmo caminho. Não estavam na condição de convidados. Agora todos eram prisioneiros.

Isso deixou Rhaella sem respirar.

Uma semana, Nuala disse, uma semana que ela passou desacordada depois do maldito ataque de Amarantha. E todos ali pareciam tão deprimidos, sem nenhum brilho nos olhos, só aceitando aquele destino que aquela maldita fêmea impôs a eles não poderia ser alterado. Rhaella não sabia o que podia ter acontecido, ou o que ela fez depois que assumiu todo o poder de Prythian, mas foi o suficiente pra matar a esperança de todos.

Chegou até a Sala do Trono, onde todos que compareceram no baile aguardava alguma coisa. Um espaço foi deixado no meio do salão, um caminho até o trono. Aos poucos formava-se uma fila.

Os feéricos na fila tinham diversas cores, representando suas Cortes. Rhaella era a única da Corte Noturna e apenas ela ostentava um tecido caro, o que significava que somente uma era da classe superior.

—Fique na fila –ordenou o monstrengo por fim soltando seu braço.

Rhaella o encarou com fúria. Guardaria seu rosto para delatá-lo ao pai depois. Keir jamais permitiria que alguém vivesse depois de machucar a filha. Não por amor, mas porque a queria sempre perfeita.

Procurou por Rhysand e foi fácil encontrá-lo. Todos os Grão-Senhores estavam parados nos degraus abaixo do trono, só machos. Seria uma bela visão vendo-os com suas diferenças, as vestes, as cores e até mesmo o porte, mas compartilhavam uma tensão enquanto olhava os demais abaixo deles. O povo deles.

Que agora deveriam se curvar a ela.

Amarantha usava um vestido negro, com uma fenda que exibia sua perna direita até a coxa. Também decotado, apesar do corpo esguio não conseguir tanto destaque. Não importava, pois ostentava segurança. E mais, tinha em sua cabeça uma coroa de obsidiana, não tradicional aos que Grão-Senhores usavam, ou suas esposas. Tinha quase um metro e de certa forma bruta e cruel.

Assim como sua dona.

—Sua reverência foi patética! –Amarantha jogou a cabeça pra trás e gargalhou alto. –Helion, devia ter deixado de lado suas orgias e ensinado a sua corte se comportar dignamente a sua superior.

Helion engoliu seco. E foi muito estranho pra Rhaella ver alguém tão imponente quanto Helion parecer desconfortável.

O Grão-Senhor da Diuna olhou para o macho que se colocou em frente a Amarantha, e em seus olhos foi fácil encontrar pena.

—Nenhum lorde da Corte Noturna se portou dessa maneira –Amarantha ressaltou, sorrindo para a primeira fileira da direita.

Rhaella os reconheceu. Era a segunda família mais rica da Cidade Escavada, depois da dela. E pareciam confortáveis demais com toda a situação, até mesmo sorriram pra Amarantha.

—Eu domestiquei a corte Noturna pra nunca esquecerem como tratar seu Grão-Senhor –Rhysand encarou-os, e seu tom não foi de admiração.

Rhaella sabia que o Grão-Senhor nunca gostou da Cidade Escavada. Fazia questão de anunciar sua chegada e Keir o amaldiçoava depois de todo baile que Rhys se dignava a aparecer.

Rhaella começou a entender mais a aversão de Rhysand. Era terrível assisti-los feliz em uma situação como aquela.

—Por isso que gosto tanto de você e de sua corte, Rhysand –Amarantha trocou um sorriso diabólico com Rhysand. Depois encarou o macho abaixo dela, com tanto nojo que parecia encarar um inseto –Farei com que entendam a respeitar sua rainha.

—Amarantha... –Pediu Helion, dando um passo na direção dela.

—É majestade, Helion –Amarantha ergueu o queixo com arrogância –Que sua gente passe a entender que não é só de orgias e livrinhos que uma Corte de verdade é feita.

Ela assentiu com a cabeça, e o monstro que retirou Rhaella do quarto surgiu ao lado do feérico.

O que se seguiu foi uma sequência de brutalidade que Rhaella nunca tinha testemunhado. Fechou os olhos quando o guarda de Amarantha cravou suas unhas no braço do homem e praticamente tentou arrancar de seu corpo. Mesmo de olhos fechados os gritos de dor entravam no cérebro dela. Ela queria ajudar o pobre feérico, queria mesmo, mas suas pernas não se mexiam. Seu corpo paralisou de medo.

—Tomem isso como lição –Amarantha disse no fim, quando o feérico começou a ser arrastado para fora do salão -Não aceitarei reverÊncias medíocres.

Sem perceber, Rhaella deu um passo para trás, o instinto gritando para correr o mais depressa dali. Aquilo não era pra ela, não devia estar ali.

—Cuidado, sua tola! –A pessoa de trás, um macho alado a empurrou para frente.

—Não posso, não posso –Sacudia a cabeça repetitivamente.

O que Amarantha iria fazer com ela? O pânico não a deixava pensar. Procurou alguém entre a multidão para ajudá-la. Alguém de sua corte que oferecesse uma saída. Seu primo! Onde estava

Rhysand? ONDE ESTAVA RHYSAND?

Estou aqui, sussurrou a voz dele em sua mente. Não demonstre seu medo, ela se satisfaz com isso.

Ela vai me machucar, chorou ela pra ele, ela vai me estraçalhar como um animal.

Ela não fará isso se for inteligente e disser só o que ela quer ouvir, Rhys ordenou.

Rhaella ainda negava com a cabeça. O medo de morrer dominava seus sentidos.

Rhaella, a voz de Rhys foi tudo que podia escutar, sua mente tão calma como um lago, confie em mim.

Requeria tempo para confiar em alguém, principalmente quando precisava depender de sua vida. Mas ali não tinha tempo pra cogitar se Rhys iria a trair, se era uma brincadeira. Tinha que confiar no macho que foi gentil, que parecia se importar...

Ou então Attor enfiaria suas garras em seus ombros pra fazê-la andar.

Acreditando em Rhysand, Rhaella respirou fundo e se acalmou. Foi treinada a vida inteira para ser uma lady calma e capaz de lidar com qualquer conflito, a verdadeira esposa de um Grão-Senhor. Sua educação precisava salvá-la.

Quando chegou a vez dela andou até a posição em frente ao trono, e caprichou em sua reverencia.

—Apresente-se –Attor ordenou raspando as garras de seu pé direito no chão.

Ela descobriu que o nome da criatura era Attor pois Amarantha sempre o chamava quando decidia punir alguém. Antes da vez de Rhaella, mais dois tinham sido machucados.

—Meu nome é Rhaella – engoliu seco em uma tentativa de fazer a voz parecer menos chorosa.

—Mais alto, querida, mal conseguimos te ouvir –Amarantha ordenou com um sorriso de satisfação em seu rosto.

Rhys tinha razão. Ela gostava de assistir o sofrimento.

Inspirou fundo, e sentiu o cheio do sangue que deixou-a nauseada.

Precisava de coragem, precisava mostrar que ela não a amedrontaria.

—Sou Rhaella –Retomou a fala com mais confiança, e alto o suficiente para sua fala ecoar pelo salão. –Filha de Keir. Membra da Corte Noturna.

—A Estrela da Corte Noturna –Amarantha deu o mesmo sorriso enigmático de quando se conheceram. –Seu primo nos disse que o feitiço foi muito forte pra você, parece que tanta beleza é descompensada por sua fraqueza.

Algumas risadas maliciosas soaram nas costas da menina, em aprovação a análise de Amarantha.

—Jura lealdade a Grã-Senhora Amarantha, Rainha de Prythian e protetora de toda terra? –Attor questionou.

—Ra-rainha? –Rhaella encarou Rhysand com confusão.

—É uma pena que dormia durante o decreto –Amarantha soou entediada. –Attor, explique a ela.

—A Rainha Amarantha tomou Prythian dos fracos protetores desta terra. Ela dará a Prythian sua misericórdia e sabedoria.

—Não há Grã-Senhora –Rhaella deixou escapar por seus lábios. –Não há tal coisa em Prythian.

—Agora tem –Amarantha rebateu. –Onde está sua admiração, Rhaella? Uma fêmea tão poderosa como eu finalmente tomara as rédeas desta terra tão malcuidada por estes Grão-Senhores desleixados.

Ela usou o elogio que Rhaella tinha feito, quando não sabia de seus planos nefastos.

Rhaella engoliu o xingamento que passou em sua mente.

—Mas por que tenho que ajoelhar? –Não entendia aquela demonstração. –Se meu Grão–Senhor já decidiu...

—Todos terão que ajoelhar –Amarantha interrompeu, já impaciente com a confusão da garota. –Agora pare de nos fazer perder tempo e me declare sua rainha!

Declarar como sua rainha, declarar que obedeceria a suas ordens... Rhaella reconhecia a autoridade do pai e do Grão-Senhor porque em seu primeiro suspiro naquela terra seu corpo levava o nome deles. Mas aquela rainha estrangeira? Queria servir alguém assim?

Restava-lhe alguma escolha?

—Rhaella – a voz de Rhys foi um alerta.

Ele era o Grão-Senhor mais poderoso de Prythian, era uma lenda. Montanhas se curvavam ao poder dele.

FAÇA ESSA MONTANHA CAIR SOB A CABEÇA DELA!

Não posso, o tom de impotência, de rendição... a quebrou.

Porque se Rhys não podia, então ninguém ali poderia salvá-la.

—Não –balbuciou negando com a cabeça. –Não.

Exclamações de surpresa ecoaram por todo salão. Até mesmo os Grão-Senhores arregalaram os olhos.

E tudo ficou em total silencio assim que Amarantha ergueu-se do trono.

—Não viu o que acontece quando alguém ousa me enfrentar, estrelinha? –Amarantha a olhava de cima pra baixo, com a mais pura ira.

—Só há Grão-Senhores –rebateu com indignação. Ela não podia chegar e decidir tudo aquilo em pouco tempo. Não poderiam permitir. –E sou leal a Corte Noturna. Nos livros...

Não terminou a sentença pois seu rosto foi atingido com força. Attor a golpeou com um cajado e nem mesmo Rhaella soube como ficou de pé depois do golpe. Além de desnorteada, sentiu uma dor imensa no nariz e sentiu sangue em seus lábios.

Rhys deu um passo pra frente, os olhos violetas chispando com a ameaça de matar Attor. Porém não conseguiu avançar, não quando Amarantha segurou suas rédeas.

—Rhysand, assim como os outros, declararam sua lealdade a mim –Amarantha desceu os degraus, até ficar na mesma posição que os Grão-Senhores. –Logo toda Prythian irá se ajoelhar aos meus pés. Acha que uma garotinha tremula como você consegue me desafiar?

—Não pode ser uma rainha – insistiu Rhaella.

—Pode ter educado sua corte, Rhysand, mas esqueceu-se de sua prima –Beron soltou, ainda não sim não tinha humor na sua fala.

—Ela é só uma menina mimada –Rhys falou entre dentes, encarou Amarantha e continuou –Não dê atenção a suas palavras, majestade.

—Ela veio em busca de um marido, e tem audácia de desafiar uma superior mesmo sabendo das consequências –Amarantha olhou de Rhys pra Rhaella –Ela é bem mais do que a menina tola que acredita que ela é, Rhysand. E não posso poupá-la por ser sua prima.

Diga que se arrepende. Implore por misericórdia!, Rhys berrou na mente de Rhaella.

—Eu não me arrependo do que eu disse –A resposta veio em voz alta, mesmo não sendo intenção da menina.

O golpe, misturado com a fraqueza da falta de alimentação e ter passado uma semana presa em um feitiço, lhe deixou fora do ar.

—Vejam, Prythian –Amarantha abriu o braço para a plateia. –Sua campeã. Uma menina que mal consegue ficar em minha presença sem tremer.

Risadas ecoaram por toda caverna. Comentários lascivos.

Ninguém acreditava que ela poderia erguer um dedo contra Amarantha. Nem mesmo ela mesma.

Amarantha foi até Rhaella e a ergueu pelo queixo. O aperto era tão forte que Rhaella teve certeza que deixaria marcas.

—O que há pra oferecer além de um rostinho agradável?

Não diga nada, orientou Rhys.

Rhaella obedeceu.

—Talvez devesse nos mostrar se vale a pena mantê-la viva–Amarantha sugeriu.

Soltou o queixo de Rhaela, mas antes que a menina pudesse sentir qualquer alívio afundou as unhas finas no decote de seu vestido e o rasgou até o umbigo.

Rhaella segurou para que o mesmo não abrisse e exibisse os seios. Mas só pode tampar as auréolas pois as pedras do contorno caiam para todo lado, o tornando mais pesado.

Implore pra que ela pare, Rhys pediu. O pesar estava presente.

Implorar? Pensou cheia de indignação. Ela era filha de Keir! Da corte noturna. Ninguém da corte noturna implora. Eles não cediam.

Você sim, Rhys rebateu. Não é hora de manter orgulho.

Era assim, era isso que Amarantha estava querendo fazer, arrancar seu orgulho e mostrar a todos como era poderosa.

Rhaella não queria ser lembrada por Prythian como covarde. Ela não cederia a tortura daquele ser asqueroso.

—Não tem nada a dizer? –Amarantha insistiu. Rhaella permaneceu em silêncio. –Deve ter gostado do seu decote.

Silêncio. Cravou os dentes com força na carne de seu lábio.

—Attor, faça nosso passarinho cantar.

Rhaella nem viu o que a atingiu quando a ardência nas pernas a pegou de surpresa. Outro golpe logo em seguida a fez se ajoelhar. Suas mãos permaneceram segurando o vestido retalhado, mas sentiu sangue escorrer em sua nuca.

Foi a vez dela de sentir golpes e Attor realmente não a poupou.

Entre os golpes conseguiu visualizar Rhysand, o primo ainda estava preso nas cordas de Amarantha, mas seus dentes estavam expostos como um lobo prestes a atacar.

E mesmo com a dor, e realmente doía muito, um sorriso fraco escapou de seus lábios.

Não se ajoelhou. Rhaella não se ajoelhou.

(...)

Rhaella foi jogada em seu quarto por dois guardas de Amarantha.

Nuala e Cerridwen logo pegaram-na pelos cotovelos e a ajeitou da melhor forma em sua cama. Tiveram que colocar uma toalha em cima de seus seios pra que não ficasse exposta. As gêmeas limparam os braços e as pernas de Rhaella, para fazer uma limpeza completa teriam que tirar o vestido ensanguentado e levá-la a banheira, mas a menina estava fraca demais. Sentia tanta dor que não conseguiu andar até a banheira. De vez em quando tinha força para erguer seu braço e ver as marcas roxas que ganhou naquela tarde. Jamais ficou marcada, jamais foi tratada com tanta violência.

E tinha valido a pena? Ter seu orgulho intacto e seu corpo quebrado?

Pensaria na resposta quando a dor abrandasse e enfim pudesse pensar.

A porta do quarto abriu-se depois que terminaram de limpar o rosto manchado de lagrimas e sujeira do piso do salão principal. O estado dela era tão deplorável que preferiu concentrar-se na dor a em pensar como estava horrível.

—Ela está aterrorizada, Grão-Senhor –sussurrou uma das gêmeas, talvez Cerridwen. Ela era quem tomava iniciativa nas conversas. –Não parou de tremer um segundo.

—Brutalizaram seu corpo, humilharam-na diante de toda Prythian –comentou a outra, o tom de condolência estava presente.

Rhaella sabia que todos a olhavam com pena. A pobre menina burra que enfrentou uma Grã-Feérica poderosa o suficiente para dobrar todos os Grão-Senhores. No que ela estava pensando?

—Ainda consigo ouvi-los –Rhaella se sentou na cama, juntando os fios de energia que ainda restavam.

—Deixe-nos –Ordenou Rhysand.

As gêmeas desapareceram no segundo seguinte.

—O seu rosto... –murmurou Rhys inspecionando as áreas que estavam descobertas. Os braços marcados, os ombros lecionados. Até o cabelo dela foi despenteado enquanto a seguravam pra apanhar mais.

—O dano não é permanente, só acho que não comparecerei a bailes por um tempo– Rhaella riu sem humor.

Rhys não acompanhou. O macho tinha o olhar sob a prima, e era difícil entender as emoções que refletiam em seus olhos violetas.

—Qual é o seu poder? –Ele questionou cruzando os braços e ficou parado na frente dela.

—O que?

—Qual é o seu poder?

—Eu não tenho poderes. –Mentiu, e não mentiu, ela sentiu quando eles sumiram dela.

—Exato, você é só uma Grã-Feérica fraca e burra por acreditar que poderia enfrentá-la quando há pessoas mais poderosas que você presos por ela! -Rhys se exaltou.

—Ela não é uma rainha!

—Ela é, agora ela é. E nós somos brinquedos em sua mão para usar como bem quiser –O tormento de Rhys era palpável.

—Como ela colocou os Grão-Feéricos mais poderosos de Prythian na coleira?

—Ela arrancou nossos poderes, um a um, colhendo-os como se fosse maças –Rhys ergueu os dedos, aquela sombra estrelar era como uma mera fumaça –O que eu tenho agora é só a sombra do que já fui.

—Eu te atrapalhei – A culpa invadiu Rhaella. –Se não estivesse tão distraído comigo teria percebido tudo há muito tempo.

—É o contrário –Rhys acalmou-se e falou com calma –Quando desconfiou das intenções do seu pai tive tempo pra entender que estávamos em uma armação. Não foi tarde demais pra proteger aqueles que são importantes pra mim.

—Então seus amigos e Mor estão protegidos? –Uma notícia feliz. Ela quase sorriu, e ao tentar, seu rosto doeu mais.

—Estão –Rhys olhou em direção a porta –E não podemos falar seus nomes aqui.

—Está certo –Rhaella concordou –Posso perguntar por que não os trouxe?

—Nunca permiti que Amarantha soubesse da existência deles. Bem, ela até pode saber que existem, mas não o grau da importância para mim. Ela usaria isso a favor dela.

Claro, Rhys protegeu os amigos dele, aquele quem ele ama. Já a família dela...

—Posso ajudá-la –Rhys ofereceu, referindo aos machucados e a dor –Sobrou um resquício do meu poder. Ela não consegue arrancar tudo sem nos matar.

Rhaella olhou pra si mesma. Estava doendo em todo lugar, e ele não conseguiria tocar nos que estão debaixo do vestido.

—Terá que me ver...

—Receio que sim –Rhys suspirou alto, como quando se faz pra uma tarefa que não quer fazer –Ainda bem que jamais nos interessaríamos um no outro. Você é uma criança.

—E você muito velho –Lentamente conseguiu colocar-se de pé.

Por um momento hesitou. Nunca ficou nua na frente de outro macho e ainda mais sendo seu primo...

—Se não quiser minha oferta...

—Me cure de uma vez –Implorou. Mesmo com o processo mais acelerado passaria meses até que se recuperasse totalmente sem ajuda de Rhys.

Com mais lerdeza conseguiu tirar as alças do vestido e deixar cair aos seus pés. O rosto não estava marcado, diferente dos braços, da barriga, entre os seios...

—Uma criança... –Rhysand murmurou, passando os olhos pelos hematomas roxeados –Pelo Caldeirão...

Rhaella virou-se de costas, observando seu corpo através do espelho da penteadeira. A garganta fechou e o estomago embrulhou ao reconhecer marcas de pés, ou patas, de Attor. Não só uma marca, mas seis. Espalhadas como se o autor intencionalmente não deixar espaço sem ferimento.

—Você sempre soube quem ela é de verdade. Acha que meu pai também sabia?

—Ele sabe até mais do que eu já que conseguiu se safar. 

—Ele me deixou aqui –Rhaella balbuciou encarando Rhys com total horror. –Ele me deixou aqui pra morrer.

O próprio pai a deixou vulnerável pra que sofresse aquela atrocidade. Ele só a jogou naquela confusão sem se preocupar como Rhaella poderia sobreviver.

—Mas o que eu fiz? –Continuou com indignação. –Eu o segui cegamente. Fui a filha perfeita, a filha que ele me moldou pra ser. Por que ele fez isso comigo, Rhys?

—Eu não tenho as respostas que precisa, Rhaella –Rhys tocou o rosto dela com carinho, e ela sentiu os poderes de cura sendo transmitido a ela. Nos olhos violeta, uma chama de esperança ainda estava viva –Mas eu prometo ficará viva pra que possa olhar nos olhos dele e ter toda a verdade.

—Isso se ela não matar nós dois até lá –Rhaella não conseguia ser tão otimista.

O sentimento de desesperança, de que aquele era o final de tudo que existia, incluído eles, apagava a luz de seus olhos.

—Você não vai morrer aqui e não pelas mãos dela –Rhys garantiu. –Jogaremos o jogo dela e venceremos.

Uma vontade ferrenha era refletida nos olhos violetas. Uma força que Rhaella jamais viu em alguém. Era um sonho, o sonho de ambos saírem vivos, de vencer o terror que os aprisionava.

E inspirada naquele sonho, Rhaella aceitou a oferta do primo. Pegou em sua mão e deixou que a magia do acordo fosse marcada em sua pele. Toda negociação na Corte Noturna era marcada na pele, e agora ela ostentava a insígnia de sua corte no canto direito das costas.

—Está feito. 


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