Isso não é Romeu e Julieta escrita por Lady Black Swan


Capítulo 20
Dia de arraiar!


Notas iniciais do capítulo

E nos quarenta e cinco do segundo tempo, aqui estou eu postando, mas olha, não perdi o dia de postagem e é o que conta! MUHAUHSUAS O.O
Desculpem qualquer erro, corrigi o capítulo nas pressas...



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Você está morto.

O corpo de Impostor tombou para frente e caiu no chão em uma poça de seu próprio sangue.

O coração de Heleno afundou no peito.

—Gente… por favor, não pilha o meu corpo não! — suplicou pelo microfone.

—Vixe, mas você foi morrer justo nessa parte do mapa? — Miragem lamentou — Uma vez eu morri aí e acordei sem nenhum item!

—Que interessante, uma vez eu consegui uma armadura bem legal de um otário caído por aqui. — Zack retrucou rindo.

—Não roubem meus itens! — Heleno gritou. Mas seus protestos foram inúteis, pois assim que seu avatar respaldou, ele viu que tinha sido completamente depenado. — QUEM FOI QUE PEGOU MINHAS COISAS?!

—Não sei não, hein… — Lorde Zucker respondeu sentado ali perto e polindo sua espada nova.

Sem pensar, mesmo desarmado como estava, Impostor correu para cima de Lorde Zucker que foi surpreendido e os dois rolaram no chão trocando golpes até que Impostor — por algum golpe de sorte ou simples desespero — conseguiu roubar-lhe a espada de volta.

—E as minhas botas e capa também sumiram! — reclamou.

—Ahá! Olhem o meu estilo novo!

Chile comemorou quando surgiu rodopiando e dançando de trás das árvores, mas se afastou correndo assim que Impostor começou a persegui-lo.

—Espera! Essas coisas aqui são da Miragem. — constatou surpreso agarrando-lhe a capa quando finalmente o alcançou — Mas então quem foi que…?

—Pessoal olhem para mim, eu sou o Impostor! — Montecchio comemorou gargalhando vitorioso ao passar a galope em um tigre dente de sabre branco usando a capa e as botas de Impostor.

Você está morto.

Japonesse Doll estava atrás dele com uma faca.

—Que espada legal, Impostor… — sussurrou em seus fones de ouvido.

Já experimentou a sensação de ver um filme de terror sozinho em casa e de repente achar que não está mais sozinho? Foi exatamente o que Heleno sentiu naquele instante, mas, paralisado na cama, não ousou olhar para os lados.

E o sentimento deve ter sido generalizado, pois logo Pandora começou a rir nervosamente.

—Mas que merda de mulher assustadora, droga. — afirmou.

—Ela é um pouco imprevisível, não é? — Lorde Zucker riu parecendo orgulhoso.

—Imprevisível não, assustadora! — Pandora o corrigiu.

Zack cantarolou um “Gado demais” enquanto vasculhava o corpo de Impostor junto com Japonese Doll antes que ele respaldasse.

—Achei que éramos um time! — Impostor reclamou enquanto esperava seu avatar resetar.

Para alguém que Romeu insistia tanto ser algum tipo de bruxo vidente, ele parecia ser bem ruim em prever as coisas… mesmo que tivesse acertado sobre o porco naquela vez.

—Mortos não falam Impostor. — Lorde Zucker retrucou bem humorado.

—E, por falar em mulheres imprevisíveis e assustadoras… hã, como vai sua madrecita, Montecchio? Ela parecia ser bem tranquila, mas nunca se sabe… os hormônios da gravidez já afetaram o cérebro dela? — Aaron comentou observando a pilhagem ali perto e avaliando se seria seguro ou não se aproximar enquanto aquelas duas harpias ainda estivessem ali — Mi papa todavía tiene pesadillas cada vez que recuarda ese momento.

Melhor não chegar perto, ou acabaria perdendo até suas botas novas.

—Ah, é verdade, Montecchio estava surtando porque vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha, não é? — Miragem riu — Já sabem o sexo?

—Ainda não, mas ela tem uma consulta na semana que vem, e continua dormindo e comendo sem parar, Chile, só isso, de resto continua tão assustadora quanto sempre, nem mais nem menos.

Se Romeuzinho achava a mãe dele assustadora, era só porque nunca havia se deparado com uma D. Mariangel da vida.

—Em todo caso, vê se tenta não assustar ou estressar ela, ta? — Aaron aconselhou — Por exemplo, quando ela te arrastar pra fazer compras e mesmo que você fique muito entediado, lembre-se que não é uma boa ideia tentar equilibrar o guarda-chuva na língua… ou você vai acabar com uma mulher grávida muito estressada e passando mal enquanto tenta arrancar a sombrinha da sua goela feito Arthur puxando a excalibur da pedra.

—Espera aí, o que?! — Zack se assustou — Que história é essa?!

—É… criança. — Aaron deu de ombros.

—Que tipo de criança é essa?! — Montecchio reclamou.

—Aí vocês vão ter que perguntar para minha irmã. — Aaron riu, antes de olhar a hora no relógio no canto da tela — Eu tenho que ir gente, é melhor tirar a prova do crime do rosto antes que a minha mãe chegue.

—Espera aí, volta aqui e explica melhor essa história!

Montecchio reclamou, mas Aaron apenas riu e fez logout bem no instante em que Impostor retornava reclamando “ta legal pessoal, eu estou falando sério mesmo, devolvam minhas c…!”.

Aaron se levantou e foi ao banheiro lavar o mel e o abacate do rosto, quando mencionou mulheres perigosas e imprevisíveis, não foi na mãe de Romeu que pensou a principio, mas também não dava para perguntar “na frente” de todo mundo, então mudou de assunto.

Julieta não havia reagido como ele esperava da vez passada, na verdade ele esperava qualquer tipo de reação, desde um soco até que ela apenas fugisse ou — no mais absurdo dos cenários, até correspondesse —, mas definitivamente não esperava que ela fizesse coisa alguma.

Depois de um momento em que ficara quase completamente imóvel, com exceção de sua mão que lhe apertou o ombro com um pouco mais de força, ela simplesmente afastou-se e recomeçou a esfregar a toalha em seu joelho o ordenando a “ficar quieto e parar de ser tão mole”, antes de pegar um spray anticéptico no armário do banheiro e espirrar no local para depois sair e perguntar se ele havia trazido uma toalha e roupas para se trocar como ela instruíra aos convidados e, sem esperar uma resposta, descer perguntando quando cortariam os bolos.

Ele não tinha roupas extras ou toalha, mas D. Alice lhe emprestou algumas e ainda o deixou escolher entre uma muda do marido ou algum moletom da filha ou até um par de bermudas e camisa deixadas ali por Romeu… que obviamente nunca serviriam em Aaron porque o outro era bem mais baixo e magricelo que ele, então ficou com a calça moletom de Julieta, obrigado.

E desde então era como se absolutamente nada tivesse acontecido.

Ou, na verdade, não tão normalmente quanto ele pensava…

—… flagraram beijando…! — Margot contava com um misto de empolgação e ultraje.

Julieta quase deixou cair o celular.

—Que? Quem foi que viu?!

Margot olhou-a impaciente e aborrecida.

—Você não estava escutando uma palavra do que eu dizia, não é Juju?!

—Não me chame de Juju. — Julieta protestou.

—Ah, então agora você me escuta?! — Margot reclamou.

—Está bem, eu não estava escutando, agora devolve meu celular. — Julieta admitiu estendendo a mão, mas Margarida não fez nenhum movimento e ela suspirou — Ok então, do que você estava falando?

—Você não está minimamente nem aí! — Margot acusou-a, ao que Julieta limitou-se a dar de ombros, e a outra suspirou — Ah, que seja! Para ver como sou uma boa amiga, eu vou repetir. — ou talvez apenas porque ela não aguentava a fofoca só para si — Mas apenas a versão resumida!

—Vá em frente. — Julieta girou os olhos.

Sem sequer fazer-se de rogada para manter alguma parcela de seu orgulho, Margarida rapidamente atirou-se sobre ela, agarrando-lhe o braço empolgadamente e muito longe de fazer parecer que “daria apenas um resumo”:

—Então, sabe aquele ator loiro gatinho que você finge não ter uma queda?

—E-eu não tenho queda alguma por ninguém, Margot! — Julieta ficou vexada, tentando soltar-se.

Mas Margot manteve-se firmemente agarrada.

—Sim, esse mesmo. — confirmou despreocupada — Que você fez um instagram para poder stalkear ele todos os dias.

Julieta não sabia onde enterrar a cabeça.

—Eu… eu… ele está sempre postando vídeos e fotos fofas da calopsita de estimação dele.

—E sabe que ele tem namorada, não é? — Margot sorriu-lhe.

—Claro que sei, o instagram dele parece ser unicamente sobre a calopsita de estimação e a namorada, ela é bem pequena, na última postagem ele até brincou que queria levá-la como bagagem de mão quando viaja a trabalho só para não ter que ficar separado d… — calou-se subitamente — Margot será que dá para ir direto ao ponto?!

—Você é uma fã, Juju, não negue. — Margot riu debochada — Mas é justamente esse o ponto: a namorada do seu querido ídolo.

As pessoas sempre estavam falando da força de Julieta no braço direito, mas Margot também tinha uma força surpreendente para se atracar às pessoas e coisas quando queria, desistindo de tentar afastar a amiga ela rendeu-se e perguntou:

—O que tem ela?

—Foi flagrada por paparazzis beijando outro enquanto o namorado está viajando! — Margot arregalou os olhos contando-lhe a novidade.

Julieta olhou-a boquiaberta.

—Isso é realmente sério?! Digo, ela quase nunca aparece em mídia nenhuma, Lucian sempre diz que ela não é uma pessoa pública como ele, então prefere mais sua privacidade…!

—Justamente por isso o babado, já é difícil conseguir uma foto dela, ainda mais um furo desses! — Margot finalmente lhe devolveu o celular — Veja só os comentários aqui na postagem!

Em silêncio, Julieta levou alguns minutos deslizando a tela do celular e lendo alguns comentários.

—As pessoas realmente acham que podem dizer qualquer coisa quando estão escondidas atrás de uma tela. — criticou.

—Com certeza. — Margot concordou ainda deslizando a tela — É como se não tivessem mais nada para fazer além de falar da vida dos outros.

—A foto pode ter sido tirada de um ângulo tendencioso, ou então ela só estava admirando a perfeição irritante das sobrancelhas e da pele dele quando ele…!

—O que? — Margot perguntou sem entender.

—Que? — Julieta devolveu piscando.

—Agora mesmo, sobre o que é que você estava faland…?

—Então será que as madames podem abrir um espaço em sua agenda para começar o ensaio, ou devemos continuar esperando? — o professor as interrompeu de repente, fazendo ambas pularem de susto.

De algum jeito, mesmo depois de toda relutância de Julieta, Romeu ainda havia conseguido arrastá-la para aquele espetáculo ridículo e agora ali estava ela na escola em pleno sábado de manhã para um último “ensaio geral”, antes da “grande apresentação” no dia seguinte.

—Pelo menos você já acorda cedo para fazer exercícios todos os dias, sou eu quem gosta de dormir até mais tarde quando não tem aula. — Romeu tentou consolá-la com cara de quem não havia dormido nem duas horas na noite passada — E não estou reclamando.

—Isso é porque foi você que inventou isso, e se reclamasse eu viraria as costas e iria embora sem olhar para trás. — Julieta retrucou.

—As notas são importante Julys, e quando se encontra uma oportunidade de aumentá-las, é preciso agarrá-las! — mas quando Julieta cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas ele rapidamente acrescentou: — Uma oportunidade honesta!

Julieta estalou a língua.

—E que tal se você apenas dormisse durante a noite e lembrasse as datas das provas?

—Dormir não dá XP! — o jovem reclamou, e então sorrindo Romeu esticou o mindinho para ela. — Então quando precisar de algo pode me pedir e eu prometo ajudá-la.

Mesmo sem colocar muito crédito nas palavras, afinal Romeu já era solidário por natureza sem estar devendo favor algum, Julieta entrelaçou seu mindinho ao dele.

—Então se Brenda debochar mais uma vez das sardas da Margot, você fica de vigia enquanto eu tenho uma “conversinha” com ela? — perguntou apontando a garota que estava naquele exato instante rindo de Margot — Acho que um ou dois dentes a menos iriam deixar a caracterização dela bem autêntica, e você?

Provocou fazendo-o arregalar os olhos, mas para o alívio de Romeu não houve nenhuma necessidade de “intervenção estética” orquestrada por Julieta, especialmente porque Brenda — a possível futura paciente do dentista — logo perdeu o interesse em Margot e suas sardas quando uma professora do outro lado da quadra, onde alunos do primeiro e segundo ano montavam as barraquinhas e decoravam tudo, começou a berrar com um maluco escalando as vigas para pendurar bandeirinhas coloridas lá em cima.

—Aquele ali é o Aaron? — Romeu piscou.

E quem mais poderia ser?

Nunca dava para saber o que esperar dele, de repentinamente beijar alguém que estava “esfolando seu joelho” a começar a escalar a quadra da escola para pendurar bandeirinhas, Julieta deu uma tapa na própria testa, mas pelo menos a decoração realmente ficou muito bem feita… e tinha que ficar mesmo, já que ele estava arriscando até ficar tetraplégico para isso!

—Se a mamãe souber disso você vai levar uma coça, sabia?

Adila comentou admirando o trabalho do irmão mais novo e tirando fotos quando chegaram.

—Por favor, irmã, eu já estou bem grandinho para apanhar, não acha? — Aaron riu confiante, mas quando a irmã lançou lhe um olhar de “jura?”, ele acabou pigarreando — Te dou cinco cupons das barraquinhas de comida para ficar de boca fechada.

—Eu quero sete. — Adila guardou o celular no bolso — E três cartelas de bingo!

—¡Su estafadora! — reclamou indignado. — Isso é preço de profissional…! Cinco cupons e uma cartela de bingo.

—Sem negociação, considere também como um aluguel da minha maquiagem. — ela respondeu rindo e tocando com a ponta do indicador a monocelha pintada em seu rosto. — E agora, onde posso sentar? Essas botas estão me matando!

Afirmou já olhando em volta, mas para onde olhasse só havia barraquinhas de comidas e alunos usando roupas quadriculadas remendadas e chapéus de palha, incluindo (por alguma razão) o que parecia ser um garoto fazendo cosplay de Luffy.

—Hijos ¿habéis probado el maíz hervido? — Alejandro, que estava usando um chapéu de palha com fitas coloridas, perguntou chegando com duas espigas nas mãos.

—Quando foi que o senhor comprou isso se acabamos de chegar?! — Adila se assustou.

—Será que vai ter pau de sebo? — ele perguntou animado — Adila lembra-se da vez que escalou até o topo e conseguiu R$ 100,00 lá na rua?

—Quando eu e Aaron subimos nos seus ombros e o senhor deu um jeito nas costas e teve que pegar licença no trabalho por uma semana? Ou quando Aaron espantou o resto dos competidores jogando aquelas bombinhas que parecem rojões? Ou quando pegou meu dinheiro e gastou tudo em pinga?

Isso já fazia mais de dez anos e, na verdade, depois, enquanto ele estava dormindo bêbado, Mariangel tirara pouco mais de R$ 200,00 da carteira dele para devolver o que “ele pegou da pobre criança” e também uma compensação para si própria por “ter que aguentar esse bêbado” e Alejandro nunca se dera conta ou mencionara o assunto — no mínimo achava que tinha perdido no jogo do bicho e não lembrava por causa da bebida e resolveu varrer para baixo do tapete como se nada tivesse acontecido —, mas Adila ainda gostava de dar uma alfinetada ou outra no assunto, não que Alejandro demonstrasse a mínima culpa pelo ocorrido.

—Isso mesmo! Hijo, você trouxe os rojões com você? Acho que não vendem aqui…

Se Mariangel estivesse ciente daqueles planos, ela já estaria pronta para rodar a baiana, Adila só não sabia se era um bom ou mau sinal que sua mãe não tivesse vindo junto, e quanto a Aaron, esse não estava nem prestando atenção, porque já havia encontrado algo mais interessante:

—¡Romeu! ¡Julieta! — chamou-os com um sotaque acentuado. — ¡Mis amigos! ¿Qué pasa?

E já completamente esquecido dos parentes ele afastou-se, ou talvez estivesse apenas tentando se esquivar da dívida com a irmã, mas Adila não o deixaria se esquecer disso tão facilmente assim.

Apenas para o caso de alguém ainda estar em dúvida se eles eram um par na quadrilha, Romeu e Julieta tinham suas roupas combinando, o vestido de Julieta era simples, azul claro com pequenas flores espalhadas aqui e ali, rendas brancas e fitas amarelas finas enfeitavam o decote, as mangas e a barra da saia, combinando com a faixa de tecido xadrez amarelo também presente nas mangas e na barra da saia e que também era o mesmo tecido da camisa de Romeu e dos remendos nas calças de seu macacão jeans, especialmente com aquele grande coração de retalho em seu peito.

—Oi Aaron!

Romeu sorriu acenando para ele com o chapéu de palha na mão, e Aaron viu que além do bigode, costeletas e monocelha, ele havia pintado até mesmo um dente de preto, mas Julieta, por outro lado, com suas bochechas pintadas de blush vermelho e sardas espalhadas, foi bem menos receptiva:

—Um comentário e eu quebro sua cara.

Aaron se deteve surpreendido com as mãos para o alto.

—Julys, você precisa trabalhar melhor seu controle da raiva. — Romeu a censurou colocando uma mão sobre seu ombro. — Primeiro a gente cumprimenta, sabe?

—Eu já tentei fazer terapia, o que mais você me sugere? — Julieta retrucou cruzando os braços e revirando os olhos — Um ritual para exorcizar todos os pequenos demônios queimando de raiva dentro de mim?

—Tenho certeza que isso seria doloroso. — Aaron opinou.

Romeu afastou a mão com uma careta.

—Ela só está nervosa por causa da quadrilha. — explicou ao amigo, em tom de desculpas — Pode abaixar as mãos, só… tente não fazer movimentos bruscos.

Na verdade Aaron já tinha se esquecido de que estava com as mãos erguidas, ele baixou-as e colocou-as nos bolsos, sem muita certeza se aquilo fora uma tentativa de piada de Romeu…

—E onde está o chouriço em uma situação dessas?

…mas o olhar do garoto agora gritava que ele queria ter completado: “ou faça piadas sobre porcos!”.

—Pare de se referir a ele como uma iguaria! — Julieta reclamou — E por que eu o traria para a escola?

—Primeiro; porque tê-lo por perto poderia aliviar a sua tensão, tipo aqueles animais terapêuticos de conforto emocional. — explicou.

—Astolfinho não é esse tipo de… — Julieta começou a dizer.

—E segundo; — Aaron continuou — Porque ele faria a composição perfeita com essa temática caipira!

—Ele também não é um acessório! — Julieta protestou já fazendo menção de dar um passo à frente.

Aquela mulher nunca estava satisfeita?!

—Mas Astolfinho ficaria fofo com um chapéu de palha! — Romeu sugeriu rapidamente.

—E um lenço xadrez no pescoço, não é? — Julieta acrescentou concordando no mesmo instante.

Tudo bem, então o problema dela, na verdade, era com ele.

Aaron talvez fizesse algum outro comentário engraçadinho, se não tivesse recebido uma chave de braço por trás.

—Não pense que pode simplesmente se esquivar de mim, você tem uma dívida comigo hermanito e nós vamos agora mesmo ao caixa comprar os meus… — Adila estava dizendo até reparar em Romeu e Julieta parados logo ali: — Oi, tudo bem? Você é a menina que cria um porco em casa, certo?

—A própria. — Julieta confirmou de prontidão.

Afinal, por que outro motivo sua tia teria lhe presenteado com um porquinho de estimação, se não para que ela pudesse ter outra referência de identidade, além de: “A menina com as manchas”?

—Adila. — Aaron bateu de leve no braço da irmã, para que ela o soltasse — Cadê o papai?

—Ah, eu me afastei fingindo que não o conhecia quando ele esbarrou em um cara e o fez derrubar canjica nas calças.

—Justo.

Aaron concordou ao mesmo tempo em que alguém cutucava o ombro de Romeu por trás.

—Aqui estão vocês. — Vanessa sorriu com um copo de canjica na mão — Estavam demorando, então eu mesma fui atrás da canjica.

Romeu arregalou os olhos.

—Nós esquecemos! — exclamou — Desculpa mãe!

—Tudo bem. — Vanessa respondeu, calmamente comendo uma colherada — Mas, Julieta, seu pai teve um “pequeno incidente” quando estava na fila, e precisou ir até o banheiro… espero que a calça não seja nova, ou então ele vai ter problemas com a Maria…

No mesmo instante, Julieta virou um olhar fulminante para os irmãos colombianos que reagiram com sorrisos cínicos idênticos, e não era só essa a única semelhança entre eles: pois ambos tinham exatamente a mesma pinta na lateral da mandíbula.

—Ah, vejam que estão com amigos. — comeu mais uma colherada — Podem aproveitar a festinha, eu só vou comprar um pouco de bolo e milho cozido e depois estarei na arquibancada, tudo bem? Carlos disse que me ligaria se não conseguisse me achar, então tudo bem.

Explicou com seu tom calmo de sempre, já se virando e indo embora, mas Romeu começou imediatamente a segui-la e tentar interceptá-la:

—E-espera mamãe…! A senhora não devia andar por aí sozinha…! — tentou argumentar, mas Vanessa limitou-se a contorná-lo — E se alguém esbarrar na senhora?! E se o seu nariz começar a sangrar de novo?!

—Ainda está apenas no começo Romeu, e posso me mover bem sozinha, obrigada. — a mãe retrucou se esquivando calmamente mais uma vez.

Mas Romeu voltou a interceptá-la:

—Os primeiros meses são sempre os mais perigosos! — exasperou-se — E se a senhora cair dormindo em algum lugar?!

—Romeu, eu estou grávida, não virei um urso panda!

Era estranhamente difícil decifrar pelo tom de voz se tia Vanessa estava começando a se aborrecer ou se divertir com o zelo excessivo do filho.

—E a senhora também não devia ficar comendo qualquer coisa. — Romeu insistiu seguindo-a, visto que interceptá-la não estava resultando em nada.

—Romeu Júnior e eu vamos ficar bem. — ela garantiu.

—Por que continua chamando o bebê desse jeito?! — Romeu reclamou.

Eles já estavam se afastando muito.

—É melhor eu ir com eles…

Julieta já se adiantava para segui-los, quando uma Emília caipira com chapéu de palha e tranças bicolores pulou na sua frente.

—Juju, aqui está você! — Margot a abraçou — Faz séculos que estou te procurando! Achei que tinha se acovardado e não participaria da quadrilha no final!

—Como eu ia fazer isso com Romeu? — Julieta girou os olhos.

—Romeuzinho, salvador da pátria! — Margot riu batendo palmas — Afinal de que outra maneira nós poderíamos ver a Juju em retalhos e xadrez!

—Pare de me chamar de Juju! — Julieta reclamou.

—E onde está nosso herói? — Margot perguntou enlaçando seu braço ao de Julieta.

—Que animação toda é essa? Heleno não veio só para você saber…!

Mas sem nem escutá-la, a amiga foi simplesmente falando por cima:

 —Tem um painel ali que parece sob medida para vocês, tem até um porquinho desenhado na cena, e eu não posso ir embora sem uma foto!

—Foi atrás da mãe dele, ele está surtando com essa história de bebê.

—Ah. — Margot bufou soltando-a — Romeuzinho tinha que relaxar mais, o pesadelo verdadeiro vem depois, um bebê já virou uma bomba de cocô nos seus braços? E não melhora depois!

—Fraudas explosivas são ruins, mas e quando o “bebê” é um menor aprendiz da Al-Qaeder? — Adila intrometeu-se, atraída pela temática de irmãozinhos problemáticos — Nem adianta algemá-los em você! Porque aí, quando você menos espera, o moleque te pede pra ir ao banheiro, você fica do lado de fora da cabine algemada nele, e parece que está tudo bem, mas aí, nem cinco minutos depois que vocês saíram do banheiro, aquele vaso da mesma cabine onde o diabrete estava, EXPLODE! E aí você apanha junto porque sua mãe acha que foi cúmplice!

—É… — Aaron deu de ombros — Criança.

Margot estava ouvindo todo o relato de olhos arregalados, mas Julieta limitou-se a lançar um olhar de julgamento a Aaron enquanto dizia:

—Margot, essa aqui é a irmã do Aaron: Adila.

—E também não é como se uma coleirinha para crianças fosse impedir a criatura de derrubar uma pilha de manequins feito uma fileira de dominós e causar um caos na loja. — Aaron acrescentou, fazendo Adila tossir.

—Ah… certo. — Margot segurou com ambas as mãos o braço de Julieta — Juju é melhor irmos agora ou…

Ela ainda não sabia bem que tipo de desculpa ia dar, mas foi salva pelo gongo quando, bem nesse instante, a música nas caixas de som diminuiu de volume e a voz da diretora Nazaré reverberou pela quadra:

—Atenção todos os nossos convidados, perço encarecidamente que abram esparço na quadra, pruque tá na hora do nosso carsamento matuto, organizado pelos alunos do terceiro ano!

—Mas que imitação de Chico Bento foi essa? — Aaron comentou rindo.

—Isso! — Margot concordou de imediato já arrastando a amiga — Vamos amiga, que nenhuma de nós duas é a noiva pra chegar atrasada!

E quando foram embora sem nem se despedir Aaron passou a mão pelos cabelos.

—Acha que ela parecia desconfortável?

—Ah claro, mas não são muitas pessoas que ficam relaxadas e rindo quando conto sobre seu passado terrorista de fraudas…

—Não, não a Margarida. — Aaron a interrompeu, e acrescentou com sotaque acentuado: — Julieta.

—A do porquinho? Talvez ela quisesse te socar…

—Não, essa é a cara norma dela.

—Então não. — Adila deu de ombros e o olhou — Por quê? ¿Qué hicistes ahora, cabrón?

—Você queria ir até o caixa, não é? — Aaron desconversou — É melhor irmos logo, não quero perder a quadrilha, sempre tem alguém que esquece os passos e faz a maior confusão! ¿Y dónde estará o papá…?

—Lo encontramos más tarde, ¡Ahora solo quiero comer palomitas dulces y sentarme!

Adila respondeu impaciente, como se soubesse que o irmão só estava querendo se esquivar da dívida de novo, mas Aaron realmente não queria perder a apresentação, então foi sorte quando encontraram a fila da pipoca quase vazia: só havia duas pessoas antes deles, e uma delas era justamente…

—Senhor pai da Julieta! — Aaron deu uma tapinha em seu ombro — ¡Que onda!

O pequeno e magricelo senhor ajeitou os óculos sobre o nariz ao virar-se.

—Você é…? Ah! — de repente ele arqueou as sobrancelhas e subsequentemente estreitou os olhos — É… Aaron, certo?

Ele sorriu, mas sua expressão era tensa e o tom de voz levemente desconfiado, como se estivesse prestes a pedir as digitais de Aaron para verificá-las no sistema.

—Isso, como tem passado? — Aaron sorriu brilhantemente, evitando olhar para as calças do homem — Acabei de ver Julieta, ela estava indo para a quadrilha.

—Ah sim, eu já estava indo assistir… — os olhos de Carlos André continuavam passando das mãos de Aaron para o sorriso amigável dele — Vim com Vanessa, a mãe de Romeu.

—Vamos juntos então!

—Esse aí não é o cara que pap…?

Adila começou a perguntar, mas Aaron fez questão de falar por cima dela propositalmente a abafando:

—Olha, já é sua vez, pai da Julieta!

Logo após o que ele lançou um olhar de aviso à irmã, para que ficasse em silêncio, e Adila limitou-se a encolher os ombros, ela só queria a pipoca.

A mãe de Romeu os cumprimentou na arquibancada com um sorriso gentil e três pamonhas nas mãos que fizeram Adila desconfiar que talvez ela estivesse comendo por três, ao invés de apenas dois.

—Olá Carlos André, eu guardei um lugar para você e uma pamonha também, mas não se preocupe, é pamonha doce. — ela estendeu a comida e inclinou a cabeça para os irmãos D’Ávilla — Romeu acabou de sair daqui, embora tenha sido um pouco difícil, acho que meu nariz sangrando daquela vez o assustou mais do que eu pensava, mas vocês querem sentar conosco?

Aaron sorriu e aceitou o convite mais do que rapidamente, então Adila também se sentou ao seu lado… e bateu na mãe dele quando o irmão tentou pegar um pouco de suas pipocas.

—Se você também queria, devia ter comprado para você! — afirmou enchendo a boca.

Aaron ia retrucar, mas dessa vez foi o pai de Julieta quem cutucou seu ombro:

—Escute o conselho de um homem mais velho, rapaz: nunca, em hipótese alguma, tente tirar comida de uma mulher.

Considerando quem era a filha dele, Aaron decidiu considerar que o homem tivesse realmente alguma propriedade para falar do tema.

¡Mijos! — Alejandro os chamou subindo os degraus da arquibancada e pedindo desculpas para cada pessoa em quem ele esbarrava enquanto passava — ¡Finalmente le encon…!

—Você! — o pai de Julieta exclamou.

Alejandro parou subitamente, confuso em um primeiro momento, mas logo sorriu reconhecendo-o.

— ¡Ola, mi amigo! ¿Cómo te va? Ojalá que no estés molesto por los pantalones… — falou em tom ameno e, ao ver que a expressão do outro não melhorava, acrescentou: — Ou talvez eu pudesse lhe comprar outra canjica?

Mas Carlos André balançou a cabeça.

—Não, esqueça.

—Vamos lá amigo. — Alejandro insistiu — Sem ressentimentos, certo?

Só que também não é como se ele fosse se oferecer para comprar calças novas, havia sido só um pouco de canjica, pelo amor de Deus!

—Eu não como canjica.

—Você tem um irmão gêmeo? — Alejandro questionou pensativo — Porque tenho certeza que derrubei canjica nas calças de um sujeito com exatamente a mesma careca e óculos que os seus.

Talvez Aaron estivesse um pouquinho surpreso, será que ele também era sempre tão irritante assim?

—Aquilo não era para mim. — o pai de Julieta se justificou.

—Então que tal um pouco de mingau? — Alejandro sugeriu.

—Não, obrigado. — o pai de Julieta voltou a recusar — Acontece que sou vegano: não consumo nada de origem animal.

Alejandro olhou-o em silêncio por alguns instantes e, justo quando Aaron e Adila acharam que ele não tinha mais nada a dizer, ele acabou sorrindo de lado e comentando:

Oiga, amigo, você sabe que a canjica e o mingau não leva carne, certo?

—Carne não é o único produto de origem animal. — o pai de Julieta explicou pacientemente — Coisas como leite e ovos também estão fora da minha dieta…

—E que tal pamonha? — Alejandro sugeriu, mas ao ver a expressão do outro, entrou em desespero: —¡Hombre di dios! — exclamou tão alto que chamou a atenção de várias pessoas ao redor — ¿Con qué te mantienes vivo? ¡¿Fotosíntesis?!

—Papá. — Adila resmungou cogitando enfiar a cara no pacote de pipoca enquanto agarrava a camisa do pai e o puxava para sentar ao seu lado — Dá pra só sentar e encher a boca de pipoca?

—Parece que vai começar.

Vanessa avisou-os ao mesmo tempo em que um acorde de violão ecoava pela quadra através das caixas de som na quadra.

Uma garota estava sentada em uma cadeira no meio da quadra e, juntamente com o instrumental de violão, a voz do professor de Ed. Física narrava pelas caixas de som:

—Lá pro interior de Sococó da Mula, tinha uma moça muito da formosa, chamada Aninha.

—Ai ai. — suspirou uma voz de garota pelas caixas de som, enquanto a garota sentada na quadra gesticulava com a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse chateada. — Ai ai!

O professor continuou com a narrativa:

—Aninha estava muito aborrecida na varanda di casa, por causa di que já há muito tempo que não tinha nenhuma festinha em Sococó…!

De repente Margot veio correndo de detrás do painel de fundo, jogando as pernas para o alto e balançando os braços, parecendo até o Patolino, enquanto a voz dela ecoava nas caixas de som, embora talvez não tão alto quanto a gargalhada de Aaron:

—Amiga! Amiga!

A garota na cadeira levou a mão ao peito e simulou um pulo de susto, que até derrubou a cadeira — se foi intencional ou não, Aaron não saberia dizer.

—Ai menina! Que foi? Que afobação toda é essa?!

Margot agarrou as mãos da garota:

—Vai ter arraiar hoje à noite!

—Um arraiar?! — a garota deu pulinhos, mas então parou, soltando as mãos de Margot e cobrindo o rosto com as mãos — Ai! Mas painho num vai dexar!

—Qui nada menina! — Margot começou a gesticular com o indicador sobre os lábios — Bora escondida, que João vai ta lá!

Ela pegou a mão da garota e as duas voltaram correndo para trás do painel, ao mesmo tempo em que meia dúzia de outros alunos saía pelo outro lado e começava a dançar “eu fiz uma fogueirinha!”, na sequência, as meninas reapareceram:

—Olha Aninha, lá tá João! — Margot apontou para um garoto, sentado na mesma cadeira de antes, fingindo estar dormindo com um chapéu no rosto — Vai lá dançar cum ele!

—Ai… mas eu morro de vergonha! — “Aninha” puxou as tranças sobre o rosto.

—Qui vergonha nada!

Margot “a empurrou” e a garota saiu tropeçando e caiu sentada direto no colo de “João”, que “acordou” tirando o chapéu da cara.

—Aninha?!

—Oi João… — Aninha puxou as tranças sobre o rosto de novo — Ocê quer dançar?

—Oxi! Mas só se for agora!

Ele se levantou já a puxando para o meio da roda de casais, mas mal eles haviam começado a dançar, e Romeu entrou em cena com uma enxada nas mãos acabando com a festa:

—MAS QUE PORCA VERGONHA É ESSA AQUI?!

De onde será que haviam tirado aquela coisa?

—Painho! — exclamou “Aninha” com a mão no peito — Num é qui o  nhô ta pensando não!

—Como qui não?! — Romeu sacudiu a enxada com tanta animação que os alunos mais próximos deram alguns passos para trás, com medo de serem acertados. — Minha fia, moça di família, dançando agarradinha?! — com a mão livre, Romeu pegou o braço de Aninha e a puxou — Pois agora vai ter que casar!

—Casar?! — “João” segurou o chapéu na cabeça — Não, seu Carlos, que isso? Num precisa não! A gente só tava dançando…!

—VAI TER QUE CASAR!

Romeu sacudiu a enxada com animação renovada, naquele ritmo, até quem estava na arquibancada, corria o risco de ser atingido.

—Ô Aninha, fala arguma coisa! — “João” suplicou com as mãos unidas.

—Ai ai João… — “Aninha” enrolou a ponta da trança nos dedos — Ocê vai ficar muito garboso di palitó.

—Intão vamo pra arrumar a noiva! E é melhor tu aparecer caba da peste, SE NÃO…! 

E voltou a sacudir a enxada antes de sair puxando a “filha”, de volta para trás do painel, e o resto dos alunos corria para se esconder junto, deixando só o tal João ali, em desespero, andando de um lado para o outro com as mãos na cabeça:

—Mas e agora? Que que vou fazer?

E continuou andando de um lado para o outro por mais três voltas, até que Julieta apareceu varrendo a quadra, e parou com a mão na cintura.

—Ô João! Que ocê tem agora menino?!

Aaron ainda pôde ouvir o pai resmungando enquanto enchia a boca de pipoca e semicerrava os olhos:

—Creo que la conozco de algún lado, pero ¿dónde?

E teve certeza que, naquela hora, o velho estava pensando nos óculos que o doutor receitou, mas que ele continuava se recusando a usar porque “não precisava deles”.

—Mãe! Ô mainha! — João foi correndo na direção de Julieta — É que o Seu Carlos ta querendo que eu case com Aninha!

—Com Aninha? — Julieta cruzou os braços, ainda de vassoura na mão — Mas pruque?

—É que tava darçando eu mais Aninha, e seu Carlos disse que dançou coladinho tem qui casar!

João gesticulava o mais desesperado possível, sacudindo tanto os braços que o chapéu saiu voando e ele teve que correr atrás.

—Ah, ele disse é?!

—Disse mainha! — “João” voltou correndo segurando o chapéu na cabeça.

—Pois tá certo! Dançou coladinho tem qui casar! Bora já procurar o paletó do teu pai!

Ela pegou o “filho” pela orelha e o arrastou de volta para trás do painel, enquanto a marcha nupcial tocava e “Aninha” — agora usando véu e grinalda e com um buquê nas mãos — entrava de braços dados com Romeu — ainda de enxada na mão — pelo outro lado do painel, seguidos pelos convidados e o padre.

—Estamos aqui reunidos para esse casório… mas cadê o noivo?!

—Arrê égua! — Romeu voltou a sacudir a enxada, ele ainda ia arrancar a cabeça de alguém com aquele negócio — Se esse caba da peste num aparecer, eu mermo vou buscar!

—Num carece di buscar não! — Julieta voltou à cena arrastando o noivo, agora com um paletó com remendos, ainda pela orelha. — Tá aqui o noivo!

Ela o empurrou — e talvez seu empurrão tenha sido um pouco mais realista que o de Margot — para junto da noiva.

—Pois intão vamo começar! Aninha, tu arceita casar com João?

—Aceito sim nhô!

—E ocê, João, arceita casar com Aninha?

—Óia… — “João” tirou o chapéu e coçou a cabeça — num sei…

—ARCEITA SIM!

Romeu sacudiu a enxada e “João” abaixou-se colocando o chapéu na cabeça, enquanto a voz desesperada ecoava pelas caixas de som:

—Arceito! Arceito!

—Então eu os decraro marido e muié! Pode beijar a noiva! — o “padre” anunciou com os braços para o alto — E agora borá continuar esse arraiar!

Então todos os alunos se reuniram em pares e começaram a dançar a quadrilha ao som dos aplausos e risadas do público.

—No início era para eu e Julys sermos os noivos. — Romeu explicou algum tempo depois. — Mas ela se recusou de todas as formas…

—¡Ya lo tengo! — Alejandro exclamou de repente, apontando para Julieta, depois de ter passado incríveis quase dez minutos calado — ¡És a nina que regaño um muchacho junto a mijo em el vídeo!

Julieta não tinha ideia do que ele estava falando, até que Adila acenou com a cabeça e completou:

—E aquele golpe com o cotovelo? — ela levantou o cotovelo direito, dando duas tapinhas nele e simulando como se fosse se jogar ao chão — Achei que só faziam esse tipo de coisa em lutas coreografadas de MMA!

—Isso! 

Exclamou entusiasmado enquanto simulava como se também fosse dar o famigerado golpe, e Vanessa e Carlos André — este um pouco mais constrangido e desconfortável — concordavam que também haviam assistido ao vídeo e Aaron empalidecia:

—Mamá no lo vio, ¿cierto?

—Olha Julys. — Romeu disse ao lado de Julieta — Acho que você é famosa agora.

Julieta encolheu os ombros e girou os olhos, parece que, afinal, ela tinha mais uma referência de identidade além de “a menina com as manchas” e “a menina do porquinho”.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ter lido até aqui e até a próxima! ♥



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